Foi longo o período em que Kylie Minogue passou longe das rádios e, consequentemente, seus fãs, mas se tinha uma coisa que alimentou seu público durante todo esse período, foi a certeza de que, quando voltasse, a qualidade estava garantida. De contrato assinado com a Roc Nation, gravadora do rapper Jay-Z que, a partir deste ano, detém os direitos dos seus lançamentos em território americano, a cantora aqueceu seus fãs com “Timebomb”, carro-chefe de sua mais recente coletânea, em seguida mandou outro sinal de fumaça com “Skirt”, canção que mostrava os primeiros sinais de que os produtores envolvidos em seu 12º disco de inéditas estavam mesmo empenhados em apresentar novidades, mas o fogo foi guardado para a explosão que seria seu single de retorno, “Into The Blue”.
Quando começaram as notícias sobre a nova música de trabalho da Kylie ser uma colaboração com a rapper absurdinha Brooke Candy, bateu aquele desespero, confessamos. O que a rainha do pop australiano estava aprontando? Como imaginar toda sua energia pop de mãos dadas com as batidas e rimas freaks da Brooke?! Quando vão deixar de esquecer o Gerador de Improbabilidade Infinita ligado?!? Mas as coisas voltaram para seus devidos lugares quando os planos foram modificados e a tal nova canção foi anunciada, sem a rapper. Falando sobre “Into The Blue” durante algumas entrevistas, a intérprete de “All The Lovers” prometeu algo bem fiel ao seu repertório, algo “bem Kylie”, mas que também soasse novo, fresco para as rádios, e pela primeira vez em muito tempo, temos que concordar sobre a artista ter nos trago algo que realmente prometeu.
Numa produção não inovadora, mas funcional. Kylie Minogue coloca seus vocais para respirarem ar fresco, em meio a sintetizadores que poderiam facilmente pertencer a algo da sueca Robyn e um refrão que explode numa ascensão semelhante às fórmulas adotadas pela P!nk. É uma reinvenção artística e pop que tem como principal objetivo não só atrair uma nova geração para escutar sua música, como também revitalizar seu nome no cenário atual, e faz isso com uma maestria invejável. De início, também dá pra se assustar com a forma com que a música funciona para as rádios atuais, ao mesmo tempo com que questionamos se, entre os violinos escondidos em meio às batidas feitas para as pistas, realmente há alguma novidade para o repertório de Kylie.
“Into The Blue” não é nenhum hino divisor de carreiras, daqueles que fará com que todos esqueçam “Can’t Get You Out Of My Head”, mas cumpre o principal para nós quando se trata de algo propriamente pop, sendo divertida. Toda sua proposta entretém — e nos seduz —, enquanto Kylie Minogue nos mostra que o tempo foi mais que favorável para ela não só fisicamente, mas também em estúdio, uma vez que a cada ano ela soa mais jovem e cheia de vida, exatamente como tem que ser. O mais legal nisso, porém, é a forma descompromissadamente natural com que a música parece ter ganhado vida, o que faz com que todos os outros grandes retornos pop que tivemos nos meses anteriores pareçam simples tentativas de impressionar um público cada vez mais crítico e exigente, mas que na maioria das vezes se satisfaz com o que, em outrora, poderia ser julgado “tão pouco”.