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Lista: 10 filmes que você poderá dizer "isso é tão Black Mirror"

Já estamos vivendo dentro de um episódio de "Black Mirror" e o cinema há anos nos mostra isso

A série "Black Mirror" surgiu em 2011 no Channel 4, canal britânico de entretenimento. Fora dos grandes holofotes, o seriado já possuía público fiel nas duas primeiras - e curtas - temporadas exibidas pela tevê. Mas foi com a compra pela Netflix que transformou "Black Mirror" num fenômeno. Composta por antologias, cada episódio se passa num futuro diferente e estuda o impacto da tecnologia em nossas vidas - geralmente de forma negativa.

Como tudo que cai nas mãos da Netflix, todo lançamento vira o tópico principal da semana, o que gerou o meme "isso é tão Black Mirror" a qualquer coisa que envolva a tecnologia de maneira exagerada e cômica. Mas engana-se quem acha que foi com o seriado que surgiu esse questionamento sobre até onde nossa segurança pode ser resguardada contra a ameaça dos avanços tecnológicos. Diversos filmes pela história já traziam tais debates - o clássico "Metrópolis" falava do tópico em 1927.

Tendo isso em vista, escolhi 10 filmes que você poderá tranquilamente falar "isso é tão Black Mirror!". Para categorizar os longas, há uma escala de "blackmirrorização", composta por números que representam qual o patamar da realidade desenvolvida pela obra, disposta da seguinte maneira:
1: realidade que está acontecendo neste momento ou em um futuro muito próximo;
2: futuro um pouco mais distante, porém palpável e facilmente vislumbrado;
3: sociedade longínqua, com extremos tecnológicos interferindo na vida humana.

Aos Teus Olhos (idem), 2018

Nível de blackmirrorização: 1

"Aos Teus Olhos" é o patamar mais elementar da crítica contra o mal uso da tecnologia: o filme se passa agora, enquanto você lê a isso. Quando um professor é acusado de assediar um dos alunos, a situação, que requer o máximo de calma possível para ser administrada, encontra solução oposta: é arremessada nas redes sociais e grupos de WhatsApp, gerando uma turba raivosa que explode a situação. A premissa pode lembrar o já clássico "A Caça", porém o brasileiro conta com os smartphones como peça preponderante para sua trama, revelando o quanto possuímos armas em formas de celulares, prontas para atirar no primeiro alvo que apareça.

Ingrid Vai Para o Oeste (Ingrid Goes West), 2017

Nível de blackmirrorização: 1

Ingrid é uma garota com sérios distúrbios psicológicos que se trata através do Instagram. É pela rede social que ela descobre um universo incrível, e, ansiando fazer parte do mesmo, cria uma vida completamente falsa para poder se encaixar na vida de sua ídola, uma blogueirinha hipster que você encontra ao abrir o Explorar do aplicativo - isso se você não seguir várias. "Ingrid Vai Para o Oeste" não abre mão da veia humorística para jogar na nossa cara o quanto nos esforçamos para ter uma vida perfeita no Instagram, deixando de viver o real, afinal, quem quer ser o chato e sem amigos quando pode ser o belo e popular por trás dos filtros? Se ao fim da sessão você quiser desativar o Instagram, não se reprima #pensativo.

Ela (Her), 2013

Nível de blackmirrorização: 1

Você já amou e sofreu por personagens de livros, filmes e séries, tenho certeza. Mas já parou para pensar como é possível amarmos algo que não existe? "Ela", que venceu o merecido Oscar de "Melhor Roteiro Original", apropria-se desta discussão e coloca um homem se apaixonando por um computador - ou melhor, pelo sistema operacional dele. Mesmo num futuro um pouco mais distante, "Ela" é reflexo absoluto do nosso tempo, com máquinas cada vez mais antropomorfizadas - as Siris da vida não me deixam mentir. Como resistir algo que foi montado - literalmente - para se adequar 100% a você? Que conversa, interage, pensa e suspira? A tecnologia, que ao invés servir como ponte, levanta muros, fortalecendo a solidão e o distanciamento humano.

Ex Machina: Instinto Artificial (Ex Machina), 2015

Nível de blackmirrorização: 2

Um jovem programador é recrutado para realizar um teste numa robô com altíssima inteligência artificial. Mas, chegando lá, ele se vê envolvido demais pela desenvoltura da máquina, que, se não fossem os fios e circuitos à mostra, seria humana (até demais). O longa coloca na mesa discussões interessantíssimas e dilemas humanos universais sobre o instinto de sobrevivência. Da concepção visual incrível da robô - que já debate objetificação feminina - até os diálogos carregados de filosofias, "Ex Machina" é um clássico da ficção científica que aborda a velha (mas, no caso, muito boa) dúvida: o que criamos pode se voltar contra nós? Num determinado momento, o espectador não sabe mais se é o programador que está testando a robô ou o oposto.

Portal Negro (Black Hollow Cage)

Nível de blackmirrorização: 2

"Portal Negro" é uma obra independente e espanhola (mas falada em inglês) que se passa num tempo e lugar que não sabemos. O design de produção nos dá pistas sobre o futuro em que o filme está inserido, mas excluindo todo o contexto - a casa é inteiramente tecnológica, todavia, não dá uma televisão à vista. Uma garota, aprendendo a se adaptar com o braço mecânico recém adquirido, encontra um enorme cubo preto na floresta ao lado de sua casa. Dentro do cubo há uma estranha mensagem, que está ligada diretamente ao destino de todos. Os mistérios de inserção de "Portal Negro" são um charme a mais desse quebra-cabeças que não está interessado em explicar sua tecnologia, e sim guiar o espectador na corrida contra o tempo dos personagens.

O Show de Truman: o Show da Vida (The Truman Show), 1998

Nível de blackmirrorização: 2

Truman é um homem normal, que vive numa cidade normal, com uma família normal, vivendo o normal "sonho americano". Nada parece fora do lugar. Só que ela não sabe: sua vida, desde o nascimento, é um reality show, sendo transmitida 24h para todo o planeta. A premissa de "O Show de Truman" já cola qualquer um na cadeira, e a execução deve em absolutamente nada: um dos melhores trabalhos de Jim Carrey, a película é uma insana viagem sobre a fragilidade que é o ato de viver. Enclausurado em sua vida montada, Truman é reflexo das nossas bolhas da verdade, onde as pessoas são meros atores e os acontecimentos calculados e planejados. Não estaríamos todos nós vivemos da mesma forma que Truman?

A Ilha (The Island), 2005

Nível de blackmirrorização: 3

Se alguém um dia me dissesse que eu colocaria um filme do Michael Bay numa lista com bons nomes, não acreditaria. E cá estou. "A Ilha" mostra uma sociedade distópica, onde todas as pessoas vivem dentro de um gigante edifício, já que o exterior foi permanentemente arruinado pela poluição. Mal sabem eles que aquele universo é uma mentira e todos são clones, cultivados para servirem de doadores de órgãos aos seus compradores. É claro que "A Ilha" tem toda a afetação e milhares de cenas de ação com tiros e explosões sem muito sentido, marca registrada de Bay, entretanto, consegue ser divertido, mantendo o interesse pela curiosa premissa. É farofa, mas tem qualidade.

Sr. Ninguém (Mr. Nobody)

Nível de blackmirrorização: 3

Nemo Ninguém tem 120 anos e é, além do homem mais velho do planeta, o último mortal existente. Uma nova raça de seres humanos imortais regem o globo, e Nemo, à beira da morte, discorre sobre sua vida, ponderando se ela valeu a pena ou não. A coisa complica quando ele não tem apenas uma versão, mas três diferentes. Qual a verdade? Seria alucinação de alguém tão idoso? Muito mais que uma suposta narrativa complexa - que na verdade é bem simples -, "Sr. Ninguém" é um exercício estilístico feito com primazia, colocando o pé no experimental sem se tornar hermético ou inacessível. O roteiro basicamente se deita sobre a Teoria do Caos e mostra três rumos diferentes da vida de seu protagonista - todas são corretas pois todas existem em seus determinados planos. Os imortais então assistem aos últimos momentos de Nemo pelas construções do novo mundo.

Hardcore: Missão Extrema (Hardcore Henry), 2015

Nível de blackmirrorização: 3

"Harcore" fez muito barulho na internet em 2015 por ser um filme feito inteiramente em primeira pessoa - nós vemos o que Henry vê, como um jogo de tiro à la "Counter Strike". A técnica não é nova, porém sobe mais um degrau pela altíssima qualidade de produção, inegavelmente só uma desculpa para fazer o terror na tela. A história é básica: Henry é ressuscitado ao fundirem seu corpo com uma máquina, tornando-o um cyborg pronto para resgatar sua esposa. A porraloucagem, assim como a dor de cabeça, é grande, e, mesmo com o roteiro elementar demais, a sessão gera uma experiência única - um videogame na telona.

Upgrade (idem), 2018

Nível de blackmirrorização: 3

"Upgrade" e "Hardcore" compartilham de várias similaridades: ambos são através da óptica dos homens que, após fundirem seu corpo com alguma parafernália tecnológica, viram uma máquina de luta. "Upgrade" possui a convencional narrativa em terceira pessoa, e não tem medo de ser um autêntico filme de ação quando seu protagonista sai à caça daqueles que assassinaram sua esposa. Nele é colocado um chip que não só recupera seus movimentos - ele fica tetraplégico do assassinado da mulher - como vira um segundo e poderoso cérebro. Com cenas lindamente fotografadas e boa dose de humor, a pipoca está mais que garantida nesse pequeno e descompromissado filme.

***

Prometo que esse post não foi patrocinado pela Netflix, atual detentora dos direitos de produção de "Black Mirror", porém, qualquer coisa, meu e-mail está aberto à negociações. Qual foi aquele filme que te fez gritar "bicho, isso é muito blequemiror!"?
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