Não tem nada que atualmente una tão bem o Brasil quanto a vindoura carreira internacional de Anitta. O público, seja fã dela ou não, tem vibrado e comemorado com toda nova conquista da cantora de “Paradinha”, que vem dando passos cada vez mais promissores desde as parcerias com J. Balvin e Maluma em “Ginza” e “Sim ou Não”, mais tarde também surgindo com Iggy Azalea e até os caras responsáveis pelo maior hit de 2015, Major Lazer.
Na pressa em ter a primeira cantora pop exportada com sucesso para o mercado internacional, os brasileiros têm sido bastante exigentes sobre todos com quem ela vem colaborando, o que, se não tomarmos cuidado, poderá surtir o efeito totalmente contrário, ou seja: queimar o filme dela lá fora e foder todo o rolê.
Uma das maiores conquistas de Anitta em sua carreira foi ter chegado até aqui com total controle do que fez dentro e fora dos palcos. A cantora, além de intérprete e compositora de seus hits, é sua própria empresária e, se pensarmos na forma como usa suas redes sociais, sua própria assessoria também, tendo em suas mãos um controle das narrativas que envolvem o seu nome de uma forma que poucos artistas conseguiram.
Poxa... muito obrigada.. minha empresária sou eu mesma! Mas não acho que teria a mesma competência na política se tivesse que ser pra agora— Anitta (@Anitta) 26 de maio de 2017
O problema é que, desde seus trabalhos focados no mercado internacional, Anitta também se tornou alvo de um protecionismo em excesso por parte de seus fãs, que, quando descontentes com algo ou alguém, resolvem responder da maneira mais batida da internet desde a ascensão das redes sociais: xingando muito.
A parceira de Anitta em “Switch”, Iggy Azalea, foi a primeira a lidar com a fúria dos brasileiros após colaborar com a cantora. Assim que a parceria foi anunciada, a cantora já havia adiantado que sua parceria seria pequena, uma vez que Azalea é rapper e costuma convidar artistas para cantarem em seus refrões, mas não adiantou: a música saiu e geral foi reclamar que tinha pouca Anitta. Manda mais, que tá pouco.
E ela mandou: Iggy foi lá e convidou a cantora pra se apresentar com ela no Jimmy Fallon. Só vacilou em planejar uma performance em que Anitta saía do palco após cantar o refrão. Dá-lhe reclamações outra vez – e visualizações no vídeo da performance pelo Youtube, afinal, a gente reclama, mas enaltece mesmo assim.
Em seu Twitter, foram várias as vezes em que a australiana precisou se explicar ou pedir a compreensão dos fãs de Anitta, que seguiram a criticando quando continuou a promoção da música sem a cantora e, após o vazamento de seu videoclipe, cancelou também o que restava de divulgação para a música.
O caldo entornou de vez quando, por ruídos na comunicação, supuseram que Iggy Azalea lançaria um remix de “Switch” com a participação de Maluma, cantor que trabalhou com Anitta em “Sim ou Não” e, também segundo muitos rumores, teria se desentendido com a cantora, após perceber que ela poderia se tornar um nome latino em potencial pra bater de frente com ele no mercado internacional. Teria sido por isso que os dois não se encontraram no MTV Millennial Awards, ainda que estivessem no mesmo evento, e ele ainda passou a remover a voz dela nas suas apresentações de “Sim ou Não”.
Help people who helps u... be grateful... the world is spinning ...round and round and round...— Anitta (@Anitta) 5 de junho de 2017
Se a parceria fosse mesmo rolar, o público tinha toda a razão em ficar puto, afinal, seria no mínimo suspeito que, pouco depois de desistir de toda a divulgação da música com Anitta, Iggy Azalea surgisse retrabalhando-a com o mais novo desafeto da brasileira. Mas os fãs de Anitta decidiram resolver isso de uma forma tão questionável quanto seria essa colaboração, partindo para o linchamento virtual dos outros dois artistas, tomando conta de todas. as. suas. redes. sociais. Com ofensas que iam de “falsos” e “duas caras” aos emojis de cobrinhas.
A parceria entre Iggy e Maluma não rolou; a rapper apenas o apresentou numa premiação e, pelas redes sociais, afirmou que os dois eram amigos de longa data e que o apoiaria em suas escolhas, gostasse o público ou não, mas os ataques pela internet persistiram, e foi aí que começou o problema.
Independente da música ser boa ou não, bem como da participação de Anitta ser tão longa o quanto gostaríamos ou não, “Switch” significou um passo importante pra brasileira, que lançou oficialmente a sua primeira música totalmente em inglês e, com ela, cantou pela primeira vez para a TV americana. Mas tudo o que os fãs souberam fazer foi reclamar, em vez de aproveitarem a puta oportunidade que a brasileira estava abraçando.
Não só isso, no mesmo tempo em que se dedicaram a espalhar toda essa negatividade pra cima dos gringos, muita coisa foda estava rolando com Anitta, que lançou logo depois de “Switch” a sua primeira música em espanhol, “Paradinha”, e ainda participou do novo single do Major Lazer com a Pabllo Vittar, “Sua Cara”. Como se isso já não fosse foda o suficiente, a brasileira protagonizou ainda especulações sobre possíveis parcerias com ninguém menos que Justin Bieber e Camila Cabello – ambos colaboradores recentes do Major Lazer, o que torna essas supostas parcerias bem prováveis. E o povo lá, perdendo tempo com porra de Maluma.
Nossa preocupação aqui, fica para a possibilidade de todo esse protecionismo resultar num receio de outros artistas internacionais trabalharem com Anitta. Isso porque meio mundo já sabe sobre o quanto somos dedicados e calorosos com nossos ídolos, mas agora percebem também a forma como podemos ser agressivos e, por que não, tóxicos quando não recebemos o que gostaríamos.
Nessa fase de introdução ao mercado gringo, será comum que Anitta comece devagar e pelas beiradas, assim como aconteceu em sua carreira antes e depois do sucesso de “Show das Poderosas”, e cabe ao seu público focar em ajudá-la, reconhecendo e promovendo seus trabalhos, não se desgastando enquanto perde tempo tentando protege-la por algo que ela sequer pediu ajuda.
Se tem uma coisa que Anitta manja, é dos negócios que envolvem a sua música. Então que deixemos ela continuar tocando isso tão bem o quanto veio fazendo. Parem de foder o rolê queimando o nome da moça lá fora e vão assistir “Paradinha”, porque as visualizações não baterão recordes sozinhas.