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Os 25 melhores filmes de 2024

"Ainda Estou Aqui", "Anora", "Longlegs" e o melhor do cinema do ano
A primeira metade da década de 2020 já se passou, então estamos ávidos em listar nossos melhores filmes do período. Antes de fecharmos esses primeiros cinco anos, temos que elencar os melhores filmes de 2024.

Caso você já conheça o Cinematofagia, o foco aqui sempre foi e sempre será a busca por filmes que não necessariamente estejam no radar na grande indústria - principalmente quando olhamos para a distribuição brasileira, que ainda sofre com atrasos de meses em comparação com estreias internacionais, inclusive de países minúsculos - vários longas já aclamados lá fora chegam aqui com muuuuito atraso, mas tudo bem.

De vencedores do Oscar a pérolas de todos os cantos do mundo, os critérios de inclusão da lista são os mesmos de todo ano: filmes com estreias em solo brasileiro em 2024 - seja cinema, streaming e afins - ou que chegaram na internet sem data de lançamento prevista, caso contrário, seria impossível montar uma lista coerente. E, também de praxe, todos os textos são livres de spoilers para não estragar sua experiência - mas caso você já tenha visto todos os 25, meu amor por você é real.

Sem mais delongas, os melhores filmes de 2024:


#25 Uma Família Feliz (idem)

Dirigido por José Eduardo Belmonte, Brasil.

Cinema nacional tem encontrado sucesso nos últimos tempos ao entrar em modo suspense, e "Uma Família Feliz" é uma ótima adesão ao gênero. Baseado no livro de Raphael Montes - co-autor da série "Bom Dia Verônica" da Netflix -, o filme sobre o caos da maternidade vê uma mãe ser acusada de agredir suas filhas, enganando a audiência a cada cena. Nem todas as atuações estão à altura do texto, é verdade, mas Grazi Massafera e (principalmente) as crianças orquestram um mistério arrebatador que, quando finalmente entendemos todas as peças, o queixo vai ao chão. A cena pós créditos é para gerar ira da forma mais cristalina possível (e isso é um elogio).


#24 Sem Ar (Elfogy a Levegő)

Dirigido por Katalin Moldovai, Hungria.

Num ano com ótimas discussões sobre o inferno na vida de professoras (há outro exemplo disso mais abaixo), "Sem Ar" vai no fundo da Hungria observar uma professora ser atirada aos cães quando recomenda um filme para seus alunos: a questão é que, no filme, há cenas LGBT+, o que causa a fúria de um dos pais. Um conteúdo desses esbarrar em um pai homofóbico não é tão difícil de imaginar, a questão é que a própria escola abre um comitê para apurar a "imoralidade" do ato, que vai parar numa audiência com o governo. "Sem Ar" discute um dilema clássico: abaixar a cabeça ou se manter firme com seus princípios, mesmo sofrendo as consequências? Apesar de se passar num interior húngaro, o acerto do longa é sua universalidade - é difícil enxergar a mesmíssima história aqui no Brasil?


#23 Precisamos Falar (idem)

Dirigido por Rebeca Diniz & Pedro Waddingtonl, Brasil.

Os filhos de um casal de classe média alta do Rio de Janeiro, em uma """brincadeira""", ateiam fogo em uma moradora de rua, matando-a. Ao retornar para casa com o problema, cabe aos pais decidirem: o que vale mais, a verdade ou a segurança da família? A premissa por si só de "Precisamos Falar" é um gancho irresistível para sentarmos diante da obra, mas encontramos muito mais que a mera curiosidade sobre o que acontecerá a partir do crime. Com atuações incríveis por parte de todo o elenco, com destaque para Marjorie Estiano e Thiago Voltolini, "Precisamos Falar" é um porta-retrato que reflete irretocadamente a situação atual do país, com uma ruptura de valores que afasta famílias ao colocarem questões pessoais acima de qualquer coisa.


#22 Ainda Estou Aqui (idem)

Dirigido por Walter Salles, Brasil.

Nosso país possui uma relação MUITO problemática com a ditadura militar, com um bando de animais jurando que o período foi uma dádiva que merecia voltar, então um filme como "Ainda Estou Aqui" é importantíssimo em muitos mais aspectos que o cultural e artístico. O mais aclamado filme brasileiro da década, a história da família Paiva, que vê o patriarca sendo levado pela polícia e nunca mais retornar, foge de qualquer obviedade de cinebiografias e extrapola os chavões do formato ao atingir o centro da questão: a dor de uma família em luto eterno e o peso nas costas da mãe, a única a ter certeza da morte do marido. É uma tarefa impossível tentar não chorar, mas a ganhadora do Globo de Ouro Fernanda Torres é uma catalizadora sem quase nunca gritar, entregando força com sutileza, o que é infrequente. 


#21 Guerra Civil (Civil War)

Dirigido por Alex Garland, EUA.

Alex Garland já nos entregou obras-primas como "Ex Machina" (2015) e "Faces do Medo" (2022), retornando em 2024 com, talvez, seu mais ambicioso filme. "Guerra Civil" toca em um tópico muito importante, mas raramente discutido: como inventamos linhas invisíveis que nos separaram baseadas em........ nada. Nós criamos países, estados, cidades e bairros que, ao invés de ser uma forma de organização, se torna na criação de um "amor" por um pedaço de terra que chamamos de "patriotismo", o que é uma ideia estúpida. O filme adentra um país divido (sob os olhos de deus) que poderia ser mais um filme de guerra, todavia, atinge sucesso pelas escolhas assertivas do diretor, um design de som épico e as performances de Kirsten Dunst e nosso Wagner Moura. Atmosfera alucinante que raramente encontra paz - a cena do "Que tipo de americano é você?" é lendária.



#20 Clube Zero (Club Zero)

Dirigido por Jessica Hausner, Áustria/Reino Unido.

Controverso desde o seu lançamento no Festival de Cannes, com críticas amando e outras detonando a obra, não dá para falar "vocês só não entenderam" aqui: "Clube Zero" quer denunciar nossa nova forma de "ser saudável" como os coaches de bem-estar, saúde e alimentação de infestam as redes sociais, vendendo um estilo de vida atrelados a um discurso perigoso de espiritualidade e proteção do planeta. É como se Yorgos Lanthimos e Wes Anderson parissem um filme sobre transtornos alimentares na era da consulta médica via Instagram e TikTok. Sim, o filme pode ser um pouco "demais" para algumas pessoas - há uma cena em especial que quase nos obriga virar o rosto da tela -, contudo, é uma bela obra com mensagens importantes, empacotada em imagens belíssimas.


#19 O Banho do Diabo (Des Teufels Bad)

Dirigido por Severin Fiala & Veronika Franz, Áustria/Alemanha.

Da maior dupla de diretores do terror na atualidade, Fiala e Franz nos deram "Boa Noite Mamãe" (2014) e "O Chalé" (2019), fincando seus nomes na história do gênero. Agora, com "O Banho do Diabo", eles optam com caminhar com uma abordagem bastante diferente, criando o seu "A Bruxa". Na Áustria de 1750, uma mulher violentamente religiosa acha que conseguiu a vida perfeita ao se casar, mas tudo rui quando ela não consegue engravidar. A parti daí, seus dias crescem obscuros até as mais extremas consequências. O que "O Banho do Diabo" almeja é ser um filme o mais fidedigno possível, quase como se uma câmera estivesse em 1750 registrando os fatos. Verdade seja dita, meia hora da duração poderia não existir para enxugar a narrativa, contudo, além das imagens riquíssimas, a obra retrata o que era chamado de "suicídio por procuração", uma artimanha para burlar as leis divinas e morrer com a entrada garantida no céu. É assustador ver que, quase 300 anos depois, ainda vivemos num sistema tão acorrentado pela religião e o fanatismo, causando dor e desgraça principalmente para mulheres. O clímax e a cena final aqui são assombrosas.


#18 A Semente do Figo Sagrado (Dāne-ye Anjīr-e Ma'ābed)

Dirigido por Mohammad Rasoulof, Alemanha/França.

Representante da Alemanha para o Oscar 2025 de "Melhor Filme Internacional", a saga de "A Semente do Figo Sagrada" é curiosa (e triste): dirigido por Mohammad Rasoulof, o iraniano teve que fugir do país após ser preso diversas vezes pelo conteúdo de seus filmes, que criticam o governo local - pelo último, o diretor foi sentenciado a oito anos de prisão, só não indo parar lá por ter conseguido se exilar na Alemanha (por isso o filme, mesmo sendo um filme filmado no Irã, representa a Alemanha no Oscar). Muito mais que uma peça de entretenimento, "Figo Sagrado" é um filme denúncia: um juiz do lado do governo autoritário recebe uma arma para proteção em meio às constantes revoluções da população contrária ao governo. Quando a arma desaparece em sua casa, a solidez da família vai por água abaixo em uma espiral de desconfiança. Sendo o único homem na família (que consiste em sua esposa e duas filhas), toda a hierarquia do patriarcado, principalmente em um país tão conservador, é posta em prática que vai para um discurso que comprova como ainda vivemos em um mundo com locais que desconhecem liberdade feminina. O último ato é meio bagunçado, mas esse é um filme político exemplar, mesmo com suas quase 3h de duração.


#17 A Vítima (Obeť)

Direção de Michal Blaško, República Tcheca.

A Europa, por ser um continente tão diverso, com minúsculos países possuindo culturas completamente diferentes e convivendo lado a lado, é palco de diversos filmes que estudam a xenofobia, e "A Vítima" é um deles. Uma mãe e seu filho, provenientes da República Tcheca, imigram para a Ucrânia em busca de melhorias de vida. Quando o filho sobre um ataque, toda a comunidade tcheca se une em solidariedade ao repudiar a violência ucraniana contra imigrantes, porém, o que realmente aconteceu é diferente da história do filho. A mãe logo se encontra em uma encruzilhada: manter a história que já movimentou gente demais ou contar a verdade e expor o filho (e indiretamente ela mesma)? "A Vítima" é uma excelente análise de choques culturais e até aonde vamos em nome dos nosso filhos.


#16 Sorria 2 (Smile 2)

Direção de Parker Finn, EUA.

Com o sucesso de crítica e bilheteria de "Sorria" (2022), era evidente que a Paramount não iria perder tempo para dar o sinal verde de uma sequência. O mercado hollywoodiano está mais que saturado de sequências, principalmente no terror, que denotam a crise de criatividade da indústria e a avareza por bolsos cheios em cima de filmes de quinta. Surpreendendo até os mais confiantes, "Sorria 2" é um raro exemplo de sequência que supera (nesse caso, e muito) o original. Se pegarmos um dos pilares seminais do horror, todo bom filme de terror visa a deterioração mental de seus personagens a fim de conseguir orquestrar o pavor que virá, e a maneira como "Sorria 2" consegue isso é assustadora. Se o primeiro filme já era muito bom, o segundo vai para trilhas ainda mais insanas de drama e horror, fomentando uma áurea de mal estar latente pela forma como a protagonista come o pão que o diabo amassou nas mãos da entidade que vai te matar sorrindo. Naomi Scott entrega não só a atuação da sua carreira, mas a melhor performance do Cinema em 2024 nessa viagem alucinante e sem esperança. THIS IS GONNA RUIN THE TOUR!!!


#15 O Homem dos Sonhos (Dream Scenario)

Direção de Kristoffer Borgli, EUA.

Depois de dirigir "Doente de Mim Mesma" - um dos melhores filmes de 2023 -, a A24 viu o brilhantismo de Kristoffer Borgli e disse "vem pros EUA trabalhar com a gente?". Eis que nasce "O Homem dos Sonhos". Uma das melhores atuações da carreira de Nicolas Cage - a melhor está perto do fim dessa lista -, o longa retrata um homem que, inexplicadamente, começa a aparecer nos sonhos de todo mundo, até que o fenômeno desanda e esses sonhos viram pesadelos cada vez mais horripilantes. O cinema "borgliano" pode ser resumido pela palavra "insano", e aqui ele cria outra obra maluca, que eleva a fantástica premissa para solos bem reais ao apontar o dedo para até onde vamos para fazer a roda do Capitalismo girar - porém, é claro, tudo aqui de forma bizarramente divertida.


#14 O Rapto (Le Ravissement)

Direção de Iris Kaltenbäck, França.

Um conto inacreditável sobre uma mulher que pega """"emprestado"""" o bebê de uma amiga para fingir que é dela, "O Rapto" caiu no meu colo durante o escândalo de uma garota brasileira na internet que foi pega mentindo sobre ter câncer - ela foi exposta e a situação virou um circo que se perguntava em uníssono: "Por que DIABOS você fez isso???". A mesma pergunta é o cerne de "O Rapto", uma análise por lentes cruas sobre uma mentira levada longe demais, até que não possui mais forças para se manter de pé. Um dos melhores estudos de personagem do ano e uma fábula sobre a solidão, esse é um filme que escolhe não falar, apenas gritar.


#13 Cuidando dos Mortos (Handling the Undead)

Direção de Thea Hvistendahl, Noruega.

Assim como estamos vendo com vampiros, "Cuidando dos Mortos" é uma abordagem moderna sobre zumbis que se pergunta: o que aconteceria de verdade caso os mortos levantassem de suas tumbas? Com um tom sério e cru, a fita discorre sua história lentamente ao redor de três famílias que veem seus parentes assustadoramente ressuscitados. Pela temática, vai desapontar muitos, já que estamos acostumados a vermos zumbis em contextos de ação e terror com litros de sangue, mas "Cuidando dos Mortos" nos narcotiza com suas histórias e tudo o que fala entre as entrelinhas com os dilemas de recomeço da forma mais antinatural possível. Ainda por cima, tem uma das mais perfeitas cinematografias e trilhas sonoras do ano.


#12 Femme (idem)

Direção de Sam H. Freeman & Ng Choon Ping, Reino Unido.

Felizmente, já ultrapassamos o chavão do cinema gay que mandava e desmandava entre as décadas de 90 e 2000 com seus filmes homossexuais com finais tristes, girando majoritariamente ao redor de discriminação, doenças e mortes. Então, para voltarmos de alguma forma para esse molde, há que haver um porquê e um como. "Femme" nos entrega ambos. Esse é um longa sobre a vivência queer, preconceito, ódio a si mesmo e vingança: uma drag queen é atacada por um cara homofóbico que logo se revela homossexual. Ela vai, em busca de retaliação, se relacionar com esse mesmo cara, que não reconhece o homem por trás da maquiagem e peruca. É um filme pesado, lotado de emoções nas alturas, carregada por dois protagonistas em uma guerra interna que vaza para a superfície de forma amável e violenta. O texto não busca saídas fáceis e soluções apaziguadoras a fim de amenizar a situação tão complexa, o que gera cenas incríveis e um final perfeitamente desolador.


#11 Nosferatu (idem)

Direção de Robert Eggers, EUA.

De um dos maiores diretores vivos, “Nosferatu” foi anunciado em 2015 - logo depois do lançamento de “A Bruxa” - e a espera valeu a pena. O cinema “eggeriano” já está mais que consolidado, e “Nosferatu” traz tudo o que o faz tão único e magnífico. Um autêntico clássico gótico, ter a audácia de fazer um remake de um dos maiores (e pioneiros) filmes de terror de todos os tempos foi uma tarefa inimaginável, mas Eggers entrega mais uma vez uma obra belíssima que fortalece ainda mais sua filmografia. Cada cena é uma pintura na tela e os momentos de ataque de Lily-Rose Deep são uma carta de amor ao clássico “Possessão”. Algumas decisões de montagens são um pouco questionáveis, mas dá atmosfera inebriante à cena final irretocável, “Nosferatu” abre as portas para a volta do horror gótico brilhantemente.


#10 O Amor Sangra (Love Lies Bleeding)

Direção de Rose Glass, Reino Unido/EUA.

"O Amor Sangra" é um Filme B que gosta de ser um Filme B: Rose Glass sai do Reino Unido e vai para os Estados Unidos dos anos 80 para seguir uma fisiculturista bissexual que se apaixona por uma herdeira do crime. É uma fita que foca no lado nojento, feio e doloroso da nossa natureza, tudo em nome do amor - a primeiríssima cena é um vaso sanitário sendo desentupido, e daí para frente é sangue, lágrimas, suor e vômito. Quando "Amor Sangra" toca no sobrenatural/fantástico, é aí que Glass, como uma das melhores diretoras da novíssima geração, realmente brilha. Depois de um dos melhores filmes do século - "Santa Maud", 2019 -, Glass nos presenteia com uma odisseia queer obrigatória.


#9 O Castigo (El Castigo)

Direção de Matías Bize, Chile.

Durante uma viagem de carro, o filho de um casal está tendo um ataque no banco de trás, o que faz com que a mãe o deixe na beira da estrada como castigo - mas só por um minuto. O problema é que o menino desaparece, o que faz com que o mundo desses pais nunca mais seja o mesmo. "O Castigo" é um drama chileno cheio de coragem quando abre sua boca para falar sobre as responsabilidades parentais e como a mulher carrega esse peso de maneira muito mais descomunal. Com apenas 80 minutos de duração e inteiramente filmado em plano sequência, é chocante como tão pouco tempo pode gritar tanto a pressão nas costas de uma mãe que é gerada pelas pressões sociais. O quase-monólogo do fim, quando a mãe destrói toda e qualquer noção de maternidade, é um tapa na cara.


#8 Tipos de Gentileza (Kinds of Kindness)

Direção de Yorgos Lanthimos, Irlanda/Reino Unido.

Se você é cliente recorrente do Cinematofagia, sabe que Yorgos Lanthimos é meu diretor favorito (vivo) há mais de uma década - não chocantemente, seus dois filmes lançados em 2024 estão aqui. "Tipos de Gentileza" é o primeiro longa co-escrito por ele desde "O Sacrifício do Cervo Sagrado" (2017) - desde então, ele só vinha dirigindo adaptações -, e ele está de volta com, provavelmente, seu filme mais estranho de todos. Por meio de três histórias narradas pelos mesmos atores em papéis diferentes, cada uma mais insana que a outra, o filme nos mostra como estamos diariamente desesperados por validação, seja do nosso parceiro, chefe ou mesmo grupo social que nos rodeia. Tudo isso, evidentemente, é posta sob a ótica "lanthimiana", ou seja, tais validações são absurdas. Pode demorar um tempinho para absorvermos tudo (e esse tudo é muito), especialmente se você conheceu o diretor através de seus filmes mais famosos - "A Favorita" (2018) e "Pobres Criaturas" (que está mais abaixo) -, mas a fita exibe como há diferentes tipos de gentileza, do amor mais genuíno até a manipulação mais doentia.


#7 A Sala dos Professores (Das Lehrerzimmer)

Direção de İlker Çatak, Alemanha.

Indicado ao Oscar de "Melhor Filme Internacional", "A Sala dos Professores" é um filme para quem amou "A Caça" (2012) e "A Separação" (2011): uma professora tenta chegar à solução de um crime cometido por um dos seus alunos, o que vai destruir toda a estrutura da escola. Com muitas camadas de xenofobia, hierarquia e mentiras, "A Sala dos Professores" impressiona tanto que nos esquecemos que o que está na tela é uma atuação, especialmente com a performance perfeita de Leonie Benesch no papel de protagonista, nos arrastando para um buraco de ansiedade da primeira à última cena. Uma reputação vale mais do que estar certo ou errado?


#6 Temporários (Richelieu)

Direção de Pier-Philippe Chevigny, Canadá/Guatemala.

Uma mulher guatemalense é contratada numa empresa do Canadá para traduzir o trabalho entre falantes de espanhol (os imigrantes operários) e francês (os donos da empresa). Rapidamente, ela vê que seu trabalho vai ser muito mais que só traduzir quando os operários começam a sofrer abusos dos mais diversos tipos. "Temporários" é o filme de estreia de Pier-Philippe Chevigny, e que largada mais deliciosa. Com cenas de destruir nosso emocional, o filme mergulha fundo na degradação do Capitalismo com seus trabalhadores, com a barreira linguística sendo um degrau abaixo na régua da ética. Impossível de largar depois de começar, "Temporários" é tudo o que o drama pode nos proporcionar, de atuações históricas a discussões que nos deixam gritando por dentro.


#5 Anora (idem)

Direção de Sean Baker, EUA.

A filmografia de Sean Baker está centrada na exposição dos varridos para baixo do "sonho americano", em crônicas que exploram trabalhadores sexuais nas mais diversas situações. Com "Anora", conhecemos o lado rico e glamuroso desse sonho ao assistirmos a ascensão e queda de sua protagonista, Mikey Madison em uma performance histórica. O cerne que permeia todos os filmes do diretor está lá quando seguimos Anora, uma prostituta que se casa com o filho de um mafioso russo, porém, dessa vez, tudo envolto num pacote de comédia - toda a sala de cinema está gargalhando em quase todas as cenas -, e é incrível como o diretor foi capaz de criar mais um filme tão espetacular em cima de uma premissa tão simples (na verdade ele faz isso há anos, não é motivo de surpresa depois de obras-primas como "Tangerina" (2015), "Projeto Flórida" (2017) e "Red Rocket" (2021). As mais divertidas 2h de 2024, Anora é a nova princesa do povo.


#4 Vínculo Mortal (Longlegs)

Direção de Osgood Perkins, Canadá/EUA.

Todo ano há um filme que é o mais esperado por aqui, e em 2024 foi "Longlegs". Do marketing genial da Neon (que virará objeto de estudo e repetição) até a premissa intrigante, "Longlegs" é dirigido pelo filho de Anthony Perkings, protagonista de um dos maiores clássicos de todos os tempos, "Psicose" (1960), e aqui Oz Perkings prova que é muito mais que um nepobaby - ele já havia dirigido o ótimo "A Enviada do Mal" (2015) e o visualmente perfeito "Maria e João: O Conto das Bruxas" (2020), mas só agora a sua magnum opus foi lançada. "Longlegs" é tudo o que faz um terror entrar para a história: atmosfera densa, personagens icônicos e curvas para desestabilizar o espectador. Nicolas Cage é o porteiro que segura maniacamente as chaves dos portões do inferno nesse singelo conto de amor ao diabo, reiterando seu poder como ator. Facilmente um dos melhores filmes de terror do século, a experiência fica ainda melhor numa revisão - conseguiu contar quantas vezes o diabo aparece no decorrer do filme?


#3 Zona de Interesse (The Zone of Interest)

Direção de Jonathan Glazer, Reino Unido/Polônia.

"Zona de Interesse", assim como basicamente todos os filmes de Jonathan Glazer, não são para todos os gostos - vide "Sob a Pele" de 2013 -, mas, quase 100 anos depois da Segunda Guerra Mundial, com o Cinema já tendo esgotado a temática, ainda há mais para ser dito? Aqui o diretor prova que sim. Seguindo uma família que vai morar muro com muro com o campo de concentração de Auschwitz, vemos a pacata e idílica rotina de seus membros, enquanto, do lado de lá, o maior crime contra a humanidade era cometido. Pela imensa parte do tempo, "Zona de Interesse" não é sobre o que é visto, e sim sobre o que é ouvido - se estamos em uma cena com a família na piscina ao lado do belíssimo jardim, ao fundo, um trem é ouvido com mais uma carga de judeus sendo levados à morte. É de um contraste tão poderoso que "Zona de Interesse" nos relembra qual é a maior força da arte que é o Cinema, e as mais diversas formas de como explorá-la. Ainda por cima, é um triunfo como a fita joga fora a ideia de monstruosidade e nos lembra que os responsáveis pelo Holocausto são seres humanos como eu e você.


#2 Pobres Criaturas (Poor Things)

Direção de Yorgos Lanthimos, Irlanda/Reino Unido.

Se houver uma sinopse mais maluca do que a de “Pobres Criaturas”, levante a mão: um cientista coloca o cérebro de um bebê no corpo de uma mulher e ela e a solta no mundo para aprender e viver como o experimento que ela é. Dando o merecidíssimo segundo Oscar de "Melhor Atriz" para Emma Stone, sua Bella Baxter escreve o nome na história como um dos mais criativos e bem performados personagens de todos os tempos nessa história épica sobre autodescobrimento em meio a uma sociedade que não quer que uma mulher se descubra tanto assim. Igualmente engraçado e desconcertante, "Pobres Criaturas" ainda é um banquete para os olhos com seus visuais incomparáveis, rendendo os Oscars de "Direção de Arte", "Maquiagem e Cabelo" e "Figurino". Enquanto "Barbie" (2023) é feminismo para quem ouve Taylor Swift, "Pobres Criaturas" é feminismo para quem ouve Arca.


#1 A Substância (The Substance)

Direção de Coralie Fargeat, França/EUA.

Quando pensarmos na Sétima Arte de 2024, daqui a um, dez e talvez cinquenta anos, vamos pensar em “A Substância”. Desde a estreia arrebatadora no Festival de Cannes até sua chegada nas salas comerciais, o filme de Fargeat dá as mãos ao cinema de Julia Ducornau, com “A Substância” sendo o irmão de “Titânio” na ascensão do body horror no primeiro quarto do século. Indo muito (mas muito) além de um fita “crítica social foda”, “A Substância” é, sim, um filme gritantemente feminista que escancara o machismo e ageísmo que coloca prazo de validade em mulheres, e talvez a completa falta de sutileza é um dos maiores acertos do filme - e isso só se deve pela direção poderosíssima de Fargeat. Sua história criativíssima é um chamariz por si só, todavia, a maneira que a diretora orquestra o horror vai para níveis impactantes que discutem de maneira genial nossa relação com a imagem - não só a nossa, mas a dos nossos pares que comprovam que o espelho é nosso (imposto) maior inimigo. Ver o boca a boca lotar as salas para ver uma obra tão fora do comercial, é absurdo - a Universal, distribuidora original, pediu para Coralie mudar o final por ser estranho demais, o que ela negou.

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