O Cinematofagia está tornando a vida humana mais agradável há quase dois anos aqui pelo It Pop, e não sei se você reparou, mas eu nunca escrevi sobre filmes de super-heróis na linha de "Guardiões da Galáxia", "Thor" ou "Os Vingadores". E o motivo é elementar, meu caro: eu não aguento esse subgênero.
Se os cofres desses filmes chegam a ser bilionários, sua fórmula batida que torna todos os filmes repetições de si mesmos aniquila qualquer interesse da minha parte. Nem mesmo quando inserida pautas sociais relevantes conseguem salvar a monótona sessão para mim, como o feminismo em "Mulher Maravilha" e a representatividade negra de "Pantera Negra".
Mas, afinal, o que é um filme de super-herói? Basicamente o subgênero se
resume a filmes que exploram a ação e a aventura, com protagonista(s)
que geralmente possuem poderes sobre-humanos e os usam contra o mal,
tendo como principal fonte as histórias em quadrinhos. Como crítico de cinema é claro que assisto a toda gama de estilos, porém
até prefiro não me aventurar por esse império Marvel/DC por saber que
vou tirar nada que me agrade de lá. Eu não posso ser o único neste
mundo.
Graças a isso, venho por meio deste post dar cinco nomes que abordam o cinema de super-herói saindo do monopólio do eixo Marvel/DC, que domina a Sétima Arte atualmente. De pipocões comerciais até os cults europeus, é bem fácil que você conheça ao menos a maioria dos nomes - essa lista nem tem o intuito de ser uma watchlist, e sim em reunir um pequenino grupo que é esmagado pelo molde hegemônico -, mas uma maratona para rever esses lindos é sempre uma boa pedida - fiz isso antes de fechar a lista e recomendo.
Constantine (2005)
Do que se trata? O solitário Constantine tenta garantir seu lugar no paraíso enviando demônios de volta ao inferno, mas seu destino está ligado ao de Angela, uma policial que investiga o suposto suicídio de sua irmã gêmea.
Por que é bom? Antes que alguém comece, sim, "Constantine" é um filme com o selo "DC". Porém o longa sai completamente do filão consolidado pela marca - talvez por ser uma produção que antecedeu a consolidação do subgênero como conhecemos hoje. A mais icônica atuação da carreira de Keanu Reeves pós-"Matrix" - outro que caberia nessa lista -, "Constantine" é o que há de melhor no cinema blockbuster, numa exemplar aliança entre sólida história, atuações inspiradas e muitos efeitos visuais. Demônios, anjos, exorcismos e uma complexa batalha entre as forças do bem e mal, sem binarismos fáceis ao ser conduzido por um anti-herói de verdade. E para completar, temos Tilda Swinton roubando a cena como o arcanjo Gabriel.
Kick-Ass: Quebrando Tudo (2010)
Do que se trata? Usando sua paixão por histórias em quadrinhos, o adolescente Dave Lizewski decide se reinventar como super-herói, apesar da total falta de poderes especiais. O adolescente arruma uma fantasia, batiza-se de "Kick-Ass" e começa a combater o crime com a ajuda de amigos justiceiros.
Por que é bom? O Batman é um dos poucos super-heróis que não possui poderes anormais - além da montanha de dinheiro em que vive. E se um adolescente viciado em HQs, e sem as cifras milionárias do homem-morcego, também decidisse virar super-herói? "Kick-Ass" aproxima da nossa realidade as aventuras de um super-herói ao trazer gente como a gente na pele dos mocinhos e como as roupas tão aerodinamicamente belas dos filmes são patéticas na vida real. Divertidíssimo e com Chloë Grace Moretz dando vida à uma das mais incríveis super-heroínas da história desse planeta - Hit-Girl, você quer o mundo? -, "Kick-Ass" é cinema pop de verdade.
Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010)
Do que se trata? Guitarrista
de uma banda de rock, Scott Pilgrim nunca teve problemas para conseguir
namorada. O problema é se livrar delas. Mas com Ramona Flowers é
diferente. Ela tem o maior de todos os problemas: um exército de
ex-namorados que não medem esforços para eliminar Scott da lista de
interessados.
Por que é bom? A apoteose de tudo que existe de bom na cultura geek, "Scott Pilgrim" é um verdadeiro videogame na telona. Com uma montagem de tirar o fôlego, somos bombardeados com referências de consoles e animações diegéticas como se estivéssemos diante de um jogo que não podemos controlar. Talvez o melhor papel na estranhona carreira de Michael Cera, há sequências energéticas, dilemas universais e cenas inesquecíveis que evocam o lado nerd de todos nós. Perdão, "God of War", mas "Scott Pilgrim" é o melhor videogame que existe. O mundo é dos nerds, o resto só habita nele.
Sucker Punch: Mundo Surreal (2011)
Do que se trata? Durante os anos 1950, uma garota é internada em uma instituição mental por seu perverso padrasto, após sua mãe e sua morrerem, deixando-lhe a herança. Lá, aventura-se num mundo surreal para fugir de sua dura realidade.
Por que é bom? 🛑 CALLING ALL THE FAROFEIRAS 🛑. "Sucker Punch" é dirigido por Zack Snyder, um dos nomes mais celebrados (ou não) dentro do subgênero - é dele "O Homem de Aço", "Batman vs. Superman" e "Liga da Justiça". Antes de cair de vez no cinema blockbuster, o diretor fez "Sucker Punch" e o cultuado "Watchmen", ambos com uma veia bastante diferente da encontrada nos últimos filmes, sem abrir mão da comercialidade. "Sucker Punch" traz um elenco de frente inteiramente feminino - um dos motivos acusados pela produtora para o fracasso comercial da fita - e, mesmo estando bem longe de ser uma obra-prima, é uma pintura megalomaníaca do irreal que, entre metralhadoras e pirulitos, consegue prender. Com suas sequências absolutamente inspiradas em videogames e trilha sonora ensandecida, "Sucker Punch" é farofa que comemos com vontade. Está servido?
Thelma (2017)
Do que se trata? Thelma é uma jovem tímida que deixa a casa dos pais, superprotetores e muito religiosos, para estudar na capital. A ansiedade e um novo amor trazem à tona seu lado libidinoso - e seus superpoderes.
Por que é bom? É claro que eu não poderia deixar de fora algum filme cult, feito na Noruega e dispensando a ação em prol do drama, não é mesmo? "Thelma" é o que mais se distancia do eixo Marvel/DC, mas suas construções ao redor dos poderes da protagonista em nada diferem de um "X-Men". Ao invés de sequências com pirotecnia, tiro, porrada e bomba, o filme de Joachim Trier traz muitas metáforas visuais e lesbianidade para compor um filme de super-herói ultra realista e menos fantástico, sem se importar com a comercialidade ao deixar seus mistérios no campo da subjetividade - e ainda traz traços de "O Exorcista", "Carrie: A Estranha" e "13 Estações de Maria". Não tinha como dar errado.
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Já podemos dizer que #sextou com essa lista maravilhosa? Se você é alucinado pelos filmes da Marvel/DC, não se incomode, pode continuar amando os "Homem-Formiga" da vida sem medo. Até porque já tem muito conteúdo sobre esses filmes pela internet, então vamos louvar também os menos comerciais e conhecidos pois esse é o trabalho do Cinematofagia. Prestação de serviço à comunidade tem muito aqui.