A Marvel Studios revolucionou o cinema. Por mais que para o Scorsese os filmes sejam apenas "parques temáticos", a quadrinista acertou em cheio ao apostar em um universo cinematográfico compartilhado, o que culminou em um dos maiores eventos da sétima arte quando um arco de pouco mais de 10 anos chegou ao fim em "Vingadores: Ultimato". Entretanto, apesar do grandioso sucesso na tela grande, o mesmo não se repetiu como tanta maestria na televisão.
"Agents of Shield" foi sua primeira aposta e, entre todas, foi a única que realmente perdurou, mas se tornou refém por muito tempo da proposta de fazer parte de um universo compartilhado - mesmo com sua mãe (o cinema) pouco se importando com seus eventos. As séries da Netflix fizeram bem e "Runaways", que foi para o hulu, também, mas nenhuma delas conseguiu se tornar um fenômeno ou então se provar como um produto realmente interessante enquanto universo compartilhado. "WandaVision", que chegou ao Disney+ na última sexta-feira (15), vai mudar esse cenário.
A série protagonizada por Elizabeth Olsen (Wanda) e Paul Bettany (Visão) é a primeira com o selo Marvel Studios, o que prova um verdadeiro compromisso da quadrinista com as novas produções que também chegarão no Disney+ ao longo de 2021. O estúdio está realmente levando à sério esses produtos menores para TV, como também irá levar suas consequências para os cinemas. "WandaVision", inclusive, irá repercutir em "Doutor Estranho: Multiverso da Loucura", invertendo pela primeira vez os papéis entre cinema e TV.
Na trama, acompanhamos o casal mais amado desse universo compartilhado após os eventos de "Vingadores: Guerra Infinita" - onde Visão morre - e "Ultimato". Enquanto produto para aqueles mergulhados no Universo Cinematográfico Marvel, a produção se justifica fácil e não demora muito para que o espectador fique instigado a descobrir porquê Wanda e Visão estão nessa realidade e, o principal, como Visão retornou a vida. Me questiono se esses pontos se validam facilmente para quem teve pouco contato com o universo. Talvez seja por isso que "Lendas", série que resume o arco dos personagens, tenha entrado no catálogo.
Dito isso, é preciso comentar sobre os dois primeiros episódios, que foram liberados juntos na última sexta-feira. Ambos caminham de mãos dadas, como se fossem um único episódio porque tudo é muito introdutório. Enquanto o primeiro é muito mais tímido em dar dicas ao espectador de que há algo errado nesta realidade, o seguinte é bem mais claro neste ponto. Essa evolução deve ficar cada vez mais forte e interessante conforme a trama avança. Caso aconteça o contrário, a série pode ficar cansativa e com a sensação de que a trama não evolui.
Incomoda não saber o que está acontecendo, mas tal incomodo se torna um de seus maiores trunfos.
Se banhando no formato de sitcom - com até mesmo plateia na gravação de algumas cenas, "WandaVision" ganha muito em apostar em um humor estranho com todos os clichês possíveis do gênero, como o humor físico - destaco Bettany no segundo episódio, em que ele fica "bêbado" ao engolir um chiclete. Essa escolha de humor, adicionada às falhas de realidade, que servem para mostrar ao espectador de que há algo errado ali, resultam em uma série que convida o espectador a embarcar nesta viagem cheia de mistérios. Incomoda não saber o que está acontecendo, mas tal incomodo se torna um de seus maiores trunfos.
Não somente uma boa trama, mas os dois primeiros episódios também servem para relembrar ao espectador o quão bem Olsen e Bettany ficam juntos em tela. Eles têm química. O casal foi pouco explorado no cinema e a série irá trazer a justiça tão desejada pelos fãs - principalmente em relação a Wanda. Enquanto Elizabeth domina muito facilmente o papel, com muito carisma, Paul consegue trazer uma versatilidade que seu personagem nunca teve ou sequer exigiu.
O saldo final é bem positivo, provando que "WandaVision" é um ótimo passo para o Universo Cinematográfico Marvel. A série tem todos os elementos para segurar o espectador semanalmente, mas precisa tomar cuidado com o próprio formato escolhido. Compramos o ingresso - neste caso, assinamos o serviço - pelo mistério, não pelas homenagens - que são ótimas - às sitcoms ou algumas boas risadas. Material para se sustentar existe e com toda certeza será utilizado, só tenho medo de quando.
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