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Em sua segunda temporada, "The Handmaid's Tale" continua sendo a melhor série em streaming

Até agora, com quatro episódios lançados, "The Handmaid's Tale" conseguiu manter o mesmo nível (se não superior).
Hoje em dia há uma grande saturação de conteúdo no mercado de entretenimento, mais especificamente quando se trata de televisão. Como consumidores, podemos todo dia escolher o que vamos ver em um leque de opções extremamente variado de séries vindas de plataformas e estúdios diferentes. Temos a televisão aberta, por assinatura, por assinatura em cima da assinatura (estamos olhando pra você mesma extorquidora de bolsos, HBO) e, mais recentemente, streaming. 

Este último tem constantemente oferecido conteúdo de alta qualidade que passa o rodo nas emissoras tradicionais em cada premiação. "The Handmaid's Tale", da plataforma caloura Hulu, venceu a estatueta de Melhor Série no último Emmy Awards e recentemente estreou sua 2ª temporada. Inicialmente, seria uma minissérie de apenas uma leva, adaptando a obra literária homônima da década de 80 de Margaret Atwood.

Sua alta relevância no clima atual e todo o sucesso que obteu (oito Emmys tá bom pra você?) fez com que os criadores da série seguissem em frente com a história além do livro cujo qual a mesma é baseada. Até agora, com quatro episódios lançados, "The Handmaid's Tale" conseguiu manter o mesmo nível (se não superior) de qualidade presente em sua primeira temporada enquanto ao mesmo tempo expandindo o mundo de Gilead e levando a história de June para o próximo nível. Mas, o que isso signfica?

*Daqui em diante, este texto contém alguns spoilers sobre a segunda temporada. Você foi avisado.


Isso significa que nesta nova temporada o maior obstáculo no caminho da nossa protagonista não é o mundo no qual ela vive. A maior batalha que ela luta não é escapar desse mundo, ou sobreviver, mas sim sua própria dualidade.

Este é o tema mais martelado pelos episódios lançados até agora: June é uma criminosa, uma pecadora. Offred é uma servente do sistema, uma fiel da religião. June merece ser punida. Offred tem uma oportunidade. Ambas são uma só. Porém, ao mesmo tempo, uma não pode sobreviver em coexistência com a outra.

E vários momentos ao longo dessa temporada deixam isso bem claro. O primeiro episódio já começa do melhor e pior jeito possível: com uma cena pulsante, difícil de assistir, e pesada no coração, mas que simultâneamente serve pra mostrar porque a direção, trilha sonora, fotografia, e principalmente atuação de "The Handmaid's Tale" é a melhor da atualidade.


Avançando um pouco para o episódio mais recente, 2x04 "Other Women", Tia Lydia e Serena Joy lembram novamente o telespectador sobre o peso das duas identidades da nossa protagonista. Quando June quase consegue escapar, o homem que a ajuda é executado. Quando June atreve falar de seu próprio chá de bebê de sua vida passada, Rita leva um tapa de Serena Joy. Quando June, em rebelião, é a primeira a se recusar a apredejar Janine, todas as outras handmaids são mutiladas.

Então, quando Nick tenta falar com ela no final do quarto episódio, Offred fala sobre o tempo. Tia Lydia reinforça isso quando leva June para ver o homem que a ajudou pendurado no Muro, enforcado: "June fez isso. June escapou. June conspirou com terroristas. Não Offred. Offred foi capturada. Offred é livre de dor. Offred não precisa suportar a culpa de June."

Nos momentos finais desse episódio, vemos June em seu pior. Quando se vive em um mundo que te roubou da sua vida, das pessoas que você ama, e até da sua identidade, o que mais você tem a perder? Nada. Esta premissa serve como a maior motivação por trás da vontade incessante de June de escapar, mas apenas até um determinado ponto. Por mais que ela queira ser livre, ver sua filha e seu marido novamente, ela não consegue suportar fazer isso as custas daqueles ao seu redor. Não se outros são punidos por sua causa. Perante isso, June gradualmente desaparece dentro de Offred. E esta é a que prevalece. 


Elisabeth Moss consegue mais uma vez, cena após cena, transmitir mil emoções com apenas um olhar. Ela está melhor do que nunca. Se a mesma levou o Emmy de Melhor Atriz pelo seu trabalho na primeira temporada, não ficarei surpreso se ela ganhar novamente este ano. E o mesmo serve também para Ann Dowd como Tia Lydia, que consegue ser cruel e emotiva ao mesmom tempo, Yvonne Strahovski como Serena Joy, que fica mais complexa e fascinante a cada episódio, e Alexis Bledel como Emily, que segue com sua própria história individual nas Colônias.

"The Handmaid's Tale" é uma história criada por uma mulher, sobre mulheres e, acima de tudo, para mulheres. A série acaba sendo inevitavelmente mais do que relevante e até mesmo assustadora. Mas não assustadora como um filme de terror, e sim como um episódio de "Black Mirror": tão distante, mas ao mesmo tempo tão próximo da nossa realidade atual que, em dados momentos em certos episódios, é fácil de visualizar a história se desdobrando na nossa sociedade e tempo atual.

A segunda temporada, até agora, nos lembra dessa similaridade assustadora entre ficção e realidade e, acima de tudo, sobe a barra de tudo que sua antecessora fez para todas as outras séries do mercado; streaming e além. 
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