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Editorial: "Desventuras em Série", da Netflix, e a prova de que adaptações representativas importam

Sempre que uma obra literária vai ser adaptada para o audiovisual, seja ele TV ou Cinema, há todas as preocupações na hora de transpor as páginas em matéria viva. Se a tal obra for famosa então, essas preocupações triplicam. Fãs de todo o mundo, principalmente os extremistas, estão a postos para apontar cada micro diferença entre o livro e a/o série/filme. Até hoje lembramos de fãs "revoltados" porque mudaram a cor do vestido do baile da Hermione em "Harry Potter e o Cálice de Fogo". Nada escapa.

Falando em "Harry Potter", o maior fenômeno literário da nossa geração, esses fãs xiitas atacaram ano passado: quando o casting da peça "Harry Potter e a Criança Amaldiçoada" foi anunciado, o oitavo pecado capital foi cometido pela produção: a atriz que faz a Hermione, Noma Dumezweni, é negra, ao contrário do filme (interpretado pela Emma Watson) e de ilustrações do livro. Tá, mas e daí?
Noma Dumezweni e Emma Watson: duas gerações e duas cores de Hermione
Segundo os comentários fervorosos, a atriz (negra) jamais poderia ser uma "personagem já consolidada" (como branca), pois, aparentemente, a transposição racial "descaracterizaria" a personagem. Aquela reação com raiva do Facebook era quase sempre uma das mais usadas em qualquer post relacionado com o anúncio do casting.

Agora voltemos ao presente: a grande adaptação do momento é com o seriado "Desventuras em Série", da Netflix. Baseada na saga literária de mesmo nome, que já vendeu mais de 65 milhões de cópias em mais de 40 línguas, o seriado é a segunda adaptação dos livros: a primeira foi o filme de 2004, estreado por Jim Carrey. Com a Netlifx sendo um dos maiores nomes em termos de produção cultural em escala global da atualidade, os meandros de construção da série encontraram altos requintes de qualidade, assim como o filme, ganhador de um Oscar, porém, logo nas notícias de escalações, esbarramos com uma vital diferença. Alguns atores são negros. Numa rápida repescagem nos personagens do filme (e do livro também), não conseguimos lembrar de algum que seja explicitamente negro. Então pra quê mudar um detalhe tão importante assim?

Esse pensamento deve ter passado pela cabeça do Tim Burton ano passado: o diretor foi questionado sobre a falta de diversidade racial em seu mais novo filme, "O Lar das Crianças Peculiares". Por quê, além do vilão, outros personagens não fora à tela sendo negros? Sua resposta foi, basicamente, pedindo que não procurem atores negros em seus filmes porque ele não procurava atores brancos nos Blaxploitations (filmes de ação dos anos 70 com diretores e atores negros, voltados para o público negro). É cada macaco no seu galho.


Esse apartheid cultural ainda existe? No nosso mundo globalizado, com uma gama de corpos e identidades, segregar raças da forma que Burton pensa é, além de retrógrado, racista. Ainda bem que em "Desventuras em Série" a coisa é diferente. Três personagens com grande destaque na trama deixaram de serem brancos para, no seriado, serem negros. Vamos aos nomes.


Sr. Poe, o banqueiro encarregado pela fortuna dos Baudelaires após a morte dos pais, é um senhorzinho branco nas ilustrações do livro e, no filme, interpretado pelo também branco Timothy Spall. Na série, o personagem será interpretado por K. Todd Freeman, que é negro.


Tio Monty, o amável segundo guardião dos órfãos, nos livros é ruivo. Billy Connolly dá vida ao personagem no filme e, no seriado, é o indiano Aasif Mandvi que viverá o amado herpetólogo. E, por fim, Tia Josephine, a assustada terceira guardiã das três crianças, saiu das mãos de Meryl Streep para Alfre Woodard.


Os três personagens desempenham papéis fundamentais na história (para o bem ou não). Quando a série troca algo tão simples, há imediatamente uma adaptação representativa. Mas o que é isso? É quando uma adaptação escala atores vindouros de minorias sociais. Essas escalações são baseadas apenas nisso? "Cotas"? Claro que não, o talento dos atores é de vital importância, porém, ao escolher um ator negro ao invés dum branco, a mídia em questão dá espaço por muitas vezes silenciado para aquela minoria.

É só lembrarmos do Oscar 2015 e sua polêmica de indicações: nenhum dos 20 atores indicados nas quatro categorias de atuação eram negros. Tal acontecimento é um pequenino reflexo de uma opressão que gera efeitos gigantescos - porque o que é a falta de uma indicação quando um jovem negro é morto a cada 23 minutos só no Brasil (dados do relatório final da CPI do Senado sobre o Assassinato de Jovens)?

E é bastante interessante quando a tal mudança é inversa: não há reação negativa do grande público. E a lista de exemplos é enorme: Katniss Evergreen, de "Jogos Vorazes", possui a pele "cor de oliva" nos livros, mas é interpretada nos filmes por Jennifer Lawrence (que é branca). Tonto, protagonista de "O Cavaleiro Solitário", é nativo-americano na série original; no filme é interpretado por Johnny Depp (que é branco). Cleópatra, a última faraó independente do Egito, tem descendência macedônica e africana; no filme de mesmo nome é interpretada por Elizabeth Taylor (que é branca). Noé, figura bíblica, é do Oriente Médio; no filme homônimo é interpretado por Russell Crowe (que é branco). Etc, etc, etc.

Tais mudanças são proibidas e tais obras devem ser repudiadas? Não precisamos de tal extremismo, todavia, por que retirar a representatividade de personagens minoritários para colocar atores brancos, fartamente representados, no lugar?

Mas afinal, a cor da pele do Sr. Poe muda em alguma coisa? O fato dele ser branco ou negro, para a realidade e discussões inseridas no personagem, diferem em cada cor? Não. Absolutamente nada. Porém, para a representatividade, essa mudança faz toda a diferença.

Então, é com exemplos como os de "Desventuras em Série" que percebemos como tantas reivindicações por mais espaço da cor negra em produções, principalmente as de grande alcance, estão sendo ouvidas. E tais mudanças pulam a cerquinha da questão social para entrar em questões de gênero e sexualidade: Buck Vu, da badalada série "The OA", também da Netflix, é interpretado por um ator trans-asiático, Ian Alexander. Segundo levantamento da GLAAD, apenas 16 personagens regulares na temporada de séries americana são interpretados por atores trans. Um número significativo, mas minúsculo perto do todo.

Mesmo que não seja uma mudança com os protagonistas de "Desventuras em Série", todos brancos (e nem estamos pedindo por isso), são com esses passos que vamos, um dia, chegar a um momento onde essa discussão não importa, pois estaremos inseridos numa realidade igualitária. É bem curioso notarmos que, diferente da reação dos fãs de "Harry Potter", não vemos grandes debates sobre as mudanças raciais dos personagens citados em "Desventuras em Série". Claro, o número de fãs da saga do bruxinho é muito maior que o número de seguidores das tragédias dos Baudelaires. Sendo o motivo que for, estamos satisfeitos pelas boas recepções dessas importantes e significativas mudanças.

"Desventuras em Série" estreia na Netflix na próxima sexta-feira, 13. Se uma série de desgraças está prestes a começar na vida dos protagonistas, um novo capítulo da representação social é preenchido com louvor.

O teaser de "Desventuras Em Série" saiu e está maravilhoso; confira!


“Desventuras em Série” é uma história infanto-juvenil que mescla aventura, drama, um pouco de comédia e um toque de ação, nada muito diferente de várias outras do gênero. Porém, este conto, escrito por Lemony Snicket (pseudônimo de Daniel Handler), possui um ar um tanto quanto sombrio e traz, como assunto central, aquilo que deve ser um dos maiores medos de uma criança: a perda dos pais e o abandono.

Por isso, quem assistiu a versão cinematográfica da história dos irmãos Baudelaire ainda na infância, provavelmente achou o filme levemente assustador – considerando que a fotografia do filme e o visual do Conde Olaf, interpretado por Jim Carey, não contribuem para algo mais suave do que isso.

Conforme anunciado há algum tempo, a Netflix produziu sua própria versão televisiva do conto e o primeiro teaser da série foi divulgado hoje, mostrando a transformação de Barney Neil Patrick Harris para viver o meticuloso Conde Olaf, tio dos órfãos Baudelaire que só quer a guarda das crianças/adolescentes pela herança que eles receberão. O tom sombrio aparentemente permanece intacto nesta releitura, assim como a fotografia e visual dos personagens – nesta, Violet é interpretada por Malina Weissman e Klaus Baudelaire por Louis Hynes.

Confira o teaser abaixo:


A série contará com 8 episódios e estará disponível na Netflix a partir do dia 13 de janeiro de 2017. Aqueles que assistiram quando crianças e sentiram o pesadelo vivido pelos Baudelaire na pele poderão agora ver tranquilos, entendendo as referências (que são muitas!) e com a certeza de que o seu tio não se transformará no Conde Olaf em caso de fatalidade. Deus é mais!

Algo desventurado está chegando: Acabou de sair o primeiro teaser da adaptação de 'Desventuras em Série' pela Netflix, confira!

Nós não levamos um tiro, levamos um fuzilamento inteiro! Depois (bem, bem beeeeeeem) depois de termos a notícia de que a maravilhosa saga de livros "Desventuras em Série" viraria uma série pelas mãos da Netflix, nós FINALMENTE temos o primeiro teaser da adaptação.

Com pouco mais de 30 segundos, agora podemos ter uma noção de como os produtores tratarão a história e, principalmente, a parte visual da série de Lemony Snicket, que permaneceu fiel ao descrito nos livros, felizmente. Talvez a mais nova adaptação da Netflix venha para fazer justiça ao erro que a Paramount Television (que também a está produzindo) cometeu com os filmes de "Desventuras", que foi deixá-los tão infantis, tirando boa parte do pessimismo e de seus mistérios. 

Assista ao teaser abaixo:

Para tudo! Netflix vai produzir um seriado baseado na saga literária 'Desventuras em Série'!

Sim, senhoras e senhores, "Desventuras Em Série" virará série pela Netflix, em parceria com a Paramount Television!

Foi a Paramount que fez dos três primeiros livros um filme, lááá em 2004, estrelando Jim Carrey, Meryl Streep e Jude Law. E por mais que o filme tenha conseguido muitos fãs, isso não foi suficiente para dar continuidade as filmagens.

A vice-presidente de conteúdo do Netflix, Cindy Holland, disse:
Na busca de material fantástico que possa agradar tanto crianças quanto adultos, a primeira parada para gerações de leitores é 'Desventuras em Série'. O mundo criado por Lemony Snicket é único, sombriamente engraçado e relacionável.
De algum lugar seguro, mas desconhecido, Snicket comentou:
Não acredito. Depois de anos oferecendo entretenimento de qualidade, a Netflix está arriscando sua reputação e seu sucesso se associando com meus livros alarmantes e perturbadores.
Narrado por Lemony Snicket, personagem criado por Daniel Handler, "Desventuras em Série" conta em 13 livros a história dos irmãos Violet, Klaus e Sunny Baudelaire, que viraram órfãos após um misterioso incêndio em sua casa e são adotados pelo malvado Conde Olaf, que os fazem sofrer enquanto ele busca conseguir a herança deixada aos três pelos falecidos pais. A história é completamente escrita com pessimismo da parte de Snicket, que diversas vezes tenta convencer o leitor a parar de ler a história (sério), por isso o "depoimento" acima (genial demais hahahaha).

A Netflix está expandindo seus seriados originais, além da série de livros, ainda haverão adaptações de "Madagascar", "O Riquinho Rico" e até uma parceria com a Marvel em "Demolidor".

O seriado ainda não tem data de estreia nem nomes envolvidos (os atores do filme não devem retornar), só sabemos que o autor vai ter uma grande participação em tudo isso. E não se engane: o tom infantil e lúdico do filme não é nada parecido com a história original, cheia de mistérios, segredos, intrigas e crimes. Mas e aí? Ansioso? Nós já estamos soltando um YAAAAASSSSSSS!

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