Em seu disco de estreia, “Bandida”, lançado em 2016, a MC Carol traz uma música chamada “A Vingança”, que dá um desfecho diferente para uma história que, infelizmente, é muito comum no Brasil: ela foi pro baile e encontrou um cara que, mesmo sem conhecê-la, já estava oferecendo bebidas. Logo depois, ele oferece também drogas, e ela percebe quais são suas intenções.
“Vou te dar um papo, mas guarda pra você”, diz a funkeira. “Eu não gosto de cerveja, eu não gosto de maconha. Tu tá pensando que vai me deixar doidona?” E é na sequência que entrega a sua vingança, porque aproveitou o momento em que o cara foi ao banheiro para “sabotar” sua bebida, devolvendo o que ele esperava fazer com ela, pra que ela saísse inconsciente e se tornasse vítima de seus abusos.
A letra continua:
“Queria me levar de ralo, me deixando mal / tudo planejado pra fazer bacanal (...) agora, você se fodeu, sou mais esperta que você / você tá doidão e seus amigos vão te comer”.
A música de MC Carol nos volta a memória especialmente nesta semana, por conta de todas as discussões em torno da faixa do MC Diguinho, “Surubinha de Leve”, que foi retirada do Spotify na última quarta-feira (17), após se tornar alvo de críticas pela letra que narra e faz apologia ao estupro contra mulheres.
Traçando um paralelo, os atos narrados por MC Diguinho são, basicamente, o que pretendia o cara na música de MC Carol e, sem a cantora e sua vingança, o final dificilmente seria diferente do que acontece diariamente no Brasil, onde uma mulher é vítima de estupro a cada 11 minutos.
Já que estamos falando de música e muitas pessoas ainda arriscam defender a faixa retirada do Spotify, alegando que tudo não passa de uma questão de preconceito e discriminação contra o funk, a melhor resposta possível seria colocar “A Vingança”, da MC Carol, que é uma funkeira e negra, no topo das paradas da plataforma. Dando destaque para uma letra que, além de parecer ter sido composta para essa discussão, também combate o principal problema no meio de toda essa história, que é o machismo.
Em tempo, vale ainda sentar e aprender com todo o disco “Bandida”, que ainda traz faixas como “100% Feminista”, com Karol Conka, e “Delação Premiada”.
Nenhum comentário
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.