Quando o primeiro trailer de “Passageiros” saiu, lá por meados de setembro, muitos de nós ficamos um pouco irritados com o possível gigante spoiler que o vídeo de pouco mais de dois minutos trazia. A tela escurece, e antes do trailer acabar ouvimos Chris Pratt dizer, “Há um motivo para termos acordado antes”. BAM! Isso já foi o suficiente para irmos às redes sociais reclamar de que o plot principal do filme havia sido entregue e a surpresa estragada. Mas será que é realmente assim tão catastrófico a revelação do trailer? Passados quatro meses após a liberação do primeiro vídeo, fomos conferir o aguardado filme que estreou essa semana, e podemos afirmar com toda a certeza: Não! O trailer não estraga as surpresas da história.
Demorou, mas finalmente
aconteceu. Juntaram a queridinha e o queridinho de Hollywood como protagonistas
em um filme. Aliás, o protagonismo dos dois é tão grande (ou o cachê) que não
existe mais nenhum outro personagem no filme além dos dois, salvo algumas
participações especiais de míseros minutos em tela. J-Law aos 26 anos já tem um
currículo invejável. Indicada quatro vezes ao Oscar (2011, 2013, 2014 e 2016), e
vencedora de uma estatueta por Melhor Atriz em 2013, protagonista de uma
franquia de sucesso, atriz mais bem paga de Hollywood por dois anos consecutivos
e claro, não podemos deixar de mencionar o controverso protagonismo na nova
trilogia dos mutantes da Fox. É inegável que sozinha a atriz já seria um arrasa
quarteirão em bilheteria. Chris Pratt pode até não ter um Oscar, mas já é o
protagonista de um dos melhores filmes do universo Marvel, confirmadíssimo em
“Vingadores: Guerra Infinita” e protagonista da quarta maior bilheteria da
história do cinema. Os dois tem carisma, bom humor, atuam bem além de serem
maravilhosos. Só faltava o teste final para saber se teriam química em cena.
O tal teste final se chama “Passageiros” e apesar de todos os
pesares, é um filme com um excelente potencial. Uma nave leva cerca de 5.000
pessoas em capsulas para habitarem uma nova colônia em um planeta que fica há cerca de 120
anos de distância da Terra. Tais capsulas programadas para acordarem os
passageiros quatro meses antes da chegada ao planeta são a prova de falhas.
Porém, algum erro misterioso acontece e Jim (Pratt) e Aurora (Lawrence) são acordados antes do
tempo, precisamente 90 anos mais cedo. Sem poder voltar ao estado de hibernação
inicial, eles ainda descobrem que a nave está apresentando uma série de
comportamentos estranhos, e apenas eles podem fazer algo para salvar a nave e as outras milhares de pessoas. Basicamente, essa é a premissa do filme. Os
trailers divulgados ainda nos dão a entender que existe toda uma conspiração e
um bom motivo malévolo para os dois terem acordado mais cedo e a nave estar em
pane.
E aí que começam os problemas de “Passageiros”. As prévias nos vendem um
outro filme, que aparentemente funcionaria muito melhor do que o que foi
entregue. Uma trama que se fosse bem aproveitada teria resultado ao menos em um
excelente filme de ficção cientifica, mas que acabou sendo resumido rapidamente
a um mero romance com saídas preguiçosas de roteiro. Antes de falarmos do
roteiro, podemos parar aqui para elogiar as qualidades técnicas do filme. Se passando
quase que exclusivamente dentro da tal nave, o filme aproveita bastante do
conceito de futuro platinado utilizando cenários bem claros e luminosos e
tecnologias fantasiosas. O design da própria nave é incrível, mas fica mal
aproveitado dentro da história, não temos nenhuma sensação espacial dos
ambientes por onde os personagens passam e aonde eles se localizam dentro da
embarcação. O bar, onde temos os momentos de maior descontração do filme, e também
a sempre excelente participação do Michael Sheen, é um ambiente clássico e sem
nada demais. O design do androide Arthur está ótimo, foi criado para o
personagem uma figura humana, porém com rodas da cintura para baixo. Apesar de
ser curta sua participação podemos afirmar que sim, ela é o suficiente para ser
elogiada. A famosa cena em que a personagem de Jennifer Lawrence se vê presa em
uma piscina sob gravidade zero, também é digna de nota, e traz um dos momentos
mais criativos em filmes do gênero que no final se transforma em um momento curto
e de solução simplista. As rápidas cenas em que vemos o espaço foram bem
desenhadas, mas não há nada visualmente espetacular.
O filme que começa com uma espécie
de “O Naufrago” substituindo Wilson pelo androide Arthur possui bons momentos
iniciais. Ironicamente após a entrada de Aurora na história o roteiro
degringola para situações de extremos clichés. Sendo o maior e pior clichê do
filme a aparição do personagem de Laurence Fishburne, quem para não estragar a
história com mais detalhes, podemos dizer que está ali apenas como o deus
ex-machina do roteiro. Para piorar, os personagens são absurdamente rasos, os momentos de tensão são raros e muitas vezes interrompidos rapidamente, a trilha sonora é neutra e não ajuda em nada para contar a história. O final apesar de rápido até foge do convencional, e
traz uma bonita mensagem, similar ao que temos no aclamado “A Chegada”. Quando tudo
acaba, sentimos que nem todo o carisma e talento dos protagonistas poderiam
segurar a bomba de roteiro que lhes foi entregue. Apesar das claras comparações
com “Titanic”, “Passageiros” é um
filme que será esquecido horas depois dos créditos subirem e que de clássico só
possui a pretensão de ser um.