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Jup do Bairro, Linn da Quebrada e Dalasam são divindades da putaria na grandiosa “All You Need Is Love”

“All you need is love, tenho tanto pra te dar”, versa Jup do Bairro e seus parceiros de música, Linn da Quebrada e Rico Dalasam, nesta canção que abre oficialmente os trabalhos do seu álbum de estreia, o projeto audiovisual “Corpo sem juízo”.

Sob a produção de Badsista,  que neste ano também trabalhou com Linn no álbum de remixes do “Pajubá” e produziu a volta de Deize Tigrona em “Vagabundo”, “All You Need Is Love” leva esses três corpos para a antiguidade, enquanto mescla sintetizadores com a batida pulsante do funk, criando a mesma atmosfera dúbia de sua letra, ora romântica, sobre amor, ora putaria, afinal, os dois temas não só podem, como devem estar de mãos dadas.

No clipe, com direção do Rodrigo de Carvalho, a dificuldade de se produzir parcerias em meio ao isolamento é driblada com muita criatividade e tecnologia, apresentando-os através de hologramas no rosto de estátuas que mais parecem divindades no meio do deserto, ali sedentas por amor e para amar.

Da junção de três artistas tão plurais, “All You Need Is Love” consegue compartilhar o melhor de cada um deles e delas, e seu resultado não poderia ter sido mais caótico e grandioso.

Potência tripla: Karol Conka, Gloria Groove e Linn da Quebrada preparam single

Foto: Helena Yoshioka/ Divulgação
Para quem está sentindo falta de novidades das divas Karol Conka, Gloria Groove e Linn da Quebrada, se prepare, porque vem aí “Alavancô”. A música foi gravada no início de julho no estúdio Red Bull Music, no centro de São Paulo, e pensada especialmente para ser apresentada no primeiro dia do Rock in Rio, no dia 27 de setembro.

A ideia de unir as três veio de Zé Ricardo, produtor que já havia trabalhado com Karol e Linn e que é o diretor artístico de um dos palcos do Rock in Rio. Sem dar muitos spoilers sobre a faixa, o produtor definiu o single como um misto entre tango, funk e hip-hop.

Ao G1, Karol disse que a música é sobre auto-estima e estar bem consigo mesmo. “A música fala sobre a gente se sentir à vontade na pele que habita e sobre não se importar com a visão ou opinião de pessoas limitadas”, disse ela ao portal.

E enquanto esse single não vai ao ar, as cantoras já estão gerando expectativa nas redes sociais. O fã clube de Gloria Groove reuniu alguns Stories dos bastidores da gravação da faixa e colocou em um vídeo no Youtube. Dá uma olhada:



Agora só nos resta esperar!

Azealia Banks terá Linn da Quebrada, Pepita, Lia Clark e BATEKOO nos shows do Rio e SP

Ela tá chegando, gente!

Com seus sabonetes e trabalhos lançados após o disco “Broke With Expensive Taste”, incluindo o hit atemporal “Anna Wintour”, a rapper e cantora Azealia Banks desembarcará no Brasil em novembro para uma série de shows à convite do Descobrir Música e, durante sua passagem por São Paulo e Rio de Janeiro, contará com reforços muito bem-vindos durante suas apresentações.

Em ambos os shows, a artista trará a participação de nomes influentes da música negra e LGBTQ brasileira, incluindo Linn da Quebrada, Lia Clark e Mulher Pepita



Fora as cantoras, o show ainda contará com uma after party que ficará a cargo de ninguém menos que o pessoal da BATEKOO, uma festa totalmente voltada ao público negro, famosa por seus fervos que já acontecem em SP e na cidade maravilhosa. After mais do que propício, né?



O show de Azealia no Rio acontecerá no dia 10 de novembro, no Sacadura 154, e em São Paulo no dia 16, no Tropical Butantã, e se você ainda não comprou seu ingresso, tem uma oportunidade boa aqui: nós fomos convidados pra ser um dos embaixadores dos shows da Zezé no Brasil e, com isso, descolamos um desconto de 25% nos ingressos. É só comprar usando o código “ITPOP”. Reis acessíveis fazem assim. Os ingressos estão disponíveis no site da Eventbrite.

Ainda neste ano, é esperado que Azealia lance seu novo disco, “Fantasea: The Second Wave”, no qual deverá incluir “Anna Wintour” e músicas como “Treasure Island” e “Escapades”. No Brasil, seu repertório também deverá incluir uma versão para o clássico da bossa  nova “Chega de Saudade”, composto por Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

10 mulheres fodas da música brasileira que você precisa conhecer

A música brasileira sempre esteve rodeada de nomes femininos, é verdade, mas a realidade da indústria para as mulheres sempre foi dura, injusta e cheia de obstáculos, de maneira que, historicamente falando, muitos nomes fodas acabaram ficando pra trás ou não sendo tão valorizados o quanto deveriam.

Nos últimos anos, a internet se tornou um importante meio de se fazer e compartilhar música, facilitando pra que coletivos e artistas independentes se encontrem e se apoiem, e incentivando que não só mulheres, mas também cada vez mais artistas LGBTQs e negros se sintam incentivados a ocuparem um número cada vez maior de espaços.

Neste Dia Internacional da Mulher, a gente aproveita esse espaço pra compartilhar o nome de algumas mulheres que estão transformando a nossa música e, esperamos nós, fazendo o seu nome pra que as próximas gerações possam olhar para uma música ainda mais diversa e igualitária.

Prepara os fones de ouvido e o Spotify, porque com elas, os hinos estão garantidos. 

A lista foi organizada em ordem alfabética:

ABRONCA

Só o bonde pesadão! ABRONCA é formado por Jay, Slick e May, três mulheres negras, cantoras e rappers, que começaram como o grupo Pearls Negras, mas renovaram seu som e retornaram no ano passado com o single “Chegando de Assalto”, com produção do Leo Justi (MC Carol, M.I.A, Heavy Baile).


Bivolt

No Youtube, ela tem apenas três canções, mas senta e assiste, porque ela tá só começando. Bivolt é mais uma rapper em busca do seu espaço num gênero ainda muito limitado para mulheres e, caminhando a passos largos, já passou pelo Rock in Rio, se preparando agora para lançar o seu primeiro EP.



Danna Lisboa

Ela começou este ano ao som de “Quebradeira”, com a Gloria Groove, mas foi no ano passado que lançou seu primeiro EP, “Ideais”, no qual canta sobre seus amores, seres e lutas, enquanto rapper, cantora, mulher, negra e trans.


Drik Barbosa

Se tem um nome que tem tudo pra virar o rap nacional de cabeça para baixo neste ano, é de Drik Barbosa. Seu EP de estreia, “Espelho”, será lançado pelo selo do Emicida, Lab Fantasma, e já conta com o single “Melanina”, ao lado de Rincon Sapiência.

Geo

Autointitulada como uma cantora de “sad pop”, Geo vem fazendo seu nome pelas beiradas e com uma proposta que foge de tudo o que é comum para o pop nacional, trazendo letras em português para batidas que, facilmente, poderiam embalar o som de artistas como Lorde, Lana del Rey e Banks.

Jade Baraldo

Uma das maiores surpresas vindas do The Voice Brasil, Jade Baraldo faz um pop alternativo, sensual, agressivo e ousado, tudo na mesma medida. No Spotify, ela já conta com os singles “Brasa” e “Vou Passar”, além de versões para alguns hits internacionais.


Linn da Quebrada

Ela se diz uma “bicha estranha, louca, preta, da favela”, adjetivos esses que LGBTQs negros podem ter passado a vida ouvindo de maneira pejorativa mas, na voz dela, se tornam gritos de guerra, de força, de insistência e resistência. Seu disco de estreia, “Pajubá”, é uma das produções mais fodas do último ano.

Mahmundi

Essa é uma artista que já conhecemos de muitos verões, mas que agora, de contrato assinado com uma major e um ótimo primeiro single já lançado, tem tudo para ir ainda além. Mahmundi é um sopro de ar fresco e ousadia para a música pop, sempre tão enlatada.

Malía

A preta aqui não tá de bobeira. Malía foi descoberta após cantar Ludmilla, Rihanna, entre outras artistas pela internet, mas agora quer mesmo é levar cada vez mais longe o seu próprio som. O EP “Zum Zum Zum” é tudo o que você precisa pra se convencer do quanto ela é incrível.


Xênia França

Xênia França é uma força da natureza. Seu disco de estreia, lançado no último ano, “Xenia”, trata de toda a sua força, empoderamento e lutas contra o machismo, racismo e mais o que estiver no seu caminho, embalado por um classudo som que passeia das influências africanas ao jazz, fruto da América negra.

Vai ter Linn da Quebrada arrasando com Liniker no Lollapalooza Brasil

A escalação brasileira desse ano no Lollapalooza tá cada vez melhor, né?

E nesta segunda-feira (05) quem se uniu ao time foi a cantora Linn da Quebrada, que na semana passada estava em Berlim, sendo premiada por conta do documentário “Bixa Travesty”, que narra a sua trajetória na vida e na música.

Dona de um dos melhores discos do ano passado, o manifesto artístico “Pajubá”, Linn se apresentará no segundo dia do evento, 24 de março, como atração convidada no show da Liniker e sua banda, Os Caramelows.


Mulheres negras e trans, que descobriram na música uma maneira de expressar seus sentimentos e inquietações, Liniker e Linn são amigas de longa data, tendo estudado no mesmo colégio quando mais novas, e musicalmente falando, já haviam se encontrado outras vezes, como na faixa “Coytada”, no disco de uma, e “Lina X”, no disco da outra.


O show delas será o segundo do Palco Onix, marcado pras 13h do sábado de Lollapalooza, então já temos um bom motivo pra chegarmos bem cedinho ao festival, né?

10 discos de artistas negros para ouvir em 2017

A história da música sempre foi marcada pelo apagamento de artistas negros, ainda que eles sejam as bases e influências para boa parte do que as massas consomem hoje, e, aproveitando que esta segunda-feira (20) é o Dia da Consciência Negra, preparamos uma lista para reconhecer alguns dos ótimos discos lançados por eles neste ano.

Tanto na gringa quanto no Brasil, foram muitos os álbuns impecáveis lançados por nomes negros, de forma que a lista terminou bem diversa, mas desde já ressaltamos que você talvez sinta falta de alguns nomes, porque priorizamos trabalhos fodas de artistas menos reconhecidos e, ainda assim, sofremos bastante até conseguirmos apenas dez.

Já prepara o Spotify e segura esses hinários!

01) SZA, “CTRL”

Foi com “Consideration”, presente no “ANTI” de Rihanna, que SZA viu o holofote sob o seu nome. A cantora e compositora já tinha uma mixtape pra chamar de sua e, após várias parcerias de peso, lançou também seu álbum de estreia, o hinário “Ctrl”. Bebendo muito do R&B e, por suas colaborações, também do hip-hop, “Ctrl” passeia do indie-rock ao rap-pós-Drake, oferecendo uma experiência que te fará questionar o que costumava chamar de música antes de conhecer esta fada.

Pra testar: “Love Galore”, “Prom” e “The Weekend”.



02) Flora Matos, “Eletrocardiograma”

Você provavelmente conhece Flora Matos por seu maior hit, “Pretin”. A música foi só uma das responsáveis por colocá-la no radar do rap nacional e, superando quaisquer barreiras impostas neste gênero para mulheres, foi nesse ano que estreou seu primeiro disco, “Eletrocardiograma”, com um compilado de confissões e pensamentos altos sobre relacionamentos, amores e suas dificuldades.

Pra testar: “Preta de Quebrada”, “Perdendo o Juízo” e “Parando as Horas”.



03) Kehlani, “SweetSexySavage”

Nós já fizemos um manifesto em prol da carreira de Kehlani aqui. Cantora e compositora, a moça é uma das grandes apostas do R&B há algum tempo e tem o apoio de muita gente do meio e fora dele, incluindo produtores como Calvin Harris e o rapper Chance The Rapper, com quem já colaborou. Seu disco de estreia por uma grande gravadora, “SweetSexySavage”, é uma boa amostra do que ela é capaz.

Pra testar: “Distraction”, “CRZY” e “In My Feelings”.



04) Gloria Groove, “O Proceder”

“É que eu sou dona da porra toda”, canta Gloria Groove na última faixa do seu álbum de estreia. Em meio a tantas drag queens se encontrando na música pop, foi no rap que ela se descobriu, com composições que falam sobre a sua resistência em existir, sua descoberta enquanto homem gay, autoestima e relacionamentos. As influências passeiam do R&B dos anos 90 e 2000 às novidades do hip-hop atual, como Shamir e Le1f.

Pra testar: “O Proceder”, “Gloriosa” e “Muleke Brasileiro”.



05) Lil Yachty, “Teenage Emotions”

Sua voz lembra o Future, o uso do autotune remete imediatamente ao Kanye West e Lil Wayne, enquanto seus arranjos parecem saídos dos principais hits pop de Akon e outros rappers que tinham alguma relevância nos anos 2000. Mesmo com tantas lembranças, tudo soa fresco no primeiro álbum de Lil Yachty, principalmente num momento em que o rap tem se prendido cada vez mais às fórmulas prontas, com tudo soando como um amontoado de singles do Migos.

Pra testar: “Forever Young”, “Better” e “Running With a Ghost”.



06) Rincon Sapiência, “Galanga Livre”

Na era dos álbuns visuais, ter discos que, apenas com o som, nos permitem assistir sua história é fascinante. “Galanga Livre” é a estreia de Rincon Sapiência e, na correria do escravo e revolucionário Galanga, nos conta uma aventura cheia de reviravoltas, revoltas,  críticas e sentimentos.

Pra testar: “Crime Bárbaro”, “A Coisa Tá Preta” e “Ponta de Lança”.



07) Khalid, “American Teen”

Outra revelação do ano, Khalid lançou neste ano o disco “American Teen”, com a mesma produção do álbum de estreia da Lorde, o aclamado “Pure Heroine” (2013). Infelizmente, o disco do moço está longe de ter conquistado o mesmo reconhecimento da dona de “Royals”, mas ao menos nos rendeu boas audições, passeando do indie-pop ao trip-hop.

Pra testar: “Young, Dumb & Broke”, “Saved” e “8TEEN”.



08) Baco Exu do Blues, “Esú”

Tudo é caótico, intenso e íntimo em “Esú”, o álbum de estreia provocativo do rapper baiano Baco Exu do Blues. Da religião ao racismo, o disco te carrega por discursos, desabafos e delírios, compartilhando com o ouvinte as dores, orgulhos e receios do músico.

Pra testar: “Abre Caminho”, “En Tu Mira” e “Capitães de Areia”.



09) Tyler The Creator, “Flower Boy”

Quando lançou o disco “Melodrama”, a cantora neozelandesa Lorde afirmou que o cantor Frank Ocean redefiniu as possibilidades em estúdio com seu último álbum, “Blonde”. Ouvir Tyler The Creator e seu “Flower Boy”, que muito bebe do que Ocean fez neste trabalho, é uma boa razão para acreditar que ela estava certa. “Flower” é colorido, honesto e ácido, vez ou outra.

Pra testar: “Who Dat Boy”, “I Ain’t Got Time” e “Boredom”.



10) Linn da Quebrada, “Pajubá”

Não existe eufemismo quando se fala na cantora Linn da Quebrada e seu primeiro CD. “Pajubá”, a palavra, é o nome dado para o conjunto de gírias utilizados por pessoas LGBTQs e, ressignificando inclusive esta ideia de significados, nas mãos de Linn se transforma num conjunto do que os LGBTQs podem ou não ser, baseado em suas verdades e experiências.

Pra testar: “Necomancia”, “Tomara” e “A Lenda”.

O disco de estreia da Linn da Quebrada, “Pajubá”, é um manifesto poético, ousado e dançante

“Não adianta pedir, que eu não vou te chupar escondida no banheiro”, canta Linn da Quebrada na primeira música do seu álbum de estreia, “Pajubá”. “Talento”, anteriormente lançada numa versão funk, reconhece a luta pela existência e resistência das travestis, dentro de uma sociedade que as repudiam, marginalizam e sexualizam.



O nome “Pajubá”, por sua vez, vem da expressão que define a linguagem entre os LGBTQs e, ao longo do disco, é sobre isso que Linn canta: a vivência de, como a própria diz, uma “bicha estranha, louca, preta, da favela”.

A indefinição do ser “queer” rodeia toda a sonoridade do disco, que vai da nova MPB, de nomes como Liniker e Alice Caymmi, ao funk, passando ainda pelo pop, rap e até uma pegada mais eletrônica.

“Pajubá” nasceu de um financiamento coletivo e, em sua tracklist, também o vemos sendo carregado por várias vozes. Entre as participações, a rapper e drag queen, Glória Groove, e as cantoras Mulher Pepita e Liniker.


Das letras mais divertidas aos debates realmente sérios, cada uma das faixas são um baita soco dentro de uma realidade em que, infelizmente, assistimos às discussões sobre a patologização da homossexualidade e censura de inúmeras relações entre a arte e cultura LGBTQ. Um momento em que Linn da Quebrada e seu “Pajubá” se tornam mais do que necessários.

Ouça na íntegra pelo Spotify:

#AmarNãoÉDoença | A tal cura gay e uma reflexão sobre como deixamos isso acontecer

Na série vencedora do Emmy, “The Handmaid’s Tale”, Ofglen (interpretada por Alexis Bledel) é uma aia, classe de mulheres férteis que são obrigadas a engravidar de seus patrões. Certo dia, o governo, autoritário, descobre que ela é uma “traidora de gênero”, como chamam os homossexuais, porque tinha um caso com a esposa do seu chefe.

Culpada por cometer um dos maiores crimes existentes nesta sociedade, Ofglen foi obrigada a assistir sua amante ser enforcada, enquanto recebia uma pena mais “branda” por ser fértil: teve seu clitóris arrancado cirurgicamente.


Caso você ainda não tenha assistido à série, perdão pelo spoiler. Mas não, esse texto não é sobre "The Handmaid's Tale", é sobre algo real e que está acontecendo no nosso quintal: a decisão liminar do juiz federal heterossexual Waldemar Cláudio de Carvalho, favorável aos psicólogos estudarem e oferecerem tratamento de "reorientação sexual" - o que popularmente foi chamado de "cura gay".

O que tem a ver, então, a saga de Ofglen com essa decisão? Basicamente, tudo. A série se passa após um golpe de estado, onde um grupo fundamentalista ultra radical assume o poder e dita suas próprias leis. Conservadores e direitistas, a nova cúpula do poder aniquila quaisquer direitos das minorias sociais - até mesmo as mulheres de elites são absolutamente privadas. A protagonista da série, Offred (interpretada brilhantemente por Elisabeth Moss), se pergunta a todo momento "Como deixamos isso acontecer?".

Todo aquele caos é só um dos assustadores finais da onda conservadora que estamos vivenciando, não só no Brasil como no globo inteiro - a maior potência mundial, os EUA, tem como líder Donald Trump, que dispensa apresentações. E a pergunta que a protagonista tanto se faz demonstra como nós, infelizmente, ainda somos passivos diante a retirada de direitos.



E essa retirada nem sempre é abrupta como em Gilead, novo nome do país em que "The Handmaid's Tale" se passa. Vamos, pouco a pouco, perdendo pequenos direitos, sendo silenciados aqui e acolá, como um sapo dentro de uma panela com água fervendo. A intenção é justamente não nos fazer notar o quanto estamos caminhando rumo à total falta de liberdade - quando notamos, já estamos estamos como Offred, nos questionando como chegamos até ali.

Desde março de 1999, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) determina que "os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados" - nós somos um dos poucos países a conquistarmos uma determinação parecida. A liminar do juiz, heterossexual, não vai contra diretamente à determinação do CFP, porém abre um vasto leque para a volta do estigma de doença na homossexualidade, que até 1973 era considerada um "transtorno antissocial da personalidade".

A base argumentativa do liminar do juiz heterossexual diz que a determinação do CFP é uma censura ao livre estudo da psicologia, afinal, se um psicólogo quiser estudar sobre reorientação sexual, por que não? Esse argumento tem o mesmo fundamento daqueles que pregam a liberdade absoluta de opinião, ou, sendo mais claro, a liberdade de opressão. Mas como eu não posso gostar de gays?, é a minha opinião, você tem que respeitar! A partir do momento em que sua "opinião" oprime uma pessoa ou um grupo, ela deixa de ser "opinião" para virar "opressão".

Se antes a escola era a instituição fomentadora de conhecimento na nossa sociedade, a mídia hoje é quem senta nesse trono. Muito mais que livros e aulas, o imaginário popular dita valores e molda nossos gostos, e são os meios de comunicação que constroem esse imaginário. A liminar do senhor Waldemar de Carvalho, heterossexual, é mais uma peça para colar o rótulo de "doente" na testa de gays, lésbicas e bissexuais, rótulo esse que tanto lutamos para ser extinguido, afinal, de doentes nós temos nada.


"Não há cura para algo que não é uma doença. Não seria uma ideia revolucionária apoiar, celebrar e AMAR pessoas pelo o que elas são ao invés de envergonhá-las e tentar mudá-las? Essa legislação é uma vergonha, e eu mando todo o meu apoio para lutar contra essa decisão medieval e repulsiva", disse Kesha.

Felizmente, há progressos. Diversos artistas, tanto nacionais como internacionais, se pronunciaram sobre a absurda medida. Nomes como Anitta, Pabllo Vittar, Demi Lovato, Tove Lo e Kesha foram às redes sociais manifestarem contra a decisão da justiça. E aqui mesmo, em solo tupiniquim, estamos vivenciando a acensão massiva de artistas LGBT no meio musical: encabeçados por Pabllo, temos drags, gays e trans conseguindo bastante espaço e solidificando seus nomes, como Rico Dalasam, Gloria Groove, Liniker, Aretuza Lovi, Jaloo, Banda Uó e Linn da Quebrada.



Mas se nós "LGB" estamos numa saia justa, acredite, o "T" está ainda pior. Travestis e transexuais ainda enfrentam diversas burocracias para o acesso de direitos básicos: para a mudança do nome social e gênero é preciso um longo processo judicial, que, no fim das contas, nada mais é que uma pessoa cis reconhecendo (ou não) a transexualidade de alguém. A pessoa trans ainda precisa que alguém comprove o que ela própria é.

E o processo em si é massacrante. No Brasil, é necessário apresentar pelo menos dois laudos médicos atentando a transexualidade e que o indivíduo vive "como homem" ou "como mulher" há anos. Se os "LGB" estão retrocedendo para o rótulo de doença, a transexualidade é, até hoje, vista como uma, mais especificamente um "transtorno de identidade". Além dessa papelada, ainda pede-se cartas e fotos de amigos que comprovem o reconhecimento do indivíduo como trans. Ou seja, a voz menos ouvida é a da pessoa trans, que não tem autonomia sobre o próprio corpo.

Muita coisa ainda precisa mudar, mas, ainda mais imperativo, é não permitirmos que o que já conquistamos seja perdido. Nas redes sociais, o barulho dos contrários à regulamentação é alto, porém não podemos deixar que esse eco fique só no mundo digital, e se algo nos é ensinado com "The Handmaid's Tale" é como nossa liberdade é o bem mais precioso que existe. E a liberdade, inclusive, de amarmos quem quisermos.

Que não nos deixemos mais cair no conformismo, nem na esperança de que pior não pode ficar, que não deixemos que eles nos coloquem mais nenhum passo para trás e, o principal, que nos unamos para lutarmos com tudo o que estiver ao nosso alcance.

O nosso amor não é doença. 

***

Sempre estivemos dispostos a usar nossa plataforma como algo além do tradicional “noticiar” e aproveitarmos nosso alcance em prol do que merece a máxima atenção possível.

Desta forma, este artigo será o primeiro de muitos da campanha #AmarNãoÉDoença, também apoiada pelos veículos, páginas e grupos abaixo assinado.

Linn da Quebrada começa financiamento coletivo para seu disco de estreia, “Pajubá”

Dona do melhor videoclipe brasileiro de 2016, a cantora Linn da Quebrada anunciou os preparativos do seu disco de estreia, “Pajubá”, entretanto, contará com o apoio dos seus fãs pra que o projeto seja concluído e apresentado ao público, por meio de um financiamento coletivo na plataforma Kickante.

Com a meta estabelecida em R$45 mil, o projeto ficará disponível para receber doações até o dia 10 de junho, com recompensas que vão de agradecimentos nas redes sociais da brasileira à noite de karaokê e shows em sua casa ou estabelecimento, de acordo com o valor contribuído. Saiba mais e contribua por aqui.

Se você não puder ajudar financeiramente, espalhar a palavra de Linn da Quebrada também é uma forma de oferecer suporte! Ela foi uma das grandes revelações da nova música nacional, que tem se mostrado cada vez mais diversa, e atualmente possui os singles “Enviadescer”, “Talento” e “Bixa Preta”, sendo esse último produzido pelo cantor Jaloo.



Essas três faixas foram apresentadas por Linn durante sua participação no Estúdio Show Livre, posteriormente disponibilizadas com outras inéditas como um disco ao vivo no Spotify:



Resistente por meio de suas músicas, Linn da Quebrada levanta as bandeiras LGBTQ e negra, enquanto discute por meio da cultura a LGBTQfobia, inclusive quando reproduzida pela própria comunidade, e também racismo.

No que foi um dos maiores momentos de sua carreira até aqui, a cantora também participou nesse ano do programa “Amor & Sexo”, da Rede Globo, no qual fez uma performance impactante da faixa “Bixa Preta”:


A iniciativa do financiamento coletivo tem sido cada vez mais frequente no Brasil e, anteriormente, já vinha se popularizando nos EUA e outros países do mundo, principalmente como uma forma de oferecer suporte aos artistas independentes, que muitas vezes se dividem entre a vida artística e outros empregos, para bancarem os custos da carreira, gravações, viagens e até mesmo shows.



Nós desejamos toda a sorte do mundo para ela e, não se esqueça, todo apoio significa um avanço. Não deixe de compartilhar com seus amigos, tá? Bora enviadescer!

A gente vai se ver na Globo?

Existe um blog chamado “Quem a homofobia matou hoje?”, que diariamente nos atualiza com reportagens sobre pessoas LGBTs que tiveram suas vidas tiradas no Brasil. O país da diversidade, do carnaval e do futebol, é também o que mais mata transexuais, travestis, homossexuais e bissexuais em todo o mundo e, segundo uma pesquisa realizada pelo grupo Gay Bahia em 2016, estima-se que um LGBT morra a cada 26 horas.

Há pouco menos de vinte e seis horas, independente de sua posição política, orientação sexual, gênero, etnia e idade, quem estava com a televisão ligada na Globo, teve sua casa tomada por artistas, ativistas e pessoas públicas LGBT, que se abriram sobre as dificuldades em viver dentro de um país intolerante, desmitificaram os grupos que integram e representam e, de forma descontraída, modelada como entretenimento, deram uma verdadeira aula sobre o que é ser aqueles que morrem todos os dias apenas por serem quem são.

O programa que serviu de palco para todo esse show foi o “Amor & Sexo”, comandado pela Fernanda Lima, e levando em consideração as últimas edições dessa temporada, é esperado que as bandeiras dessas e outras minorias sigam sendo levantadas por mais algum tempo — e isso é maravilhoso!

Não, ninguém se esqueceu de quem é a Globo. A emissora tem um passado e presente que a condenam, é relembrada o tempo inteiro sobre ter apoiado um golpe político no Brasil há alguns anos e, refrescando nossa memória, apoiou outro anos depois. Em sua programação, fomentou estereótipos racistas, machistas e LGBTfóbicos e, após perceber que não poderia mais tratar essas fatias da população com tamanho desrespeito e indiferença, viu a oportunidade de abraçá-los. Abraçar-nos.

Quando se fala em representatividade e visibilidade, não podemos ignorar a necessidade de ocupar os espaços e, cientes de que esse diálogo não deve se limitar aos que já estão do nosso lado e compreendem nossas lutas, é inevitável que nos apropriemos também de palcos que nem sempre nos serviram para o bem, de forma que nossos discursos possam alcançar um número cada vez maior de pessoas.


Uma das convidadas da última edição do “Amor & Sexo” foi MC Linn da Quebrada, uma cantora negra, transexual e periférica, que se autointitula uma “bicha preta, louca e favelada”, e ao cantar sua nova música de trabalho, o afronte dançante de “Bixa Preta”, ela não só promoveu seu material enquanto artista, como fez do programa o palco para o seu discurso.

“Se tu for esperto, tu vai logo perceber que eu já não tô de brincadeira. Eu vou botar é pra foder.”

Outro destaque ficou para Liniker, artista que dispensa limitações de gênero e, usando vestido e batom, realizou uma performance da canção “Geni e o Zepelim”, de Chico Buarque, que retrata a história de Geni, uma travesti que, como muitas outras, é literalmente apedrejada por conta de sua condição inferiorizada pela sociedade.


A apresentação cheia de interpretação é interrompida quando Liniker apresenta os dados que abriram esse texto, concluindo com a afirmação de que isso tem que acabar: “Só assim poderemos nos redimir”.

Outras artistas LGBTs, como Pabllo Vittar, Gloria Groove e As Bahias e a Cozinha Mineira, também passaram pela programação, que contou com a consultoria de Jaqueline Gomes de Jesus, mulher trans, negra, doutora em psicologia social e pós-doutora em trabalho e movimentos sociais.

Não se ganha e mantém por tantos anos o título de maior do Brasil sem ser esperta nos negócios e, enquanto uma empresa, é óbvio que a Globo olhará para os grupos sociais como nichos de mercado, fatias que ainda pode abocanhar como telespectadores. E, mesmo que gradualmente e sob muita resistência, isso tem surtido efeito: semanalmente, a timeline das redes sociais se divide entre os que comemoram o espaço ocupado na programação da emissora e os que criticam a comemoração do primeiro grupo. No final, todos assistem.

Ainda assim, também não podemos negar que, embora não saibamos quais são todas as reais motivações da cúpula global, esse espaço ocupado significa um passo importante para essas minorias, que semanalmente têm a oportunidade de invadir “a tela da tevê” daquela sua tia homofóbica, daquele seu vizinho machista e colega de trabalho racista — um pessoal que dá zero fodas para os textões que você compartilha no Facebook, seja por achá-los chatos, discordar ou sequer entender — para darem a cara à tapa e baterem de volta também.

Tudo está ao nosso alcance nas bolhas que são as redes sociais, nas quais bastam alguns cliques para nos livrarmos do que nos incomoda e outros para nos rodearmos do que nos agrada e representa, mas é na televisão que ainda se concentra o maior poder de influência dos meios de comunicação no Brasil e, uma vez ocupado esses espaços, nossos discursos ecoarão alto demais para serem ignorados. O que não podemos é nos acomodar e acreditar que, por conta de alguns minutos de exposição, nos livramos das violências e opressões de cada dia, até porque, se fosse tão simples, não chamaríamos de luta.


***


Esse texto foi originalmente publicado no meu Medium. Você pode me seguir por lá também! :)

Você + um amigo no show do Rico Dalasam, MC Linn da Quebrada e Jaloo em São Paulo na faixa

A nova música brasileira é plural, diversa, versátil e afrontosa pra caralho. Esse rosto, cada vez mais representativo, ainda não tinha, entretanto, um lugar que o abrangesse como um todo e, neste mês, a história mudará em São Paulo, com a chegada da VIC – A Casa do Centro.

SIGA A PLAYLIST “NÜ POP BRASIL”, COM O MELHOR DA NOVA MÚSICA NACIONAL



Se autodescrevendo como “a casa de shows que faltava na cidade de São Paulo”, a Casa do Centro abrirá suas portas oficialmente na próxima quinta-feira, 24, com shows de artistas como Arrigo Barnabé, INKY e Tássia Reis até o fim da semana, mas, antes da inauguração para o público, prepara um evento fechado, com apresentações de Rico Dalasam, MC Linn da Quebrada e Jaloo, para o qual você e um amigo já estão desde já convidados.



Esse show mais do que exclusivo acontecerá na noite da próxima segunda-feira, 21 de novembro, e além de convidados, tivemos a oportunidade de sortear dois pares de ingressos, que serão distribuídos para nossos leitores pelo Facebook.



Para participar, é bem simples: basta curtir a nossa página e d’A Casa do Centro no Facebook e, nos comentários da postagem desse link, marcar o amigo que te acompanhará para dar aquele close. O resultado será anunciado na noite de domingo (20).

A Casa do Centro chega com uma proposta diferente até na sua programação e, ao longo da semana, conta com diferentes tipos de artistas em seu palco: segunda abre tem uma espécie de happy hour com espaço para novos artistas autorais subirem ao palco; quarta rola stand-up com música comandado por drag queens, a começar por Silvetty Montilla; quinta e sexta são dias de shows com nomes consolidados da música; aos sábados, festas paulistanas tomam a programação e, no domingo, é dia de samba e axé com as mulheres.

A VIC fica localizada na Rua Marquês de Itu, 284, na República, em São Paulo, com funcionamento de quarta à segunda, a partir das 19h.



  1. Essa ação é de caráter cultural, sem qualquer incentivo financeiro para o blog por parte dos artistas ou seus contratantes;
  2. O resultado do sorteio será revelado no dia 20/11, devendo os vencedores nos enviar os dados para confirmação até às 10h do dia 21;
  3. Não havendo retorno por parte dos ganhadores, um novo sorteio poderá ser realizado;
  4. A participação não é permitida para menores de 18 anos;
  5. Os nomes sorteados terão direito ao par de ingressos para o show do dia 21/11, o que não inclui quaisquer gastos com transporte, hospedagem ou consumação dentro do próprio evento.

O clipe de “Talento”, da MC Linn da Quebrada, é aquele tapa na cara que todos precisam assistir

Por muito tempo, o rap e o funk foram utilizados como uma maneira de dar voz aos marginalizados, sendo, inclusive, um dos motivos pelos quais ambos os gêneros ainda são alvos de preconceito. Entretanto, de um tempo pra cá, artistas que investiam neste tipo de música ganharam cada vez mais a atenção de grandes gravadoras e, como um efeito quase que natural da “massificação” da sua sonoridade, passaram a ter discursos menos relevantes, mais dispostos à entreter o público.

Do ano passado pra cá, essa cena voltou a mudar e, com a ajuda da internet, muitos nomes independentes começaram a ganhar reconhecimento com letras que levantam bandeiras a favor de várias lutas, sendo eles artistas que vão da Karol Conka ao Rico Dalasam, e, neste post, a gente aproveita para apresentar mais um deles, a MC Linn da Quebrada.

Para a internet, o seu nome não é necessariamente novo, mas fizemos um primeiro contato concreto com a sua música em “Talento”, seu novo single, e as impressões foram as melhores possíveis.

O novo clipe de MC Linn da Quebrada chega depois do sucesso de “Enviadescer”, que é uma das suas músicas mais famosas, e prestes a lançar um EP que, futuramente, deve se concluir em um disco, ela dá voz às minorias mais uma vez, criticando agora a LGBTfobia que acontece dentro e fora do movimento, ressaltando a frequente exclusão dos gays afeminados, tidos como inferiores por o que ela chama de “gays alfas”.

“Talento”, além de Linn da Quebrada, conta com a participação de outras mulheres e drags, que fazem parte do Grupo Valéria, uma iniciativa dos próprios coletivos LGBTT, associada ao Centro de Acolhimento – de pessoas em situação de rua – da Zona Norte. Segundo a descrição do vídeo no Youtube, seu esquadrão é composto por Adão Lima, Aguilera (Igor Eduardo), Amanda Modesto, Bombom, Carla (Gilson Andrade), Livia Marine, Luana Fawkes e Marcos Paulo. A direção é assinada por Carolina Del Blue, Louise Winkler, Pedro Avila e a própria Linn.

Confira:


“Ser bicha não é só dar o cu, é também poder resistir!”


Dá-lhe representatividade! No fim do clipe, como você viu, Linn da Quebrada ainda traz depoimentos das suas convidadas, que contam um pouquinho das suas histórias e, em alguns casos, o que esperam das pessoas em relação ao que são. É difícil não se emocionar, mesmo depois todo o batidão.

Falando sobre seu disco de estreia, MC Linn da Quebrada afirmou: 
“Tenho várias músicas minhas já, mas ainda estamos tentando materializar essa obra. Espero que ele [o álbum], assim como eu, seja bem transviado e que represente as minhas experiências e de todas as pessoas trans, sapatões e bichas, principalmente de periferia, que não têm suas histórias contadas em nenhum lugar da grande mídia.”

A gente mal pode esperar para ouvir o tiro que será esse disco.

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