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Album Review: “ye” e um Kanye West que é grandioso mesmo quando tenta não ser

“Só diga isso alto, pra ver como se sente. As pessoas dizem, ‘não fale isso, não fale aquilo.’ Só diga em voz alta e veja como se sente”, pede Kanye em “I Thought About Killing You” (Eu Pensei Em Matar Você), faixa que abre o disco “ye” e entrega, já de início, um pouco do que se trata a experiência do disco: uma terapia barra palestra dele consigo mesmo, onde somos mera plateia.



Apesar de similaridades sonoras que o aproxima de momentos de toda a sua carreira, “ye” caminha muito distante das intenções de Kanye em todos seus outros trabalhos; sem a megalomania das produções que o antecederam, nem a pressa em se tornar grandioso, o disco cresce pela sobriedade de um trabalho que nos é entregue quase cru. E traço, aqui, um paralelo necessário sobre seu nome, que inevitavelmente nos remete ao álbum “Yeezus”, mas agora sem a associação com Jesus, sem o rapper que se diz Deus, apenas o homem sobre ele mesmo, despejando seus delírios, reflexões e vulnerabilidades entre versos que misturam tudo isso como se fossem uma coisa só.

Com flow semelhante a “Wolves”, a faixa interminada de “The Life of Pablo”, e montagem que remete ao seu hit com Jay-Z, “Otis”, “Yikes” é uma das poucas canções de “ye” que acenam para alguma intenção comercial. Na letra, Kanye discorre sobre seu vício no mesmo medicamento outrora utilizado por Michael Jackson e Prince, dizendo que eles tentaram te avisar, e, amarrando a canção no contexto da faixa anterior, confessa: “às vezes fico assustado comigo mesmo.”

Se onde tem Kanye, tem polêmica, a dose do “ye” para os tablóides começa em “All Mine”, introduzida numa sonoridade quase gospel até cair em versos sobre infidelidade e traições envolvendo figuras públicas. A putaria só não dura muito tempo porque a música seguinte, “Wouldn’t Leave”, vai justamente de traições para a fidelidade entre ele e Kim Kardashian, figura que se manteve ao seu lado mesmo nos momentos difíceis que passou nos últimos anos, incluindo a internação que interrompeu a turnê do disco “The Life of Pablo”, as confusões com artistas como Taylor Swift e Jay-Z e declarações desconexas, como quando disse que “a escravidão pareceu ser uma escolha”.

Ao piano, a declaração automaticamente nos leva pra música dedicada a sua esposa em “Yeezus”, “Bound 2”, enquanto aqui seus versos soam ainda mais honestos, com ele afirmando que “sabia que você não iria partir.”

Com lugar garantido entre os melhores arranjos do disco, “No Mistakes” foi uma das tantas colaborações entre Kanye e Cudi para as sessões dos discos “ye” e “Kids See Ghost”. Nesta, o rapper desabafa sobre os problemas mentais e financeiros que teve após a internação, intercalando seus versos com um sample de 88 do britânico Slick Rick, que repete sem parar: “acredite se quiser.”

A canção também é uma das que melhores carregam a dualidade do disco, ilustrado pela frase “eu odeio ser bipolar, é demais”, dando espaço pra que o Kanye West orgulhoso e egocêntrico tome seu próprio microfone pra afirmar que, apesar de todos os problemas que passou, continua sendo a pessoa em quem mais confia. “Vou esclarecer isso aqui pra que todos entendam: eu não ouço conselhos de pessoas menos sucedidas do que eu.”



Indubitável ponto alto do disco, “Ghost Town” é uma faixa sobre redenção, na qual Kanye, Kid Cudi, PARTYNEXTDOOR e a cantora 070 Shake discorrem sobre serem amados e livres, quase que sob um efeito anestésico após os altos e baixos — e medicamentos — que marcaram não só esse disco, como toda essa fase da vida do rapper, que garante estar num lugar melhor agora. “Coloco minha mão no fogo, pra ver se ainda sangro, e nada mais me machuca. Sinto como se estivesse livre.”

E é neste ambiente de liberdade que “Violent Crimes” assusta pelo título, mas nos ganha pela intenção, sendo uma homenagem do rapper a sua filha, North West, com direito a uma participação rápida de Nicki Minaj, que aprova um verso do rapper na gravação de uma ligação ao final da faixa, quem sabe evitando um episódio semelhante a história de “Famous” e a fatídica chamada negada por Taylor Swift.

Mea culpa sobre machismo, “Violent Crimes” traz o cantor refletindo sobre a sociedade e a posição de homens e mulheres, agora sob a perspectiva de quem tem uma filha e se preocupa com os homens que ela irá lidar quando estiver maior. “Os caras são selvagens, são monstros, são safados, jogadores, até que esses caras têm filhas, aí eles se tornam cuidadosos.”



***


Ao longo de sete faixas que somam menos de trinta minutos, “ye” é um dos projetos menos ambiciosos de Kanye West e, dentro desta ótica, vence pela máxima de que “menos é mais”, nos entregando uma faceta do rapper que nos permite vê-lo sem amarras ou as muitas vezes tão desejadas papas na língua, enquanto se aproveita do seu próprio espaço, sem manchetes sensacionalistas ou trechos mal recortados, para desabafar sobre a vida, o futuro e um pouco do que se passa nessa mente que, nestes vinte e pouco minutos, parece um pouco menos turbulenta do que o normal.

Longe de estar entre os favoritos da sua discografia para o público médio, se tem algo que assemelha “ye” aos outros que o antecederam, talvez seja a necessidade de ser apreciado com calma, aos poucos, pra que, talvez, seja compreendido. E o mesmo serve para o rapper, afinal, tão odiado e frequentemente condenado quanto aclamado e admirado.

KANYE WEST, “YE” (2018)
★★★

Album Review: ansiedade, liberdade e solidão se confundem em “Lobos”, o primeiro disco do Jão

“Se você me amar demais, eu paro de te amar. Um amor fácil me apavora”, canta Jão logo na primeira faixa do disco “Lobos”, a dançante e confessional “Vou Morrer Sozinho”. Brega e pop, a faixa entrega uma combinação agridoce que acentua o tom de todo o disco: um compilado sobre amor, solidão e não-pertencimento, que ilustra o desprendimento emocional da sua geração, em tempo que se enquadra em cada uma dessas narrativas da maneira mais emotiva possível. O disco é co-composto pelo cantor ao lado de Pedro Tofani, com produção do coletivo Head Media.



Toda essa ilustração já fica muito clara logo em sua faixa seguinte: a terminal e quase sertaneja “Me Beija com Raiva”. Enquanto a música acontece, a cena se forma na nossa imaginação: o par romântico do cantor está arrumando as suas coisas pra partir, enquanto ele não sabe se o impede, tenta retomar a discussão ou apenas senta e cede a emoção. O arranjo pop sertanejo nos lembra do que ouviríamos em um disco do John Mayer ou Shawn Mendes, enquanto tudo o que ele pede é por um último beijo cheio do sentimento que os acompanha naquele momento de raiva. “Como fodemos o melhor amor do mundo? Sei lá se esse é o nosso último segundo, então me beija com raiva, me beija com raiva.”



Um sopro de ar fresco passado o aperto da faixa anterior, “Lindo Demais” é um grito de paixão desenfreada. Eles estão ótimos, se curtindo pra caralho, e entre eles tudo funciona tão bem, que o cantor mal pode esconder e se pega contando isso em voz alta, gritando pra quem quiser ouvir: “porra, a gente se ama! E isso é lindo demais!” Desta vez, o arranjo cai de vez na música pop, com direito a uma percussão eletrônica e corinho pós-refrão pra darem ainda mais força ao grito apaixonado. Lindo demais.

Se precisássemos escolher uma música do disco pra cantar num karaokê, com certeza seria “Imaturo”. A música que abriu os trabalhos do cantor com esse disco mantém o clima do álbum em alta, bem como o seu coração em boas mãos, sob um arranjo que anteriormente chamamos por “brega para millenials”: uma mistura de Pabllo Vittar com a dinamarquesa MØ. “Eu gosto de você, tchau!”



Sem tempo pra percebermos que as coisas estavam indo bem demais, a montanha russa de emoções do cantor dá a volta por baixo em “Ainda Te Amo” que, basicamente, é aquela ligação bêbado de madrugada que você provavelmente se arrependerá ao amanhecer. Sem um amor para pertencer, ele sai tapando o buraco com pessoas, hábitos e bebidas, mas quanto mais tenta se encontrar, mais se vê perdido. É interessante perceber que a vulnerabilidade desta faixa se entrega também no arranjo, simples e todo no violão, apoiado unicamente pela emoção com a qual o cantor entoa cada um dos seus versos. “Cê me jogou pro alto só pra me ver quebrar.” 

Ainda sem rumo, o não-pertencimento desperta em Jão um dos sentimentos mais familiares aos lobos, que preferem andar, caçar e viver em bandos ou, como são chamados esses grupos, alcateias. Sob a luz da lua, esses animais solitários se tornam a sua melhor companhia e é morando nesses desencontros que ele volta a se sentir parte de algo, ao som da selvagem e libertária “A Rua”. De longe, uma das nossas favoritas em todo o álbum. “Se eu me desencontrar, a rua vai me proteger.”



Em estado de sobriedade pós-êxtase, “Lobos” devolve o disco às suas amarras, assim como a letra, que encontra o cantor bem mais decidido sobre o que quer para si e as consequências de suas escolhas a longo prazo. “Nada do que você diz faz sentido algum, porque eu tenho a minha própria caminhada”, ele canta. “Eu podia ficar lento, só, perdido, mas é que solto eu fico muito mais bonito.”

“Eu sou daqueles que se desfaz com todos os finais”, lamenta Jão em “Eu Quero Ser Como Você”, mais uma toda ao violão e com uma letra confessional, na qual ele pensa alto sobre o quanto gostaria de ser como aqueles que sofrem na medida, rapidamente se alinham e, passado um difícil término, seguem com a vida. Outra vez, o disco se apoia numa fórmula que entrega uma narrativa triste ao som de um arranjo confortável o suficiente pra não nos encontrarmos num espaço tão ruim. Quase como aquela tentativa de nos vermos bem, quando sabemos que ainda há algo ali que nos faz mal.

Única participação especial do disco, se não fosse pelo sotaque, os vocais do português Diogo Piçarra passariam despercebidos em “Aqui”, faixa que já vinha integrando as apresentações ao vivo de Jão e, anteriormente, também fez parte do EP “Primeiro Acústico”. Eletrônica e introspectiva, a música apresenta uma perspectiva menos extrema sobre um relacionamento que está beirando o fim, mas ao menos foi bom e intenso enquanto durou. “Quem diria que a gente chegaria aqui?”



“Sempre lutei por liberdade, mas ser livre me fez só”, canta na faixa que encerra o disco, “Monstros”. Aqui, a sensação deixada é de que todos os cenários que visitamos ao longo do disco começam a se desfazer, conforme todos os rostos, lembranças e sentimentos vão sumindo em um longo e cinematográfico fade out. Sozinho, como começou sua história esperando morrer, ele chega ao fim, ao som de uma voz embargada e guiada por um piano, ciente de que ainda há muito o que percorrer e velhos demônios para confrontar.

***


Aos 24 anos, Jão canta sobre uma juventude que começou dia desses, pra outros jovens que, como ele em outrora, encontram nos versos de seus ídolos histórias que os motivam a seguir em frente, acreditar em si e que dias melhores virão. De maneira poética, “Lobos” é o clichê menos clichê possível: ele quer amar, mas se amar demais, cansa; quer ser feliz, mas por todas as felicidades que passa, não se encontra, e quer ser livre, mas pra se ver livre de todas as amarras, se isola.

Esses altos e baixos não poderiam refletir melhor essa realidade ansiosa, porém romântica, repleta de coadjuvantes e, ainda assim, solitária, na qual queremos tudo agora e, se não o temos, já não queremos mais. Ou o contrário, mas com aquele receio de demonstrar. Em que queremos tudo, mas com aquele medo de se entregar por completo. E recusamos nos conformar com migalhas, voluntariamente sendo as migalhas de outrém. 

Em tom reconfortante, é importante frisarmos que, assim como a vida, a história aqui contada pelo cantor não chegou ao fim. O que faz de “Lobos” um livro inacabado ou, por assim dizer, um diário que nos foi entregue antes de escreverem a página final. Se esse final será feliz ou não, só a jornada dirá.

Em sua estreia, Jão se desconstrói sob confissões e ficções que não nos dão outra opção, senão nos tornarmos a sua companhia nessa caminhada solitária, seja dançando, chorando ou cantando também. E como lobos, daqui em diante seguimos juntos, mais do que ansiosos por o que nos espera a seguir.

Album Review: Taylor Swift, “reputation”

“Eu juro que não amo o drama, é ele quem me ama”, canta Taylor Swift em “End Game”, segunda faixa do disco “reputation”. Introduzido ao público pela vingativa e dançante “Look What You Made Me Do”, o álbum que anuncia a morte da antiga Taylor é também o que busca ressuscitá-la em seu imaginário, mas desta vez com a sua versão sobre várias histórias.

Em seu prólogo, ela explica: “nós pensamos que conhecemos alguém, mas a verdade é que só conhecemos a versão que eles escolheram nos mostrar (...) Nós nunca somos apenas bons ou ruins. Somos mosaicos das piores e melhores versões de nós mesmos, nossos segredos mais profundos e nossas histórias favoritas para contar num jantar, existindo em algum lugar entre nossa foto boa para o perfil e aquela da carteira de motorista”.

“Tenho estado sob os olhos do público desde os meus 15 anos. Tive a sorte de fazer música para viver e ver multidões apaixonadas e vibrantes, mas no outro lado da moeda, meus erros têm sido usados contra mim, minhas decepções sido usadas para entretenimento, e minhas composições sendo vistas como uma exposição excessiva.”


“Não haverá maiores explicações”, ela adianta. “Apenas a sua reputação”. E assim seguimos, sob as produções de Jack Antonoff, Max Martin e Shellback, para descobrirmos o que ela tem a nos dizer.



Esta é nossa resenha faixa-a-faixa para o álbum “reputation”:

“...Ready For It?”

Logo em sua intro, a música é tomada por batidas eletrônicas impactantes, agressivas. Os synths distorcidos nos lembram do som de suspense que antecede a chegada do monstro Demogorgon, na série da Netflix, “Stranger Things”, até que Taylor nos pergunta: você está pronto pra isso?

Apesar do soco de seus primeiros segundos, o refrão é bem mais contido do que esperávamos, remetendo, tanto lírica quanto sonoramente, a faixa “Wildest Dreams”, do seu álbum anterior. Então sim, podemos dizer que estamos prontos.


“End Game”

“Nós temos uma grande reputação”, canta Taylor, quase que em tom de celebração. Primeira e única parceria do disco, a música se afasta da proposta vingativa de “Bad Blood”, do álbum anterior, para uma espécie de reunião entre pessoas mal faladas - neste caso, ela, Ed Sheeran e o rapper Future. E ainda que fale sobre seus inimigos, termina numa declaração amorosa, onde as vozes da faixa já não querem mais ser opções para a outra pessoa. “Quero ser o fim dos seus joguinhos.”

Ed Sheeran, que vez ou outra arrisca uns raps em suas canções, já havia colaborado com Taylor Swift na fofa “Everything Has Changed” e, desde o lançamento do álbum “Divide”, assumiu uma postura bastante prepotente com a imprensa, de forma que se encaixa bem no espaço que a cantora abre para sua nova fase. Sua participação aqui também lembra uma de suas influências nas investidas pop, Justin Timberlake, principalmente pela confiança como entoa os versos, não usual em sua própria discografia. Um dos grandes e inesperados acertos do disco.

“I Did Something Bad”

A mesma Taylor Swift que atendeu ao telefonema de “Look What You Made Me Do” é quem está no controle por aqui. Com vocais distorcidos, batidas pulsantes e um violino que ascende durante toda a faixa, “‘Something Bad” traz sua confissão de que, apesar de ter sido acusada por fazer algo ruim, ela gostou disso e faria outra vez. 

Essa é a primeira faixa do disco que, aparentemente, trata da sua desavença com o rapper Kanye West. A referência mais notável é o verso “se um homem diz asneiras, eu não devo nada pra ele”, que conversa abertamente com a letra original de “Famous”, em que ele dizia “eu acho que Taylor Swift me deve sexo, eu tornei essa vadia famosa”.

Neste caso, o “algo ruim” pelo qual foi acusada foram as contradições sobre o assunto, como o fato de ter aprovado seus versos numa ligação com Kanye West e, posteriormente, dito não ter sido avisada sobre a música. É um dos arranjos mais empolgantes do disco, mas a letra cai em clichês que mais parecem um compilado de legendas para o Instagram.


“Don’t Blame Me”

Lana Del Rey e Banks entram num bar. “Blame” tem bastante influência das faixas do australiano Flume (ouvir “Say It”, dele com a Tove Lo, e “Never Be Like You”, com a cantora kai), enquanto a cantora faz confissões sobre seus exageros passionais, uma vez que, após brincar com caras mais velhos e partir corações, ela foi pega por um sentimento intenso de verdade. “Que deus me salve, porque minha droga é o meu amor e eu vou usá-la até o fim da minha vida.” Outro ponto alto do disco.

“Delicate”

É interessante que, apesar da sonoridade tropical já datada, Taylor Swift consegue tornar “Delicate” um bem-sucedido experimento, especialmente pela forma como trabalha seus vocais, aqui acompanhados de um efeito chamado vocoder, que o parte em vários pedaços, como um coral. Mais vulnerável que boa parte do disco, a música fala sobre ela se abrir para um novo amor, que deverá amá-la por o que ela é, não por o que outras pessoas falam sobre, e quando volta para o assunto amor, a cantora tem seu ápice lírico, sendo essa uma das melhores letras do disco até aqui.


“Look What You Made Me Do”

Ao longo do disco, é comum ver Taylor Swift assumindo poucas de suas ações. Em “End Game”, ela canta sobre o que seus inimigos falam sobre ela, em “I Did Something Bad”, ela afirma que eles acham que ela fez algo ruim e, em “Don’t Blame Me”, ela pede pra não ser considerada culpada por suas ações. E o mesmo, como você sabe, se repete em “Look”, no qual ela declara: olha o ponto que você me fez chegar, olha o que você me fez fazer.

Um dos seus primeiros-singles mais inesperados de toda a carreira, traz a primeira aparição do produtor Jack Antonoff no disco e constrói uma narrativa apoteótica sob o arranjo de “I’m Too Sexy”, do Right Said Fred, com quês de “Operate”, da cantora Peaches.

Passada tantas faixas com sonoridades experimentais para a discografia da cantora, é aqui que ela, enfim, anuncia: a velha Taylor está morta. Mas isso não dura muito tempo.

“So It Goes…”

No livro “Matadouro 5”, originalmente lançado sob o título “Slaughterhouse Five” (1969), de Kurt Vonnegut, a expressão “so it goes” é usada sempre que uma morte acontece, como uma forma de pular para outro assunto. A alusão aqui faz sentido, como se essa fosse uma forma de Taylor virar a página e, assim como fez em “Look What You Made Me”, dar um fim ao que deixou pra trás.

Em 2016, a cantora havia chamado a atenção do público ao usar o termo “slaughtered”, que pode ser traduzido como “trucidada”, ao falar sobre a forma como a mídia tratava os seus encontros.

De volta às mãos de Max Martin e Shellback, a faixa abre um novo momento do disco que, daqui pra frente, soará como um lado B do seu trabalho anterior, “1989”, com toda uma sonoridade e lirismo que, facilmente, poderiam se encaixar no antigo trabalho. Como era de se esperar, a velha Taylor não está tão morta assim.

“Gorgeous”

Agora que está numa relação estável, Taylor também se permitiu cantar sobre isso e, numa audição do novo disco com alguns fãs, fez questão que soubessem e espalhassem quem era a inspiração desta faixa, seu atual namorado.

Musicalmente, “Gorgeous” lembra bastante “Blank Space”, do “1989”, de forma que, por conta de sua letra positiva, a música faz um contraponto interessante com a anterior, agora sobre um amor que é tão, mas tão bom, que até faz com que ela sinta como se fosse demais. “Não há nada que eu odeie mais do que o que eu não posso ter.”


“Getaway Car”

Quando ela viveu um relacionamento com o ator Tom Hiddleston, houveram muitos rumores de que essa aproximação havia começado antes dela terminar com o produtor Calvin Harris, e nesta faixa, Taylor trata justamente de um triângulo amoroso fadado ao fracasso.

Em várias composições, como “Blank Space” e “...Ready For It”, a cantora demonstra bastante convicção sobre saber como seus relacionamentos terminarão e, neste caso, ela sabe que está caminhando para algo complicado. “Nada que é bom começa em um carro de fuga”, diz em seu primeiro verso.

Segunda aparição de Jack Antonoff no disco, a faixa sampleia Hilary Duff e soa como uma típica canção da sua própria banda, Bleachers, que poderia ser facilmente cantada por Lorde ou Carly Rae Jepsen, e inevitavelmente figura entre uma das melhores do disco.


“King of My Heart”

No embalo do disco, “King” parece mais uma produção de Jack do que dos seus reais produtores, Max Martin e Shellback. A faixa é mais uma demonstração sobre o quanto Taylor está feliz com seu relacionamento atual, fazendo mais menções aos seus antigos namoros, para agora dizer que, enfim, encontrou o homem da sua vida.

“Seria esse o fim de todos os términos? Meus ossos partidos estão se curando com todas essas noites que passamos juntos. Em cima do telhado, com essa paixonite de escola, bebendo cerveja em copos de plásticos. Diga que me ama extravagantemente, não me dê extravagâncias. Querido, tudo de uma só vez, isso é o suficiente.”

“Dancing With Our Hands Tied”

Apesar de estar vivendo o amor que sempre sonhou, Taylor ainda se preocupa em se tornar um fardo para esta pessoa. Conversando com outras músicas de sua discografia, incluindo o verso “encoste em mim e você nunca mais estará sozinho”, de “...Ready For It?”, ela pesa o fato de que, ao seu lado, o cara provavelmente lidará com uma superexposição e, por outro lado, comemora o quanto eles têm se dado bem com tudo isso.

“Nós estamos dançando, dançando com nossas mãos atadas, sim, estamos dançando, como se fosse pela primeira vez.”

Ainda em contato com seu disco anterior, o primeiro assumidamente pop de sua carreira, “Dancing” soa como uma evolução natural para o que a cantora já havia nos mostrado, nem tão agressiva quanto as músicas que abriram o disco ou óbvias quanto as faixas que a antecedem. Seus primeiros versos são carregados por uma batida pulsante, até que ela dá uma guinada em seu pré-refrão e, já no refrão, ganha sintetizadores mais próximos do que escutamos no pop atual, como Chainsmokers e, outra vez, Flume.


“Dress”

Já que o clima tá bom, vamo transar. Por seu público mais jovem, foram poucas às vezes que Taylor Swift falou sobre sexo em suas canções e, quando o fez, foram sempre de formas bastante implícitas, utilizando-se de metáforas e eufemismos e, neste caso, a proposta não foi muito diferente.

Ela está se sentindo em êxtase pela singularidade do que tem compartilhado com ele e, temendo que isso não termine como ela gostaria, esclarece: “eu não quero você como meu melhor amigo. Só comprei esse vestido aqui pra você tirar.”

A sonoridade de “Dress”, também produzida por Antonoff, é bastante contida, contribuindo para a atmosfera mais íntima e sensual de sua letra.

“This Is Why We Can’t Have Nice Things”

Por um momento, até a Taylor se esqueceu que essa era estava focada nos seus acertos de contas, mas voltamos pras tretas com “Nice Things”. O primeiro e mais óbvio destinatário da faixa é Kanye West, mais uma vez. Apesar das desavenças públicas, foram várias as tentativas dos dois manterem uma relação saudável e, pela letra desta faixa, a cantora jura que foi ele quem fez com que tudo fosse por água abaixo.

O outro alvo, por sua vez, pode ser Katy Perry. As duas eram bastante amigas até rolar da Katy contratar uns dançarinos da Taylor e “Bad Blood” e “Swish Swish” e o resto você conhece.

E aí tem mais uma possibilidade, que seriam os membros que deixaram o seu squad, afinal, cê não consegue reunir um time de supermodelos, atrizes e cantoras e todos os seus egos, sem que isso termine em algumas tretas. Este último até foi lembrado no clipe de “Look What You Made Me Do”, pela cena em que Taylor aparece rodeada de manequins destroçados e, no final, em que sua personagem de “You Belong With Me” usa uma camiseta com o nome dos membros que seguiram dentro do seu clubinho.


Seja pra quem for, a faixa acerta em trazer uma Taylor Swift solta e bastante bem-humorada sobre toda essa confusão, com um cinismo ainda melhor do que o apresentado em “Look”, com direito a uma pausa na faixa pra ela rir de todo esse pessoal, quando diz que “perdoar é a melhor coisa a se fazer”. Não dá pra ser legal com todo mundo, Taylor.


“Call It What You Want”

Sob o arranjo minimalista de Jack Antonoff, bem próximo dos trabalhos do produtor com o último disco da cantora Lorde, Taylor Swift baixa a guarda para falar sobre o tempo em que não estava dando as caras na mídia e, ainda assim, assistia ao seu nome sendo o assunto da vez.

Logo nos primeiros versos, ela conta que seu castelo desmoronou, porque ela entrou numa briga sem saber contra o que estava lutando e terminou sendo chamada de mentirosa por pessoas que ela considera serem os mentirosos, no que pode ser mais uma referência ao caso de “Famous”, quando foi publicamente desmentida por Kim Kardashian, que expôs uma gravação da ligação em que ela concordava e aprovava os versos de Kanye West. “Eles tomaram a minha coroa, mas está tudo bem.”

Na sequência, ela demonstra ter dado a volta por cima quando, apesar de toda a confusão, ainda tinha com quem se confortar. “Ninguém tem ouvido falar sobre mim há meses, porque eu estou melhor do que eu sempre estive.”

Daí em diante, não importa os esforços de seus inimigos, ela está preocupada em continuar bem com aquele que se preocupa com ela. Neste ponto, ela ainda menciona as “rainhas do drama” e os “palhaços vestidos de reis”, talvez se referindo não só a Kim e Kanye, mas também a Katy Perry, que usa um jogo de palavras semelhante na sua música pra Taylor, “Swish Swish”. “Meu amor passa por cima de tudo isso e me ama como se eu fosse uma outra pessoa, então chame isso como você quiser.”


“New Year’s Day”

Com Antonoff no piano, assim como fez em “Liability”, de Lorde, “New Year’s Day” é a única baladinha do “reputation” e, também, o suspiro mais característico da velha Taylor Swift, que parece se recompor aos passos que a cantora deixa pra trás o ódio alimentado por suas últimas desavenças pelo amor encontrado em seu último relacionamento.

Também como na música de Lorde, os pensamentos de Taylor vão do táxi a festa que ela não gostaria que acabasse, com ela se prendendo nas memórias e torcendo pra que ele realmente não seja apenas mais um que passará por sua vida e, depois de tudo o que compartilharam, se tornará mais um estranho. “Se apegue às memórias, porque elas se apegarão a você.”

***


O disco “reputation” vem acompanhado de um poema escrito pela própria Taylor Swift, que se chama “If You’re Anything Like Me” (“Se somos parecidos em algo”, em tradução livre) e busca aproximar a sua imagem de hábitos comuns, muitas vezes distantes da ideia que temos sobre celebridades e, até aqui, do que suas próprias composições nos permitiam ver. Em um dos trechos, ela afirma: “se somos parecidos em algo, existe um sistema de justiça na sua cabeça, para nomes que você nunca falará outra vez, e você precisa tomar as decisões cruéis. Cada novo inimigo se torna aço, eles se tornam as grades que te confinam em sua própria cela de ouro… Mas, querida, aí é onde você conhece a si mesma.”

Por mais dramatizado que isso tenha soado quando dito pela primeira vez, não duvidamos de Taylor Swift em relação às discussões sobre Kanye West e Kim Kardashian: essa é uma narrativa que ela não gostaria de fazer parte. Quando fez, a cantora, que tinha todo um reinado aos seus pés, viu sua imagem sofrer a primeira crise significativa de toda a sua carreira e, no meio de tantas histórias e especulações, viu sua reputação ser colocada em xeque.

Como a própria diz no prólogo de “reputation”, existem diferenças entre ser quem você é, quem você quer que te vejam e como te veem, de uma forma que, quando tentou controlar todas essas imagens, a cantora se viu no papel da vilã manipuladora, que começou a dar as caras em “Blank Space”, uma faixa que define boa parte da sonoridade e composições deste álbum, e se tornou essa pessoa oficialmente em “Look What You Made Me Do”, onde declara a sua própria morte.


Na sua cela de ouro, que até aparece no clipe desta última canção, entretanto, é que Taylor percebe para onde está caminhando e, sendo tomada por um novo amor, encontra possibilidades além do que sua reputação permitia, alimentando as esperanças sobre um relacionamento que não esteja fadado a terminar na sua “long list of ex lovers”.

“reputation” soa como uma fase de transição que ainda não chegou ao fim, talvez dando margem pra que, em seus próximos passos, descubramos uma Taylor Swift que amadureceu com seus erros e, na melhor das hipóteses, definiu prioridades mais sérias do que meras discussões com outros famosos por puro ego, principalmente dentro de um momento em que tantos artistas têm se mostrado empenhados em usar suas vozes para causas além de seus próprios privilégios.

Musicalmente falando, o álbum demonstra uma vontade ainda maior da cantora em explorar sua faceta pop, ao mesmo tempo em que, quando parece ter ousado demais, dá alguns passos pra trás para garantir seu fiel e antigo público. Movimentos precisamente calculados, que explicam como Taylor Swift se tornou uma das maiores artistas pop da nossa geração e, inevitavelmente, mantém segura a sua reputação. Como canta na primeira música do disco, deixe que os jogos comecem!

Album Review: Lorde, “Melodrama”

Quatro anos separam o primeiro hit de Lorde, “Royals”, do disco lançado pela cantora e compositora neozelandesa nesse ano, “Melodrama”

Neste tempo, a jovem viu sua realidade mudar da água pro vinho, indo da pacata Auckland para a iluminada Nova York e trocou seu círculo de amigos de nomes como seu produtor e anônimo Joel Little para o esquadrão de cantoras, atrizes, modelos e celebridades que desfilam ao lado da estrela pop Taylor Swift.

Se em seu álbum de estreia, “Pure Heroine”, era sua adolescência e recém-descoberta fama que inspiravam suas letras, aqui o mundo megalomaníaco que foi inserida se tornou o laboratório para as suas novas composições, essencialmente mantendo o misto de desprendimento e obsessão daquela que nunca se imaginara na realeza, somados a vulnerabilidade e maturidade da menina que, antes dos 18, perdia o controle de tudo o que não tinha para se tornar o centro das atenções.

Esse é seu Melodrama.




“Green Light”

Escolhida como primeira faixa para nos contar essa história, “Green Light” é a música perfeita pra falarmos de uma transição. O título se refere ao verde de um semáforo, sinal para seguir em frente, enquanto sua letra fala de um ex-relacionamento que não foi tão sincero o quanto ela gostaria, mas agora só precisa dar a abertura necessária pra que ela se veja livre dele.

Musicalmente falando, a estrutura da canção é essencial para construir a sua narrativa, começando quase que acapela, ao som de um tímido piano, até que cresce sob batidas tão dançantes quanto algum hit lançado pelo Calvin Harris na época em que Lorde convencia todos a trocarem seu pop genérico por seu trip-hop anti-pop.

“Sober”

Com sinal verde para essa nova empreitada, ela e o produtor Jack Antonoff, também vocalista da banda Bleachers e baixista da fun., constroem uma verdadeira obra de arte tão eletrônica quanto orgânica, que dá o tom para a sua redescoberta, num momento em que a cantora dança enquanto não sabe se está no seu melhor momento ou apenas perdendo a cabeça.



Recomeços tendem a ser complicados, principalmente quando não se sabe aonde quer chegar, e em “Sober” é sobre isso que ela canta, aos passos que se devaneia com um novo amor e, após passar os efeitos da última noite, não sabe exatamente como isso a faz sentir. “Ao amanhecer, você estará dançando com todas as dores de seu coração e com a traição e com as fantasias de que está partindo. Mas nós sabemos que, quando estiver acabado, você estará dançando conosco.”

“Homemade Dynamite”

Ainda não amanheceu e, no ápice de sua noite, é com Tove Lo que Lorde se permite o êxtase, no que resultou numa das melhores experimentações desse disco. A música fala sobre uma alma com quem ela esbarrou e, apesar de não conhecer bem, se identificou totalmente. Elas dançam, piram e aproveitam a noite como se não houvesse amanhã, explodindo a porra toda como bombas caseiras.



Nesta faixa, a produção é feita sob um pop em desconstrução, com quês de Flume (“Never Be Like You”) e Lady Gaga (“Paparazzi”), até que, em seu refrão, inevitavelmente nos remete ao clássico das Runaways, “Cherry Bomb”. “Nossas regras, nossos sonhos, nós estamos cegas. Colocando tudo para o ar com uma dinamite caseira.”

“The Louvre”

Outro ponto alto de “Melodrama”, essa faixa é aberta com uma guitarra que quebra a atmosfera entusiasmada de “Homemade Dynamite” pra dar lugar a uma desajeitada declaração de amor; amor esse que ela tem ciência sobre não durar muito tempo, mas que a faz se sentir bem agora, e isso é o que importa. “Transmita esse ‘boom, boom, boom, boom’ e faça-os todos dançarem com isso.”



Com dedo do Flume, lembrado na faixa anterior, a música passeia entre cordas e sintetizadores, numa construção que, segundo a própria cantora, foi inspirada pelo disco “Blonde”, de Frank Ocean. Tanto lírica quanto sonoramente, a faixa também nos remete a “I Could Say”, de uma liricista que em muito nos lembra Lorde por sua acidez poética, Lily Allen, presente no disco “It’s Not Me, It’s You”.

“Liability”

“Eu sou um pouco demais para qualquer um”, ela entoa nesta, que é uma das faixas mais simples e, ao mesmo tempo, complexas de todo o disco. Ao piano, “Liability” é sobre a responsabilidade depositada em nós quando estamos num relacionamento, ao passo em que nos dão o peso de alcançar as expectativas de outra pessoa e, consequentemente, se ver como o problema caso algo não saia como o esperado.



Essa faixa nasceu depois que Lorde pegou um táxi enquanto ouvia “Higher”, do último disco da Rihanna, e neste ponto, é possível perceber a forma como as faixas se conversam, sendo a de Rihanna uma ligação bêbada na madrugada pra falar sobre o quanto aquela pessoa te faz sentir especial e, no caso dessa canção, uma conversa na qual “o problema não é você, sou eu”. “Todos vocês me verão desaparecer pelo sol.”

“Hard Feelings/Loveless”

“Em três anos, eu te amei todos os dias e isso me deixou fraca, porque pra mim era real. Sim, pra mim era real.” O relacionamento chegou ao fim, como ela esperava, e no mesmo estúdio em que Taylor Swift gravou o seu disco “1989”, ela se debruça a cantar sobre esse término e, como sua amiga, não poupa a dedicatória: “(...) é tarde demais e essa música é para você”.

Dividida em duas partes, o primeiro lado de “Hard Feelings” volta a explorar o inexplorado da música pop, com um arranjo que se bagunça entre sintetizadores e percussões, nos lembrando da forma desritmada em que ela se lançou com “Royals”.



No lado B, “Loveless”, o sol já está se pondo, mas Lorde se lembra que ainda não deixou a festa. Apesar de conectada a “Hard Feelings”, a faixa tem o papel justamente contrário da anterior, agora se mostrando uma luz no fim do túnel para o qual ela vinha caminhando cada vez mais fundo. “Aposto que você quer ignorar as minhas chamadas agora. Mas adivinha só? Eu gosto disso (...) Nós somos a geração sem amores. A geração sem amores. A geração do todos-fodendo-com-a-cabeça-de-nossos-amados.”

Com uma letra que facilmente resgata o conceito de “New Romantics”, também de Taylor Swift, “Loveless” traz de volta a sonoridade apresentada em seu primeiro EP, “The Love Club”, quase como se, escondida por trás de “Hard Feelings”, fosse um refúgio em que ela se encontra com Ella, seu nome fora dos palcos, para então relembrar os pensamentos daquela que debochava sobre andar com as crianças populares.

“Sober II (Melodrama)”

Quando as luzes se acendem, tudo o que resta são Lorde e seu Melodrama. Numa sonoridade que implode sob um trip-hop, semelhante ao que ela trabalhou em seu primeiro disco, mas agora com uma atmosfera monumental, que beira o gospel, ela volta a se questionar sobre o que está ao seu redor. “Todo esse glamour e o trauma e essa porra de Melodrama.”



Para quem estava decidida a recomeçar, nem tudo pode ter saído como ela gostaria e, nesta altura, ela ressalta, como se nos devesse alguma explicação: “nós te avisamos que isso era um melodrama. Você queria algo que pudéssemos te dar.”

“Writer In The Dark”

Agora em casa, a cantora não conseguiu deixar o seu coração na pista e, enquanto compõe uma nova canção, volta a lidar com as falas daquele que a fez se sentir um fardo. Tanto lírica quanto sonoramente, “Writer In The Dark” se mostra conectada a “Liability”, enquanto ela volta a cantar sobre o quanto será difícil se desvencilhar desses sentimentos, em tempo que demonstra saber onde canalizá-los: nas suas canções.

Eu aposto que você lamenta o dia que beijou uma compositora no escuro. Agora ela vai tocá-lo, cantá-lo e aprisioná-lo em seu coração.



Em seu refrão, “Writer” ganha um coro que nos remete de Bowie ao Queen, dando a faixa força o suficiente para garantir que seremos pegos pelo coração e obrigados a sentir toda a vulnerabilidade que, como pediu em “The Louvre”, ela queria transmitir para que dançássemos sobre. “Eu vou te amar até que a minha respiração pare, até que você chame a polícia atrás de mim.”

“Supercut”

Conforme transforma suas vulnerabilidades em emoções cantadas, Lorde consegue resgatar a narrativa dançante com a qual abriu o disco e, em “Supercut”, nos leva direto para os versos de outra do seu álbum de estreia: “Buzzcut Season”, na qual cantava sobre como tudo parecia bem enquanto estava ilhada com o seu amor e melhor amigo. Na hiperrealidade em que vivia como se estivesse em um holograma, “onde tudo é bom”.



Desta forma, “Supercut” cresce sob sintetizadores emprestados do disco “Body Talk”, da Robyn, com ela assistindo em sua cabeça aos momentos bons que deixou para trás e, ainda presa na versão em que foi a errada da história, os finais alternativos que poderiam existir se tivesse agido de outras maneiras. 

“Essas visões nunca param, essas fitas me envolvem por completo, mas quando tento me aproximar de você, me lembro de que é só uma grande lembrança. (...) Na minha cabeça eu faço tudo certo. Quando você me liga, eu te perdoo e não brigo. São os momentos que assisto no escuro, e os fluorescentes, que ficam guardados no meu coração. Mas é só uma grande lembrança de nós.”

“Liability (Reprise)”

Lorde repete seus últimos passos mentalmente, como quem tenta se lembrar onde deixou algum objeto esquecido, e enquanto reavalia suas atitudes, reprisa as palavras que a atingiram em “Liability”, se permitindo agora uma nova leitura.

Os devaneios da neozelandesa voltam para a festa em que tudo começou, enquanto ela se questiona. “Talvez tudo isso ainda seja a festa. Talvez todas essas lágrimas e o quão fundo respiramos, talvez tudo isso seja a festa. Talvez apenas estejamos fazendo isso de uma forma muito violenta.”



E conforme as palavras ecoam em sua mente, “fardo, demais para mim, fardo, demais para mim”, elas abrem espaço para um coro enfatizar o quanto ela pode estar errando justamente em se ver como o erro. “Você não é o que pensava ser.”

“Perfect Places”

“Toda noite, eu vivo e morro”, começa em “Perfect Places”, que revive a euforia e synths do início do disco. Nesta faixa, a cantora busca sintetizar o que cantou ao longo do álbum, fazendo ainda uma reflexão em torno da sua persona e todo o universo que, quatro anos após “Royals”, continua a entediando.

Nesse tempo em que esteve longe de tudo o que era familiar, ela aproveitou as poucas vezes que pode voltar para sua família e amigos na Nova Zelândia e, distante de todos os exageros da América, era ali que encontrava seu lugar perfeito. “Afinal, que porra são lugares perfeitos?”, canta em seu último refrão.



Entre essas vidas e mortes, a cantora lamenta a perda de seus ídolos, como David Bowie, e ressalta o quanto isso faz com que ela valorize aqueles que ainda estão ao seu lado. “Eu tenho só 19 anos e estou prestes a explodir, mas quando estamos dançando, me sinto bem (...) Todos os nossos heróis estão partindo, agora eu mal posso ficar sozinha. Vamos para lugares perfeitos!”

***


Quando a cantora neozelandesa emplacou seus primeiros hits, as gravadoras prestaram mais atenção nos artistas da internet e, não apenas desta forma, começaram a fabricar suas próprias estrelas indies, o que por si só soa contraditório, mas resultou no lançamento de artistas como Halsey, Melanie Martinez, Troye Sivan e derivados. Desta forma, Lorde não poderia simplesmente se repetir, ressurgindo com a mesma sonoridade que ajudou a pavimentar, e assim ela fez, mantendo a essência de seus primeiros trabalhos, em tempo que, musicalmente, evoluiu de maneira significativa.

A parceria com Jack Antonoff, como a própria reconhece, foi crucial para o nascimento de “Melodrama”, que entrega a sua narrativa da honestidade triste e ácida de suas letras aos muitos detalhes de seus arranjos, fazendo dele não só um disco agradável de se ouvir, mas também uma produção que nos permite assisti-lo, ainda que não seja, na teoria, um álbum visual.


Um dos inevitáveis melhores discos do ano, o segundo passo de Lorde pode não contar com a mesma atenção que ela encontrou quando era a próxima grande-coisa-pop, mas nos leva de encontro a mesma intérprete e compositora talentosa que, aos 16, colocava o mundo aos seus pés, agora para nos contar que está mais amadurecida do que nunca e, independente dos números, segura em continuar fazendo a sua arte valer mais do que ser ouvida ou comprada, mas, sim, sentida.

Album Review: a salvação do pop acontece no primeiro álbum de Dua Lipa

"Demorou, mas chegou". Podemos usar esse famoso dito popular para falar do álbum de estreia de Dua Lipa de muitas formas: primeiro, claro, por conta da série de adiamentos, que fizeram com que o disco demorasse a estar entre nós e, segundo, porque esperamos até junho para finalmente escutarmos um bom álbum pop, mas o momento chegou. 

O disco de estreia da britânica tem, como objetivo, o mesmo que qualquer outro (bom) debut: apresentar a artista ao público, definindo quem ela é, qual é sua sonoridade e como são suas letras. Se a primeira impressão é a que fica, aqui Dua precisa mostrar pra gente que vale a pena depositar nossas esperanças de boa música pop em seu trabalho e ficar atento para seus próximos passos.

Leia nossa review faixa-à-faixa abaixo:

“Genesis”

“No começo, Deus criou o Céu e a Terra, mas eu acho que ele poderia ter começado por você.” É assim, com uma música de nome “Genesis”, o significado bíblico para “início de tudo”, que Dua Lipa escolhe abrir o seu álbum. Bem conveniente, não só por abrir o disco, mas também por ser a faixa responsável por apresentar seu tema central: o bom e velho relacionamento que não deu certo. “Genesis” dá início ao álbum de uma forma perfeita: dançante, honesta, refrescante e totalmente levada pela voz limpa e única de Lipa.

“Lost In Your Light (feat. Miguel)

Sabe aquele tipo de faixa lançada antes do CD sair que quando escutamos nos soa boa, mas quando a ouvimos pela primeira vez no contexto do disco, fica ainda melhor? Esse é o caso de "Lost In Your Light". A parceria com Miguel se banha dos anos 80 pra continuar contando a história iniciada em "Genesis" e levantar o ânimo de um trabalho que só tem bangers. Não acreditamos que foi a melhor escolha para single de pré-lançamento do álbum, mas estamos certos de que a música é a ideal para te colocar de vez em seu ritmo.



“Hotter Than Hell”

Uma das melhores canções lançadas em 2015, "Hotter Than Hell" é uma velha conhecida nossa e entra na cota tropical-house inspirada em "Sorry", do Justin Bieber, que todos os artistas andaram cumprindo. Dois anos mais tarde, a música, apesar de trazer a cantora na sua forma mais confiante, sexy e ousada, já soa datada e desconexa para o restante do material, que na maior parte do tempo acerta em resgatar sonoridades passadas para o cenário atual, sem a necessidade de reaproveitar o que tem rendido para as rádios.

“Be The One”

O maior hit da cantora até agora é uma das faixas que melhor reflete o disco como um todo. Produzida pelo Digital Farm Animals, a música desacelera o ritmo do CD e aposta em uma chuva de sintetizadores em meio a um refrão pegajoso, daqueles que Lipa também nos prova saber escrever muito bem. Diferente de "Hotter Than Hell", "Be The One" continua tão refrescante quanto era em 2015, quando foi lançada.

“IDGAF”

Essa é uma das faixas que mais se afasta da proposta eletrônica do CD, e é bem mais pop em sua essência do que as anteriores. Produzida por MNEK e a única do material que não foi escrita pela inglesa, a canção tem todo um estilo "animação de torcida", com a ajuda de alguns leves riffs de guitarra, teclado e muitas palminhas. Nos soa como algo que o Little Mix faria em seu "Get Weird". É a Dua Lipa mandando o boy ir pastar, mas com muito bom humor. Não é a música mais original do mundo, mas não se leva tão a sério e, por isso, diverte.  




“Blow Your Mind”

Foi quando Dua Lipa lançou essa faixa, que entendemos o seu potencial. Apesar do longo tempo em que nos foi apresentada, “Blow” garante um dos ápices do álbum e um momento em que a artista nos mostra o que, por sua breve carreira, às vezes não fica tão clara: sua personalidade.

Debochada, poderosa, dançante e, como pede o refrão, explosiva. O pop em sua perfeição.



“Garden”

Se a britânica começou seu disco falando de "Genesis", em "Garden" ela fala do "Jardim do Éden". Depois de músicas sobre o início de um relacionamento, o fogo, as provocações, as idas e vindas, entramos aqui na parte em que a cantora entende que o casal não funciona mais e se pergunta com a voz embargada: "Estamos deixando o Jardim do Éden?" ou, em boa tradução de metáforas, "estamos mesmo saindo do paraíso do início de nosso relacionamento e entrando na parte difícil disso tudo?". Apesar de emotiva e vulnerável, e de não perder a sonoridade eletrônica nem em mid-tempos, "Garden" passa despercebida em meio a tantas músicas contagiantes e mais interessantes e serve apenas para contextualizar o álbum. 

“No Goodbyes”

Ela entendeu que o relacionamento não vai pra frente, agora é hora de deixá-lo no passado. "No Goodbyes" e o respiro final dessa história: quando você ainda tenta estar com a pessoa sem se apegar, apenas por mais uma noite. "Por que não nos seguramos, nos usamos, sussurramos mentidas bonitas?", canta Dua, em uma faixa que nos lembra bastante "Drunk On Love", da Rihanna. Apoiada por pianos e sintetizadores, o mid-tempo é grudento como a música pop pede para ser e seria uma ótima escolha para single se a cantora quisesse apostar em um lado um pouco mais orgânico do álbum. 

“Thinking 'Bout You”

Mais de uma vez, Dua Lipa falou sobre se inspirar bastante no R&B dos anos 90 e ‘oo, com o exemplo das Destiny’s Child.  Mas essa sonoridade só chega ao “Dua Lipa” quando encontramos “Thinking ‘Bout You”. Toda acústica, a faixa nos ganha por seu ritmo relaxado, que cresce quando somado aos vocais roucos da cantora - um dos melhores momentos da sua voz no disco, inclusive.

“New Rules”

Se você pensou que os saxofones do pop ficariam em 2014, quando ouvimos hits como “Talk Dirty”, do Jason Derulo, e “Worth It”, do Fifth Harmony, pense de novo. “New Rules” acerta por sua narrativa divertida, na qual a cantora narra as suas regras para superar um relacionamento fadado ao erro. Os sintetizadores estão mais presentes do que nunca, enquanto seus vocais seguem nos guiando, como uma amiga que nos aconselha em um longo telefonema.



“Begging”

Os primeiros segundos ao piano nos remete a parceria do Drake com Rihanna, “Take Care”, mas tudo muda conforme a música cresce e explode em seu refrão, sob palmas e até um coral. Os sintetizadores reúnem muito bem elementos que nos rodeiam ao longo de todo o disco e, chegando ao fim do trabalho, já nos surge a sensação de que seu dever foi cumprido.

“Homesick”

A única balada do álbum é também a última faixa de sua versão standard. Dua Lipa não se permite descansar e mostrar o máximo de sua vulnerabilidade até que você tenha dançado muito, mas quando o faz, com a colaboração de Chris Martin, nos entrega mais uma das melhores faixas do registro. Da forma como posiciona seus vocais a letra, “Homesick” traz Lipa em sua melhor forma, terminando essa edição do disco com aquela sensação de quero mais.

“Dreams”

Daquelas faixas que não compreendemos porque não está na versão standard do álbum, “Dreams” fala sobre como o amado de Dua está amando a cantora da forma correta e, mesmo com todo seu teor sexual, soa divertida e cheia de personalidade. “New Rules” está orgulhosa.

“Room For 2”

“Room For 2” é uma das faixas mais diferentes de todo o álbum. Da melodia aos vocais, a canção afasta a cantora da sua zona de conforto, numa pegada bastante alternativa, e ainda que seja um acerto, tem nesse diferencial uma boa justificativa para estar apenas em sua versão deluxe. O espaço na tracklist, ela merece.



“New Love”

Outra experimentação que funciona bem é “New Love”, faixa essa que, ainda que esteja no final do disco, foi uma das primeiras músicas apresentadas pela cantora ao mundo, lá em 2015. A música chega repleta de sintetizadores, com uma percussão bastante tímida e atmosfera introspectiva, soando singular o bastante pra não a imaginarmos com uma artista que não fosse a própria.

“Bad Together”

A mesma singularidade da faixa anterior não se repete em “Bad Together”, que nos convence, mas poderia estar no repertório de qualquer outra artista. Uma canção tímida, mas que se garante no refrão explosivo, dos synths aos vocais da britânica.

“Last Dance”

Pra terminar de verdade o álbum, nada melhor do que uma faixa que te convida para uma última dança. A voz profunda e limpa da cantora contrasta com batidas eletrônicas, algo que poderíamos claramente ver o Years & Years fazendo em seus momentos mais íntimos. "Last Dance" pode ser uma conhecida nossa de longa data, mas nunca soa ultrapassada e sempre funciona aos nossos ouvidos.



***
Em momentos de crise da música pop, que implora por artistas que mantenham o gênero vivo nas rádios e paradas, é mais do que satisfatório ver uma potencial estrela da nova geração fazer uma viagem ao melhor do ritmo na atualidade, nos provando que tá tudo bem e ainda devemos ter esperança.

Em seu primeiro disco, Dua segura bem essa barra. O álbum vem carregado de confiança, recheado de boas referências e no que ela se propõe enquanto cantora, do poder a vulnerabilidade, da diversão a sensualidade, da honestidade a ironia. Talvez seja cedo demais para cobrarmos um disco icônico e completamente original, quando nem artistas mais velhas se permitem tal feito, mas o mais importante ela fez: se mostrou uma artista que merece o nosso voto de confiança quanto aos seus próximos passos. É isso que um disco de estreia deveria fazer.

Album Review: o outro lado de Lady Gaga também é pop no disco “Joanne”

Lady Gaga, “Joanne” (2016)

Esse é um disco para poucos e que, na melhor das hipóteses, significa o “foda-se” de Lady Gaga para o que as paradas esperavam ou não vê-la cantar.


Antes de se assumir uma artista pop, com os arranjos eletrônicos do seu “1989”, não era difícil encontrar as influências mais comerciais de Taylor Swift em seus discos anteriores; assim como, quando lançou “Music”, Madonna não teve uma folga do título de rainha do pop, tirando desse, inclusive, mais alguns hits para chamar de seu, e é nesta linha que, sim, classificamos o novo álbum de Lady Gaga, “Joanne”, como mais um dos seus trabalhos pop.

Não dá para negar que a própria cantora de “Perfect Illusion” se esforçou para afastar sua imagem anterior, de hits como “Poker Face” e “Bad Romance”, mas vemos isso mais como uma necessidade de reinvenção, como aprendeu com alguns dos seus maiores ídolos, do que rejeição ao gênero que a levou para as rádios – e isso, por si só, também representa um importante amadurecimento, que reflete em suas canções gradualmente, desde o álbum “Born This Way”.

Menos é mais

Na época em que era a coisa mais louca da cultura pop para a imprensa, tinha quem dissesse que, daqui um tempo, bastaria Lady Gaga usar uma blusinha branca e uma calça jeans para chocar a todos e, sim, a própria entendeu o recado. “Joanne”, que leva uma homenagem à sua tia em seu nome, se constrói na ideia em que menos é mais e, outra vez, traz a cantora disposta a chocar, deixando para trás os milhões de acessórios que contribuíram para a iconicidade de sua imagem, pra dar lugar ao choque que faz o público se impressionar com comentários como “não é que ela canta mesmo?”.

Neste ponto, também se faz importante entender tudo o que antecedeu a Lady Gaga de “Joanne”, passando o marca-texto em trechos como o fracasso comercial de seu último – e talvez mais genérico – disco, “ARTPOP”, a reinvenção artística, a fim de relembrar os críticos que, apesar dos baixos números, ainda era uma grande cantora, e a parceria com o músico de jazz Tony Bennett, que contribuiu para o tópico anterior.

A perfeita ilusão

Embora negue estar interessada no título de diva pop, Lady Gaga gosta da forma como chacoalha a indústria sempre que sugere um retorno e, quando o fez, dividiu opiniões, mais uma vez. A parceria com Mark Ronson e Bloodpop sugeria algo extremamente radiofônico, à exemplo dos hits “Uptown Funk” e “Sorry”, assinados pelos produtores, e quando chegou ao público, se mostrou algo completamente diferente do que até Gaga já havia apresentado, com um rock de estrada, pra gritarmos a plenos pulmões, mas que escondia em sua estrutura uma fórmula matematicamente pensada para nos conquistar aos poucos. Uma genialidade pop para poucos, que não caiu nas graças do público em geral, mas faz sentido dentro do disco como um todo.



Sem mais delongas, conheça “Joanne”:

“Diamond Heart”

Todo o disco é muito bem resumido logo em sua primeira canção. “Diamond Heart” é o ápice do que Gaga já havia nos apresentado em “Born This Way”, por músicas como “Marry The Night”, com o que ela pretende explorar neste novo material. A música, uma das mais dançantes do trabalho, é marcada pelo baixo, guitarra nervosa e uma acentuada bateria, além dos quase teatrais vocais da cantora, que entoam uma letra sobre conquista, na qual ela afirma não ser perfeita, mas ter um “coração de diamante”.

“A-YO”

Na contrapartida da conturbada de divulgação do “ARTPOP”, que incluiu um vídeo em que Gaga respondia às ofensas dos “haters”, se dizendo uma artista “flop” e “acabada”, sua resposta para esse mesmo público é bem mais confiante nesta faixa. “A-YO” é, antes de qualquer coisa, um irrecusável convite para dar um dedo do meio aos que não estão com você e apenas curtir o momento. “Nós fumamos todos eles”, canta em seu refrão, sob um arranjo que passeia entre o country e o pop-roqueiro de “MANiCURE”, do álbum anterior. Uma das nossas favoritas e que melhor aproveita Mark Ronson no disco.



“Joanne”

Depois de entregar o pop que seus fãs tanto imploraram, Gaga dá espaço para a calmaria na faixa-título do álbum, numa letra que abre espaço para uma dupla interpretação. Toda no violão, “Joanne” soa como uma conversa com a sua tia, que faleceu aos 19 por lúpus, e, ao mesmo tempo, também funciona como um diálogo consigo mesma, numa redescoberta daquilo que perdeu em busca da fama –e seu monstro. “Honestamente, eu sei para onde você está indo e, querida, você está apenas seguindo em frente. E continuarei te amando mesmo quando já não puder mais te ver. Mal posso esperar para te ver subir.”

“John Wayne”

Quando desliga a ligação com sua tia, Gaga se vê de volta às aventuras amorosas de sua nova fase e, desta vez, quer ir além da paixão perigosa pelo cowboy mais famoso de Hollywood, John Wayne. A música é explosiva, grandiosa em todos os sentidos, e bota pra foder com a entrada de Josh Homme, do Queens of the Stone Age, no comando de seu baixo. “Eu não posso, sei lá, descer do seu cavalo, pra que você vá um pouco mais rápido?”

“Dancin’ In Circles”

Apesar de co-produzir todo o disco, ao lado de Mark Ronson, é em “Dancin’ In Circles” que Bloodpop, produtor de músicas como “Sorry”, do Justin Bieber, e “Devil Pray”, da Madonna, parece ter tido liberdade para brincar com Lady Gaga e as tendências das rádios atuais. A música nos entrega mais uma dose de dancehall, carregada por uma letra sobre se “divertir sozinha” – você também pode ouvi-la como uma analogia à masturbação – e ainda conta com a participação do Beck em sua composição.

“Perfect Illusion”

Existe uma expressão em inglês chamada “grower”, utilizada para descrever uma música que não te conquista nas primeiras audições, mas, aos poucos, “cresce”, até que te faça gritar “essa é minha música!11”, sem nem ao menos lembrar que em algum momento chegou a achá-la “apenas ok”. “Perfect Illusion” é uma grower. E simplesmente não podemos falar dela sem fazer menção ao Kevin Parker, da banda Tame Impala, que parece presente em cada segundo do seu arranjo. “Não era amor, era cilada.”

“Million Reasons”

Lady Gaga já havia misturado country com rock em “Yoü and I”, do disco “Born This Way”, e conseguiu uma das melhores músicas de toda a sua carreira, então por que não tentar outra vez? “Million Reasons” conta com a colaboração da Hillary Lindsey, compositora de músicas como “Jesus Take The Wheel”, da Carrie Underwood, e protagoniza um dos momentos mais emotivos de todo o álbum. “Eu tenho um milhão de razões para partir, mas, querido, eu só preciso de uma para ficar.”



“Sinner’s Prayer”

Ela não quer partir o coração de nenhum outro homem, mas sabe que é uma pecadora. A sonoridade country-roqueira continua em alta, agora com a participação de Father John Misty, enquanto ela entoa um pedido de desculpas sem qualquer arrependimento. Talvez uma das menos interessantes do álbum, pela falta de um ápice ou algo que realmente nos prenda do início ao fim. “Eu posso te levar comigo, mas não os seus fantasmas.”

“Come to Mama”

Você pensou que eu não ia fazer jazz hoje, né? Nessa faixa, além do gênero explorado por Gaga com Tony Bennett, é difícil não encontrar um pouco dos Beatles e Elton John, que são outras das grandes influências da cantora, tanto na sua sonoridade, quanto letra, que prega uma mensagem positiva de amor pelo próximo. Entretanto, por melhor que seja a intenção, é uma música que não se encaixa no álbum. “Cara, faz pouco tempo desde que vivíamos todos numa selva, então por que temos que colocar o outro para baixo quando há mais amor do que o suficiente por todo o mundo?”


“Hey Girl (feat. Florence Welch)”

E tem mais Elton John por aqui. A única colaboração vocal do álbum traz a participação de Florence Welch e, logo em seus primeiros segundos, invocam o clássico “Bennie and The Jets”, do músico londrino, mantendo o tom positivo da faixa anterior, agora com um discurso feminista de união entre mulheres. 



Quando se falou numa parceria entre Gaga e Florence, muitos – incluam a gente aqui – esperaram por algo grandioso, tanto pelos trabalhos anteriores da cantora de “Perfect Illusion”, quanto pelos ares épicos da breve discografia de Florence, com a banda Florence + The Machine, mas as duas optaram pela grandiosidade na simplicidade, uma ideia aplicada ao longo de todo o disco, com uma letra e mensagem que compensam a ausência de grandes momentos em seu arranjo, além de uma química que esperamos ouvir mais vezes no futuro. “Ei, garota, nós podemos tornar isso mais fácil se ajudarmos uma à outra.”

“Angel Down”

Aos 17 anos, Trayvon Martin foi assassinado por um guarda nos EUA, se tornando apenas mais um caso de crime por racismo no país e, algum tempo depois, um dos rostos que viria a dar força ao movimento Black Lives Matter. O jovem foi lembrado em discos como “Lemonade”, da Beyoncé, e “Blonde”, do Frank Ocean, e agora serviu de inspiração para “Angel Down”, como contou a própria Lady Gaga numa entrevista para a rádio Beats 1.

Musicalmente falando, essa abre espaço para uma trégua do lado country de “Joanne”, se assemelhando bastante às baladinhas de Lady Gaga em trabalhos anteriores, como a grandiosa “Dope”. “Tiros foram disparados na rua, perto da igreja em que costumávamos nos encontrar. Um anjo cai, um anjo cai, mas as pessoas apenas continuam de pé ao redor.” 


“Grigio Girls”

A versão deluxe do álbum é aberta pela harmoniosa “Grigio Girls”, uma homenagem a velha amiga da cantora, Sonja Dunham, que atualmente luta contra o câncer. Na música, Gaga canta, em tom nostálgico, sobre o tempo em que precisou aprender a lidar com a doença e os questionamentos quanto a razão que levou sua amiga a sofrer com isso. “Isso faz sentido?”, ela questiona, após pedir: “faça isso fazer sentido”. Uma triste celebração.

“Just Another Day”

David Bowie ficaria orgulhoso dessa faixa. Essa é a única letra composta apenas por Lady Gaga no disco, entretanto, deve muito de seu arranjo aos outros colaboradores, com menções diretas a Mark Ronson, que fez suas guitarras, baixos e teclado, ao baterista Homer Steinweiss e ao trompetista Brian Newman. “E depois de tudo, é só mais um dia.”

Na sua versão deluxe, o disco encerra com uma edição “work tape” de “Angel Down”, que sugere o registro de uma gravação única, sem correções posteriores.

***


Passados os excessos, a fase mais madura de Lady Gaga é levada pela compreensão de que, pra se fazer entender e ser levada a sério, ela não precisa vir carregada com toda a sua bagagem, assim como nem seríamos capazes de digeri-la de uma só vez. “Joanne” é simples, mas, ao mesmo tempo, de simples não tem nada. Assim como é pop e, em muitas faixas, parece ir justamente na contramão disso, com letras e arranjos que dificilmente ganharão as rádios, mas tocarão incessantemente em nosso Spotify – e, eventualmente, na nossa memória também.

De Madonna à Dolly Parton, passando por Bowie, Elton John e Beatles, o disco mantém uma importante relação entre Gaga, seu público e ídolos, como se usasse a sua música para educar-nos quanto ao que fez a trilha sonora de sua vida, com a colaboração mais do que bem vinda de nomes da atualidade, que fazem todo esse conjunto funcionar bem tanto para o público mais velho, que chega ao seu trabalho após ouvi-la cantar jazz com Tony Bennett e um clássico de “A Noviça Rebelde” no Oscar, quanto o mais novo, sedento por seu próximo passo pop e aparições nas mais altas posições da Billboard Hot 100.

Esse é um disco para poucos e que, na melhor das hipóteses, significa o “foda-se” de Lady Gaga para o que as paradas esperavam ou não vê-la cantar, embora mantenha sua necessidade de ser reconhecida como uma das artistas pop mais interessantes da atualidade. Se bater a saudade de seus trabalhos anteriores, a dica é procurá-los na plataforma de streaming de sua preferência e ouvi-los, afinal, eles continuam existindo e ainda soam bem atuais.

Album Review: “Glory” nos traz a maior Britney Spears que você respeita

Britney Spears, “Glory” (2016)

Sem pensar duas vezes, esse é o seu melhor trabalho desde “Circus” e, enfim, soa como o retorno que tanto queríamos ouvir.




Todo disco novo de Britney Spears é a mesma história: ela finalmente está voltando e em sua melhor forma. A impressão deixada é de que a credibilidade dela é tanta, que os fãs e público simplesmente não deixam de confiar no seu potencial, mas são então decepcionados por um amontoado de hits em potencial armados por grandes produtores do momento e, shiii, fica pra próxima. E é bem assim, mesmo.


Embora muitos fãs possam discordar disso, o único álbum que eu acredito fugir dessa regra foi o “Britney Jean” (2013), que não é lá de seus melhores discos e peca em ficar tão preso ao líder do Black Eyed Peas, will.i.am, mas é um bom material e entrega o que tanto gostariam: uma Britney fora da sua zona de conforto.

O problema do “Britney Jean”, além dos baixos números, que também influenciaram a reação do público, é deixar Britney TÃO distante da sua área, ao ponto de sequer soar como ela em alguns momentos, e por mais que hajam músicas fodas, como “Alien”, “Body Ache” e “Don’t Cry”, se perde nas lembranças dos que torceram o nariz para “Work Bitch” e “Perfume”, os únicos singles do CD.

Corta pra 2016. Britney Spears anuncia seu grande retorno com uma performance no Billboard Music Awards e, sem tempo a perder, protagoniza mil e uma declarações sobre uma nova fase. “Ela tá bem inspirada no The Weeknd”, eles disseram. “Será algo divertido, sexy, diferente de tudo o que ela já fez”, fala outro fulano. E o disco “Glory” chega até nós.

Um fato importante sobre “Glory”, é que will.i.am, que comandou as produções do “Britney Jean”, sequer sabia da existência do álbum até que ele se tornou notícia. Outro é que, por mais que conte com muitos colaboradores, esse é o disco em que Britney parece ter assumido o controle do que faria e como isso soaria, apostando, inclusive, em novos produtores do momento para reinventar o seu próprio som. E já aproveita pra guardar essa conversa sobre “reinvenção”, essa é a palavra.

A primeira faixa de “Glory”, funciona, na verdade, como uma introdução. “Invitation” é contida, mas já entrega o primeiro feito do disco: Britney Spears está explorando seus vocais como nunca antes. Seu arranjo mescla samples e sintetizadores com uma coisa meio trap, sexy pra caralho, numa linha que vai da Ellie Goulding ao disco “Revival”, da Selena Gomez. Te deixa animado para continuar.



Um erro de Britney nesta nova fase foi a escolha para parcerias e, depois de Iggy Azalea na agora esquecida “Pretty Girls”, ela apareceu com o tal do G-Eazy em “Make Me”. Não tenho nada contra o rapper branco, até tenho amigos que ouvem, mas sejamos sinceros, como essa música soaria sem ele? Exatamente da mesma forma. O importante é que sua participação é tão “não fede, nem cheira”, que também não atrapalha a música. Um R&B pop chicletão, que soa como aquela semi-nude que você envia para seduzir o crush, sem se mostrar por completo.

“Private Show” já traz uma Britney mais safadinha. Ela tá no comando do seu show fechado, numa alusão à residência em Las Vegas, e brinca mais uma vez com os seus vocais, enquanto propõe uma apresentação só para o cara que, neste momento, já deve estar babando pra ela. A música flerta com uma coisa levada para o hip-hop, até por seus momentos mais falados, mas tem como destaque o puxado “I put on a privaaaaate show”. É boa, mas soa um podia ser menor.

O começo de “Man On The Moon” faz uma viagem, dando a impressão de que abre um novo momento no disco. Quando chega o seu arranjo, somos levados direto para a Britney dos anos 90, que revive também em seus vocais, agora mais limpos e menos esforçados que na faixa anterior. No pop romântico, ela consegue se desenvolver entre os sintetizadores de forma bem contida, com uma sonoridade que cresce nos pequenos detalhes e letra que fala sobre dormir para sonhar com o seu amado.

Com produção do Cashmere Cat (Ariana Grande, The Weeknd), “Just Luv Me” assume uma posição menos pop, embora também possua um fator radiofônico. A música é um R&B meio AlunaGeorge, com um pé no alternativo à la Ellie Goulding, carregando uma das melhores letras do disco, na qual Britney afirma que não precisa de muito, só quer que ele a ame. Um dos versos que eu mais gosto é quando ela, aparentemente, faz referência a crise de 2007, cantando: “se você acha que eu estou dizendo isso porque estou passando por uma fase difícil, como se estivesse mascarando os problemas que venho enfrentando, você está errado, porque eu não preciso de ninguém quando estou despedaçando”. Mais forteney do que ontem.

Abre o cabaré, porque a fase Burlesque chega pra todas. “Clumsy” é a música mais divertida do “Glory” e, logo em seus primeiros segundos, dá uma nova cara para o disco. Ela é eletrônica, mas bastante orgânica. É bagunçada, mas com tudo no seu lugar. E traz uma Britney toda rainha da EDM, pra depois colocá-la cantando sob um coro e palminhas. Isso sem falar no memorável “oops”, que, é claro, nos lembra de um dos seus clássicos. Não tem como ficar parado.

E agora a gente entende que o negócio é pra dançar. “Do You Wanna Come Over” é a prova de que, quando os fãs de Britney pediam uma sonoridade diferente nos seus novos trabalhos, eles simplesmente não sabiam o que queriam, justamente porque essa é a música mais “Britney” de todo o registro e, gente, não tinha como funcionar melhor. Com cordas mescladas à potentes sintetizadores, a faixa encarna a melhor Britney Spears que você respeita, com a pergunta entoada no tom mais sexy-Spears possível: cê quer dar uma voltinha? Nossa Britney tá viva.



Cê já tá cansado, suado de tanto dançar e, definitivamente, nada sexy – como Britney provavelmente estaria, daí tem a chance de dar uma descansada com “Slumber Party”. Primeira investida da cantora nas tendências atuais, “Slumber” é um reggae-pop, que nem “Side to Side”, da Ariana Grande, e traz mais alguns experimentos da cantora com os seus vocais – aqui mais graves. O que mais me chama a atenção, além do arranjo infalível, é a sua letra, nada repetitiva e com ganchos muito certeiros. “Nós temos as velas penduradas no teto e usamos nossos corpos para fazer nossos próprios vídeos. Coloca aquela música para nos deixar loucos. Vamo ficar loucos. Que nem numa festa do pijama”.

Versatilney Spears vem acústica em “Just Like Me”, com um arranjo que abre espaço para seus vocais crescerem, mais uma vez, até que explode em outra dose de reggae no seu refrão. Na letra dessa, Britney não consegue acreditar que o cara quis traí-la com uma mulher exatamente igual a ela. Daí ela canta: “não, eu não posso acreditar. Ela parece muito comigoney”.

Em “Love Me Down”, ela tá cansada de sofrer por homem e só pede pra ele calar  a boca e amá-la. A pegada reggae tomou conta do disco, mas a conversa volta a ficar meio eletrônica, ao estilo “Sorry”, do Justin Bieber, e “On My Mind”, da Ellie Goulding. É uma delícia e grande candidata à single do disco, eu espero A levantadinha que ela dá nos vocais em seus últimos segundos é muito #livechanging.

De volta ao pop em sua mais pura fórmula, “Hard To Forget Ya” é aquela confissão de que o cara realmente não sai da sua cabeça. A música funciona bem, ainda que não seja grandiosa, e retoma a fórmula dos versos falados, agora sem pender para o hip-hop. Seu arranjo é minimalista, com um sample em looping da sua própria voz, sendo catapultada antes do seu refrão, que conta até mesmo com riffs de guitarra. “Algo em você é difícil de esquecer. Nós estamos presos aqui para sempre”.

Em seu Twitter, Britney Spears disse que gravar “What You Need” foi “divertido”. E ao ouvir a canção, duvido que ela tenha mentido. Essa faixa é bem funky, trazendo de volta o cabaré que ela abriu em “Clumsy”, mas aproveita a linearidade da sua marcante percussão pra que seus vocais cheguem ainda mais longe, embora a letra seja bem limitada. Será daquelas que podem ser tocadas durante a troca de figurinos no show.

Desde o sucesso do tropical house do Justin Bieber e dancehall do Major Lazer, Rihanna, Drake, etc, se tornou uma regra que todo disco trouxesse uma canção com essa pegada meio “Lean On” e “Sorry”, e é claro que Britney também pegou esse bonde andando. Por mais batida que seja a fórmula, “Better” acerta na ausência de exageros, repetindo o que ela fez bem em todo o disco, mas aplicada ao receitão pronto de Bieber, Diplo e companhia.

“Change Your Mind” é certeira e estranha na mesma medida. A música é meio “Circus”, meio Selena Gomez, tem uma Britney sedutora, toda trabalhada no flerte, daí de repente traz umas falas em espanhol (!), e tudo isso com um arranjo ora contido, no violão, ora explosivo, todo radiofônico. Daquelas que devem dividir os fãs.

“Pode ligar, que eu nunca vou atender. Chora, bebê, você não tá enganando ninguém. Você sabe que eu sei que você é um mentiroso”, canta Britney no refrão “Liar”. Coisa de fã ou não, todo disco dela e do Justin Timberlake tem uma música que parece ser uma resposta para o outro e, no “Glory”, diria que “Liar” é a faixa que perpetua essa teoria. A parte boa é que, se o público estiver certo, Britney finalmente saiu com a melhor nesta aqui, deixando claro que tá pouco se fodendo para todo o chororô dele. Cê não tinha nem que tá aqui, Justin.

“If I’m Dancing” é um funk-pop, que nem a produção do Diplo para a Nicola Roberts em “Beat of My Drum”, e desta vez troca os papéis, com um arranjo grande pra caralho, enquanto os vocais de Britney ficam num plano de fundo. Essa proposta musicão-pra-ninguém-reclamar é refletida em sua letra, com a cantora afirmando: “se eu estiver dançando, é porque sei que a música é boa”. A música é boa.



E se é pra deixar os fãs mais saudosos chorando depois de tanto tiro, é claro que Britney Spears trouxe de volta o seu clássico “Blackout”, só que no formato do manifesto pop francês “Coupure Électrique”, monamour! A música funciona como uma faixa de encerramento e repete o feito alternativo da sua introdução, aqui acompanhado de sintetizadores mais crus, agressivos, que constroem toda uma áurea na qual podemos a imaginar partindo, sob grandes estruturas que se fecham e, enfim, se despedem dessa gloriosa festa.

***

Quando falo que “reinvenção” é a palavra, ressalto o fato de que, embora traga certa influência de artistas da atualidade, Britney Spears não está fazendo mais do que trazendo o que sempre fez para um contexto atual, ajeitando uma coisa aqui e ali para as rádios atuais, enquanto soa como a boa e velha, digo, experimente Britney Spears.

“Glory” é um disco glorioso, com o perdão do trocadilho, e confirma em seu conteúdo a benção presente no seu título, que quase o intitula como o novo testamento da cantora. Sem pensar duas vezes, esse é o seu melhor trabalho desde “Circus” (2009) e, com ou sem o apreço do público sendo refletido nas paradas, tem tudo para, enfim, acabar com toda essa história de que ela está sempre voltando, já que soa como o retorno que tanto queríamos ouvir. It’s Britney, bitch – e isso é maravilhoso.

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