2022 já está marcado nos livros de história da Sétima Arte como o grande ano para o Terror na presente década - e talvez em todo o séc. XXI até agora. Tivemos um montante grandioso de lançamentos do gênero, e melhor ainda, um montante de ÓTIMOS lançamentos, pois aqui trabalhamos com qualidade, não com quantidade.
Então, sendo o entusiasta que sou Do Terror, tive que listar não os 10, não os 15, mas os VINTE melhores terrores do ano, pois sim, tivemos esse tanto de maravilhas - até mais, tive que tirar alguns nomes, senão ficaríamos aqui até 2024. Na real, como um aperitivo extra, são 21 filmes, com a vigésima colocação sendo um empate - quanto mais, melhor.
Assim como toda lista do Cinematofagia, a lista consta com filmes com lançamento no circuito nacional em 2022 ou que chegaram na internet sem lançamento marcado até o fechamento da lista - além de, claro, serem todos dentro do grande espectro do Terror e seus subgêneros para ampliarmos nossa noção do que é Terror. E textos livres de spoiler para não estragar a sua experiência, como sempre, pode ler sem medo (guarda o medo pros filmes).
Prepara sua maratona e vamos lá?
20. Sem Saída (No Exit)
Direção de Damien Power, EUA.
Uma problemática estudante fica presa em um prédio com várias pessoas que se refugiavam de uma tempestade de neve. O tédio da estadia é quebrado quando a garota descobre uma criança sequestrada em um dos carros. Quem ali seria o criminoso? "Sem Saída" é um terror que logo na premissa já arrebata nosso interesse, quase um live-action de "Detetive" que brinca inteligentemente com a percepção do público sobre quem é mocinho e vilão ali.
20. O Telefone Preto (The Black Phone)
Direção de Scott Derrickson, EUA.
Do diretor do saboroso "A Entidade" (2012), Scott Derrickson, "O Telefone Preto" é um dos grandes sucessos de bilheteria para o terror em 2022, arrecadando DEZ vezes o valor de produção. Nesse coming-of-age medonho, um psicopata assola uma pequena cidade quando crianças começam a desaparecer - e é claro que nosso protagonista será a próxima vítima. "O Telefone Preto" traz nada de novo, mas encontra êxito na forma que desenvolve seu drama sobrenatural de maneira raramente vista entre os lançamentos blockbusters do gênero.
19. Noites Brutais (Barbarian)
Direção de Zach Cregger, EUA.
Filmes de estreia são difíceis em qualquer gênero, porém, no terror há uma responsabilidade ainda maior - responsabilidade esta cumprida por Zach Cregger com "Noites Brutais". Este é um daqueles filmes que possuem uma sessão ainda melhor quando você sabe quase nada sobre sua premissa, pois em um determinado momento há uma mudança de narrativa tão brusca que diferencia os andares (wink wink) de seu roteiro, que vai de um suspense intrigante para o terror absoluto. A escalação de Bill Skarsgård, nosso amado Pennywise, foi genial - assista para saber o motivo.
18. Pearl (idem)
Direção de Ti West, EUA/Canadá.
Um dos maiores fenômenos que marcou 2022, a franquia "X", nova empreitada de Ti West no Terror, já ganhou o segundo filme meses após o lançamento do primeiro, com "Pearl" vindo como um prequel que explica a vida e o passado da vilã de "X". Durante 1918, vemos a juventude de Pearl e sua ambição em ser uma estrela enquanto deve cuidar de sua fria família, ancorada por uma atuação fenomenal de Mia Goth, a nova queridinha do gênero. Tão sangrento e divertido quanto "X", "Pearl" pode não expandir sua própria história da mesma maneira, todavia, é um bloco sólido de uma (agora) franquia que já possui o amor do público.
17. A Avó (La Abuela)
Direção de Paco Plaza, Espanha/França.
O nome de Paco Plaza já está marcada na história do Terror, sendo ele o codiretor da obra-prima "Rec" (2007), um dos maiores filmes do gênero de todos os tempos. Desde então, o espanhol passeia por vários subgêneros do Terror, encontrando novo sucesso com "A Avó". Escrito por Carlos Vermut - diretor de um dos meus filmes favoritos da década passada, "A Garota de Fogo" (2014) -, "A Avó" segue uma modelo que volta para Madrid a fim de cuidar de sua avó, em precária saúde. Fica bem evidente as referências e inspirações no filme de Plaza, no entanto, os subtextos presentes aqui são eficientes a ponto de fazer com que "A Avó" não seja apenas mais um.
16. Deadstream (idem)
Direção de Vanessa Winter & Joseph Winter, EUA.
Realizado pelo casal da vida real Vanessa e Joseph, "Deadstream" é uma verdadeira palhaçada que deu muito certo, mesmo sendo do filão de found footage digital. Um youtuber problemático - daqueles com o já velho vídeo de desculpas pelas m*rdas que já falou - faz uma parceria com a única marca que ainda o atura: ele deve passar a noite na Casa da Morte, uma suposta casa assombrada que coleciona cadáveres. Se ele conseguir a façanha, a marca voltará a patrociná-lo, e a estadia deve ser inteiramente transmitida ao vivo. Com a difícil mistura entre Comédia e Terror, "Deadstream" causa tensão e diverte em uma medida cada vez mais rara, sem deixar de ser a pataquada que explicitamente é.
15. Marcas da Maldição (Zhou)
Direção de Kevin Ko, Taiwan.
Uma desesperada mãe tenta proteger a filha de uma maldição causada por ela mesmo ao quebrar um tabu religioso anos atrás. Com distribuição internacional pela Netflix, "Marcas da Maldição" foi inspirado em um bizarro evento real e já mostra seu ineditismo pela linguagem adotada: o espectador é um dos personagens. A mãe conversa com quem assiste e acabamos virando elemento importante para o andar da narrativa, que é recheada de momentos macabros e cenas incríveis - a façanha do símbolo e do mantra dito pela mãe é genial.
14. X (idem)
Direção de Ti West, EUA/Canadá.
O triunfal retorno de Ti West para o Terror - desculpa, mas "O Último Sacramento" (2013) é terrível -, "X" não marca apenas o retorno de um bom diretor, mas também um marco para o slasher contemporâneo. Uma equipe de filmagens vai até uma fazenda no interior do Texas para gravar um filme pornográfico, sem saber que a dona do local é uma psicopata cheia de tesão (sim). Com uma atuação dupla de Mia Goth, que vive Maxine (a final girl do ano) e Pearl (debaixo de quilos de maquiagem), "X" é uma epopeia que tanto homenageia clássicos quanto põe o pé na porta como obra única.
13. A Autópsia (The Autopsy)
Direção de David Prior, Canadá/EUA.
Um dos filmes presentes na antologia "Gabinete de Curiosidades", série do mestre Guilhermo del Toro para a Netflix, "A Autópsia" foi escrito David S. Goyer, um dos responsáveis pela história de "O Cavaleiro das Trevas" (2008) e do novo "Hellraiser" (2022), e acompanha um legista que deve performar autópsias em vários mineradores mortos em um acidente. É claro que um dos cadáveres ganha vida, levando o filme para caminhos pra lá de assustadores e instigantes, e "A Autópsia" pode ser resumido exatamente assim: tão inteligente quanto obscuro.
12. Dual (idem)
Direção de Riley Stearns, EUA.
Em um futuro próximo, uma empresa lança clones que são comprados para substituir sua presença após sua morte, a fim de acalantar os corações de seus familiares. Uma mulher com uma doença terminal decide comprar um dos clones, porém, ao descobrir que seu diagnóstico foi errado, deve enfrentar a política do clone: caso ele não aceite ser "morto", dono e criatura devem lutar até a morte para decidirem quem ficará permanentemente no lugar. É, a história de "Dual" é caótica e deliciosa. A obra de Riley Stearns tem camadas profundas que elevam seu terror, como por exemplo: e se sua família preferir o clone à você? O que você faria?
11. Sorria (Smile)
Direção de Parker Finn, EUA.
O maior sucesso em bilheteria do Terror em 2022, arrecadando a bagatela de 200 MILHÕES de dólares a mais que seu custo de produção, "Sorria" é o terror comercial definitivo do ano. Uma terapeuta vê uma paciente se suicidar diante dos seus olhos, mas a parte mais estranha era o imenso sorriso em seu rosto enquanto dilacerava sua garganta. Ali não era um sorriso convidativo, era uma assustadora careta. A partir de então, vários desses sorrisos começam a arruinar a vida da terapeuta, perseguida por uma entidade que deseja sua morte. "Sorria" une tudo o que uma sala de cinema lotada quer: história bem costurada, momentos assustadores e sustos para pularmos na cadeira. O ato final é particularmente bem sucedido, com reviravoltas que unem o "pipoca" com o "cult".
10. Fresh (idem)
Direção de Mimi Cave, EUA.
Mimi Cave saiu da carreira de diretora de videoclipes para esse terror apetitoso. Uma jovem é refém dos aplicativos de relacionamento e todos os boys lixos que encontra, até conhecer um cara no supermercado que parece enfim ser alguém que valha a pena. Mas só parece. É difícil comentar sobre "Fresh" sem entregar suas surpresas, todavia, esse survival movie tem taxas acima da média do bizarro que capturam o espectador em uma trama fenomenal que cada minuto envolve mais vítimas. Sente-se, assista e esteja servido. De dar água na boca.
9. Observador (Watcher)
Direção de Chloe Okuno, Romênia/EUA.
Mais um filme de estreia sensacional? Temos. Em "Observador", um casal se muda para a Romênia quando o namorado consegue um emprego no país; a grande questão é: a mulher não fala romeno, e se sente completamente isolada em seu apartamento. Mas há alguém muito interessado na situação. A mulher jura que há alguém no prédio da frente que está fixamente observando tudo o que ela faz, enquanto há um serial killer a solto na cidade. Seria isso obsessão que só existe na cabeça dela? Os crimes acontecendo ali perto estão turvando a noção de realidade da moça? "Observador" periga cair em obviedades em vários momentos, mas sai vitorioso ao equilibrar tudo em uma trama verdadeiramente tensa e envolvente sobre dúvida, medo e perseguição.
8. Dashcam (idem)
Direção de Rob Savage, Reino Unido/EUA.
As viúvas dos tempos áureos de "Atividade Paranormal" (2007), alegrem-se! "Dashcam" está aqui para suprir sua perda - porque a franquia está morta, por mais que ainda tentem revivê-la. Não é de se estranhar que "Darshcam" é do mesmo diretor de "Cuidado Com Quem Chama" (2020), hit da pandemia: uma das personagens mais insuportáveis do ano, Annie dirige pela noite transmitindo seus encontros, que desencadeará num caos por completo ao esbarrar no sobrenatural. Divertidíssimo, atmosférico e o melhor dos found footage de 2022, "Por que você tem uma tatuagem da Ariana Grande?" já é o diálogo mais assustador da década.
7. O Exterior (The Outside)
Direção de Ana Lily Amirpour, Canadá/Reino Unido.
Ana Lily Amirpour ficou famosa em 2014 com o terror indie "Garota Sombria Caminha pela Noite", e desde então foi convidada para diversas séries icônicas, surgindo agora como um dos filmes dentro do "Gabinete de Curiosidades" da Netflix. "O Exterior" é um fidedigno filme B dos anos 80, com uma protagonista que luta para se encaixar com as belas e glamourosas colegas de trabalho, falhando piamente - até que surge um creme milagroso que promete a beleza absoluta. Com a beleza exterior sendo o mais importante, "O Exterior" vai até o body horror com sua protagonista destruindo seu corpo em nome da beleza, em um exercício potente em mensagem e execução do horror.
6. Crimes do Futuro (Crimes of the Future)
Direção de David Cronenberg, Canadá/Reino Unido.
David Cronenberg voltou para a Ficção-científica/Terror, podemos dormir em paz. 23 anos após seu último sci-fi,
Cronenberg retorna com "Crimes do Futuro" ao lado de três enormes
nomes: Viggo Mortensen, Léa Seydoux e Kristen Stewart. Um futuro não
definido possui humanos com mutações genéticas que afetam dois pilares
fundamentais de suas existências: eles não sentem mais dor e infecções
deixaram de existir. Soa incrível, não? Só soa. Essa distopia cronenberguiana é
tudo o que diretor serviu com "Videodrome" (1983) e "A Mosca" (1986):
uma bizarrice estética que tenta apontar o dedo para a forma com que nos
relacionamos. De fato, o começo da fita é bastante hermético, sem
espaços para grandes aproximações, no entanto, quando a chave do sentido
é girada, todo aquele estranho universo onde a cirurgia é o novo sexo
encontra lógicas espetaculares.
5. Calmo & Silencioso (Soft & Quiet)
Direção de Beth de Araújo, EUA.
O nome da diretora já entrega: sim, ela tem os pés no Brasil. Nascida nos EUA, mas com cidadania tupiniquim, Beth de Araújo dirige a fita mais revoltante de 2022, de longe. É verdade que o próximo da lista tem cenas bem mais chocantes, porém, o que assombra no filme de Araújo é a proximidade com o real e o atual. Minha sessão foi ainda mais forte quando sentei diante do filme sabendo NADA acerca, e nunca pensei como uma simples torta, símbolo das iguarias norte-americanas, poderia derrubar meu queixo. Filmado inteiramente sem cortes - a câmera só desliga no último segundo após ligada -, "Calmo & Silencioso" é o terror do ódio moderno com violento poder em texto e imagens.
4. Não Fale o Mal (Speak No Evil)
Direção de Christian Tafdrup, Dinamarca/Holanda
O nome de Christian Tafdrup ainda não é tão difundido nas rodas de Cinema, e isso deve ser mudado pra já com "Não Fale o Mal". Uma família dinamarquesa está de férias e conhece uma simpática família holandesa. Com a barreira linguística não existindo, os adultos formam uma amistosa ligação, que recebe o convite para um estreitamento ainda maior quando os dinamarqueses são convidados para um fim de semana na casa dos holandeses. É aí que a amizade vai por água abaixo. "Não Fale o Mal" é perverso, não tendo piedade com seus personagens e, consequentemente, com a plateia, ao atirar a todos em situações desconcertantes que escondem um segredo repugnante, tudo baseado em uma fuga de conflitos que, apesar de soarem forçadas vistas de fora, são plausíveis em sentidos amplos. E desolam.
3. Não! Não Olhe! (Nope)
Direção de Jordan Peele, EUA.
Existem filmes e existem experiências, e o foco principal de "Não! Não Olhe!" é o espetáculo. O terceiro terror de um dos mestres da atualidade, Jordan Peele - vencedor do Oscar pelo já clássico "Corra!" (2017) - continua seu mais-que-necessário cinema negro com uma família que é perseguida por um e.t. que decidiu transformar em casa o céu da fazenda dos protagonistas. Com performances ímpares de Keke Palmar e Daniel Kaluuya, "Não! Não Olhe!" é uma fita para ser degustada na tela gigante, com um som poderosíssimo que emoldura a maior sessão pipoca de Terror do ano e que eleva à uma nova potência o Terror alienígena - e que design belíssimo o do bichinho.
2. Até os Ossos (Bones And All)
Direção de Luca Guadagnino, Itália/EUA.
Luca Guadagnino é célebre por "Me Chame Pelo Seu Nome" (2017), mas seu melhor filme é, sem a menor dúvida, "Suspíria: A Dança da Morte" (2018), remake do clássico de 1977. Então o italiano sabe fazer um terror, e prova mais uma vez com "Até os Ossos". Uma menina é abandonada pelo pai aos 18 anos por não conseguir lidar com a natureza dela: ela é canibal. No universo do filme, canibais são uma espécie diferente de seres humanos, que nascem com a necessidade de ingerirem carne humana e com a capacidade de identificarem outros canibais pelo olfato. Ao ser abandonada, ela parte para descobrir o mundo e a si própria ao lado de outros canibais, se apaixonado por um que tem mais experiência na caçada. "Até os Ossos" passeia pelo drama, romance e terror com cenas que misturam ternura e gore na mesma medida. O significado final do título é arrasador.
1. Faces do Medo (Men)
Direção de Alex Garland, Reino Unido.
"Faces do Medo" segue uma mulher que, após o suicídio do marido, se isola em uma vila no meio do nada para superar o luto. A grande questão é: todos os homens da vila são exatamente iguais (e criativamente performados pelo mesmo ator, Rory Kinnear). O título do maior terror de 2022 pode ser muito óbvio ("Os Homens", na tradução literal), mas "Faces do Medo" é uma odisseia bizarra e claustrofóbica que desfila uma infinidade de agressões que as mulheres encontram todos os dias, sem cair em execuções óbvias - são simbolismos que exigem uma pesquisada ao fim da sessão, principalmente com os 10 minutos finais, uma das sequências mais bizarras do século. Mais um perfeito exemplar do panteão da A24 que faz a gente falar "entendi nada, mas amei".
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