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Das favelas brasileiras para o mundo: onde o funk vai parar em 2018?

Na sua dita “fase anal”, a música brasileira não poderia estar melhor representada.
No começo de 2017, os dois principais hits do carnaval eram do funk: de um lado, tínhamos Pabllo Vittar e Rico Dalasam ao som de “Todo Dia” e, do outro, quem estourava era MC Kevinho e um de seus primeiros sucessos nas plataformas de streaming, “Olha a Explosão”.

A novela já não era nova, pouco antes, assistimos ao mesmo gênero ascendendo hits como “Deu Onda” e “Baile de Favela” e, em 2016, até rolou uma participação do MC Bin Laden no palco do Lollapalooza, tomando de assalto a performance de um dos headliners daquela noite, os produtores Diplo e Skrillex, que se apresentavam como o duo Jack Ü.



De maneira independente e orgânica, o funk seguiu construindo uma base cada vez mais estável dentro do meio digital e, ao longo do último ano, muitos outros nomes e hits surgiram, até que sua volta ao topo foi oficialmente selada com os números de “Bum Bum Tam Tam”, do MC Fioti, que se tornou nada menos do que o clipe mais visto da história do Youtube no Brasil e, no finalzinho de 2017, chamou a atenção de vários artistas gringos, terminando num remix com o cantor colombiano J Balvin, mesmo do hit “Mi Gente”, e o rapper americano Future.



Um dos maiores nomes da música brasileira atual, Anitta, que começou no funk, abraçou o gênero nessa crescente e, também no finalzinho do ano, se viu quebrando vários recordes ao som de “Vai Malandra”, faixa escolhida para encerrar seu projeto “Check Mate”, com produção do DJ Yuri Martins, mesmo de “Oh Novinha” e “Tá Tranquila, Tá Favorável”, e participação do MC Zaac, que já tinha os hits “Bumbum Granada” e “Vai Embrazando” para chamar de seus.

A volta de Anitta, por sua vez, se mostra um posicionamento mais complexo do que uma mera vontade de emplacar outros hits, principalmente por conta do seu envolvimento em discussões como o projeto de criminalização do funk e o elitismo do Rock in Rio, que tentou “moldar” o seu show para fazer parte do festival e, quando foi publicamente confrontado sobre isso, acabou por escutar o pedido do público e aceitar as considerações da cantora, que está confirmada nas suas próximas edições no Rio de Janeiro e Lisboa.



De olho nesta que já é mais do que uma tendência, quem topou levar mais da nossa música para fora foi o Spotify e, com a estreia do remix internacional de “Bum Bum Tam Tam”, aproveitou para lançar a playlist “Mother Funk”, lista de alcance global e com alguns dos principais hits do gênero brasileiro. O mesmo player também fechou uma parceria de publicidade com Anitta, colocando a sua “Vai Malandra” nos outdoors da Times Square (sim, a propaganda de uma estreia de funk, exposta na gigante Times FUCKING Square), e não deu outra, com a faixa figurando entre as vinte músicas mais ouvidas da plataforma mundialmente.



Na era da ascensão da música latina, com todo o mundo de olho no nosso som e em como podemos fazê-lo dançar, o funk encontra uma oportunidade de não só se consolidar nacionalmente, mas também ir além de nossas fronteiras, quem sabe se tornando o próximo grande momento da indústria. E neste ponto vale destacar, inclusive, que o gênero já havia atraído há alguns anos nomes como o produtor Diplo, que sampleou Deize Tigrona em “Bucky Done Gun”, da MIA, a artista Björk, que surpreendeu seus fãs tocando MC Brinquedo numa festa em Nova York, e até Beyoncé, que dançou ao som de “Passinho do Volante (Ah, Lelek)” no Rock in Rio 2013.



Com um significado, impacto e importância muito além do sucesso comercial, a chamada “fase anal” da música brasileira, como foi apelidada pelo cantor Lulu Santos, se torna também um espaço para, em meio ao avanço de tantos discursos conservadores, resgatar e empoderar a periferia e grupos minoritários que, após tanto tempo de nichos e isolamentos, encontram por todo país palcos dispostos a ouvi-los. 

Se continuarmos neste ritmo, 2018 promete ser um ano e tanto.


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