Desde 1999, quando "Shakespeare Apaixonado" venceu o Oscar de "Melhor Filme", arrematar o maior prêmio da indústria cinematográfica depende de uma forte campanha. Sessões exclusivas para os votantes, jantares, colocar seus atores na mídia, enfim, deixar o nome do filme em evidência é preponderante para a vitória. Se antes de todo o jogo de marketing era possível questionarmos os vencedores, imagine depois - tudo dentro da grande esfera que é a subjetividade, claro.
Vencer o careca dourado mais cobiçado muitas vezes não consegue fazer com que a obra vença o que é mais importante para o cinema: o tempo. Dentro na atual década mesmo já temos alguns exemplares que possuem o troféu na estante mas nem de longe são tão memoráveis quantos outros concorrentes - no entanto, felizmente, essa década ainda não premiou um filme verdadeiramente ruim. Por isso vim listar cinco filmes agraciados com o Oscar entre 2010-18 que trocaria, quais os motivos e quem deveria ter vencido.
5. 12 Anos de Escravidão (2014)
É bom deixar claro logo de início: "12 Anos de Escravidão", do ótimo Steve McQueen, é sim um grande filme. Um dos maiores expoentes do cinema norte-americano a explorar a escravidão, a pungente trajetória de Solomon Northup levou, além de "Melhor Filme", "Roteiro Adaptado" e "Atriz Coadjuvante" para a estreante - e maravilhosa - Lupita Nyong'o.
2010 poderia ter entrado no lugar - com "Guerra Ao Terror" sendo o campeão -, mas o motivo que me fez escolher 2014 foi pura e simplesmente os concorrentes de "12 Anos". Uma das melhores edições do Oscar, o ano teve "Gravidade", "Nebraska", "Clube de Compras Dallas" e "O Lobo de Wall Street" entre os indicados, só filmão. Apesar da pesada concorrência, sem dúvidas, meu vencedor teria sido "Ela", de Spike Jonze, aquela obra "isso-é-tão-Black-Mirror" que é um clássico instantâneo sobre o amor líquido no ápice da tecnologia. Quem diria que um dos maiores romances já feitas seria entre um homem e um computador?
4. Spotlight: Segredos Revelados (2016)
Quando temos dois nomes polarizando a votação, às vezes o prêmio principal acaba indo para um terceiro, que se torna uma espécie de "coringa": não tão forte quanto outros, mas inofensivamente bom, unindo todas as tribos. Foi o caso de "Spotlight: Segredos Revelados". Bom exemplar do cinema de jornalismo, "Spotlight" foi a escolha "segura" entre "O Regresso" e "Mad Max: Estrada da Fúria", num ano fraco da categoria. E o meu vencedor seria aquele que nem ao menos indicado foi: "Carol", de Todd Haynes.
Um dos filmes mais aclamados do século, "Carol" é uma obra-prima irretocável que passeia pelos corredores cheios de charme de um romance lésbico na década de 50, com performances antológicas de Cate Blanchett e Rooney Mara. Até hoje a roda cinéfila não entende como o filme não foi indicado nas principais categorias, uma das maiores furadas já cometidas pela Academia. Mas se for para escolher entre os indicados, o vencedor deveria ter sido "O Regresso", umas das mais extraordinárias e contemplativas histórias de vingança já feitas.
3. O Artista (2012)
Talvez o ano mais fraco da década na premiação, 2011 praticamente não teve grandes concorrências, com "O Artista" sendo absoluto favorito ao remontar o período clássico de Hollywood e ter a coragem de fazer um filme mudo e preto e branco em meio à era do 3D. Bonitinho e com boa veia de saudosismo e nostalgia, o longa foi o primeiro totalmente em P&B a vencer "Melhor Filme" desde "Se Meu Apartamento Falasse" em 1961, levando também os troféus de "Direção", "Ator" (para Jean Dujardin), "Figurino" e "Trilha Sonora".
O problema de "O Artista" é o mesmo da atual carreira de Dujardin: tornou-se irrelevante. E mais uma vez o melhor filme não estava entre os indicados: o iraniano "A Separação", de Asghar Farhadi. Vencedora do prêmio de "Melhor Filme Estrangeiro", a obra é uma das poucas em língua não-inglesa a ter sido indicada a "Roteiro" - no caso, "Original" -, e poderia tranquilamente ter concorrido a muito mais ao ser um dos mais imperdíveis filmes já feitos. E se for para ficar com algum dos reais indicados, "A Invenção de Hugo Cabret" e sua belíssima homenagem à Georges Méliès teria nosso ouro.
2. Argo (2013)
Nem tem muito o que falar aqui: alguém lembra desse filme??? O mais imemorável vencedor não só da década como do século, "Argo" já caiu no ostracismo mesmo sendo relativamente novo no hall dos vencedores. E também não há muito o que discutir sobre quem seria o merecido vencedor. "Amor" deveria ter na estante todas categorias ao qual foi indicado: "Filme", "Direção", "Roteiro Original", "Atriz" (para Emmanuelle Rivá) e "Filme Estrangeiro". Pelo menos esse último levou.
1. O Discurso do Rei (2011)
Que a Academia não aguenta um filme feito redondinho para ela, isso todo mundo sabe. Os chamados "Oscar baits", aqueles que gritam por alguns prêmios, estão aí ano após ano, e em 2011 o maior deles conseguiu arrepiar a epiderme dos votantes. "O Discurso do Rei" é a história do rei gago que passa o filme tomando coragem - e lições de fonoaudiologia - para fazer o discurso do título.
Só sendo a Academia - ou a Rainha Elizabeth, que chorou com a obra - para poder minimamente entender os motivos para condecorar um filme tão esquecível num ano com "A Rede Social", "Toy Story 3", "Minhas Mães e Meu Pai" e até "A Origem". Uma das maiores certezas envolvendo toda a história da premiação é: "Cisne Negro" deveria ter levado. Dádiva do audiovisual, o longa é uma aula de cinema, de ambientação, de atuação, de clima e de como fazer um final violentamente perfeito, num suspense psicológico de primeira linha que merecidamente está entre os maiores já feitos. A cara de Darren Aronofsky, diretor da película, ao perder o prêmio de "Melhor Direção" para Tom Hooper, diretor de "O Discurso", explica tudo.
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