Quando o dubstep alcançou a camada mainstream da música pop, o público já não sabia o que esperar da próxima tendência para as rádios, visto que o subgênero incorporava da música eletrônica ao rock, com agressivas combinações de samples que, em muitos casos, soavam como se alguém tivesse esbarrado em vários móveis pela casa e registrado toda a barulheira.
Nisso, ainda me lembro de quando o G1 apresentava as atrações do Lollapalooza 2015 e, numa matéria especial, apresentou o quiz: “Skrillex ou barulho de São Paulo?”. E alguns sons realmente davam margem para dúvida.
Na tendência seguinte, entretanto, o que vimos foi a música pop voltar alguns passos, abrindo mão das batidas em excesso para o minimalismo do tropical house, influenciado por vertentes da música jamaicana, caribenha e latina.
Nesta leva, alguns dos nomes que levaram a melhor foram Major Lazer, trio de música eletrônica encabeçado pelo produtor Diplo, Justin Bieber e Rihanna, além de produtores como Felix Jaehn, responsável pelo remix que levou para as paradas “Cheerleader”, do cantor OMI, e Seeb, que assinou a versão hit de “I Took A Pill In Ibiza”, do Mike Posner.
Apesar dessas músicas terem sido lançadas entre a metade de 2015 e começo de 2016, a febre tropical resistiu e, até então, segue revelando outros sucessos, como a parceria do trio Clean Bandit com Anne-Marie e Sean Paul, “Rockabye”, atualmente no topo das paradas britânicas, e a recente colaboração de DJ Snake com Bieber, “Let Me Love You”, mas como toda tendência, ela começou a saturar e, com isso, fica a dúvida quanto ao que será a próxima aposta da indústria. E a resposta, por sua vez, pode ser a absurda e exuberante PC Music.
Encabeçada pelo londrino A.G. Cook, a gravadora independente PC Music foi fundada em 2013, como uma forma de reunir outros produtores que estavam explorando o subgênero e revelá-lo como um só projeto ao público, assinado por Hannah Diamond, Danny L Harle, GFOTY, Lipgloss Twins, Thy Slaughter e EASYFUN.
De sua sonoridade ao visual, o trabalho parece uma mistura dos exageros pop dos anos 90 com o que eles imaginavam que seria a realidade do futuro, resultando numa estética minimalista, porém excêntrica, com os usuais refrãos chicletes da música pop e instrumentais que parecem ter saído de algum programa do Windows 99 (ou daqueles computadores e teclados para criança, que você provavelmente teve em algum momento de sua infância). E isso, pelo incrível que pareça, funciona perfeitamente bem, acompanhado ainda de vocais “pitchados” (modificados para soarem mais agudos) e diversas combinações de samples e sintetizadores.
O nome “PC Music” expressa a ideia das músicas feitas por computadores, como uma oposição às grandes gravadoras, que hoje lidam com o desafio de ter seus grandes artistas e produtores dividindo espaço com nomes novos e independentes nas paradas, rádios e serviços de streaming.
O primeiro trabalho revelado pelo selo foi a coletânea “PC Music, Vol. 1” (2015), que reuniu os feitos de seus produtores e serviu como uma grande introdução ao que estava por vir. Nessa compilação, os destaques ficaram para as faixas de Hannah Diamond, “Every Night” e “Attachment”, além de outras para as quais empresta seus vocais, como “In My Dreams”, do Danny L Harle, e “Keri Baby”, com A.G. Cook.
O diferencial desse trabalho começou a atrair atenção de outros músicos para o projeto e quem não perdeu tempo para se aproximar foi Diplo, que levou as batidas de SOPHIE outro precursor do estilo, para a música “Bitch I’m Madonna”, presente no álbum mais recente da cantora, “Rebel Heart” (2015).
No ano seguinte, foi a vez de Charli XCX se interessar pela novidade, resultando no EP “Vroom Vroom”, também produzido por SOPHIE, com colaborações de A.G. Cook, Hannah Diamond e, entre outros nomes, o sueco Patrik Berger, que já assinou músicas como “Dancing On My Own”, da Robyn, e a parceria da XCX com Icona Pop, “I Love It”.
O breve sucesso foi o suficiente pra que o selo desse seu passo seguinte com o lançamento de sua segunda coletânea, “PC Music, Vol. 2”, agora com vocais de Carly Rae Jepsen (“Super Natural”), Noonie Bao (“Monopoly”) e da chinesa Li Yuchun (“Only You”), revelando um pouco mais de suas influências, que passeia pelo eurodisco noventista, punk-rock inglês e até pop japonês.
Por fora das coletâneas, A.G. Cook e SOPHIE apostaram ainda na estreia da cantora QT, que se chama Hayden Dunham fora dos palcos e, inicialmente, estava apenas em busca de uma música para a divulgação de sua bebida energética, mas gostou da conexão que sentiu com a música e, após o single “Hey QT”, seguiu nos estúdios para trabalhos futuros, assinada pela gravadora XL Recordings, que já revelou nomes como Adele, MIA e The White Stripes.
Depois de Diplo, que chegou a lançar um remix de “Hey QT”, outro produtor que se interessou pela PC Music foi Skrillex, e ele até tentou contratá-los para a sua gravadora, mas sem sucesso.
Charli XCX, após o EP “Vroom Vroom”, começou a produzir seu novo álbum e, em 2017, deve revelar outros trabalhos com os produtores desse selo, incluindo uma parceria com a cantora japonesa Kyary Pamyu Pamyu, chamada “Crazy Crazy”, e Carly Rae Jepsen, em paralelo às gravações do seu novo disco, também emprestou sua voz para músicas inéditas de Danny L Harle, que deverão ver a luz do dia pelos próximos meses.
Com os contatos de Hannah Diamond, A.G. Cook, SOPHIE e Danny se expandindo, será uma questão de tempo até que alguma cantora mais famosa aceite o desafio de introduzir a PC Music nas rádios e, nesse período, outros músicos também deverão se inspirar na sonoridade desses trabalhos. É provável que no próximo ano o subgênero assista sua ascensão definitiva e, na ausência de um adjetivo melhor, isso tem tudo para ser bem louco.
No Spotify, preparamos a playlist “Não uso drogas, ouço PC Music”, com canções que cumprem uma boa apresentação ao gênero. Ouça e siga abaixo: