Os dois últimos episódios de “AHS: Cult” nos revelaram muita coisa e, surpreendentemente, uma série bastante lógica até aqui. O culto de Kai agora está claro, fazem parte: Meadow, Harrison, Winter, Beverly (Adina Porter), Gary (Chaz Bono) e Ivy, além do cinegrafista R.J. (James Morosin), que mal havia notado nos últimos episódios.
Kai é carinhoso e há um apelo sexy nele, como quando aparece nu e se masturbando no chuveiro em frente a Harrison e o ajuda a sair da lama, ou quando toca levemente em Meadow e elogia suas artes. Parece tão confortável segui-lo. E por quê? Bem, Kai oferece um sentido à pessoas que buscam justamente isso em meio ao medo, e o propósito dele é lapidar esse medo até o agir - a criação completa do caos.
O mais interessante da construção de Murphy é que os séquitos dele não são os estereótipos dos eleitores de Trump, pelo contrário, são democratas, muitos de minoria, que apenas querem um lugar ao sol do conforto e segurança e vingança pelo que os Estados Unidos se tornaram. O medo nos faz mudar dramaticamente. O próprio título do episódio é uma pista para essa narrativa, “11/9” é o dia em que a paranoia americana ganhou justificativa e proporções jamais vistas. O que importa na sétima temporada é o clamor pelo medo, como bem diz Kai “o medo em uma pequena cidadezinha do Michigan pode infectar o país, o mundo, em dias”.
Já no episódio dessa semana, “Holes”, quinto episódio da temporada, se teve uma coisa que fiz, foi me contorcer todo na cama com as cenas bizarras que rolaram. Logo nos três primeiros minutos, vemos que Ivy faz sim parte do culto - suspeita já quase certa após a revelação da relação de Ivy e Winter, e se vinga de Ally pelo voto em Jill Stein, candidato que nunca poderia ganhar. Se já começa com esse boom bem na nossa cara, como poderíamos ficar mais chocados?
A série vai, então, para a cenas repugnantes pelas quais é conhecida. A morte de Bob (Dermot Mulroney) no começo é a resposta. O escravo sexual do âncora do telejornal local é a coisa mais estranha de tudo aquilo, quem diria uma coisa dessas? A morte do desconhecido é também repulsiva, muito mais que a de Bob, inclusive. É o momento que mais lembra as atrocidades passadas de “AHS”, fiquei um tempo com aquela imagem de garras em todos as partes do corpo na cabeça.
Nesse episódio vemos que Kai começa a se abrir com Bervely, e aquela conversa íntima no restaurante leva a outro momento intenso do episódio, a morte de R.J.. Kai pede que Ivy prove sua lealdade enfiando o primeiro prego na cabeça do rapaz em uma sessão do culto no sótão, e assim todos fazem, um por vez. Kai é a megalomania de todo ditador, uma referência clara a Trump, mas não só ele. Quando querem desviar a narrativa, eles produzem uma nova megalomania que é fácil de acreditar, sem questionamentos. Quando alguém no culto questiona, como os flashbacks nos mostram que R.J. fez, e isso começou a se espalhar, como em Meadow, esse alguém se torna um problema.
A morte como um ritual faz com que todos ali sejam cúmplices, e o cerco se fecha ainda mais. É impossível sair agora. E daí vários questionamentos surgem, por que todos aceitaram infernizar a vida de Ally? Parece que o argumento vingança por seu voto é pouco, eles têm algum plano para ela, mesmo que seja ainda mais cruel? O que vai acontecer com Meadow? Há pessoas perguntando dela ainda. Podemos acreditar naquele momento em que ela corre para a casa de Ally?
Aliás, Dr. Rudy realmente tem uma ligação com o culto, é irmão mais velho de Kai e Winter e, aparentemente, apresentou o lance do dedinho à Kai. Ao fazer esse ritual, que é como um confessionário, com Beverly fica claro imediatamente que ela se torna a mais importante ali. Ele revela também o que aconteceu com seus pais. Sua mãe matou o pai, um homem raivoso, e se matou. Na noite das mortes, Dr. Rudy sugere que deixem os pais em seu quarto, para ali descansaram eternamente, evitando a perda de aposentadorias e bens. O que esperar de uma galera que vê os pais apodrecerem numa boa?
Outro aspecto interessante do episódio é a conversa de Ivy e Winter no carro. O ódio de Ivy com a américa parece ser o resumo perfeito do porquê de todos estarem ali. Pouco importa Trump, a realidade é o povo que pediu por ele, e merece o que pediu. É claro que Ivy parece ser um elo fraco, mas pode não ser por muito tempo.
“Holes” nos revelou muita coisa e o que espero agora é uma reviravolta a qualquer momento, já que ainda estamos no quinto episódio. Os personagens ainda a aparecer, como Lena Dunham, podem dar um novo tom a série. Lena irá interpretar Valerie Solanas, mulher que atirou em Andy Warhol em 1968, por motivações ideológicas. Ela escreveu um livro onde propõe a aniquilação dos homens e uma sociedade dirigida pelas mulheres.
O que “AHS” quer passar? Apesar de sua audiência caindo, talvez pela confusão com uma temporada sobre política, o roteiro parece levar para uma reflexão à cultura de violência americana, como os diversos assassinatos em massa que ocorrem com certa frequência e mesmo pessoas como Valerie ou Charles Mason e Jim Jones, exemplos de cultos em que a temporada se inspira.