A melhor época do ano para o escritor que cá se encontra é a época de fazer as listas de melhores do mundinho cinematográfico no ano. Gasto horas catalogando tudo o que assisti até a marca temporal que quero fechar (seja a de metade do ano, ano inteiro ou da década), a fim de trazer a você, leitor, o que considero o suprassumo dos lançamentos (dentro da enorme cerquinha da subjetividade, é claro). Mas 2020 foi um ano diferente.
De indicados e vencedores do Oscar a pérolas de todos os cantos do mundo, os critérios de inclusão da lista são os mesmos de todo ano: filmes com estreias em solo brasileiro em 2020 - seja cinema, Netflix e afins - ou que chegaram na internet sem data de lançamento prevista, caso contrário, seria impossível montar uma lista coerente. E, também de praxe, todos os textos são livres de spoilers para não estragar sua experiência - mas caso você já tenha visto todos os 20, meu amor por você é real. Preparado para uma maratona do que há de melhor no cinema mundial de 2020?
20. O Que Ficou Para Trás (His House)
Direção de Remi Weekes, Reino Unido/EUA.
Um casal de refugiados chega na Inglaterra fugindo da guerra no Sudão. Lá, eles são realocados em uma casa e devem aprender a conviver naquela sociedade abertamente racista, porém, o que há de pior não está do lado de fora, e sim dentro da própria casa. "O Que Ficou Para Trás" é o primeiro filme de terror com qualidade a receber o selo Netflix, e isso se deve graças ao diretor e roteirista Weekes que se utiliza de uma situação bastante específica e contemporânea para orquestrar seu horror com competência. Com referências a várias correntes do gênero, de terror coreano a James Wan, o longa acerta (e muito) ao priorizar o drama familiar e introduzir veia cultural e folclórica para gerar autenticidade. "O Que Ficou Para Trás" consegue ter relevância social e cenas visualmente assustadoras na mesma medida.
19. Os Lobos (El Lobos)
Direção de Samuel Kishi, México.
Uma mãe solteira migra do México para os EUA com dois filhos pequenos. O cenário é um que já conhecemos bem: a ida para o utópico sonho americano, e a familiarização com os personagens e suas histórias é instantânea. O longa se passa majoritariamente por meio da ótica dos dois filhos - e remete bastante a "Projeto Flórida" (2017) e "Nós Os Animais" (2018), todos cinemas de denúncia das mazelas do capitalismo com uma narrativa construída ao redor das crianças e como elas enxergam a pobreza. Quando as economias da família são roubadas, o tom do filme de Kishi é imposto, demonstrando perfeitamente qual é a sua visão (fundamental) de nós enquanto sociedade.
18. Rede de Ódio (Hejter)
Direção de Jan Komasa, Polônia.
Um estudante de Direito é expulso por plágio. Sem expectativas, ele tem como único objetivo entrar no coração de uma família rica enquanto possui uma vida dupla em uma agência de relações públicas especializada em difamações online. "Rede de Ódio" - disponível na Netflix - é um terror da contemporaneidade. Entramos no fundo do poço de mentiras, manipulações e narrativas de ódio que permeiam a política, empurrando o roteiro para medidas extremistas. Uma sessão desoladora por refletir tão bem nossa realidade que se utiliza da tecnologia para promover a intolerância e o fascismo. Pode se passar na Polônia, porém, consegue refletir bem o que passamos no aterrador Brasil atual.
17. Os Perseguidos (Queen & Slim)
Direção de Melina Matsoukas, EUA.
"Queen & Slim" é um daqueles filmes corretos lançados no momento correto. Seguindo o casal protagonista, a vida dos dois é permanentemente afetada quando são parados com um policial branco, que - por basicamente nada - quase os mata. Em legítima defesa, Slim atira no policial, desencadeando uma fuga nacional enquanto protestos contra abusos raciais rolam pelo país. Estreia no Cinema de Melina Matsoukas, diretora de vários videoclipes, como "Formation" da Beyoncé, é bastante intrigante - e também triste - que "Queen & Slim" tenha sido lançado poucos meses antes de George Floyd perder a vida. Floyd não foi o primeiro (e, infelizmente, não deve ser o último) a passar pelo o que passou sob o poder de um sistema que não encontrou falhas ao longo do caminho, e sim foi construído para ser assim, o que faz de "Queen & Slim" um quadro e um aviso de uma sociedade claramente doente.
16. A Primeira Vaca (First Cow)
Direção de Kelly Reichardt, EUA.
Jogando o espectador para o séc. XIX, no interior dos Estados Unidos, "A Primeira Vaca" é um filme que exala simplicidade à primeira vista, mas é muito mais complexa do que aparenta. A amizade improvável de dois homens, que mudará os rumos de toda a cidadezinha em que vivem, é transformada com a chegada da primeira vaca de toda a região, propriedade do homem mais rico de lá. Eles então começam a roubar o leite da vaca para ganhar dinheiro, o que trará uma ruína já exposta na primeira cena. É realmente impressionante como Kelly Reichardt é capaz de extrair tanta pureza, conflitos e divertimentos em cima de uma trama tão básica. Nunca na história do Cinema uma vaca causou tantos problemas.
15. Lindinhas (Mignonnes)
Direção de Maïmouna Doucouré, França.
A Netflix deve se culpar até hoje pela maneira como (quase) destruiu "Lindinhas": inicialmente com uma identidade visual completamente inadequada, a própria diretora da obra, Maïmouna Doucouré, revelou que que se chocou com as escolhas da plataforma e com o número de ameaças de morte que recebeu com a explosão do filme pós-Netflix. Ela não foi consultada sobre as estratégias de marketing adotadas e recebeu um telefonema do próprio CEO da plataforma, desculpando-se pelo ocorrido. No entanto, era tarde demais. O fenômeno ao redor de "Lindinhas" é um afinco estudo sobre a cultura do cancelamento e como as pessoas estão ávidas para eleger o anticristo da semana e derramar ódio sem total embasamento. Se a Netflix errou ao criar a arte inadequada para a obra, é um erro pequeno perto da narrativa criada contra o filme, que culpabiliza (e ameaça) não apenas uma indústria, mas pessoas reais como eu e você. "Lindinhas" encontra precisão enquanto complexa e desafiadora arte contra a sexualização de crianças e um bom objeto de estudo (apesar de involuntário) sobre a criação de percepções na internet em tempos de redes sociais.
14. Nunca Raramente Às Vezes Sempre (Never Rarely Sometimes Never)
Direção de Eliza Hittman, EUA/Reino Unido.
O aborto é um dos temas mais controversos da nossa sociedade atual, encontrando discussões muito calorosas sobre os dois extremos do debate. "Nunca Raramente Às Vezes Sempre" é a carta-aberta de Eliza Hittman sobre a temática. Uma garota de 17 anos está grávida e, com a ajuda da melhor amiga, vai até Nova Iorque para realizar um aborto. A superfície do longa carrega características que, de maneira previsível, nos dará a ideia de irresponsabilidade por parte da garota, contudo, o roteiro nos empurra para um mergulho muito complexo que explica tudo o que ocasionou a protagonista estar ali. A cena que dá título ao filme já é uma das mais incríveis do ano pela veracidade e dor que o corpo feminino está sujeito nas mãos do patriarcado.
13. Outra Rodada (Druk)
Direção de Thomas Vinterberg, Holanda.
Thomas Vinterberg teve uma carreria de altos e baixos: de criador do movimento Dogma 95 com Lars Von Trier a filmes rechaçados pela crítica, o holandês viu na década passada a estabilização de sua arte. "Outra Rodada", sua segunda parceria com Mads Mikkelsen, é mais um capítulo de sucesso em sua filmografia. Vinterberd e Mikkelsen se uniram em 2012 com "A Caça", obra-prima indicada ao Oscar e que verá o mesmo feito com "Outra Rodada"; um grupo de amigos de meia-idade abraçam uma teoria de mantimento do nível alcóolico no sangue para salvar o marasmo de suas vidas, o que não demorará a se mostrar um plano ruim. Unindo em doses sábias de humor e drama, o longa é um estudo esperto da nossa relação com o vício e uma carta de Vinterberg ao amor pelo Cinema: sua filha iria estrelar a fita, porém, morreu com três semanas de filmagens.
12. O Poço (El Hoyo)
Direção de Galder Gaztelu-Urrutia, Espanha.
"O Poço" talvez seja o filme mais badalado de 2020. Não por ser o mais assistido ou o melhor, mas por ter sido lançado em um terreno absurdamente fértil para fomentar suas discussões - e foram inúmeras ao longo das semanas após a Netflix jogar a obra em seu catálogo. Conhecemos uma prisão vertical que tem uma curiosa (e cruel) forma de alimentar seus detentos: através de um poço, onde o andar de baixo comerá o que sobrou do andar de cima. As discussões de “O Poço” soam óbvias – é só você ler a sinopse que a fundamentação central da fita estará presente. Sim, esse é um filme que quer mostrar como a estruturação do Capitalismo é falha, desumana e cruel – e provavelmente você, proletariado, já sabe disso. “O Poço” é uma alegoria brilhantemente terrível da natureza humana que gera indagações ao mesmo tempo que executa um trabalho de gênero delicioso.
11. E Então Nós Dançamos (And Then We Danced)
Direção de Levan Akin, Geórgia/Suíça.
A melhor fita LGBT do ano até o momento, "E Então Nós Dançamos" vem de um país que você talvez nem saiba onde se encontra: a Geórgia, um pequeno país na divisa entre a Europa e a Ásia. Com um cinema ainda proporcional ao tamanho do país, não se engane, a Geórgia é dona de filmes fantásticos, e "E Então Nós Dançamos" foi o selecionado ao Oscar 2020. Um dançarino vai ter que escolher entre aceitar sua sexualidade em um país sufocantemente homofóbico ou viver uma mentira assim que outro dançarino chega em sua escola. A dança georgiana, presente em todo o filme, é usada como catalizador desse amor proibido que termina, também, como um belíssimo documento cultural - e, sem surpresa, foi recebido com protestos pedindo o cancelamento das sessões. No entanto, o filme foi lançado, uma vitória para a resistência LGBT.
10. Devorar (Swallow)
Direção de Carlo Mirabella-Davis, EUA.
Esse pequeno horror indie causou desde a estreia no Festival de Tribeca ano passado, e, ainda bem, não ficou apenas no shock value: uma jovem e recém-casada mulher tem dificuldade em manter o casamento e a vida doméstica. Afogada em tédio e distanciamento emocional, ela descobre que está grávida, fato que desencadeia um transtorno que a faz engolir os mais diferentes objetos. "Devorar" recebeu uma embalagem colorida, harmônica e deliciosa, um contraste perfeito para toda a carga obscura de sua trama. Carregado pela atuação exemplar de Haley Bennett, o filme é uma mistura de "Grave" (2016) com "O Bebê de Rosemary" (1968), transformando o drama de sua protagonista em potência do horror. Bon appétit, baby.
09. Viveiro (Vivarium)
Direção de Lorcan Finnegan, Irlanda.
Todo ano precisamos de pelo menos um longa que seja a definição de "amei, mas não entendi", e "Viveiro" é o nome perfeito para isso. Quando um casal visita um conjunto habitacional em busca de um imóvel e fica preso nas ruas com casas totalmente iguais, rapidamente percebem que foi sua última decisão na vida. Estamos vivenciando uma fase interessante na mistura de horror e ficção científica, casando criatividade com as colunas dos dois gêneros: atmosfera e reflexão. "Viveiro" sem dúvidas não é um longa para qualquer paladar: é uma fita lenta, estranha, sufocante e que não vai entregar seus segredos de mão beijada. Sua beleza imagética esconde toda sua bizarrice com uma estética que passeia por "Edward Mãos de Tesoura" (1990) e "O Show de Truman" (1998), e transforma a casa própria, uma das mais desejadas paisagens, em um verdadeiro labirinto em que cada esquina é um pesadelo.
08. Nós Duas (Deux)
Direção de Filippo Meneghetti, França.
O cinema LGBT viu um apogeu na década passada, e tivemos inúmeras fitas que já entraram para a história, no entanto, ao mesmo tempo, estamos em uma era de saturação na exploração dessa temática, apesar de ser uma comunidade tão plural. A premissa de "Nós Duas", representante francês ao Oscar 2021 de "Melhor Filme Internacional", parecia sobrevoar essa mesma saturação: duas mulheres guardam seu romance há décadas, até que uma tragédia fará com que o segredo saia do andar em que as duas vivem. Lésbicas sofrendo as opressões da sociedade para poderem se amar, groundbreaking. Contudo, "Nós Duas" atinge insano sucesso por trazer um casal idoso, algo por si só negligenciado nas telas, e pelas construções afiadas para justificar sua existência. Esse é um romance lésbico violentamente apaixonante que faz com que esqueçamos os clichês para abraçar uma veracidade rara.
07. Mentira Nada Inocente (White Lie)
Direção de Yonah Lewis & Calvin Thomas, Canadá.
A história nem é tão inovadora: uma garota está fingindo ter câncer e sua mentira vai chegando cada vez mais perto de um inevitável fim. As grandes sacadas de "Mentira Nada Inocente" são: o roteiro, que prende a plateia na indagação "onde isso vai parar", e Kacey Rohl, na pele da protagonista. Não apenar um filme LGBT que foge totalmente das pautas clássicas da temática, a película é carregada pela insana atuação de Rohl, que dá literal vida a uma enganação de maneira tão forte que ela mesma acredita. A tensão é construída brilhantemente, e não conseguimos desviar os olhos da tela graças à certeza da ruína eminente de plano na protagonista. Até aonde alguém vai para sustentar uma mentira? A resposta está aqui.
06. Joias Brutas (Uncut Gems)
Direção de Josh Safdie & Benny Safdie, EUA.
Adam Sandler é um ícone do cinema norte-americano, mas pelos motivos errados. Ele já possui nada mais nada menos que NOVE Framboesas de Ouro (que premia o que há de pior no Cinema), inclusive sendo o detentor do recorde de maior número de prêmios em uma noite: "Cada Um Tem a Gêmea Que Merece" (2011) foi indicado a sete Framboesas e ganhou todas. Todavia, Hollywood adora ver um nome falido encontrando o Olimpo com alguma fita, e Sandler encontrou com "Joias Brutas". Os diretores, os irmãos Josh e Benny Safdie, adoram pegar atores considerados ruins e transformarem em donos de prêmios - como Robert Pattinson com "Bom Comportamento" (2017) -, e o Olimpo de Sandler foi fabuloso: dono de uma joalheria, ele é viciado em jogos de azar e vai levar a vida de todo mundo ao redor numa montanha-russa eletrizante, marca dos irmãos Safdie. "Joias Brutas" é um estudo de personagem raro e imperdível que entrega muito mais que um ator ruim conseguindo quebrar o estigma.
05. Os Miseráveis (Les Misérables)
Direção de Ladj Ly, França.
O vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2019 ao lado da obra-prima tupiniquim "Bacurau" (2019), "Os Miseráveis" é mais um filme a analisar a brutalidade da polícia (majoritariamente contra pessoas negras), tendo a França depois da vitória na Copa do Mundo 2018 como palco principal. Indicado ao Oscar 2020 de "Melhor Filme Internacional", o filme possui vários polos que se chocarão da mesma forma como os diferentes contextos culturais do caldeirão que é Paris, tendo um policial que atira em uma criança negra como estopim de uma revolta. É um daqueles filmes enormes, que não terminam com o rolar dos créditos, permanecendo com o espectador por muito tempo ao pôr no ecrã tantos debates pertinentes e atuais.
04. 911 (idem)
Direção de Tarsem Singh, EUA.
Raramente nas listas de melhores do ano incluo curtas-metragens - é meio injusto comparar um trabalho de minutos com outro que percorre horas -, todavia, "911" consegue burlar qualquer duração. O curta musical de Lady Gaga para a faixa de mesmo nome é, de longe, um dos maiores atos audiovisuais do ano ao transformar uma música pop em um ato imagético de profunda simbologia. Tocando em temas como ansiedade, doenças mentais e remédios antipsicóticos, Tarsem Singh deixa jorrar toda sua veia estilística e molda o filme como uma grande odisseia alucinógena em que cada quadro é milimetricamente irretocável - e, não se contentando em ser visualmente espetacular, ainda tem um plot twist de cair o queixo. Seja pelo nível de produção absurdo ou pela extrapolação do conceito da canção, "911" é um daqueles trabalhos que merecem ser chamados de geniais e que devem em nada na corrente do cinema folclórico, simbolista e surrealista.
03. 1917 (idem)
Direção de Sam Mendes, Reino Unido.
Filme de guerra chegando em premiações, alguém ainda aguenta isso? "1917" teve o trabalho inicial de conseguir conquistar um público cansado de um molde bélico feito para arrepiar a epiderme de premiações, e o resultado é (quase) irretocável - não por acaso ganhou três Oscars e sete BAFTAs. Com foco na Primeira Guerra Mundial, o trabalho segue dois soldados que são mandados em uma missão a fim de evitar um combate ainda maior e mais trágico. Filmado com a técnica de plano sequência - como se não houvesse cortes -, "1917" possui a consciência de que toda a fotografia, som, direção de arte e qualquer elemento técnico não sustenta uma arte que é, primordialmente, o ato de contar uma história. Os pequenos tropeços são ínfimos em meio à experiência visual e sensorial que imerge o espectador nos horrores e nas glórias desse período, sendo um daqueles filmes que nos recorda o quão impressionante e indispensável é a Sétima Arte. Nenhuma outra mídia seria capaz de causar o mesmo impacto.
02. O Chalé (The Lodge)
Direção de Veronika Franz & Severin Fiala, Reino Unido/EUA.
O segundo filme da dupla austríaca que nos presenteou o clássico moderno "Boa Noite Mamãe" (2014), "O Chalé" satisfará o paladar de quem gosta do tipo de terror do primeiro. Duas crianças perdem a mãe quando ela se suicida depois de um ex-marido começar a namorar uma mulher nova. O pai tenta (com insistência) aproximar os filhos da namorada, que possui um passado macabro e, segundo a prole, possui algo de muito errado. Eles ficam presos em uma cabana, e situações inexplicáveis desafiam a sanidade de todos. "O Chalé" nada contra a maré do modelo atual de cinema de terror, acomodado em berrar sustos, e edifica sua atmosfera com muito cuidado, trabalhando com sugestões e temáticas geralmente tratadas com pobreza. A religião católica já perdeu as contas de quantos filmes a tomam como ethos de maneira preguiçosa, sem agarrar o quão assustador pode ser quando roteirizada da maneira certa, e "O Chalé" é um desses exemplos de sucesso, ainda mais louvável quando não possui uma trama sobrenatural, bengala batida e saturada dentro do gênero.
01. Nova Ordem (Nuevo Orden)
Direção de Michel Franco, México.
"Nova Ordem" provavelmente é o filme mais controverso do ano. O "ame ou odeie" definitivo da aurora da nova década, a nova empreitada de Michel Franco segue a coerência de sua filmografia ao contar mais uma história polêmica e difícil: durante uma revolta das classes mais pobres, os militares aproveitam para dar um golpe de Estado, que levará ricos e pobres para o mesmo buraco. A película é mais uma enciclopédia de "franciana" sobre a maldade humana, mas dessa vez com fortíssimo viés político. Sua moral é óbvia: em um mundo sem a menor empatia e afogado em egoísmo e corrupção, todos nós perdemos. Em meio a uma onda do conservadorismo, do reacionarismo e do fascismo que vêm assolando inúmeras nações mundo afora, a distopia do longa choca pela gigante proximidade com o real. Assistir a este nascimento de uma ditadura termina tão forte, alarmante e pretensioso graças à escolha do diretor de não dar uma aula de História no ecrã, e sim realizar um verdadeiro filme de terror.