Na sua semana de estreia na TV americana, o projeto audiovisual Poppy, desenvolvido pela cantora branca de mesmo nome com o diretor branco Titanic Sinclair, foi alvo de críticas pelas redes sociais após o vazamento de um convite para testes de elenco, no qual a dupla busca por um ator especificamente negro para interpretar “Satã” em seu novo vídeo.
“Eles estão procurando por um ator especificamente negro para interpretar o demônio. Isso é 2017. Isso é uma merda! Todas as pessoas envolvidas neste projeto deveriam estar envergonhadas”, disse Perez, sim, está coberto de razão.
O documento, revelado pelo blogueiro Perez Hilton, descreve a obra como “uma sátira que explora as armadilhas das celebridades, consumismo, e todos os ‘pecados capitais’ na era da internet” e, na definição do elenco, explica que Poppy deverá contracenar com Satã, interpretado por um “homem afro-americano, entre os 30 e 50 anos, ele é o demônio, sinistro e ameaçador, mas com um senso perverso de diversão. Ele tem uma intensidade assustadora, que irradia de seus olhos como dardos venenosos, sem parar”.
Em resposta a publicação de Perez Hilton, o diretor Titanic Sinclair usou seu Twitter para afirmar: “Sim, Perez, nós estamos escalando pessoas não-brancas em nosso programa. Sinto muito se isso acaba com as suas chances de ser empregado nesta década”.
Yes @ThePerezHilton, we are casting non-white people in our show. I'm sorry this hurts your chances of being employed this decade. https://t.co/fhb86biB9D— Titanic Sinclair (@titanicsinclair) 3 de agosto de 2017
E a desculpa não poderia ter sido mais furada. Isso porque o documento enviado para o recrutamento dos atores em momento algum ressalta essa ação como uma forma de promover a diversidade em seu elenco e, ainda que fosse, é totalmente questionável que eles o façam justamente numa procura por um artista que possa interpretar “Satã”, apenas reforçando o racismo histórico de obras visuais, que condicionam artistas negros aos papéis estigmatizados de maneira negativa.
This has nothing to do with employing black people, but with racial stereotypes.— Gui Tintel ⚡ (@GuiTintel) 3 de agosto de 2017
“Isso não tem nada a ver com contratar pessoas negras, mas, sim, com estereótipos raciais.”
Durante a discussão, alguns fãs de Poppy, que conquistou seu público por meio de vídeos bizarros pela internet, com uma personagem que repete seu nome e frases desconexas em meio a símbolos ocultistas, ressaltaram que seus vídeos constroem críticas a sociedade atual e, colocando um negro na posição de Satã, ela estaria criticando justamente essa estereotipação racista, mas, ainda que assim fosse, continuaria sendo problemático. Não se critica o racismo sendo racista. E, pela descrição do documento, não seria esse o ponto central da dita “sátira”. Vacilou.
A cantora, que esteve ontem (02) no programa do James Corden, não se pronunciou sobre as críticas até o momento, assim como não sabemos se a produção seguirá dentro dos mesmos critérios que, sim, são problemáticos e, caso persistam, deverão fomentar ainda mais discussões.
Vivemos para ver Perez Hilton estar certo numa discussão. Bem vindos a 2017, todo mundo.