Depois de Gaga, a música pop teve seu segundo boom visual com Beyoncé e o disco autointitulado, que, seguido do seu “Lemonade”, não só redefiniu a posição da cantora no cenário atual, como também ressignificou a ideia de lançar álbuns, tornando-a maior, mais relevante e impactante que o velho “compre no iTunes”.
Tanto Gaga quanto Beyoncé criaram uma necessidade importante no público: para consumir sua arte, eles não poderiam simplesmente abri-la em qualquer lugar e ouvir de qualquer forma. Eles precisavam vê-la, aprendê-la, precisavam encontrar e decifrar cada um dos seus significados.
Por outro lado, quando o público começou a se reeducar em relação aos streamings e, graças a internet, uma indústria cada vez mais urgente, essa preocupação em revelar um trabalho visual realmente interessante foi ficando para trás.
Pensando nos últimos grandes hits pop, é difícil até mesmo lembrar se ao menos tiveram um videoclipe. E dizemos isso pensando de “Shape of You” a “Closer”, sem contar o smash hit “One Dance”, do Drake, que, de fato, não pode ser encontrado oficialmente pelo Youtube até hoje, tendo todo o seu sucesso creditado aos streamings e vendas.
Com essa nova postura, o videoclipe, quando lançado, assumia uma posição quase tão irrelevante quanto o lyric video, apenas existindo para aumentar a vida útil das canções e, seguindo as novas regras de paradas como a Billboard Hot 100, impulsioná-las mundo afora.
Mas 2017 tratou de acertar essa conta com gosto. Um dos maiores hits do ano, “New Rules”, de Dua Lipa, deve muito do seu sucesso ao videoclipe: já bem sucedida entre os britânicos, a cantora ainda não tinha nenhum trabalho que nos fizesse morrer de amores por sua videografia, mas mudou essa história quando apresentou suas regras, acompanhada por uma narrativa criativa, diferente e, claro, belíssima.
“New Rules” rendeu memes, despertou o interesse do grande público pela personalidade da cantora e, claro, resultou num sucesso absurdo pelo Youtube que, posteriormente, também chegou ao Spotify e outros players. A mensagem não poderia ser melhor: videoclipes ainda importam e, sim, fazem toda a diferença no trabalho de divulgação de uma canção.
Pra provar essa máxima, quem também voltou disposta a fazer história foi Taylor Swift. “Look What You Made Me Do” foi seu clipe de retorno e, com folga, chegou levando o título de clipe mais assistido de todos os tempos em suas primeiras 24h. No caso de Taylor, o sucesso não tinha a ver apenas com a qualidade do vídeo, mas também com o chamado “replay value”, que nada mais é do que a importância de assistir ao clipe mais de uma vez, seja por achá-lo incrível ou para catar todas as suas muitas referências. A cantora e o diretor do vídeo, Joseph Kahn, usaram a mesma tática quando colaboraram com “Bad Blood”, clipe que, na época em que foi lançado, havia batido o mesmo recorde de visualizações em sua estreia.
No Brasil, algo semelhante tem sido construído por Anitta que, de longe, é um dos nossos melhores casos a serem observados quando falamos em identidade visual. Você não consegue, por exemplo, ouvir a faixa “Bang” sem lembrar do videoclipe cheio de ilustrações coloridas que saltam pela tela e, não à toa, a internet recentemente se dividiu numa discussão sobre o clipe de “Beautiful Trauma”, da cantora P!nk, que inevitavelmente remete ao visual da cantora brasileira em “Essa Mina É Louca”.
Agora que lançou seu novo clipe, o encerramento do projeto Check Mate, “Vai Malandra”, Anitta demonstrou isso mais uma vez, a começar pela diferença da produção em relação aos outros singles do projeto: enquanto a parceria com MC Zaac, DJ Yuri Martins, Tropkillaz e Maejor teve seu clipe gravado há cerca de quatro meses, os outros vídeos foram rodados poucas semanas antes de chegarem ao público, com propostas simples e que só estavam ali para cumprir o requisito.
“Vai Malandra”, por sua vez, foi ganhando forma gradualmente, com a cantora e sua equipe revelando fotos, vídeos de bastidores e prévias oficiais, até que o clipe saiu oficialmente e, claro, se tornou um grande sucesso.
O tiro de Anitta com este lançamento foi tão certeiro que a música superou, inclusive, os números de suas últimas parcerias internacionais, levando-a mais longe do que conseguiu com J Balvin e seu hit em espanhol, “Downtown”.
No final das contas, 2017 nos lembra que, sim, apesar dos novos formatos e de ainda estarmos numa transição quanto ao consumo musical na era digital, os videoclipes cumprem um importante papel que vai além de unicamente angariar views, se tornando importante e necessário não só para a canção que ilustra, mas também para toda a carreira do artista que, fazendo um bom trabalho, terá tudo para colher os frutos disso. O público agradece.