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Os 50 melhores discos internacionais de 2018

Todo ser humano recebe o som de uma maneira extremamente singular. O som, que através do ar chega aos nossos tímpanos e é decodificado pelo cérebro, em nossa mente é convertido para um formato visual, aqui gerado após uma sequência de eventos mentais baseados em nossos sentimentos, lembranças e associações. Que, enfim, define a maneira como reagiremos a ele.

Pensar nisso é essencial para compreendermos a subjetividade do que é tratado como bom ou ruim e, consequentemente, considerarmos que, apesar dos críticos, números de paradas e qualquer outro indicativo, toda música, disco ou artista poderá soar bem para alguém, ainda que ele realmente não seja nenhum merecedor de um Grammy ou qualquer coisa assim.

Da maneira mais subjetivamente processada, ouvida e discutida possível, esses são os nossos 50 discos internacionais de 2018:

50. Shawn Mendes, “Shawn Mendes”




Esse romantismo acústico e piegas propositalmente brega, mas, ainda assim, legal para os jovens, é tipo o que o Timberlake amaria ter feito no seu “Man of the Woods”. Felizmente, Shawn Mendes fez primeiro e melhor. - GT

49. Bebe Rexha, “Expectations”




Em seu disco de estreia, Bebe Rexha propõe uma grande sessão de terapia. Ela fala da dificuldade da fama, de se estar a cada hora em um lugar e, assim, não conseguir criar raízes, dos relacionamentos que vem e vão nesse meio tempo e de sua saúde mental em todo esse contexto. Com letras poderosas - seu ponto forte - o "Expectations" lida com as expectativas pós-fama, e mostra que a vida de um artista não é só glamour, mas é como a própria Bebe diz: o que for pra ser, vai ser. Então, vamos lá, pra ver por onde essa estrada vai nos levar. - NA


48. James Bay, “Electric Light”




Na contramão do hit “Let It Go” e o disco que o lançou para o mundo, James Bay adotou novas camadas para o seu som e, no disco “Electric Light”, acertou num pop-roqueiro-moderninho que, da estética a sonoridade, utiliza da mescla de macetes e experimentações pra mostrá-lo enquanto um artista muito mais interessante do que seu primeiro sucesso demonstrava ser. - GT


47. Bea Miller, “aurora”




Bea Miller aderiu ao lançamento compartimentado, liberando primeiro 3 EPs, chamados de "Blue", "Red" e "Yellow" para, então, com a adição de mais algumas músicas, lançar oficialmente seu novo disco. O "aurora" conta uma história sensorial de como a garota superou uma depressão lidando com relacionamentos amorosos e consigo mesma: o azul representa a tristeza, o vermelho a raiva e o amarelo é a forma como ela se levantou a partir disso tudo. Para a artista que surgiu bem nova no The X Factor USA, foi uma forma certeira de mostrar seu amadurecimento, principalmente em termos de composição. - NA

46. Camila Cabello, “Camila”




Lançar um disco de estreia já não é fácil, mas a missão de Camila era ainda mais complexa: se apresentar como uma artista à parte do Fifth Harmony, mostrando identidade que desse sentido à sua saída do grupo. Com alguns singles descartados aqui e um problema com a gravadora acolá, ela mostrou sua força em "Havana" e nos entregou um primeiro álbum solo redondinho, no qual explora suas raízes latinas e influências musicais de uma forma bem particular e madura, para muito além do raggaeton que todos querem tirar uma casquinha. - NA

45. Clean Bandit, “What Is Love?”




Soa como um greatest hits que veio antes mesmo das canções se consagrarem sucessos britânicos que chegarão aos EUA uns seis meses depois de terem sido #1 no Reino Unido. - GT

44. Chloe x Halle, “The Kids Are Alright”




Amadrinhadas por ninguém menos que Beyoncé, as irmãs Chloe e Halle tem muito mais do que apenas isso para se orgulhar. Em seu primeiro disco, as meninas mostram que podem ser novas, mas cantam como se já tivessem anos de experiência, explorando dos tons mais altos de seus vocais aos sussurros em meio à harmonias perfeitas. Em músicas como "Grown" e "Warrior", elas fazem parecer fácil o ato de imprimir uma identidade tão forte já é um álbum de estreia. - NA

43. The Aces, “When My Heart Felt Volcanic”




Tem discos bons que se tornam ainda melhores em dias onde tudo parece meio cinza. É o caso do "When My Heart Felt Volcanic", da girlband estreante The Aces. Numa vibe meio The 1975 e HAIM, as meninas se apoiam em letras bem millenialls e na voz suave da vocalista Cristal Ramirez para te levar à um passeio por histórias que com certeza você vai se identificar. - NA

42. Rita Ora, “Phoenix”




Depois de 6 anos complicados, uma troca da gravadora e um Calvin Harris no caminho, Rita contrariou todas as expectativas e não só conseguiu resgatar sua carreira como se tornou uma grande hitmaker no Reino Unido. Como? Apostando em um som que é seu, que é bem britânico e que também é bem eletrônico. É farofa, mas é de qualidade. - NA

41. 5 Seconds Of Summer, “Youngblood”




O ano de 2018 foi esquisito e uma das coisas mais estranhas foi ver o 5 Seconds Of Summer abandonar seu som adolescente para investir em algo mais maduro e, por que não?, autêntico. Os garotos ainda tem um longo caminho a percorrer, mas parecem ter entendido que, para durar nessa indústria, é preciso sair de sua zona de conforto, e em faixas como "Youngbloog", "Talk Fast" e "Walls Could Talk" dá pra ver que eles sabem como fazer isso, só precisam exercitar. - NA

40. MØ, “Forever Neverland”




É difícil amarrar a carreira de MØ do seu disco de estreia aos hits com Diplo, mas em seu novo álbum, “Forever Neverland”, a dinamarquesa dá um necessário passo para trás pra preencher essa história e, consequentemente, acenar aos fãs que não queriam ou esperavam por alguma outra “Lean On”. É bom tê-la de volta. - GT

39. Little Mix, “LM5”




Falar de cultura pop é falar também do que está acontecendo no mundo, porque ela reflete as principais questões que vivemos no nosso dia a dia. A carreira do Little Mix é um exemplo disso. Quanto mais liberdade ganham, mais as garotas são capazes falar da sua geração de uma forma própria e interessante. O "LM5" é um passeio pelo mundo da mulher milleniall, que se reconhece e se respeita como um mulherão da p*rra em seus relacionamentos, que vive o conceito de sororidade em suas amizades e que sabe que se olhar no espelho e gostar do que vê é um trabalho diário, mas não foge de um desafio. You on that feminist tip? HELL YEAH, I AM! - NA


38. Anne-Marie, “Speak Your Mind”




Pop sem defeitos. - GT

37. Post Malone, “beerbongs & bentleys”




De primeira, você torce o nariz por ser mais um branco em destaque fazendo rap. Na sequência, você tem a impressão de estar perdido por algum disco emo que simplesmente invadiu a sua playlist e soa realmente muito bom nesta proposta. Faixas como “Stay”, “Rich & Sad” e o mais recente hit “Better Now” são muito mais interessantes do que o sucesso que o alçou para o topo das paradas e te convencem a descobrir o que mais ele tem a cantar e dizer. - GT

36. Charlie Puth, “Voicenotes”



Apague da sua mente o desastroso "Nine Track Mind" e trate o "Voicenotes" como a estreia oficial do Charlie Puth. Com muitos synths e letras atrevidinhas, e uma sonoridade que vai do mais pop dos anos 80, como em "Done For Me" e "BOY", ao som meloso dos anos 90 (tem até parceria com o Boyz II Men!), o disco não dá a sensação de um início de carreira promissor? - NA

35. Lady Gaga & Bradley Cooper, “A Star Is Born Soundtrack”




O fato de termos nomes incríveis como Mark Ronson, Andrew Wyatt e Julia Michaels liderados por Lady Gaga e Bradley Cooper (quem diria?) em uma trilha-sonora já seria motivo suficiente pra fazer de "A Star Is Born" um grande acontecimento. Mas é sua capacidade de nos prender em um turbilhão de emoções, cantadas de forma extremamente visceral por seus protagonistas, que faz com que a soundtrack seja do tipo que fica em nossa mente mesmo com tantos lançamentos e oferta de conteúdo por aí. - NA

34. Rae Morris, “Someone Out There”




Um dos discos mais diferenciados de 2018, "Someone Out There" faz um pop eletrônico que não tem nada a ver com o que está fazendo sucesso por aí, em termos de música no geral e em termos de EDM também. Por isso, o álbum é também um dos mais refrescantes, estranhos e maravilhosos do ano, com músicas como "Reborn", "Atletico" e "Dip My Toe" deixando aquela sensação inconfundível que só sentimos quando terminamos de ouvir uma boa música pop. - NA

33. Pusha T, “Daytona”




Seguindo a cartilha de produções do Kanye West no último ano, o segundo disco de Pusha T em carreira solo pode ser curto, mas não menos grandioso. “Daytona” é o álbum que o consolida entre os grandes do rap atual e, de quebra, ainda resgata a megalomania musical de West de uma forma que nem o próprio tem alcançado em seus próprios trabalhos. - GT

32. twenty one pilots, “Trench”




Ninguém pode negar que o "Blurryface" é o disco de maior sucesso do twenty one pilots. Por isso, pairava no ar a questão: como a banda vai se superar em seu sucessor? O "Trench" pode não ter tido tanto sucesso comercial quanto seu antecessor, mas com certeza mostra uma grande evolução de Tyler e Josh. Mais coeso e imersivo, o álbum pega tudo de bom que foi apresentado no anterior e leva a um outro nível, com uma produção mais refinada e letras tão reflexivas quanto, mas ainda mais cativantes. Sim, eles se superaram. - NA

31. Let's Eat Grandma, “All My Ears”




É assim que queremos que o pop soe no futuro. - GT

30. Mariah Carey, “Caution”




Com 28 anos de carreira e inúmeras marcas na indústria musical, Mariah Carey não precisa mais provar nada pra ninguém. Mas não é que ela se superou com o "Caution"? A artista conseguiu atualizar seu som para 2018 dando espaço ao novo, trazendo consigo produtores como Skrillez e DJ Mustard para lhe ajudarem nessa missão, mas sem deixar pra trás as marcas registradas que a fazem ser uma voz inconfundível no R&B e uma grande compositora.  - NA

29. Alessia Cara, “The Pains Of Growing”




Falar das tristezas e alegrias do limbo pós-adolescência não é algo novo na música, mas poucos conseguem sair do comum ao abordar o tema. Alessia Cara faz isso com maestria. Seu segundo disco não escapa de clichês como músicas sobre a vida depois da fama ou términos difíceis de relacionamentos, mas, diferente do que vemos por aí, é extremamente honesto. Isso porque a artista é capaz de se assumir como alguém que nada sabe e que não tem a pretensão de saber, fazendo do "The Pains Of Growing" um diário para compartilhar seus achismos e descobertas diárias sobre o que é amadurecer, ser independente e seguir em frente com as marcas positivas e negativas do seu passado. - NA

28. Bad Bunny, “X 100PRE”




2018 rendeu para Bad Bunny que, entre outras coisas, colecionou hits e uma indicação ao Grammy (por sua participação em “I Like It”, da Cardi B), mas foi nos últimos dias do ano que o rapper deu sua cartada final, quando presenteou seus fãs com o disco “X 100PRE”, que traz colaborações de Diplo, Ricky Martin e do Drake no hit que antecipou o registro, “MIA”. Mais uma amostra do quão plural é a música latina além do reggaeton, o disco vai do trap ao pop, com muitos versos que, no que depender do que ele conquistou no último ano, provavelmente o manterá como um nome frequente nos streamings e paradas. - GT

27. NAS, “Nasir”




Seja na calmaria de “everything”, cantada por Kanye West, ou no preciso toque na ferida de “Cops Shot The Kids”, “Nasir” é um disco que relembra a razão de NAS ser um dos nomes mais importantes do hip-hop americano, em tempo que, distante das paradas, se aproxima de Kendrick, J Cole e outros que muitos beberam de sua fonte numa inflamada conversa com a América Negra. - GT

26. Christine and The Queens, “Chris”




Já chegou aclamada. Bebendo de fontes que vão da sueca Robyn aos clássicos pop de Michael Jackson e Madonna, além de uma improvável admiração por Kanye, foi com o disco “Chris” que a artista francesa Christine and The Queens reafirmou o hype que já vinha conquistando desde seu primeiro CD, “Chaleur Humaine” (2014), relançado numa versão em inglês em 2015. Essencialmente pop, “Chris” utiliza de arranjos dançantes e groovados pelo funk enquanto canta sobre experiências e desilusões amorosas da forma mais melancolicamente esperançosa que já ouvimos desde o “Melodrama” de Lorde. - GT

25. Empress Of, “Us”




Filha de imigrantes hondurenhos, nascida e crescida no EUA, Empress Of se considera parte da primeira geração hondurenha-americana, e isso fica claro em seu segundo disco. No “Us”, co-composto e co-produzido por ela, Lorely Rodriguez navega por história de amor intensas e bem milleniall, enquanto exalta sua latinidade, não por meio de sons latinos, como o reggaeton, mas sim por composições bilingues, já que faz parte da realidade de filhos de imigrantes falar tanto em inglês quanto em espanhol numa mesma conversa. E se a letra traz a raiz hondurenha, seu lado americano fica visível na sonoridade, um pop dançante e experimental de quem cresceu e viveu as transformações do cenário dos EUA. - NA

24. J Balvin, “Vibras”




Quem conhece o cantor colombiano J Balvin apenas pelos hits, provavelmente não imagina o quão bom – e diverso, musicalmente falando – é o disco lançado pelo músico em meio ao sucesso de faixas como “Mi Gente”, “Ahora” e “Machika”. Em “Vibras”, o maior representante latino das paradas atuais universaliza o reggaeton abrindo diálogos com o pop, trap e R&B. - GT

23. Hayley Kiyoko, “Expectations”




Da curiosidade aos sentimentos pós-descobertas, Hayley Kyioko e sua bíblia do pop lésbico, “Expectations”, são duas das mais positivas surpresas do pop para essa nova geração, que já não encontra nos discursos de apoio dos artistas héteros representatividade o suficiente para, de fato, se verem conquistando o spotlight. É um nome que, felizmente, ainda ouviremos muitos falarem. - GT

22. Jake Shears, “Jake Shears”




Em carreira solo, Shears traz de volta toda a vibe e sonoridade que nos convenceram a não tirar os olhos dos Scissor Sisters láaa em sua estreia, mas ainda soando como uma novidade. O álbum autointitulado passeia entre o pop e um rock setentista escrito em grandes letreiros de neon que facilmente poderiam pertencer ao Sir Elton John e, apesar de ter passado praticamente batido em 2018, é um dos discos mais grandiosos do ano. Em todos os sentidos. - GT


21. Panic! At The Disco, “Pray For The Wicked”




Brendon Urie pode não ter feito a América emo outra vez, mas fez de “Pray For The Wicked” um dos maiores momentos da banda Panic! At The Disco, justamente na fase em que a banda é, basicamente, formada apenas pelo vocalista. Uma boa novidade aos que descobriram que eles ainda existem pelo hit “High Hopes”; uma evolução linear aos que seguiram acompanhando após o auge no final dos anos 2000. - GT

20. Ariana Grande, “Sweetener”




Depois do "My Everything" e do "Dangerous Woman", Ariana Grande se firmou como um dos maiores expoentes do pop nessa geração e entendeu que esse rótulo finalmente lhe daria o que ela buscava desde o lançamento do "Years Truly": a liberdade para criar. Com seus altos e baixos, o "Sweetener" é um trabalho onde a artista se permite experimentar, aprofundar suas composições e mixar diferentes tipos de sons (com muitos "yuhs", é claro). Não é que ela não goste daquele pop chiclete de "Break Free" e "Into You", mas chega um momento em que um artista precisa se (re)encontrar com aquilo que o fez querer seguir essa carreira no início de tudo. - NA

19. Years & Years, “Palo Santo”




Falar de amor, relacionamentos, términos e sexo pode ser algo trivial, mas não para o Years & Years. O trio sabe não só dar sua devida importância a esses assuntos, como também abordá-los de forma quase sagrada, destacando a pureza, a nobreza e a santificação em todas essas questões que permeiam nosso dia a dia. É isso que faz o "Palo Santo" ser uma verdadeira bíblia do pop. - NA

18. Drake, “Scorpion”




Pode parecer difícil ouvir um disco de 25 músicas numa era em que conseguir a atenção do público para um mero single já é quase uma missão impossível, mas Drake conseguiu. “Scorpion” tem suas fillers e, no que dependesse de nós, teria umas 15 músicas a menos, mas simplesmente não podemos olhar para uma tracklist com canções como “Summer Games”, “Don’t Matter to Me”, “Nice for What” e “Emotionless” e dizer que ela é ruim. - GT

17. Kendrick Lamar, “Black Panther”




Não é fácil ver uma trilha existir a partir de um filme. A soundtrack de "Pantera Negra", liderada e imaginada por Kendrick Lamar, consegue isso. Não que ela não carregue o melhor do longa em suas músicas - pelo contrário. Ela traz o storytelling do filme e todo o empoderamento, a dualidade de pensamento entre os personagens e a atmosfera presente nesse que é um dos maiores sucessos do ano. Mas, com o auxílio de outras grandes estrelas como SZA, The Weeknd, Jay Rock, Khalid e Travis Scott, a trilha ganha vida própria ao fazer um passeio por gêneros de raízes negras como rap, trap, R&B e até música eletrônica, misturando tudo que há de mais atual com sons e levadas da música africana. Uma obra-prima. - NA

16. Kacey Musgraves, “Golden Hour”




Kacey não é uma tradicional estrela da música country, e é isso que faz dela o nome perfeito para o momento que os Estados Unidos e o mundo estão vivendo. Na contramão do conservadorismo, que encontra refúgio no gênero, a artista assumiu com o disco "Golden Hour" o papel de líder na busca pela inovação do country. E ela faz isso não só experimentando com outras sonoridades, como é o caso de "High Horse", mas também trazendo mensagens sobre drogas, empoderamento feminino e direitos LGBTQs. É por isso que o álbum se tornou um dos mais importantes do ano: transgredindo o gênero por dentro, Kacey não tem a intenção de se tornar uma artista pop, mas sim de ficar por lá e iniciar uma mudança em uma comunidade tradicionalmente machista e homofóbica, tudo isso sem deixar pra trás a sensação de aconchego de seus materiais. - NA 

15. Christina Aguilera, “Liberation”




Se numericamente “Liberation” não significou uma página virada pra Christina que, desde o álbum “Lotus”, vê seu nome associado ao baixo desempenho nas paradas, qualitativamente falando, o disco foi mais um dos seus acertos que os fãs de música pop preferiram subestimar. - GT

14. Sofi Tukker, “Treehouse”




Se nos palcos a música eletrônica é representada por propostas engessadas, que mais repetem o arroz-e-feijão do gênero do que qualquer outra coisa, é na internet que ela segue se redescobrindo entre novos nomes e propostas. E é aqui que encaixamos o duo Sofi Tukker e a porralouquice daçante e convidativa do disco “Treehouse”. - GT

13. Troye Sivan, “Bloom”




Antes de lançar o "Bloom", Troye falou como esse era o disco que ele sempre quis lançar, quase como se o "Blue Neighborhood" fosse uma etapa pela qual ele precisasse passar para, então, ser o artista que sempre teve em mente. Quando escutamos seu novo álbum, isso fica nítido. O cantor deixa pra trás os momentos de descoberta de sua sexualidade na adolescência e passa para uma nova fase onde se sente confortável em sua própria pele, capaz de ser e viver plenamente todas as experiências, do amar às decepções. Ao contar suas histórias em meio ao pop delicioso e dançante que por muitos anos os LGBTs viram pessoas de fora da comunidade fazer, Troye se reafirma como um ícone em progresso para uma geração que finalmente pode ser ver completamente representada nos artistas que ama. - NA

12. Jorja Smith, “Lost & Found”




Uma das grandes apostas e revelações do último ano, a estreia de Jorja Smith é também um passe pra que a britânica já embarque nesta indústria sentando na janela. “Lost & Found” a acompanha nesta jornada sobre si mesma, em meio a canções que vão do soul ao trip-hop e arranjos só não tão grandiosos quanto seu próprio vocal. - GT

11. Teyana Taylor, “K.S.T.E.”




Sigla para o imperativo “keep the same energy” (ou “mantenha a mesma energia”, em português), o disco de retorno de Teyana Taylor entrega um dos melhores momentos musicais de Kanye West, que assina a sua produção executiva, em 2018, e eleva a cantora direto ao patamar de outros nomes responsáveis por trazer frescor ao R&B nos últimos anos, como SZA, Khalid e Rihanna. - GT

10. SOPHIE, “Oil Of Every Pearl's Un-Insides”




No que depender da londrina SOPHIE, a música pop nunca mais será a mesma. Depois de parcerias com Charli XCX, Madonna, Diplo e sessões de gravações ainda não reveladas com Rihanna, Lady Gaga e vários outros artistas, a cantora e produtora utiliza seu primeiro disco, “Oil of Every Pearl’s Un-Insides”, como uma justa introdução ao seu som intencionalmente fora dos trilhos: é dançante e desritmado, barulhento e relaxante. E novo, como pede a velha música pop. - GT

09. The 1975, “A Brief Inquire Into Online Relationships”




Quase um episódio de Black Mirror, o novo disco do The 1975 mistura sons caóticos que vão de guitarras elétricas à synths tropicais com letras que parecem inofensivas à princípio, mas basta uma olhada com mais atenção para entendermos o quão sombrias elas são ao retratar os relacionamentos e a solidão da era digital. É isso que faz o "A Brief" ser o melhor disco da banda até então: eles não tem medo de finalmente assumir a esquisitice do 1975 ao aprofundar reflexões de forma completamente estranha ou inusitada. No papel pode parecer desconexo, mas a gente promete que no ouvido faz todo o sentido. - NA

08. Young Fathers, “Cocoa Sugar”




Definir a sonoridade do Young Fathers não é uma tarefa fácil, mas uma coisa é certa: não há absolutamente nenhum outro artista fazendo o que eles fazem e como eles fazem em qualquer plataforma de streaming, rádio ou parada musical. Em seu terceiro disco, “Cocoa Sugar”, a banda vai do hip-hop ao indie rock, com pé no pop, R&B, afrobeats e mais o que surgir pela frente, e acerta em todos eles. - GT

07. Kali Uchis, “Isolation”




Nascida na Colômbia, Kali Uchis foi criada como toda imigrante latina: com valores de ambos os lados da América. Assim, o "Isolation" é, como o nome já indica, reflexões surgidas a partir do isolamento dela, que reflete sobre a chegada de sua família aos Estados Unidos, a atmosfera capitalista e meritocrática em que cresceu e o impacto dessas questões na mulher, parceira e artista que ela é hoje, em sua saúde mental e em sua vontade e ambição de ser cada vez mais. Da temática aos arranjos intimistas e viciantes, é um disco como poucos que já vimos. - NA

06. Kanye West, “ye”




O ano de Kanye West foi caótico, mas foi na música que o rapper teve a oportunidade de canalizar boa parte desta confusão. “ye” é, antes de qualquer coisa, um memorando ao próprio Kanye sobre quem ele é e onde está. Em meio à críticas e acusações por posicionamentos e declarações questionáveis, além do relacionamento com uma das famílias mais brancas dos EUA, o disco humaniza a figura do artista que se autodeclara um deus, pautando a saúde mental do homem negro e a montanha russa pela qual passeiam suas emoções. - GT

05. The Carters, “EVERYTHING IS LOVE”




Eles são dois dos maiores e mais poderosos artistas da América, se viram no olho do furacão após terem sua vida pessoal exposta por conta de uma traição, mas transformaram esse limão na melhor limonada possível. “Everything is Love” é daqueles discos que você já acha genial antes mesmo da primeira audição, mas depois escuta apenas para garantir que estava certo, e mais do que provar o quanto Beyoncé e Jay-Z ainda têm química de sobra, o disco nos força a lembrar que antes de celebridades ou pessoas públicas, eles devem ser celebrados por o que fazem de melhor, e isso sempre será sua arte. - GT

04. Robyn, “Honey”




Nem tão familiar aos fãs mais novos de música pop, que provavelmente conheceram seu hit “Dancing On My Own” na voz de Calum Scott (sofro), Robyn foi um nome essencial para a música pop como conhecemos hoje, tendo ditado direta e indiretamente boa parte do que pavimentou o que entendemos do gênero na entrada dos anos ‘10 e, com isso, conquistou o título de rainha do pop sueco. Hoje, quase dez anos desde o icônico “Body Talk”, ela retorna numa missão semelhante ao que fez Daft Punk quando surgiu com seu “Random Access Memories”, vindo na contramão da urgência da indústria atual e todas suas faixas de dois minutos e pouco, sem pontes e quase compostas apenas por refrãos, trazendo “vida de volta à música”. Parece saudosista demais, mas ainda assim soa à frente do seu tempo. Uma experiência pop que só ela seria capaz de fazer. - GT

03. Rosalía, “EL MAL QUERER”




Nem só de reggaeton viverás o homem. Rosalía despontou como uma das revelações do ano e, em meio ao hype da sua “Malamente”, aproveitou o embalo pra estreia do disco “El Mal Querer”, onde entrega várias doses da música latina em sua pluralidade, de um “neoflamenco” ao R&B, com pé no pop, trap e mais um pouco. Em tempos de streaming e uma maior “democratização” sobre de onde e para onde vão as músicas, seu trabalho acompanha artistas como Cardi B e BTS, numa resposta concreta aos que ainda se fecham aos EUA quando buscam por apostas em potencial para “girarem a roda” da indústria. - GT

02. Cardi B, “Invasion Of Privacy”




Com "Bodak Yellow" em mãos e um carisma sem igual, Cardi B viu sua carreira despontar ao encontrar uma audiência disposta a ouvir tudo o que ela tinha pra dizer, sem filtros. Era hora de se apresentar propriamente. Nascida e crescida no Bronx, filha de imigrantes latinos e ex-stripper, a rapper faz do "Invasion Of Privacy" um livro sobre seu "conto de fadas de verdade", no qual fala de forma despretensiosa, orgulhosa e, sim, empoderadora, sobre o que aprendeu nas ruas do bairro e no clube, como a importância de amar seu dinheiro mais do que a qualquer homem, cair 9 vezes e levantar 10 e sobre como mandar numa relação. E assim, sem querer, ela conseguiu unir à cultura negra a latina, entranhadas em seu sangue, em um dos discos mais divertidos da década. É impossível resistir. - NA

01. Janelle Monáe, “Dirty Computer”




Num momento em que todos querem cantar sobre assuntos políticos, poucos conseguiram entregar sua mensagem de uma forma tão vendável e, ainda assim, sincera, como fez Janelle Monáe. A artista que sempre teve uma discografia e videografia impecáveis, cruzou apenas em 2018 a fronteira do mainstream de maneira concreta e, ao som e visual do seu “Dirty Computer”, o fez da forma mais majestosa possível.

“Dirty Computer” é daqueles discos que nasceram para serem lembrados, pautando orientação sexual, liberdade feminina negra e racismo, enquanto te faz dançar e enche seus olhos com visuais que vão do Prince ao universo ‘Netflixano’ de Black Mirror. Pop e subversivo, popular e conceitual, objetivo e complexo. Um trabalho que a coloca num posto de iconicidade que há tempos já deveria ser seu. - GT

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Textos por Gui Tintel e Nathalia Accioly.

Os 15 melhores discos brasileiros de 2018

Uma das formas de expressão mais intrínsecas do ser humano e, hoje, pela massificação da ignorância e desinformação, tão subvalorizada, a música, enquanto arte e cultura, também é um movimento de resistência. E não o faz apenas quando fala diretamente sobre suas lutas, mas, desde sempre, por aquilo que representa e por aqueles que dá voz.

No último ano, a música brasileira foi grandiosamente bem representada do Sudeste ao Nordeste do país, com expoentes que vão do funk ao rap, do pop ao brega, e que, antes da intenção de emplacar hits nas rádios ou streamings, usaram seus trabalhos para gerar em nós uma das reações mais naturais da nossa espécie: sentir.

Esses são os nossos 15 discos nacionais favoritos de 2018:


15. Anavitória, “O Tempo é Agora”

Na era dos álbuns visuais, a dupla Anavitória foi além e, para o disco “O Tempo é Agora”, estenderam sua música ao cinema, através de um longa que, assim como suas canções, trata dos clichês pós-adolescência e todo esse turbilhão de sentimentos daqueles que querem sentir, mas não sabem exatamente o que. Digno de festivais, o álbum te prende conforme expõe as entranhas de seus relacionamentos e, consequentemente, te faz se identificar com uma história ou outra, seja você o personagem que vai, ou aquele que fica.

14. Elza Soares, “Deus é Mulher”

No auge dos seus 81 anos, Elza Soares mantém o título de uma das artistas mais ousadas da música brasileira e, numa sequência do aclamado “A Mulher do Fim do Mundo”, debate religião, empoderamento feminino e sexualidade em um disco que a afasta da sonoridade de seus trabalhos anteriores para aproximá-la do rock, num passo tão audacioso quanto assertivo, que dá uma verdadeira aula para qualquer outro artista que atualmente faça música visando uma relevância que resista ao tempo.

13. Potyguara Bardo, “Simulacre”

Não é de hoje que, no imaginário do fã de divas pop, suas ídolas são verdadeiras deusas, que fazem de cada uma de suas canções e fases um novo momento da sua devoção. Em “Simulacre”, por sua vez, a drag Potyguara Bardo se desassocia do ser humano de uma maneira ainda mais próxima da cultura brasileira, por meio de uma personagem “neo”-folclórica, que transborda toda sua personalidade, experiências e anseios por batidas regionais e eletrônicas, além de jogos de palavra que facilmente a aproximam do que a música queer tem feito nacional e internacionalmente, ao exemplo de artistas como SOPHIE, Le1f e Linn da Quebrada.

12. Duda Beat, “Sinto Muito”

Dona da versão abrasileirada de “High By The Beach” da Lana Del Rey, Duda Beat conquistou seu lugar ao sol com o trip-hop e pop brega do disco “Sinto Muito”: um compilado de confissões amorososas, melancólicas e dançantes, que conversam com seus antigos e futuros romances, além dela mesma, que parece se entender no meio deste caminho. Uma das contribuições mais que bem-vindas do Nordeste ao pop nacional.

11. Lia Clark, “É da Pista”

A gente ama um pop sem vergonha. Lia Clark despontou em outros carnavais, mas manteve não só uma sequência de clipes e singles impecáveis, como uma identidade muito própria, que a destacou em meio às várias outras artistas que surgiram no segmento drag praticamente na mesma época que a sua. “É da Pista”, desde seu nome, quer te fazer dançar, e é nesta proposta descompromissada que o álbum não só convence, como também diverte, elevando seu trabalho musical e, muito provavelmente, te fazendo grudar em vários dos seus versos.

10. Alice Caymmi, “Alice”

Três anos desde o seu “Rainha dos Raios”, Caymmi volta ainda mais segura neste disco autointitulado, no qual uma canção parece amarrar a outra, em tempo que somos guiados por todas as reflexões e reviravoltas amorosas que ora soam pessoais demais para nos associarmos, ora soam como se tivessem sido compostas exatamente sobre nós.

9. Karol Conka, “Ambulante”

Alguns anos e tretas depois do sucesso de “Tombei”, Karol Conka se une ao produtor Boss in Drama para um registro que ecoa liberdade em todos os sentidos. Resultado do que rimou, viveu e aprendeu durante todo esse tempo que esteve longe dos holofotes, “Ambulante” faz com que a brasileira volte a soar como uma novidade, em tempo que populariza o seu ser político, com letras que vão do empoderamento feminino e negro à sua ascensão social.

8. Iza, “Dona de Mim”

Dos ritmos africanos aos brasileiros, passando pelo R&B e, claro, toda uma estética pop, Iza definiu em “Dona de Mim” uma proposta tão completa que, logo em sua estreia, a equiparou aos outros nomes que dominavam a música nacional.

7. Mahmundi, “Para Dias Ruins”

Preservar a sua saúde mental e, em meio ao caos, se resguardar numa zona de conforto, para alguns também é uma fase de resistência. Bem indisposta a falar sobre ódio, tristeza ou corações partidos, a música de Mahmundi é aquele abraço que te recarrega para toda uma nova jornada. Leve, pop, refrescante e sempre muito bem-vinda.

6. Jão, “LOBOS”

Brega para millenials, Jão canta sobre amor com as narrativas mais clichês, sofridas e piegas possíveis, mas as renova dentro de arranjos que abraçam do sertanejo à la Luan Santana ao pop acústico do Shawn Mendes, ocupando uma lacuna ainda não muito clara do pop nacional, há tempos carente de bons nomes masculinos para cantá-lo.

5. Heavy Baile, “Carne de Pescoço”

A essência do funk está nas ruas, mas quando esse dialoga com outros gênero e, principalmente, se reconhece enquanto uma vertente brasileira da música eletrônica, o leque de possibilidades sonoras se torna ainda maior e mais interessante. “Carne de Pescoço” é isso, a reafirmação do funk ser a nossa EDM, pautando dos bailes à política, com participações de nomes como Tati Quebra Barraco, MC Carol, Lia Clark e o MC integrante do coletivo, Tchelinho.

4. ÀTTØØXXÁ, “LUVBOX”

Sucesso no carnaval pelo hit “Pôpa da Bunda”, o grupo de pagodão baiano seguiu investindo na sua revolução dançante, romântica e pra lá de eletrônica que, ao lado de artistas como BaianaSystem, Rico Dalasam e outros citados nesta lista, aponta para o futuro da música brasileira em “LUVBOX”.

3. Marcelo D2, “Amar é Para os Fortes”


Se a chama política fez com que muitos artistas se acomodassem em cima do muro, pelo medo de perderem público ou espaço, o efeito foi justamente o contrário com D2, que viu neste momento a oportunidade perfeita de retornar com sangue nos olhos ao som do necessário “Amar é Para os Fortes”. Grandioso do som ao seu visual, o disco acerta nas referências, alvos e pluralidade, te entregando uma proposta sucinta (são trinta minutos de música), mas completa no que se propõe.

2. Pabllo Vittar, “Não Para Não”


Se teve uma coisa que Pabllo aprendeu com o sucesso de singles como “KO” e “Corpo Sensual”, foi que o pop nacional carecia de artistas que, enfim, olhasse para a nossa música no momento de fazê-lo. “Não Para Não” renova a imagem e som de uma das artistas mais interessantes dos prováveis último dez anos da música brasileira, enquanto se esforça para apresentar sons nordestinos em formatos mais modernos possíveis, com influências que vão do k-pop à PC Music.

1. Baco Exu do Blues, “Bluesman”

“Eu sou o primeiro ritmo a formar pretos ricos”, nos introduz Baco em seu “Bluesman”. Um dos nomes responsáveis por ascender o rap baiano no mapa, o músico se entrega no seu segundo álbum, sob rimas e reflexões que vão das suas transas e romances à saúde mental do homem negro. Pautando, inevitavelmente, raça, e a influência desta em todos os gêneros musicais. Blues em sua essência, mas não sonoridade, o disco passeia do rap ao pop da maneira mais classuda possível, numa versatilidade que exige um olhar menos marginalizado pra que compreenda a sua grandeza, que cabe bem à ilustração de sua capa: um homem negro vestido num terno, fazendo arte em frente ao que foi o Carandiru.

Os 20 melhores singles brasileiros de 2018

Com todo seu gingado baiano, o ÀTTØØXXÁ ligou, mas caiu na caixa postal de Pabllo Vittar, que não soube lidar com tamanha audácia. Jaloo disse adeus, mas não ficou tão sozinho quanto Jão, que só não foi mais piegas que Baco Exu do Blues e toda a dualidade e sentimentalismo da sua “Me Desculpa Jay Z”.

Do lado de lá, teve quem só quisesse dançar. Gloria Groove arrastou, Luísa Sonza mostrou como faz uma boa menina e Mahmundi ainda quis saber, “Qual é a sua?”.

Iza entrou na roda, Marcelo D2 na febre do rato. Já Kevin o Chris, dentro do carro. Lexa, acompanhada de MC Lan, quis mostrar que sua sapequinha tinha muito poder. MC Rita, com Kekel, tava era atrás de um amor de verdade.

No fim de toda fuleragem, MC Tha foi valente, assim como todos esses artistas que, em tempos de crise de informação e subvalorização da cultura, seguiram usando sua voz em prol de algo maior.

Esses são nossos 20 singles nacionais favoritos de 2018:

  1. Pabllo Vittar, “Disk Me”
  2. Jaloo, “Say Goodbye”
  3. Baco Exu do Blues, “Me Desculpa Jay-Z”
  4. Linn da Quebrada, “mEnorme”
  5. ÀTTØØXXÁ, “Caixa Postal”
  6. Duda Beat, “Bixinho”
  7. MC WM, “Fuleragem”
  8. Lexa, “Sapequinha”
  9. Iza, “Ginga”
  10. Gloria Groove, “Arrasta”
  11. Luisa Sonza, “Boa Menina”
  12. Jão, “Vou Morrer Sozinho”
  13. Alice Caymmi, “Inocente”
  14. Marcelo D2, “Febre do Rato”
  15. Kevin O Chris, “Dentro do Carro”
  16. Heavy Baile, “Ziquizira”
  17. Bemti, “Gostar de Quem”
  18. Mahmundi, “Qual é a Sua?”
  19. MC Kekel & Rita, “Amor de Verdade”
  20. MC Tha, “Valente”

Os 40 melhores filmes de 2018: Parte 2

Depois de tantas listas - esse ano eu estava inspirado -, finalmente revelo os meus filmes favoritos de 2018. Começando com uma das melhores temporadas do Oscar na década, até lançamentos comerciais e filmes cults de algum país europeu, neste ano decidi listar 40 nomes, cinco a mais que na lista do ano passado. Então o sistema será diferente.

Para não fazer um só post com 40 textos, algo grande demais, optei por dividir a lista em duas, então você está diante da segunda leva, do 20º ao 1º colocado. O critério de inclusão é o mesmo de todos os anos: filmes com estreias em solo brasileiro em 2018 - seja cinema, Netflix e afins - ou que chegaram na internet sem data de lançamento prevista, caso contrário, seria impossível montar uma lista coerente. E, também de praxe, todos os textos são livres de spoilers para não estragar sua experiência - mas caso você já tenha visto todos os 40, meus parabéns, me adiciona no Letterboxd.

Sem mais delongas, eis os maiores filmes do ano - e todas as listas publicadas estão no fim da postagem.


20. A Arte da Discórdia (The Square)

Direção de: Ruben Östlund, Suécia/Dinamarca.
Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes 2017 e indicado ao Oscar 2018 de “Melhor Filme Estrangeiro”, “A Arte da Discórdia” é, colocando em uma só palavra, desconcertante. Não, ele não trata de pesados temas ou possui cenas difíceis de engolir, e sim traz debates emoldurados da forma mais sarcástica possível. Discutindo o que diabos é arte, tudo começa dentro de um luxuoso museu que planeja uma campanha para a nova instalação e, graças a um roubo, tudo vai por água baixo. Desconfortável, estranho e divertidíssimo, Östlund nos obriga a vivenciar as loucas situações, em que não sabemos se rimos ou se queremos que acabe logo, sem perder a mão nas críticas pungentes para o pedantismo da burguesia e a crise de refugiados europeia – e tem Elisabeth Moss.

19. Nasce Uma Estrela (A Star is Born)

Direção de: Bradley Cooper, EUA.
Todas as dúvidas ao redor de "Nasce Uma Estrela" são bombardeadas com argumentos audiovisuais do seu esplendor. Um dos raros exemplos de remakes que não são só realizados da maneira correta como superam seus originais, a obra deixa de ser mera viagem aos bastidores da indústria do entretenimento ou mais uma platônica história de amor para realizar um estudo necessário sobre a fragilidade da mente humana e nossa sucessão diária à ruína e ao sucesso. Se sua maior curiosidade é ver Lady Gaga sem maquiagem ou vestido de carne, prepare-se para ser arrebatado pela avalanche de talento que é "Nasce Uma Estela", um espetáculo na tela (e nos alto-falantes).

18. Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman)

Direção de: Spike Lee, EUA.
Spike Lee é porta-voz do cinema afro-americano há décadas, e provavelmente ele encontrou seu nirvana em 2018. "Infiltrado na Klan" é fincado sobre uma louca história real de um policial negro que arma um plano para se infiltrar na Ku Klux Klan, a seita de supremacia branca que assola os EUA até hoje. A pertinência temporal do longa consegue assustar quando a KKK começa a mostrar suas garras em pleno séc. XXI, consequentemente, o tapa na cara de "Infiltrado na Klan" é forte. Sem o intuito de educar brancos (e sim de empoderar negros), o filme é um terror da realidade - a última cena é para aniquilar qualquer segurança da época em que vivemos.

17. Os Animais (We The Animals)

Direção de: Jeremiah Zagar, EUA.
O filme LGBT mais singelo do ano, "Os Animais" carrega a autenticidade digna do cinema independente, falando sobre três irmãos que boiam sobre a vida conturbada de seus pais. Jonah, o mais novo, abre as portas da imaginação para se refugiar dos problemas que vão de pobreza até a personalidade violenta do pai. Uma odisseia lúdica e poética, é belíssimo o olhar quase documental de um garotinho se perdendo enquanto lida com a própria identidade, e Evan Rosado gera uma atuação que faria qualquer ator adulto suar. "Os Animais" é um sonho que tanto encanta quanto entristece, além de ser um urro de liberdade cinematográfica. Um filme que vem do âmago.

16. Blue My Mind (idem)

Direção de: Lisa Brühlmann, Suíça.
O suíço "Blue My Mind" (belo trocadilho no título) é uma daquelas produções que englobam diversos temas, estéticas e narrativas que arrepiam a minha epiderme. Uma adolescente entra na puberdade e se choca pelas mudanças físicas após a primeira menstruação. Uma mistura de "Cisne Negro" com "Grave", a fita de Lisa Brühlmann utiliza do body horror com o intuito de, fantasiosa e cinematograficamente, embarcar o público nas transformações femininas e a liberdade sem limites da juventude. É usar um clichê ao seu favor e solidificar um longa arrebatador.

15. Oitava Série (Eighth Grade)

Direção de: Bo Burnham, EUA.
Confesso que, ao anúncio da estreia do youtuber Bo Burnham na cadeira de diretor, não coloquei esperança. Assim, quando assisti "Oitava Série", a surpresa foi fabulosa. Seguindo os passos de uma garota afogada em ansiedade, o coming of age não está interessado em somente exibir os dilemas convencionais da faixa temporal, alavancando o roteiro a um patamar de debates que burlam as fronteiras de idade. Com uma atuação refinada de Elsie Fisher, "Oitava Série" é uma obra ímpar acerca de problemas mentais na era do Instagram - e é urgente como garotas são as mais suscetíveis a sofrerem pelas pressões sociais que já espetam desde cedo. Gucci!

14. Dogman (idem)

Direção de: Matteo Garrone, Itália.
O escolhido para representar a Itália no Oscar 2019 de "Melhor Filme Estrangeiro" - e infelizmente fora da lista de indicados -, "Dogman" segue um acanhado dono de pet shop que, para não permitir que a filha viva na mesma precariedade, vende drogas - dar banho em cachorros não é o suficiente. Com a melhor atuação masculina do ano - Marcello Fonte, vencedor de "Melhor Ator" no Festival de Cannes -, "Dogman" é uma aula de como a mise-en-scène é fundamental para composição narrativa, e a fotografia soberba destaca o físico decrépito daquela Itália aos cacos, reflexo absoluto dos indivíduos com suas morais em ruínas.

13. A Sombra da Árvore (Undir Trénu)

Direção de: Hafsteinn Gunnar Sigurðsson, Islândia.
Se você gostou de “Relatos Selvagens”, vai ter a epiderme arrepiada por “A Sombra da Árvore”. Duas famílias vizinhas começam uma verdadeira guerra devido a sombra da árvore de uma bater no quintal da outra (!). Assim como a obra-prima argentina, “A Sombra da Árvore”, selecionado islandês ao Oscar 2018, disseca acidamente a falta de comunicabilidade do homem moderno e como estamos no limite da sanidade ao esbarrarmos na fronteira do outro. Mas claro que os personagens aqui não estão abertos para diálogos, preferindo entrarem num inacreditável jogo de xadrez onde cada movimento é mais tresloucado que o anterior. 

12. Os Iniciados (Inxeba)

Direção de: John Trengove, África do Sul.
Boicotado por manifestações homofóbicas, "Os Iniciados" caiu nos braços da crítica tanto pela repressão escancarada que sofreu quanto pela qualidade ao retratar um amor gay batendo de frente com tradições africanas. Um dos melhores e mais relevantes retratos da masculinidade tóxica que o cinema já viu, "Os Iniciados" é película primordial para citarmos nossos próprios privilégios ao passo que os notamos: vivemos num corpo social que permite liberdade das amarras do patriarcado em vários níveis, enquanto naquele meio do filme não há escapatória. Esse "Moonlight" versão africana, que foi semifinalista ao Oscar 2018, se diferencia da fatia gay no cinema ao trazer grande e valioso reforço cultural para compor suas situações, encurralando seus personagens, encarcerados em tradições tóxicas que oprimem e rendem discussões fortes, cruas e urgentes no ecrã.

11. Aos Teus Olhos (idem)

Direção de: Carolina Jabor, Brasil.
Um professor é acusado de assediar um dos seus alunos. Ao invés de levar o caso aos órgãos responsáveis, a mãe do garoto opta pelos júris da contemporaneidade: os grupos de WhatsApp, que condenam imediatamente o professor. "Aos Teus Olhos" é um acerto atual que se utiliza de tratamento quase documental para entrar na esfera do debate, função seminal da Sétima Arte. O longa de Jabor espertamente não está interessado em dar o veredito final sobre o professor, deixando nas mãos da plateia o voto final pela dinâmica imposta da turba que se forma pelas redes sociais. Isso denuncia que, no momento em que as opiniões das pessoas se tornam notícias e, consequentemente, verdades, estamos com legítimas armas em formato de smartphones. As novas tecnologias cada vez mais deturpando o conceito secular de justiça pelo seu mau uso.

10. Sem Amor (Nelyubov)

Direção de: Andrey Zvyagintsev, Rússia.
Um casal à beira do divórcio nutre ódio mútuo que torna a mera aproximação insustentável. Sobra para o filho deles, esquecido e renegado, já que os pais estão ocupados demais se odiando. Quando o menino foge e desaparece (após uma das cenas mais devastadoras do ano – a da porta), eles terão que se aturar para achar a criança. Depois de estudar seu país com “Leviatã”, Zvyagintsev estuda uma situação extrema e costura seus personagens de maneira homeopática, construindo uma trama universalmente afiada que consegue tirar a fé do espectador pelos momentos frios e egoístas do homem. “Sem Amor” é nome absoluto do que há de melhor da misantropia na Sétima Arte. Demos tão errado assim?

9. As Filhas de Abril (Las Hijas de Abril)

Direção de: Michel Franco, México.
Michel Franco é um dos melhores cineastas mexicanos, apesar de não carregar o mesmo prestígio de Alfonso Cuarón (de "Roma"), Guilhermo Del Toro (de "A Forma da Água") e Alejandro Iñárritu (de "O Regresso"); o motivo pode ser os temas áridos e o estilo seco que ele transporta suas discussões à tela. "As Filhas de Abril" tem uma menina de 17 anos que faz de tudo para que a mãe não descubra sua gravidez. Quando Abril tem a revelação, ela se mostra compreensiva e apta a ajudar no que puder, retrato de uma sororidade lindíssima entre aquelas mulheres. Pobre coitada da plateia que não tem ideia do abismo logo ali do lado, e filme nenhum foi capaz de me deixar tão boquiaberto quanto "As Filhas de Abril" em 2018. Falar mais que isso é entregar a história, todavia, essa é uma película que demonstra o próprio slogan: "o amor de uma mãe não conhece limites".

8. Três Anúncios Para Um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri)

Direção de: Martin McDonagh, EUA.
A iconicidade de “Três Anúncios” precede sua qualidade: dos memes com os anúncios da fita até seu uso real em manifestações, o longa não é apenas uma obra-prima pela sua fortíssima realização, é o filme certo na hora certa. Nessa onda feminina de denúncias contra abusos, acompanhar a luta de uma mãe em busca de justiça pela morte da filha é a história que precisávamos ver. Um dos mais originais e bem escritos roteiros da década – que venceu o Globo de Ouro –, “Três Anúncios” deixa chover sarcasmo para apontar o dedo na cara da hipocrisia, do ódio e de como caminhamos sob uma estrutura aparentemente sem conserto. Com seus personagens escancaradamente conturbados e situações ácidas, temos em mãos uma produção atemporal - ou você acha que Frances McDormand, vencedora do Oscar pelo papel, virando caçadora de estuprador e colocando todos os homens ao redor em seus devidos lugares não será um clássico?

7. O Sacrifício do Cervo Sagrado (The Killing of a Sacred Deer)

Direção de: Yorgos Lanthimos, Inglaterra/Grécia.
Se você já conhece o cinema de Lanthimos, sabe o quão peculiar ele é. Famoso e aclamado por suas histórias absurdas – “Dente Canino”, “Alpes” e “O Lagosta” –, o diretor usa do estranho para metralhar críticas. "O Sacrifício do Cervo Sagrado" não visa tecer críticas sociais tão evidentes; a obra prefere compor uma família disfuncional que só percebe suas falhas quando pressionada diante de uma situação extrema: uma maldição que ameaça matar um a um. Caminhando sobre o gênero suspense, o longa é para deixar qualquer um zonzo pela construção do universo particular e imperdível do diretor e o quão fora do normal são seus personagens, inseridos em cenas involuntariamente cômicas pelo teor de bizarrice. Não há amor familiar maior do que o de "Cervo Sagrado", disso podemos ter certeza.

6. Eu Não Sou Uma Feiticeira (I Am Not A Witch)

Direção de: Rungano Nyoni, Zâmbia/Inglaterra.
Se “Os Iniciados” é a exposição de tradições masculinas africanas, “Eu Não Sou Uma Feiticeira” é sobre ritos femininos no continente, mais precisamente a cultura da bruxaria. Obra fundamentalmente sobre mais uma exploração feminina sob gananciosas mãos do homem, dessa vez temos um contexto inédito no cinema, o que a faz ainda mais relevante. O plano de fundo da produção pode extrapolar as tradições africanas e se encaixar em diversos modos de tratamento rebaixador e degradante que a figura da mulher passa em diversas sociedades até presente momento. Documento cultural necessário e visualmente espetacular, "Eu Não Sou Uma Feiticeira" é realização cinematográfica que se apropria do status de "obra-prima".

5. A Casa que Jack Construiu (The House That Jack Built)

Direção de Lars Von Trier, Dinamarca/Suécia
O nome de Lars Von Tier está sempre de mãos dadas com a polêmica, já que o diretor não tem papas na língua e coloca no ecrã temas tabus e controversos. "A Casa Que Jack Construiu" não foge da regra: ao seguir 12 anos na vida de um serial killer, Trier passa a faca sem piedade no império cultural e político de Donald Trump, expondo as brutalidades sociais afloradas pela vitória do presidente norte-americano - cada um dos segmentos são brutais em termos visuais e violentos como crítica. Mesmo sutilmente (foco nos bonés vermelhos), "Casa Que Jack" escancara a América que ensina crianças a amarem armas, que gera massacres em escolas e que vira as costas para não ajudar o próximo. Uma sátira não só ao "homus trumpus" como ao cinema de horror, Trier nos leva até ao Inferno a fim de mostrar que o conservadorismo virou uma praga.

4. A Forma da Água (The Shape of Water)

Direção de: Guilhermo Del Toro, EUA.
O mais novo vencedor do Oscar de “Melhor Filme” – e um dos mais merecidos títulos da década, “A Forma da Água” é uma triunfal realização ao dar veracidade a um dos amores mais estranhos já feitos no Cinema. Reavendo um período clássico da Sétima Arte, a produção tanto homenageia uma época como distorce padrões ao usar estereótipos em prol de discussões sociais importantes. Milagre visual com um dos finais mais violentamente arrebatadores do ano, eis uma fita sobre excluídos, marginalizados e sem voz. Quando os mocinhos são uma trupe formada por uma mulher muda, uma negra, um homem gay e uma criatura anfíbia da Amazônia, enquanto o vilão é o homem branco americano, é a conclusão de que Del Toro fez um filme político de forma mágica e encantadora. “Incapaz de distinguir sua forma, eu te encontrei todo ao meu redor”.

3. Hereditário (Hereditary)

Direção de: Ari Aster, EUA.
Em boa parte da duração, parece que "Hereditário" se contentará em ser um filme que, ao invés de produzir medo, vai explanar acerca do seu impacto sobre o ser humano, o que é concreto até chegarmos ao clímax, um pesadelo assustador na tela que não mede limites para catapultar o espectador no meio do pandemônio instaurado. Tudo é milimetricamente justificável, e, por isso, ainda mais aterrador e impactante, parindo diante dos nossos olhos um dos melhores finais da história do cinema de terror – soando ainda mais delicioso quando percebemos que “Hereditário” é o trabalho de estreia de Ari Aster, logo num gênero tão difícil. Daqueles filmes fundamentais não só para o terror como também para o Cinema. "O Exorcista" finalmente encontrou seu filhote no novo século.

2. Projeto Flórida (The Florida Project)

Direção de: Sean Baker, EUA.
Quase que completamente esnobado na temporada de premiações – concorreu a apenas UM Oscar –, “Projeto Flórida” é um milagre em audiovisual. Contado através da ótica das crianças, a produção é o retrato agridoce de uma fatia esmagada à margem e varrida para debaixo do tapete: a nova geração de sem tetos. Carregado pela, talvez, melhor performance do ano – de Brooklynn Prince, que tinha SEIS anos durante as filmagens –, seguimos os pequenos criando seus contos de fada para burlarem aquela precária condição, culminando num dos finais mais puros e desoladores já colocados na tela do Cinema. O contraste entre o realismo sufocante que impera sobre os personagens e a magia intoxicante do reino privado moldado pelas crianças é recibo do quão poderoso é esse singelo filme, narrativamente único e esteticamente fabuloso.

1. Direções (Posoki)

Direção de: Stephan Komandarev, Bulgária.
"Direções" entra no banco do carona de inúmeros taxistas após um motorista cometer assassinato e suicídio por não conseguir pagar as taxas altíssimas do banco. O crime se espalha rapidamente entre a população, e a classe, numa noite, leva passageiros enquanto discutem o acontecido. O filme de Stephan Komandarev é um road movie búlgaro, porém, poderia estar nas ruas brasileiras: aquela noite é um espetáculo misantropo e entra nas veias urbanas com o intuito de fixar no globo ocular da plateia uma cidade cuja esperança já foi embora. De suásticas nazistas pichadas nas paredes à corrupção impregnada em cada um pelo sistema capitalista, "Direções" é uma irretocável obra-prima que extrai o que há de mais extraordinário no pessimismo artístico, um alerta sobre os rumos que escolhemos enquanto humanidade.

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