E olha dezembro aí. Piscamos e o ano já passou, e, muito mais que o Natal, as listas de fim de ano são o melhor acontecimento do último mês. Ainda tem muita coisa para estrear, porém podemos começar apontando o que aconteceu de mais incrível no Cinema, e a primeira lista escolhe as 10 melhores atuações masculinas do período.
É válido apontar que o critério de escolha não difere protagonistas e coadjuvantes, além de encaixar filmes com estreia em solo brasileiro em 2018 ou com a obra disponível sem data de lançamento prevista - ou seja, chegou à internet sem distribuidora no país. E, caso não tenha assistido aos filmes em questão, não se preocupe: os textos são sem spoilers. Dá tempo de correr para marcar como vistos antes de começar 2019.
10. Brady Blackburn (Domando o Destino)
A principal estratégia da diretora Chloé Zhao com "Domando o Destino" foi: escolher atores amadores que estão dentro do contexto em que seu filme se passa - muitos personagens são os atores interpretando a si mesmos. Mas foi Brady Jandreau, em seu primeiro papel, que carregou a alma da película. Vivendo um vaqueiro que vê seu sonho indo embora após um acidente, Jandreau entrega uma naturalidade digna de atores veteranos e domina a cena, auxiliado pelo roteiro que exige o melhor dele.
9. Joaquin Phoenix (Você Nunca Esteve Realmente Aqui)
Uma das maiores forças de Joaquin Phoenix é sua versatilidade. Ao contrário de tantos e tantos atores, em que os papéis são várias versões de si mesmos, Phoenix consegue se transformar totalmente, de "A Vila" (2004) até "Ela" (2013). O mais extremo de sua filmografia talvez seja Joe, o protagonista de "Você Nunca Esteve Realmente Aqui". Arrematando o prêmio de "Melhor Ator" no Festival de Cannes 2017, Joaquin vai do silêncio aos berros com uma capacidade impressionante nesse "Oldboy" (2003) moderno, mais um herói que foge do binarismo de mocinho fantástico.
8. Gary Oldman (O Destino de Uma Nação)
O vencedor do Oscar 2018 de "Melhor Ator", Gary Oldman, fez um verdadeiro arrastão, levando todos os principais prêmios da temporada pelo desempenho em "O Destino de Uma Nação". Debaixo de quilos de maquiagem, Oldman não deixa as próteses fazerem sua atuação: o filme é inteiramente dele. Toda a produção é palco para o ator berrar e fazer suas caretas, num legítimo Oscar bait - o que não é ruim quando é justificável. Lotado de dualidades, o eterno Sirius Black ganhou a Academia à base do grito.
7. Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome)
Eu nunca fui dos entusiastas apaixonados por "Me Chame Pelo Seu Nome": eleito uma obra-prima do cinema LGBT, acho o longa muito bom, todavia longe dos louvores fervorosos. O que é inegável é Timothée Chalamet, numa das melhores atuações revelações da década. Com apenas 22 anos, o "menino pêssego" (como carinhosamente é chamado) transborda seu desempenho tela afora e dá veracidade a um amor de verão fadado ao fracasso, dando seu corpo e sua alma em um papel em que a pele é o palco principal.
6. Nakhane Touré (Os Iniciados)
Papéis LGBTs no Cinema carecem de um cuidado de composição maior, já que geralmente tais papéis possuem as discussões de sexualidade/gênero como diferencial. E o que Nakhane Touré faz no africano "Os Iniciados" é fenomenal: vivendo a pele de um gay aprisionado pela cultura e tradições, o desenvolvimento do tímido mentor do ritual de maioridade que vive por trás de uma máscara opressora é cinematograficamente poderoso. Os caminhos tão diferentes da atuação de Touré detrás desta máscara e junto com seu grande amor, outro mentor, demonstra a capacidade do ator de ir aos extremos e apresentar um show no ecrã.
5. Evan Rosado (Os Animais)
Alguém não ama uma boa atuação infantil? Crianças na tela são uma aposta muito alta, pois ou vai dar muito ruim ou muito bom. Quanto maior a demanda emocional, maior o risco, e o risco foi pago com maestria pelo pequeno Evan Rosado no drama indie "Os Animais". Caçula de três irmãos, Jonah (personagem de Rosado) tem que criar um universo fantasioso próprio para manter sua sanidade. Um papel muito complexo, recheado de camadas e que até um ator consagrado teria que suar para fazer, Rosado tira de letra e mostra um nível de afinidade e conforto dentro da pele de Jonah que choca. Quanto mais o filme passa, mais é exigido do garoto, que nem parece se esforçar.
4. Ethan Hawke (No Coração da Escuridão)
É curioso ver como padres conturbados geram tantas performances além da média - de Max von Sydow em "O Exorcista" (1973) até Philip Seymour Hoffman em "Dúvida" (2008). Ethan Hawke entra nesse hall em "No Coração da Escuridão". Entrando na vida cristã após a perda do filho, padre Toller não imagina o turbilhão em que está prestes adentrar quando conhece uma esposa grávida e seu marido suicida. Com um roteiro que vai à fundo na perda absoluta da fé, Hawke desenvolve sutilezas avassaladoras ao por na mesa discussões tão atuais e complexas, carregando uma cruz de emoções que rasgam o ecrã.
3. Sam Rockwell (Três Anúncios Para um Crime)
"Três Anúncios Para um Crime" é, de longe, o melhor corpo de atores de 2018 - não há uma mísera atuação menor que "perfeita" -, é Sam Rockwell que exerce uma das forças naturais da produção. Personagem que merece ser odiado sem pestanejar, Rockwell une uma paleta obscura de ódios e preconceitos para Jason Dixon, um policial racista, homofóbico e misógino, e o resultado é um papel insano. Com o careca dourado de "Melhor Ator Coadjuvante" na estante, Rockwell finalmente sai das sombras e surge como um grande performer, num daqueles personagens para ficarem marcados na história do Cinema.
2. Bradley Cooper (Nasce Uma Estrela)
Bradley Cooper já recebeu múltiplas indicações pela Academia, entretanto, nunca conseguiu ganhar meu apreço. É fato que sua competência é incontestável, mas nenhuma de suas atuações fazia com que eu caísse de amores, o que está devidamente mudado. Além de dirigir, Cooper traz o papel de sua carreira com o músico falido Jackson Maine na quarta versão de "Nasce Uma Estrela". Virando o real protagonista do filme, ao contrário dos longas anteriores, Cooper, mesmo contracenando com Lady Gaga, em momento nenhum deixa a cena ser assaltada, mergulhando de cabeça nos vários demônios de seu personagem, colocando em xeque temas como vícios e problemas psicológicos - e cantando muito. Merece um Oscar.
1. Marcello Fonte (Dogman)
E a melhor atuação masculina do ano é de Marcello Fonte na obra-prima "Dogman", selecionado da Itália para o Oscar 2019 de "Melhor Filme Estrangeiro". Vivendo um adorável dono de pet shop, Marcello (o nome do personagem e do ator é o mesmo) tem uma segunda vida ao vender drogas para dar tudo o que a fofa filha deseja. O problema é que ele é um fantoche nas mãos de Simone (Edoardo Pesce), um cara barra pesada que usa Marcello de gato e sapato a fim de conseguir drogas. Usando o meio decrépito de uma Itália em ruínas, o protagonista se afoga em questões morais violentamente importantes e produz a performance mais brilhante de 2018, laureada com a Palma de "Melhor Ator" em Cannes. Da composição física até as escolhas psicológicas, há nenhuma camada fora do lugar com Fonte.
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