O discurso das “qualidades” do “pretinho básico” é repetido quase como um mantra para as mulheres: “cai bem com tudo”, “emagrece”, “é elegante”, “é sexy”. Entretanto, não foram por questões estéticas que as convidadas ao 75° Globo de Ouro escolheram a cor preta para suas vestimentas, e sim para mostrar um sinal de luto. Luto por um gênero ainda muito oprimido no mundo do showbiz; luto por carreiras destruídas por aqueles que não aceitaram um “não”; luto, também, por todas as mulheres, independentemente de suas profissões, que já sofreram abuso ou que estão sujeitas a cair na subordinação de abusadores no ambiente de trabalho.
O protesto foi convocado pelo movimento Time’s Up, criado por figuras do meio televisivo, cinema e teatro após à enxurrada de denúncias de assédio sexual que ocorreu no ano passado – que eclodiu, principalmente, após à revelação dos casos ligados ao produtor Harvey Weinstein, acusado de assédio por atrizes como Ashley Judd, Rose McGowan, Cara Delevingne, Angelina Jolie, Lupita Nyong'o, Léa Seydoux, Lena Headey, Gwyneth Paltrow, entre outras.
A partir da urgente necessidade de acabar com esses casos no meio artístico e em todas as outras posições de trabalho, Emma Stone, Natalie Portman, Shonda Rhimes, Maryl Streep, Eva Longoria, Ashley Judd, Reese Witherspoon e muitos outros nomes, que totalizam mais de 300 (veja aqui todos os nomes), lançaram, no dia 1° de janeiro, a Time’s Up. Porque, realmente, já deu.
Preto é o novo rosa.
Ver a premiação desse ano foi uma mistura de tristeza e beleza. Triste porque é digno de perplexidade estarmos vivendo esse tipo de calamidade em plena década de 2010 (beirando a de 2020), porém belo pela união de praticamente todas as mulheres presentes para lutar contra esse pesadelo. Tal união não foi demonstrada somente pela cor da roupa, mas também pela fala. Grande parte das mulheres ganhadoras gastaram alguns segundos do escasso e contado tempo de agradecimento para dar uma palavra de protesto e apoio à causa.
Preto é o novo rosa.
Ver a premiação desse ano foi uma mistura de tristeza e beleza. Triste porque é digno de perplexidade estarmos vivendo esse tipo de calamidade em plena década de 2010 (beirando a de 2020), porém belo pela união de praticamente todas as mulheres presentes para lutar contra esse pesadelo. Tal união não foi demonstrada somente pela cor da roupa, mas também pela fala. Grande parte das mulheres ganhadoras gastaram alguns segundos do escasso e contado tempo de agradecimento para dar uma palavra de protesto e apoio à causa.
Nicole Kidman, que ganhou o prêmio de Melhor Atriz em Minissérie ou Filme para TV por "Big Little Lies”, mostrou todo o carinho e lealdade a suas colegas Reese Whiterspoon, Laura Dern, Shailene Woodley e Zoe Kravitz; e enfatizou sua vontade de mudar a história de mulheres que passam pelo mesmo abuso que sua personagem na série. Elizabeth Moss, Melhor Atriz em Série Dramática por "The Handmaid's Tale" leu uma citação de Margareth Atwood para encorajar mulheres a lutar pelos seus direitos. Oprah Winfrey, a grande homenageada da noite, não apenas abordou a condição de mulher em seu rico discurso, mas também sobre ser uma mulher negra em uma sociedade machista e racista. “O tempo dos abusadores acabou” foi o fechamento de sua memorável fala.
A festa foi delas, mas a indústria ainda é deles.
Mesmo com os vestidos pretos, alfinetadas pesadas de Seth Meyers a Harvey Weinstein e Kevin Spacey, discursos empoderadores e provocadores, broches da campanha usados também por homens e prêmios para “Big Little Lies”, “The Handmaid’s Tale”, “Lady Bird” e “Três Anúncios para um Crime” – obras protagonizadas por mulheres que abordam questões relacionadas ao gênero –, não houve uma mulher concorrendo ao prêmio de direção — fato lembrado por Natalie Portman ao apresentar a categoria, inclusive. Barbra Streisand também fez questão de relembrar isso ao apresentar a principal categoria de Melhor Filme Dramático. Em 75 anos de história da premiação, apenas 5 cineastas mulheres concorreram ao prêmio e apenas ela, a própria Barbra, o conquistou, em 1984 por “Yentl”.
Mesmo com os vestidos pretos, alfinetadas pesadas de Seth Meyers a Harvey Weinstein e Kevin Spacey, discursos empoderadores e provocadores, broches da campanha usados também por homens e prêmios para “Big Little Lies”, “The Handmaid’s Tale”, “Lady Bird” e “Três Anúncios para um Crime” – obras protagonizadas por mulheres que abordam questões relacionadas ao gênero –, não houve uma mulher concorrendo ao prêmio de direção — fato lembrado por Natalie Portman ao apresentar a categoria, inclusive. Barbra Streisand também fez questão de relembrar isso ao apresentar a principal categoria de Melhor Filme Dramático. Em 75 anos de história da premiação, apenas 5 cineastas mulheres concorreram ao prêmio e apenas ela, a própria Barbra, o conquistou, em 1984 por “Yentl”.
O bônus da noite vai para James Franco, ganhador do prêmio de Melhor Ator em Comédia ou Musical por "Artista do Desastre". De broche da campanha e tudo, Franco foi denunciado por assédio por diversas mulheres do meio via Twitter já durante a premiação.
No último domingo as mulheres ganharam a batalha, se assim podemos dizer, mas ainda seguem perdendo na guerra. Porque é fácil colocar um broche apontando um dedo e não olhar os outros três apontados para si. É fácil discursar sobre a igualdade de gênero se é parte do gênero opressor. É mais fácil ainda achar um absurdo não ter mulheres disputando um prêmio consigo, mesmo já estando na nata da competição há muitos anos e achar, até então, que estava tudo bem. O Globo de Ouro 2017 durou apenas algumas horas, mas a mudança deve ser constante e crescente. Fazer bonito na frente das câmeras é mole. Difícil é abrir mão dos próprios privilégios para reparar uma injustiça.