Ah, o prêmio da Academia... A maior honraria do mundo do entretenimento é algo de investimentos absurdos por parte de pessoas e empresas em busca do tão sonhado careca dourado. Como já disse Madonna quando perguntada se queria um Oscar, "E quem não quer???". O auge do entretenimento televisivo, há quase um século a premiação faz o mundo parar para ver quem sairá da noite um pouco mais dourado, e nós, também, estamos aqui para julgar tudo isso.
A década de 2010 foi importante para a premiação e, consequentemente, a indústria. Tivemos a primeira mulher a vencer o Oscar de "Melhor Direção", tivemos calorosas discussões sobre a representatividade de minorias entre os indicados, tivemos o primeiro filme 100% negro e LGBT a vencer o maior prêmio da noite, enfim, vimos avanços, mas também vimos algumas decisões que nos fizeram falar "Academia, conte comigo para nada". E aqui trago as 10 piores entre elas.
Cada um dos 10 prêmios listados estão aqui tanto pelo valor absoluto - o que o agraciado fez em seu respectivo filme - quanto pelo valor comparativo - qual era a concorrência naquela categoria. Caso você discorde de algum a ponto de se inflamar, não esqueça: cada um deles está em casa com um Oscar em casa, então unbothered. Faça o mesmo.
10. Brie Larson vencendo "Melhor Atriz" por "O Quarto de Jack", Oscar 2016
Já existe há algum tempo um padrão que envolve o prêmio de "Melhor Atriz": premiar uma atriz nova e promissora em detrimento de uma mais velha e consolidada, afinal, essa lógica rende muito mais para a indústria. Brie Larson foi uma delas. A atriz é deveras competente e faz um bom trabalho em "O Quarto de Jack", todavia, sua vitória é um exagero tremendo, principalmente vendo que ela não era, nem perto, a melhor entre as indicadas: Cate Blanchett por "Carol" e Charlotte Rampling por "45 Anos" eram muito mais merecedoras.
9. "A Grande Aposta" vencendo "Melhor Roteiro Adaptado", Oscar 2016
A Academia se derrete por roteiros complicadíssimos, intricados e com falatório interminável, por isso não surpreendeu quando "A Grande Aposta" venceu "Roteiro Adaptado". Um daqueles filmes que só é valorizado pelo grupinho norte-americano, o roteiro brilhante de "Carol" estava indicado ali do lado, esnobado criminalmente, assim como a falta de indicação à categoria de "Melhor Filme" naquele ano.
8. Tom Hooper vencendo "Melhor Direção" por "O Discurso do Rei", Oscar 2011
O Oscar 2011 foi um daqueles que a gente, quase uma década depois, olha para trás e pensa "o que diabos aconteceu?". Indicados errados e vencedores piores ainda, um dos auges foi a limpa que "O Discurso do Rei" fez, vencendo quatro prêmios. Se for para escolher o pior, com certeza foi Tom Hooper levando "Melhor Direção". Não apenas pela robótica e nada inspirada direção: ele era, literalmente, o mais fraco dos cinco indicados. A cara do Darren Aronofsky (vencedor moral) no anúncio da categoria resume.
7. "O Jogo da Imitação" vencendo "Melhor Roteiro Adaptado", Oscar 2015
"O Jogo da Imitação" é um daqueles filmes históricos desesperado para ganhar um Oscar. E conseguiu. É verdade que das oito indicações, felizmente venceu apenas uma, e logo naquilo que o filme faz de pior: o roteiro. Esquemático, rasteiro e pronto para uma matinê qualquer, a história de Alan Turing tinha tudo para ser uma sólida biografia LGBT, mas termina como um daqueles textos que sai direto em DVD. Bom pontuar que a categoria em 2015 estava um horror, contudo, "Whiplash" era concorrente. Não dá para entender.
Até hoje me pergunto se esse acontecimento é real: "Esquadrão Suicida" tem um Oscar para chamar de seu. Uma indicação já seria o auge de uma honraria para essa bagunça em formato de HQ audiovisual, contudo, a Academia foi ainda mais longe e escolheu a maquiagem do filme - que é, na melhor das hipóteses, "competente" - como a melhor do ano. "Star Trek: Sem Fronteiras" e "Um Homem Chamado Ove" seriam nomes mais dignos.
5. "Bohemian Rhapsody" vencendo "Melhor Montagem", Oscar 2019
Eu realmente podia escrever todo um texto sobre o quão desastrosa é a montagem de "Bohemian Rhapsody" (comento sobre na crítica do filme), porém, vou deixar esse tweet falar por si só.4. Eddie Redmayne vencendo "Melhor Ator" por "A Teoria de Tudo", Oscar 2015
Você é um ator em acensão e quer um Oscar para chamar de seu? É fácil, só seguir essa fórmula: escolha um personagem real em sua cinebiografia + assista ao máximo de fitas sobre a personalidade, e copie seus trejeitos + exagere na carga emocional, se fizer chorar é ainda melhor + submeta-se a uma mudança física drástica. Seu nome já tá na estatueta, como foi o caso de Eddie Redmayne como Stephen Hawking. Se você assistir apenas à sua performance, pode até ver os motivos que a Academia tenha colocado o nome do ator no envelope, porém, visto que Steve Carell e Michael Keaton entregaram duas das melhores atuações daquele ano, a coisa empalidece. Piora ainda quando percebemos que aquela atuação antes tão coerente é o mote do ator, que desde então repete a mesma coisa em toda atuação.
Já deu para perceber que a 91ª edição do Oscar estava empenhada em acumular fracassos, certo? Em um ano fantástico para o cinema, a Academia apontou o dedo para "Green Book" como o melhor roteiro daquela temporada. Um verdadeiro manual clichê sobre o racismo na nossa sociedade, há absurdamente NADA de inovador nesse texto da mente por trás de "Debi & Lóide" (sim). Chega a assustar quando pensamos que os votantes viram o texto de "A Favorita" e acharam que não era tão bom quanto o de "Green Book".
2. Jennifer Lawrence vencendo "Melhor Atriz" por "O Lado Bom da Vida", Oscar 2013
Aquele esquema que fez Brie Larson vencer o Oscar de "Melhor Atriz" foi o mesmo que rendeu o careca dourado para Jennifer Lawrence. A situação no caso de JLaw é muito pior por um motivo simples: enquanto a atuação de Larson era, vista unicamente, algo até entendível de receber o prêmio, a de JLaw em "O Lado Bom da Vida" é uma tragédia e a pior das cinco indicadas. O filme com toda certeza não ajuda: uma "Sessão da Tarde" sem tirar nem por, passamos por um draminha superficial e um romance água com açúcar para gerar vergonha, e JLaw jamais chega perto de transparecer ser a ninfomaníaca que seu papel tenta por na tela. Para consolar o coração, só pensar que ela venceu o prêmio por "Mãe!". É revoltante, também, lembrar que Emmanuelle Riva morreu sem um Oscar, mesmo depois da genial performance em "Amor".1. Rami Malek vencendo "Melhor Ator" por "Bohemian Rhapsody", Oscar 2019
"Bohemian Rhapsody" foi, de longe, o maior delírio coletivo da década. Massacrado pela crítica, mas amado pelas premiações, a bomba foi capaz de sair o Oscar 2019 com QUATRO prêmios, o maior do ano - e todos os quatro poderiam estar aqui listados. Mas nada é tão assombroso quanto Rami Malek vencendo "Melhor Ator". Não que ele esteja horrível na pele de Freddie Mercury, mas está bastante longe da excelência que um Oscar pode representar, que seria muito bem exemplificada por Bradley Cooper em sua melhor atuação da carreira por "Nasce Um Estrela". A produção está mais preocupada em tornar Malek o mais similar possível com Mercury (e realmente consegue em vários momentos) do que em compor uma atuação de verdade, afinal, a performance é mais importante que o visual. Um daqueles prêmios que daqui a alguns anos as pessoas vão olhar para trás e pensar "como foram capazes?". Cachorro coloca dentadura na boca e ganha Oscar de "Melhor Ator".