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O caso de Uma Thurman exemplifica o quão problemática é a situação da mulher no mercado hollywoodiano

A atriz foi assediada por Harvey Weinstein
Em 2017, as acusações de assédio e estupro relacionadas ao Harvey Weinstein eclodiram em Hollywood. As mulheres da indústria se uniram, denunciaram e se apoiaram, criando inclusive a Time's Up. Os maiores nomes femininos da sétima arte soltaram a boca no trombone para se pronunciarem sobre os casos, mas quando questionada durante uma entrevista os Acess Hollywood, Uma Thurman preferiu ficar quieta.

Eu não sou uma criança, e eu aprendi que quando eu falo com raiva eu normalmente me arrependo da maneira pela qual me expresso. (...) Então, estou esperando para ficar com menos raiva. E, quando eu estiver pronta, direi o que tenho a dizer.

A atriz de "Kill Bill" pronunciou-se pela primeira em seu Instagram, desejando um feliz Dia de Ação de Graças a todos, exceto para Harvey Weinstein "e todos os seus conspiradores perversos — fico feliz que tudo esteja acontecendo devagar —, você não merece uma bala", conta na foto publicada. Porém, Thurman ainda tinha mais o que falar.

Em entrevista ao The New York Times, a atriz revelou que sofreu assédio de Harvey Weinstein. Uma revela que conheceu o produtor após "Pulp Fiction", o conhecendo bem antes dos ataques. "Ele passava horas conversando comigo sobre projetos e me elogiava. (...) Eu nunca fui a queridinha dos estúdios. Ele me tinha na coleira com os tipos de filmes e diretores que pensava serem os certos para mim"

O primeiro ataque aconteceu em um hotel em Paris, quando Weinstein tirou o roupão após uma conversa de roteiro, mas desistiu após Thurman tratar toda a situação como ridícula. Já o segundo ataque aconteceu em um hotel em Londres.

Ele me jogou para baixo, tentou se esfregar em mim. Ele tentou se expor, tentou todas as coisas mais nojentas. Mas ele, na verdade, não conseguiu nada e me forçou. Você se sente como um animal tentando fugir, como um lagarto.

Anos mais tarde, durante um jantar no Festival de Cannes em 2001, Quentin Tarantino percebeu o desconforto de Uma perto de Weinstein, perguntando o que havia ocorrido. Thurman contou que Tarantino já sabia de toda a história, mas que na época tratou a situação com certa normalidade, sentido pena de Weinstein tentando "ficar com garotas que ele não pode ter", como conta. A atriz relembrou o caso para Tarantino, resultando em um pedido de desculpas por Weinstein.

Os problemas da atriz foram além do produtor, porém de gravidade diferente. Durante as gravações de "Kill Bill", Uma foi persuadida a gravar uma cena perigosa. Aquela icônica cena em preto e branco, onde a personagem de Uma fala diretamente para a câmera, resultou em um acidente e a atriz teve sérios ferimentos na cabeça, pescoço e perna. Você pode ferir o acidente aqui.

Quentin veio ao meu trailer e não queria ouvir "não", como qualquer diretor. (...) Ele estava furioso porque eu estava atrapalhando o tempo deles. Mas eu estava assustava. Ele disse: 'eu prometo que o carro está bom, é um trecho em linha reta. Corra em 60 km/h ou seu cabelo não movimentará do jeito certo e farei com que você faça novamente'. Mas eu estava em uma péssima situação. O assento não estava fixo. Era uma estrada de areia e o a ela não era reta.

A atriz revela que levou 15 anos para conseguir as filmagens. Na época, a Miramax, co-fundada por Weinstein, só mostraria a filmagem a ela caso fosse isenta da responsabilidade e consequências de sua saúde. Foi o próprio Tarantino quem cedeu as imagens, nesta espécie de pedido de desculpas.

O caso de Uma Thurman exemplifica o quão problemática é a situação da mulher no mercado hollywoodiano. Assediada, a atriz tentou reverter a situação, mas só quando outro homem entrou em cena que ela teve ao menos desculpas. Precisou de um homem para outro homem reconhecer seus erros. Anos depois, foi silenciada por uma produtora que, só "contribuiria" caso não sofresse com as consequências. Os anos se passaram, e vivemos em um tempo onde a mulher está sendo encorajada a expor tais casos, visando assim um melhor ambiente de trabalho para ela — não apenas no cinema —, porém o caso de Uma vem para alertar que os problemas ainda existem, por mais antigos que sejam.
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