Mais um 08 de março, mais um Dia Internacional da Mulher. A data existe para celebrarmos a existência desse ser que ainda é vítima de opressões e violências diárias só por ser mulher. Nem preciso entrar nos trâmites que corroboram com a importância do pensamento crítico e social ao redor das mulheres, então sigamos em frente.
O Cinema é uma das indústrias que mais reflete a exclusão da mulher: elas são minorias em quase todos os departamentos. Os números não mentem: das 100 maiores bilheterias de 2018, apenas 4% eram dirigidas por mulheres. Enquanto o Oscar 2019 teve o maior montante de mulheres vencedoras, o prêmio de "Melhor Direção" só viu uma delas vencendo, Kathryn Bigelow por "Guerra Ao Terror" (2008) - e só outras QUATRO foram indicadas nos mais de 90 anos da premiação.
Por isso, decidi listar 10 filmes maravilhosos e modernos que possuem mulheres na cadeira de direção. A lista não está em ordem de preferência e nem escolhe os 10 melhores filmes femininos da *insira a faixa de tempo*, e sim traz 10 nomes que, talvez, o grande público não conheça - obras como "Lady Bird" (2017), "Que Horas Ela Volta?" (2015) ou "Precisamos Falar Sobre Kevin" (2011) foram postas de lado por já serem largamente famosas.
Na Flor da Idade (Grzeli Nateli Dgeeb/In Bloom), 2013
Dirigido por Nana Ekvtimishvili & Simon Groß.
Após o colapso da União Soviética nos anos 90, duas irmãs georgianas seguem suas vidas em meio ao caos social. Para elas, o mundo ainda não havia mostrado suas garras. Quando uma é obrigada a se casar, elas finalmente entendem o papel da mulher no universo patriarcal. "Na Flor da Idade" é um drama familiar intenso e cru que se divide entre chocar e sensibilizar a plateia. Ainda tem um acréscimo de ser vindouro de um país cuja cultura cinematográfica seja tímida - não lembro de já ter visto outro filme da Geórgia.
O Julgamento de Viviane Amsalem (Gett), 2014
Dirigido por Ronit Elkabetz & Shlomi Elkabetz.
Em plena Israel contemporânea, Viviane só deseja uma coisa: se separar do marido. Mas lá não existe divórcio civil, cabendo ao homem a voz final para a dissolução do casamento - e o de Viviane jamais aceitará. Assim começa a batalha de uma mulher que só deseja ser dona de si mesma. Confinando-nos dentro de um tribunal por 2h, "O Julgamento de Viviane Amsalem" é a metáfora perfeita para a situação claustrofóbica da protagonista, que deseja nada além da sua liberdade - e tudo sem cair em chavões fáceis como abusos e violências. É a luta pelo simples direito de ser. Uma perda para o Cinema internacional a morte precoce de Ronit Elkabetz (co-diretora e protagonista) em 2016.
Políssia (Polisse), 2011
Dirigido por Maïwenn.
Segundo Maïwenn, o título de "Políssia" veio do seu filho, que escreveu a palavra "polícia" com dois "s". O título é singelo, mas carrega o cerne da película: conhecemos a rotina dos policiais da Brigada de Proteção de Menores. Sua principal função é lidar com crianças vítimas de pedofilia. Muito mais que uma visão fria do trabalho, os 120 minutos de duração obrigam o espectador a chorar e vomitar um turbilhão de sensações, costurando de forma brilhante o dia a dia do combate à pedofilia com seus impactos sociais e psicológicos sob todos os envolvidos. "Políssia" é o Cinema como espinho necessário.
Eu Não Sou Uma Feiticeira (I Am Not a Witch), 2017
Dirigido por Rungano Nyoni.
Vencedor do prêmio de "Melhor Estreia" no BAFTA 2018, "Eu Não Sou Uma Feiticeira" viaja até a Zâmbia para escancarar a cultura africada de bruxaria. Só que, ao contrário do que podemos esperar, ser rotulada como bruxa é o pior pesadelo de uma mulher. Rungano Nyoni sabe da importância do seu texto e de como extrair imagens poderosíssimas do seu filme, e "Eu Não Sou" é uma alegoria carregada e certeira do choque entre gerações e como algumas tradições devem ser urgentemente abolidas.
Cabelo Ruim (Pelo Malo), 2013
Dirigido por Mariana Rondón.
Junior mora na periferia de Caracas, Venezuela. Correndo nas ruelas do complexo de precários apartamentos em que vive, o garoto sonha em ter a foto do anuário escolar perfeita, e para isso - diz ele - precisa alisar o cabelo. Isso se torna uma obsessão para o menino, o que desencadeia a ira da mãe, preocupada com o fato do filho ser gay. "Cabelo Ruim" esbanja sensibilidades ao abordar um conjunto de temas complexo - raça, sexualidade e pobreza - sob o prisma infantil, que desde cedo sente nas costas os pesos e as pressões da sociedade. Mariana Rondón, no entanto, não tem pudores em revelar o quão cruel podemos ser diante do sonho de uma criança.
Marguerite (idem), 2017
Dirigido por Marianne Farley.
Curta-metragem indicado ao Oscar 2019, "Marguerite" gravita ao redor da personagem-título, uma idosa que recebe os cuidados de Rachel, sua enfermeira. Esta entra e sai da casa e da vida de Marguerite, que tem sua percepção mudada quando descobre que Rachel é lésbica. A descoberta vai destravar sentimentos passados e mudar a relação das duas. O curta de Marianne Farley tem apenas 19 minutos, todavia, arranca lágrimas pelo violento nível de emoção ao abordar tópicos que dificilmente aparecem lado a lado - e com uma expertise de dar inveja.
Blue My Mind (idem), 2017
Dirigido por Lisa Ivana Brühlmann.
O maior medo da adolescente Mia é a sua própria natureza: com 15 anos, ela entra na puberdade e seu corpo começa a mudar. Na fase mais conturbada da vida, ela tenta se encaixar no grupo de meninas enquanto desesperadamente busca um meio de frear seu próprio corpo. "Blue My Mind" (trocadilho genioso em inglês) nada mais é que uma metáfora cinematográfica das mudanças femininas na puberdade. Lisa Brühlmann pega verdades comuns e produz matéria-prima para um enredo que une realismo com fantasia.
O Estranho Que Nós Amamos (The Beguiled), 2017
Dirigido por Sofia Coppola.
Uma escola feminina no interior dos EUA em plena Guerra Civil tem sua rotina mudada permanentemente quando um soldado ferido é resgatado em suas imediações. Relutante pela presença do homem, a diretora da escola se vê tentada a deixa-lo ali - mas ela não imaginava que a tentação não seria só dela. "O Estranho" rendeu o segundo prêmio de "Melhor Direção" a uma mulher no Festival de Cannes - para Sofia Coppola -, e merecidamente. Seu filme é um conto de como a masculinidade é uma doença naquele corpo feminino, que deve se unir para não ver sua própria ruína.
Pária (Pariah), 2011
Dirigido por Dee Rees.
De uma das maiores expoentes do cinema negro norte-americano - Dee Rees -, "Pária" coloca no palco Alike, uma garota de 17 anos que passa por uma batalha interna para se aceitar como lésbica. Chamado de "semi-autobiografia" por Rees (que também é lésbica), a obra é o "Moonlight" (2017) feminino: explora as dores específicas que uma pessoa negra sofre por ser gay. Alike ainda tem o peso de ser mulher e estar fincada numa família religiosa, mais um prego na cruz que deve carregar. Visual e socialmente estonteante, "Pária" é uma pérola do Cinema em todos os quesitos.
Cafarnaum (Capernaum), 2018
Dirigido por Nadine Labaki.
Nas favelas do Líbano vive Zain e sua família. O garoto está preso (com apenas 12 anos) após se envolver num crime. No julgamento, ele revela querer processar os pais; o motivo? "Por eu ter nascido". "Cafarnaum" é uma obra-prima inestimável que tem acumulado prêmios e indicações ao redor do mundo - foi indicado a "Melhor Filme Estrangeiro" no Oscar 2019 e merecia ter levado. O trabalho que Nadine Labaki realiza enquanto diretora e roteirista é fora de série, uma das direções mais poderosas do ano que a comprova como voz fundamental para a Sétima Arte.
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