Samantha! (Emanuelle Araújo), desde os 5, durante a década de 80 era uma grandiosa estrela mirim com a Turminha Plimplom e a canção "Abraço Infinito". Mais de 30 anos depois e com o fim do grupo, ela ainda quer ser famosa e tenta a todo custo estar de volta aos holofotes, sedenta para ter um programa no horário nobre.
"Samantha!" acerta em cheio com seus personagens. Brandon (Cauã Gonçalves), o filho mais novo da protagonista, detesta futebol e é inteligente, mas ama pra caramba "Frozen", com poster no quarto e tudo mais. Cindy (Sabrina Nonata), a filha mais velha, é toda militante, feminista e quer salvar as abelhas da extinção. Dodói (Douglas Silva), o ex, passou 12 anos na cadeia e era um jogador famoso do Flamengo.
Essa mistura louca funciona porque cada um consegue ter seu devido espaço, apesar da série focar em Samantha! por motivos óbvios. A dinâmica entre os quatro é ótima, e a química entre Emanuelle e Douglas é bem satisfatória!
O primeiro desafio, e talvez único, da série é realizado com sucesso já no primeiro episódio: tornar Samantha! cativante. Por ser obcecada pela fama, as chances de tornarem seus dramas cansativos e, em consequência, ela em uma personagem difícil de engolir eram enormes. Mas a série trata a personagem e seus problemas de forma tão leve e redondinha que é impossível não torcer pelo seu sucesso.
Apesar de se passar em 2018, a série (e a personagem) precisa muito do ambiente dos anos 80 para sobreviver. A vibe anos 80 está espalhada ao longo dos episódios e firme nos flashbacks. O baú de lembranças de Samantha! é repleto de objetos da época, como um disco de vinil e uma boneca sua — assim como Xuxa e outras apresentadoras de programas infantis que já tiveram suas próprias bonecas.
As brincadeiras que "Samantha!" faz com a metalinguagem se tornam uns de seus pontos mais altos.
As brincadeiras que "Samantha!" faz com a metalinguagem se tornam uns de seus pontos mais altos. Ao menos três episódios são "rodados" como gêneros televisivos extremamente únicos, mas marcantes para a TV brasileira: um programa de talentos, um reality show de casal e um programa semanal de tarde, ao estilo "A Tarde é Sua" e "Hoje em Dia" — que ia ao ar nas manhãs, então finge.
Não só brincando com estes gêneros, a série ainda faz referência a inúmeros elementos da cultura televisiva brasileira. São incontáveis os momentos onde alguns elementos são jogados em meio a trama e são necessários para que ela caminhe.
O choque entre o atual e o antigo é inevitavelmente presente em alguns episódios, como quando Samantha! conhece uma blogueirinha do Instagram com quatro milhões de seguidores. O embate serve até para uma crítica sobre como reverenciamos pessoas extremamente superficiais e as tornamos famosas, e como elas conseguem ser tão influentes nas vidas de outras pessoas, até nos próprios filhos de Samantha!.
Fugindo do pronto crítico, o choque entre passado e presente se torna material para dar ponta-pés ou ganchos nos episódios. O grande mérito disto para a própria personagem é ao fazer com que ela evolua. Começamos com ela precisando desenfreadamente ser famosa; terminamos com essa sensação ainda, mas sua família e amigos são postos em primeiro lugar.
A série pisa no acelerador com moderação e tem um ritmo necessário para a proposta.
Com somente sete episódios com por volta de 25 minutos cada — exceção ao primeiro com quase 40 — a série pisa no acelerador com moderação e tem um ritmo necessário para a proposta. Em alguns momentos, o pé no acelerador é um pouco pesado, podendo causar a sensação de pontos não tão bem esclarecidos, mas nada que prejudique sua qualidade e a própria trama.
No fim, "Samantha!" é sobre desapegar do passado e seguir em frente, cumprindo seu papel sem grandes empecilhos, sendo leve e divertida, como deveria ser. Com um ganchinho absurdo, mas que para a série tá ótimo, seria um pecado caso a Netflix abandone a série somente com esses 7 episódios. Precisamos de mais "Samantha!".
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