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O apocalipse vai chegar com a nova temporada de "American Horror Story"

"American Horror Story" é uma das séries mais consagradas de Ryan Murphy. A trama, que a cada ano tem um tema diferente e já conta com 7 temporadas, irá retornar a FOX no dia 12 de setembro (!) e a primeira imagem já foi divulgada. O tema da vez escolhido foi "Apocalypse" e foi revelado na San Diego Comic Con que está acontecendo nos Estados Unidos até doming (22).

O pôster traz um sentimento nostálgico pra quem acompanha a série desde o começo. As cores utilizadas remetem a uma arte de "Murder House" e, fazendo uma analogia com o  último episódio da temporada, podemos entender que o bebê é o anti-cristo ao qual Vivien (Connie Britton) deu a luz.

Essa teoria faz ainda mais sentido quando Murphy confirmou em junho que nos novos episódios o crossover de "Murder House" e "Coven", temas da primeira e terceira temporada respectivamente, finalmente acontecerão.



A nova temporada já conta com Sarah Paulson, Evan Peters, Kathy Bates, Jeffrey Chapman, Kyle Allen, Billie Lourd e muito mais. Tem mais alguém ansioso?

+ notícias sobre a San Diego Comic-Con 2018

Recap | “AHS: Cult”: qual o futuro da seita?

O nono ep de “AHS: Cult” serviu para explicar todas as referências em que a serie se baseia, que já tínhamos rapidamente levantado aqui, como Jim Jones, que levou ao suicídio coletivo de quase mil pessoas em um refúgio de sua seita na Guiana. A direção de “AHS: Cult” mistura gravações reais dos acontecimentos, com cenas produzidas para a série, onde Evan Peters interpreta todos os líderes das seitas com perucas esquisitas. 

O clube da Luluzinha que se formou no porão de Kai é bizarro, todos esses homens de calças apertadinhas mais parece um teste para um filme da Sean Cody. No conselho da cidade, onde Kai tem total controle, ele virou um ditador local, com o discurso da censura em nome de uma moral conservadora e volta a um tempo que nunca existiu.

Proibir pornografia vai mudar alguma coisa? Não, mas é um bom começo para uma sociedade cheia de pudores quando o assunto é sexualidade. Só é meio forçada a agressão ao outro vereador, cheio de hematomas e uma tipoia, que aceita a lei de Kai. Mas seu séquito aplaudindo qualquer coisa que saia da boca dele é exatamente o que Trump fez e faz, na intenção de não ser vaiado por gente que pensa de verdade. Nos últimos episódios, a crítica ao presidente americano tem se tornado mais incisiva, como a promessa do que essa seria essa temporada. 

O episódio “Beba o suco” foi mesmo da Ally, que está outra pessoa, e da Ivy que tornou-se mais patética do que já era. Ally serviu macarrão e não comeu — na cena meu rosto ganhou um sorrisão —, pois em um jantar tenso como aquele e Ally não comendo só poderia rolar um veneno básico na comida. 

Winter, por mais que tenha um discurso sobre estar com medo de Kai — ela não o perdoa pela morte do irmão Vincent —, só conseguiu procurar um artigo no Wikihow sobre como escapar de uma seita, chegando a uma única alternativa: fugir sem olhar para trás. Ela ainda ajudou Kai a pegar Oz na escola, uma verdadeira traidora inútil. Não é à toa apanhou duas vezes no episódio. 

Coitada mesmo é da Beverly, que praticamente implora a morte a Kai. No famigerado porão do líder insano, um delicioso suco envenenado é servido — inspirado na história de Jim Jones. Kai fala sobre transcender do corpo físico ao espiritual, mas tudo não passa de um teste. Purulento, um rapaz de QI baixo não percebe, se recusa a tomar e acaba morrendo. Todos tomam, e Kai revela que não tem veneno ali. Ele está louco, mas não a ponto de largar sua promissora carreira no senado americano. Beverly grita desesperadamente ao saber que não vai morrer. Que tipo de horrores ela está passando nessa casa? 

O pobre Oz também é um destaque no episódio. Pobre nada, na real ele foi bem chato em escolher passar a noite com Kai — suas mães não ensinaram nada sobre estranhos? O garoto acredita fielmente que Kai é seu pai, após o jogo dos dedinhos onde não se mente. Mas Kai jogou verde. Ally suborna uma secretária na clínica onde fez a inseminação artificial, e descobre que Kai não sabe do que está falando. 

No jantar em sua casa, Ally serve hambúrgueres – que pra mim é molho de carne moída – e mostra um documento falso para Kai que afirma que Oz é realmente seu filho. Nessa ela consegue avançar muito em seu plano: Oz está em segurança e ela ganha destaque na seita. Kai está tão louco e megalomaníaco que acredita mesmo que os dois fizeram o próximo messias. No começo, achei que era tudo um grande teatro dele, e que seus objetivos eram apenas políticos, mas política e religião se misturam na cabeça desse homem perturbado.

Faltando um episódio para o fim da temporada, em “Charles (Mason) é o acusado”, vemos um Kai alucinado e paranoico, bem diferente do líder carismático de antes. É interessante ver como a série foi desconstruindo o personagem, que a princípio se vendia como um gênio do mal e, aos poucos, foi revelando o que realmente é: um louco misógino e arrogante. Na primeira cena, quando Winter e algumas amigas estão comentando o debate eleitoral entre Hillary e Trump, podemos ver Kai digitando “eu quero que ele [Trump] ganhe só para atirar nessas vadias estúpidas”, logo antes dele bater em uma amiga de Winter, mostrando um falso arrependimento depois.

O capítulo conta com a volta de Bebe logo nos primeiros minutos, que tinha ficado bem perdida no episódio sobre Valerie Solanas. O roteiro explica onde Kai e Bebe se conheceram — ela era uma psicóloga responsável por cuidar de rapazes que não conseguem controlar a raiva. Bebe vê algo especial em Kai e dá a ele a missão de liberar a raiva feminina na sociedade, quase estourando em tempos de Trump, a fim de que o plano de Valerie — a eliminação dos homens e o fim do patriarcado — seja cumprido.

O que logo sabemos que ele não está fazendo direito, já que sua fome por poder deturpou qualquer sentido que Bebe havia dado a ele. Naturalmente, Kai volta a sua raiva intrínseca às mulheres, como bem vimos nas últimas semanas. É estranho nessa construção o fato de que até conhecer Bebe, durante as eleições presidenciais, ele parecia ser apenas um homem branco raivoso, e depois se tornou o líder de uma seita perigosa e destrutiva. Apenas uma conversa com a psicóloga foi o suficiente para liberar o gênio do mal?

Charles Mason, figura constante na temporada, aparece nos delírios de Kai. A mente por trás dos assassinatos de Sharon Tate, seu bebê e amigos é uma grande inspiração ao nosso líder de cabelos azuis, que consegue traçar analogias bizarras entre os dois, como a suposta missão de Mason de salvar o mundo da iminente barbárie.

Pra quem não sabe, o plano de Mason era fazer com o que os assassinatos fossem percebidos como feitos por um grupo político negro, incitando uma nova guerra civil – ele acreditava que os negros tomariam o poder, numa estranha leitura das músicas dos Beatles e, como bom nazista que é, devia impedir isso. O plano “só” não deu certo porque Linda Kasabian confessou o crime todo à polícia. Kai até cita a canção “Helter Skelter”, que para Mason era o sinal divino do fim.

Inspirado por Mason e por seus erros, Kai ordena a morte de Gary, e deixa o corpo numa clínica de acompanhamento parental que faz abortos. Kai acusa os seguidores do atual senador, mas justamente um grupo de esquerda seria a favor de uma clínica assim? Espero que faça mais sentido essa parte futuramente.

No final, temos Bebe morta por Ally, numa das melhores cenas do capítulo. Kai diz à Ally que Bebe era sua terapeuta de controle de raiva, que responde “não muito boa em seu trabalho”. Hilário e a mais pura verdade.

Todos à volta de Kai vão desmoronando, pedaço por pedaço. Winter, que acreditava ser especial, é morta pelas mãos do próprio irmão. Vai tarde. Gary morto, Beverly destruída, Vincent aterrorizando Kai em sonhos. Muitos corpos pesam agora. Ally, que de início parecia frágil e extremamente insana, é a única ali que Kai pode confiar, o que é ótimo, já que ela quer destruí-lo. A alegoria que “AHS: Cult” construiu parece caminhar para o óbvio: a sociedade americana está produzindo gente doida demais, e parece que estão todos batendo palmas para isso.

Recap | “AHS: Cult”: a seita está em combustão

Winter tem uma fé cega em Kai, uma admiração de irmã mais nova para irmão mais velho ainda intocada e, por isso, a moça funciona como pilar da seita. O oitavo episódio “O Inverno do Nosso Desgosto” mostra as primeiras rupturas nessa relação, onde Winter tem seus valores constantemente testados por Kai. Ela aceita ser subjugada pelo irmão, em contraposição a suas posições feministas. Todas as outras mulheres já acordaram para o que está acontecendo, mas há uma esperança em Winter de que ela seja especial – esperança essa que Bervely já sentiu e agora amarga com a escolha. 

Kai sai dos trilhos em sua megalomania e ficamos sabendo sobre seu cabelo azul e todo seu plano de falar pelos oprimidos surge de uma experiência bizarra na casa do Pastor Charles. Sério, “AHS: Cult” conseguiu se superar com uma sala cheia de bonecos sadomasoquistas, uma mulher ensanguentada pós aborto malfeito e, a cena particularmente difícil para mim, com um homem cheio de seringas com cocaína, heroína e ópio. De fato, não consigo imaginar alguém que tenha visto essa temporada sem sentir arrepios com medos e fobias particulares em algum momento. 

O Pastor Charles mostra a Kai que experiências traumatizantes colocam as pessoas juntas, como iguais por uma causa – no caso do pastor, sua indolência ao julgar quem deveria ou não viver. Fica claro que Trump foi para Kai uma oportunidade de reproduzir o sentimento de liderança que sentiu na casa do terror de Charles. 

Se em algum momento nós sentimos empatia por Kai, seja por seu charme ou persuasão, à essa altura só sentimos pena e raiva. Ele é na verdade um charlatão que usa teorias básicas, como instaurar o medo para atrair seguidores, conseguir votos e até influenciar o conselho da cidade para aceitar sua milícia na segurança da comunidade. 

Assim como em “The Handmaid’s Tale”, fica o alerta sobre como momentos de histeria e medo geral podem permitir que direitos ditos básicos e universais sejam suprimidos em troca de alguma segurança e estabilidade. Como vimos no episódio sobre Valerie Solanas, os seguidores buscam líderes, crenças e ideologias que possam dar proteção e sentido em meio as agruras do mundo.

Além disso, seus discursos são rasos e podem ser rapidamente criticados por alguém que possa racionalizá-los e argumentar. Por exemplo, sua insistência em dizer que não existe tal coisas como “homossexualidade” e “heterossexualidade”. Se pelo menos ele estivesse falando sob uma perspectiva nova, sei lá, transgressora de gênero e sexualidade..., mas não. Kai está falando como aqueles pastores que ouvimos por aí dizendo que existe cura gay ou os “g0ys”, lembram-se deles? 

Kai nega o termo “gay” não porque é revolucionário, mas sim porque é conservador e homofóbico, assim como os gays que o rodeiam, como era Harrison e é Samuels (Colton Haynes), além de extremamente misóginos. Eles se esforçam em performar o masculino mais do que qualquer drag em RuPaul’s performando o feminino. 

É nesse episódio que descobrimos mais sobre Samuels, o policial amante de Harrison. Ele conheceu Kai vendendo prescrições médicas roubadas de seu irmão Vincent, e pediu suborno em troca do silêncio. A relação se estreita quando Kai vai à casa de Samuels e o encontra desesperado após ter brochado com uma mulher. É aí que Kai despeja sua ladainha sobre não precisar de rótulos nem de mulheres “toda vez que você faz sexo com elas, elas drenam seu poder” e onde Samuels encontra a paz necessária para dar a bunda. 

Esse aprofundamento no personagem do policial é necessário para compreender a cena anterior, onde Winter é quase estuprada por Samuels em um ritual de Kai para provar a lealdade da irmã. Kai deveria penetrar o policial enquanto ele o faz em sua irmã para a concepção do futuro Messias. Para a sorte de Winter, Samuels só consegue se excitar com uma mulher se essa estiver sofrendo. 

A seita não é um espaço para as mulheres, essa é a verdade. E até Winter, que como disse tinha um afeto genuíno por seu irmão, vê-se impelida à traição. Enquanto está devolvendo lixo ensacado para a rua como punição por terminar o ritual da noite anterior – e porque Kai não acredita no aquecimento global – Winter é abordada por Samuels, que conta sua história e o porquê de seguir Kai. Winter diz a Samuels que ele não passa de um homem gay, que surta e tenta – mais uma vez – estupra-la. Felizmente homens não pensam muito com a cabeça de cima, e Winter consegue pegar a arma (de um policial!) e atirar nele, não antes de um bom discurso “quando Hillary perdeu, eu também perdi, eu deveria ter revidado, ficado irritada, me juntei a isso e é tarde demais para mim e para você”. Um membro original a menos na seita. 

No final, vemos Vincent morrer nas mãos do irmão, e descobrimos que o coitado do psiquiatra não sabia de nada da seita ou das mortes. Não foi ele que passou os laudos dos pacientes, incluindo Ally, para Kai — na verdade, ele os roubou. Aliás, Ally, que “vendeu” Vincent por seu filho, é a mais nova participante da seita, e fica com a fantasia de Bervely, que se vê sem poder amarrada como um qualquer no sótão de Kai e vocifera para ele “nada é maior do que seu maldito ego”

A seita está em combustão. Winter não é mais uma seguidora fiel, disso temos certeza. Tampouco Ally vai se deixar manipular a essa altura do campeonato. Não tenho mais certeza se Kai tem mesmo o controle de tudo, como achávamos até então. Quando a ameaça vem de dentro, as cartas no jogo podem mudar muito rápido, e não sei se Kai consegue responder a essas ameaças todas rápido o suficiente. 

Recap | “AHS: Cult”: as mulheres não serão mais manipuladas


O episódio “Mid-Western Assassin” gerou polêmica após ser veiculado dias depois do tiroteio em Las Vegas, maior assassinato em série na história dos Estados Unidos. Uma versão “light” inclusive foi exibida na TV, sendo o episódio original transmitido apenas via internet no site da FX. O fato é que esse episódio de “AHS” jamais seria fácil dentro de um país que se acostumou com manchetes acerca de atentados em lugares públicos. 

Meadow, que no último episódio apareceu desesperada na porta de Ally pedindo ajuda, é a assassina em série no comício de Kai pela vaga a vereador, ela atira nas pessoas e no líder da seita com o objetivo de levar a campanha da pequena cidade de Michigan ao noticiário nacional. Meadow é motivada por um amor à Kai, devoção que ele cultivou em seu coração vazio, como ela mesmo diz “se você já acreditou em algo, não haveria espaço para ele”

Ally, assim como outras pessoas pela cidade, é apenas uma peça nos planos de Kai, que busca deixar todos paranoicos, e faz parte do plano em que ele precisa de uma liberal louca o suficiente para contar à todos a história da seita e, consequentemente, tornar a história impossível. Afinal, só uma louca assassina de hispano-americanos poderia inventar uma história assim. 

Os esquemas de Kai parecem funcionar perfeitamente bem, até demais. Ally sairia mesmo como a doida do bairro, de faca e spray de pimenta na mão, para salvar Meadow? E o restaurante é o melhor lugar para se ir depois de fugir de Harrison e Jack? Ou mais à frente, como Ally sabia que Meadow atiraria em público? 

A invasão repentina dos palhação na casa de Sally (Mare Winningham) é outro momento em que o roteiro força a barra para prosseguir com a história. Sally mal entrou na série, arrasando com um discurso sobre a farsa que Kai representa em seu reacionarismo e já morreu nas mãos de seu opositor. Seu discurso é brilhante – como se falando em frente à Trump “pessoas como Sr. Anderson e Trump não são o lixo, eles são a mosca que o lixo atraiu”, palavras de quem já viu muito guru da salvação geral por aí em momentos de histeria geral. 

Morrer assassinada, mas com todos acreditando que foi suicídio, é a pior vingança que Kai poderia fazer após Sally humilhá-lo no debate. E, como bem dito por Kai, todos acreditarão pois está no Facebook e, logo, é a verdade. Gosto de “AHS” quando se esforça para criticar a cultura após mídias digitais, como o exibicionismo necessário para “ser” alguém hoje – Winter citando um retweet que levou de Lena Dunham no primeiro episódio, por exemplo. 

Ivy é outro ponto interessante do episódio e descobrimos o que a motivou a entrar na seita e querer enlouquecer sua esposa. Ter votado em Jill Stein não é o único motivo de sua vingança. Ela odeia Ally e sua atitude inconsciente de marcar território como mãe biológica do filho delas desde que Oz nasceu. É uma desculpa mais plausível do que acreditávamos até então, e a raiva de Ivy parece coerente com alguém que viu seu mundo desmoronar em tão pouco tempo. 

E o que foi esse sétimo episódio de “AHS:Cult”? Um costume de Ryan se repetiu, e voltamos no tempo para provar o ponto de vista que os produtores da série acreditam que ela deve ter, fazendo na verdade um capítulo que pouco evolui na história. Em “Valerie Solanas died for your sins: scumbag”, temos Lena Dunham – lindo vê-la novamente – interpretando Valerie Solanas, escritora, feminista e conhecida por atirar em Andy Warhol em 1968, depois que ele perdeu um roteiro que ela havia lhe entregado para uma análise. 

No mundo de “Cult”, Valerie foi a mente criadora de uma seita, seguida por mulheres rejeitadas ao longo de suas vidas e exploradas por homens, capazes de se tornarem homicidas. Elas seguem fielmente o SCUM manifesto, obra radical escrita por Valerie que condenava os homens à morte por seus malefícios a sociedade. De fato, os argumentos apresentados por Valerie são muito mais lúcidos do que a história nos conta sobre essas mulher. Afinal, mulheres não espreitam homens em becos escuros mesmo. 

O ponto alto da megalomania do roteiro desse episódio é conectar Valerie e seu séquito ao serial killer Assassino do Zodíaco, que aterrorizou o norte da Califórnia nos anos 1960. Atirar em Andy Warhol teria sido o sinal enviado a sua seguidoras para que começassem o plano de inversão da ordem de poder, matando casais para que as mulheres percebessem que deitar-se com homens é arriscado. 

Toda essa volta ao passado e novas histórias sobre pessoas que de fato viveram acontecem para dar liga à uma discussão primordial do episódio: o patriarcado. Essa estrutura aparentemente invisível se renova ao longo do tempo, em diferentes contextos, para manter mulheres oprimidas. Kai promete às mulheres igualdade, mas Bervely percebe que apenas foi usada para um fim: a própria promoção de um homem. É aí que entra Solanas, onde sua história é usada para mostrar como os homens ainda estão no comando. 

Ao longo da história, mulheres foram usadas para que propósitos de homens sejam atingidos, a própria Meadow é um exemplo, completamente cega pela possibilidade de fazer algo com significado para seu líder sem questionamento. A presença de Bebe (Frances Conroy), amante de Valerie, era o que faltava para a mulheres da seita se unirem em busca de poder igualitário. Só ficou a pergunta: de onde ela surgiu e porque instantaneamente todas as mulheres acreditaram nela? 

“A história pode mudar, mas a da mulher sempre se repete”, diz Bebe para o grupo das mulheres. Valerie termina a vida sozinha em seu apartamento – ela de fato morreu aos 52 anos sozinha e com problemas mentais – e sendo amargamente visitada por um fantasma de Andy, que não a deixa esquecer “eu sou o seu legado”.

Apenas sabemos que, no fim, com Bebe na casa de Kai, e depois do assassinato de Harrison, tudo pode fazer parte de um plano maior de Kai, que está claramente manipulando Winter, Bervely e Ivy. Por que mais ele fofocaria sobre Harrison, aparentemente um fiel seguidor? E no final, a interação entre Bebe e Kai, o que pode significar? Talvez toda a história sobre Valerie Solanas tenha sido mentira, o que não seria de se espantar. Definitivamente esse episódio, que andou pouco com a história, só nos acrescentou em dúvidas. 

Recap | “AHS: Cult”: precisamos de mais medo

Os dois últimos episódios de “AHS: Cult” nos revelaram muita coisa e, surpreendentemente, uma série bastante lógica até aqui. O culto de Kai agora está claro, fazem parte: Meadow, Harrison, Winter, Beverly (Adina Porter), Gary (Chaz Bono) e Ivy, além do cinegrafista R.J. (James Morosin), que mal havia notado nos últimos episódios.

Kai é carinhoso e há um apelo sexy nele, como quando aparece nu e se masturbando no chuveiro em frente a Harrison e o ajuda a sair da lama, ou quando toca levemente em Meadow e elogia suas artes. Parece tão confortável segui-lo. E por quê? Bem, Kai oferece um sentido à pessoas que buscam justamente isso em meio ao medo, e o propósito dele é lapidar esse medo até o agir - a criação completa do caos.

O mais interessante da construção de Murphy é que os séquitos dele não são os estereótipos dos eleitores de Trump, pelo contrário, são democratas, muitos de minoria, que apenas querem um lugar ao sol do conforto e segurança e vingança pelo que os Estados Unidos se tornaram. O medo nos faz mudar dramaticamente. O próprio título do episódio é uma pista para essa narrativa, “11/9” é o dia em que a paranoia americana ganhou justificativa e proporções jamais vistas. O que importa na sétima temporada é o clamor pelo medo, como bem diz Kai “o medo em uma pequena cidadezinha do Michigan pode infectar o país, o mundo, em dias”.

Já no episódio dessa semana, “Holes”, quinto episódio da temporada, se teve uma coisa que fiz, foi me contorcer todo na cama com as cenas bizarras que rolaram. Logo nos três primeiros minutos, vemos que Ivy faz sim parte do culto - suspeita já quase certa após a revelação da relação de Ivy e Winter, e se vinga de Ally pelo voto em Jill Stein, candidato que nunca poderia ganhar. Se já começa com esse boom bem na nossa cara, como poderíamos ficar mais chocados?

A série vai, então, para a cenas repugnantes pelas quais é conhecida. A morte de Bob (Dermot Mulroney) no começo é a resposta. O escravo sexual do âncora do telejornal local é a coisa mais estranha de tudo aquilo, quem diria uma coisa dessas? A morte do desconhecido é também repulsiva, muito mais que a de Bob, inclusive. É o momento que mais lembra as atrocidades passadas de “AHS”, fiquei um tempo com aquela imagem de garras em todos as partes do corpo na cabeça.

Nesse episódio vemos que Kai começa a se abrir com Bervely, e aquela conversa íntima no restaurante leva a outro momento intenso do episódio, a morte de R.J.. Kai pede que Ivy prove sua lealdade enfiando o primeiro prego na cabeça do rapaz em uma sessão do culto no sótão, e assim todos fazem, um por vez. Kai é a megalomania de todo ditador, uma referência clara a Trump, mas não só ele. Quando querem desviar a narrativa, eles produzem uma nova megalomania que é fácil de acreditar, sem questionamentos. Quando alguém no culto questiona, como os flashbacks nos mostram que R.J. fez, e isso começou a se espalhar, como em Meadow, esse alguém se torna um problema.

A morte como um ritual faz com que todos ali sejam cúmplices, e o cerco se fecha ainda mais. É impossível sair agora. E daí vários questionamentos surgem, por que todos aceitaram infernizar a vida de Ally? Parece que o argumento vingança por seu voto é pouco, eles têm algum plano para ela, mesmo que seja ainda mais cruel? O que vai acontecer com Meadow? Há pessoas perguntando dela ainda. Podemos acreditar naquele momento em que ela corre para a casa de Ally?

Aliás, Dr. Rudy realmente tem uma ligação com o culto, é irmão mais velho de Kai e Winter e, aparentemente, apresentou o lance do dedinho à Kai. Ao fazer esse ritual, que é como um confessionário, com Beverly fica claro imediatamente que ela se torna a mais importante ali. Ele revela também o que aconteceu com seus pais. Sua mãe matou o pai, um homem raivoso, e se matou. Na noite das mortes, Dr. Rudy sugere que deixem os pais em seu quarto, para ali descansaram eternamente, evitando a perda de aposentadorias e bens. O que esperar de uma galera que vê os pais apodrecerem numa boa?

Outro aspecto interessante do episódio é a conversa de Ivy e Winter no carro. O ódio de Ivy com a américa parece ser o resumo perfeito do porquê de todos estarem ali. Pouco importa Trump, a realidade é o povo que pediu por ele, e merece o que pediu. É claro que Ivy parece ser um elo fraco, mas pode não ser por muito tempo.

“Holes” nos revelou muita coisa e o que espero agora é uma reviravolta a qualquer momento, já que ainda estamos no quinto episódio. Os personagens ainda a aparecer, como Lena Dunham, podem dar um novo tom a série. Lena irá interpretar Valerie Solanas, mulher que atirou em Andy Warhol em 1968, por motivações ideológicas. Ela escreveu um livro onde propõe a aniquilação dos homens e uma sociedade dirigida pelas mulheres.

O que “AHS” quer passar? Apesar de sua audiência caindo, talvez pela confusão com uma temporada sobre política, o roteiro parece levar para uma reflexão à cultura de violência americana, como os diversos assassinatos em massa que ocorrem com certa frequência e mesmo pessoas como Valerie ou Charles Mason e Jim Jones, exemplos de cultos em que a temporada se inspira.

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