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Crítica: a autodestruição (e ascensão) de Brendan Fraser e o festival de lágrimas em “A Baleia”


Atenção: a crítica não contém spoilers, contudo, pincela alguns detalhes específicos da trama.

Darren Aronofsky, um dos meus diretores contemporâneos favoritos, já passou por um processo que acontece com todo diretor que cai nas graças de Hollywood. Eles começam autorais, com uma personalidade fílmica definida, e vão para a grande máquina, recebem roteiros prontos e perdem toda a magia que possuíam; são raros os casos que passam pelo processo e continuam entregando obras que não carregam só seus nomes, mas suas marcas - o grego Yorgos Lanthimos (com "A Favorita", 2019) e o canadense Denis Villeneuve (com "A Chegada", 2017) são exemplos de sucesso.

Aronofsky passou, mais cedo ainda, por isso. É verdade, quando dirigiu roteiros prontos, não houve problemas - "Cisne Negro" (2010) é apenas um dos melhores filmes do século -, porém, depois de retornar com um roteiro seu em "Mãe!" (2017), sua próxima empreitada seria novamente com um roteiro externo: "A Baleia", adaptação da polêmica peça de Samuel D. Hunter (e com o texto levado para o Cinema pelo mesmo autor).

Confesso que, em 2023, não havia um filme que me produzia mais expectativa que "A Baleia" - "Beau is Afraid" vem logo na cola -, por vários motivos. Primeiro, por ser um Aronofsky, e, ignorando a bomba "Noé" (2014), minha casa serve a ele. Depois, pela aclamação estrondosa de Brendan Fraser. E, por último, por ser um filme da A24. Virou queridinha da Academia? Virou. Mas não é só da Academia, é que ela é boa mesmo. A maior produtora - e paixão de 11 a cada 10 cinéfilos de Twitter - tem uma lista de sucessos tão absurda que se tornou peça fundamental na produção da Sétima Arte na contemporaneidade - não por acaso, é dona do filme com o maior número de indicações ao Oscar em 2023, "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo", também conhecido como o maior ato cinematográfico de 2022.

Mas foquemos em "A Baleia". O filme é um aprofundamento em cinco dias na vida de Charlie (Fraiser), de uma segunda à uma sexta, e como ele tenta se reconectar com sua filha de 17 anos, Ellie (Sadie Sink, de "Stranger Things"). Inteiramente passado dentro de um pequeno e escuro apartamento, com exclusivos takes que mostram o exterior do local, a obra já começa de uma maneira bastante simbólica. Charlie é um professor gay que, em suas aulas à distância, jamais liga sua webcam. A câmera vai se aproximando no quadradinho que deveria ser a imagem do professor, mas que está inteiramente preta pelo desligamento da webcam (que ele mente afirmando que ela está quebrada), e vamos nos afogando naquela escuridão que é a imagem de Charlie para as pessoas - e para ele mesmo.

O professor é um homem com obesidade mórbida. Com quase 300kg, Charlie vive reclusamente, possuindo apenas duas visitas frequentes: Liz (Hong Chau), sua enfermeira; e um entregador de pizza, que jamais o vê. Durante a fatídica semana, também, surge Thomas (Ty Simpkins), um missionário de uma igreja que esbarra em um quase ataque cardíaco de Charlie. O homem pede, ofegante, para que Thomas leia uma ácida resenha de "Moby-Dick", o clássico de Herman Melville que traça um paralelo com a própria vida de Charlie, para a total confusão do missionário. Ali surge, também, uma relação simbiótica, com o objetivo de Thomas se tornando salvar a alma de Charlie, ateu inveterado.

A única relação saudável (afetivamente falando) que Charlie mantém é com Liz, que genuinamente demonstra amor e carinho por ele. Destaquei o "afetivamente" na frase anterior porque, mesmo sabendo que a pressão de Charlie está a horas de explodir, ela ainda traz sanduíches para ele, uma pequena ação de "conforto" para o professor - por mais nociva ela seja. Ela clama diariamente que ele vá a um hospital, porém, pelos valores absurdos do sistema médico norte-americano - defenda o SUS -, ele se nega. "É melhor está morto de dívidas do que morto", pontua Liz.

Mais à frente, descobrimos o principal motivo para a negação de Charlie, contudo, fica implícito que sua atual forma também é uma grande razão para isso. Há muito preconceito com pessoas obesas dentro do meio médico, e Charlie com certeza não quer passar por mais um obstáculo. A obesidade por si só é vista com extremos maus olhos por ser a ruptura de dois padrões ao mesmo tempo: o de saúde e o estético. Darren Aronosfky, inclusive, comentou em entrevistas que teve contatos com médicos que se surpreenderam com a carga psicológica do personagem, quase um espanto por ele também ser...... gente.

O âmago do longa está, sem dúvidas, na dinâmica entre Charlie e Ellie. A garota nutre um ódio narcotizante contra o pai por ele ter abandonado a família há 8 anos para viver com o então namorado, Alan. A questão é que Alan morreu, o que fez Charlie entrar em profunda depressão e desenvolver um quadro de compulsão por comida, levando-o ao estado atual. "Você é nojento", vomita Ellie, que logo acrescenta: "Não falo da sua aparência. Mesmo se não fosse gordo você continuaria sendo nojento". A filha é absolutamente cruel com o pai, só aceitando ficar ali quando Charlie oferece dinheiro e ajuda para um trabalho. Mesmo ficando, ela não poupa as doses de crueldade, ofendendo, humilhando e ridicularizando o pai.

Um aspecto bastante inteligente na produção da fita é a maneira como o design de produção e a cinematografia trabalham o apartamento de Charlie. Primeiramente, o ecrã possui um aspect ratio (a proporção da tela) de 1:33, a "tela quadrada". Muito mais que uma escolha imagética, a tela reduzida possui dois efeitos: comprimir a história em um quadrado, aumentando a claustrofobia do todo, e enfatizar o tamanho de Charlie, que parece ainda maior com uma janela tão pequena. É como se a sensação de aprisionamento sentida pelo personagem dentro do próprio corpo fosse transplantada na superfície fílmica. Outro aspecto é: ao contrário do que vemos comumente, o sofá não está encostado na parede, e sim no meio da sala. É um detalhe muito pequeno, mas que faz total diferença no desenvolvimento das relações em cena. Todos os personagens, na imensa maioria das sequências, estão na frente ou do lado de Charlie, seja no sofá ou em alguma poltrona. Ellie, por sua vez, é muitas vezes filmada por trás do sofá. Com uma mobilidade reduzida, Charlie não consegue se virar para trás, enquanto a filha oferece um festival de ofensas. É uma dinâmica que agride por meio da linguagem cinematográfica e uma escolha estética primorosa.

Por um momento, me surpreendi que todos os ataques da garota não eram recebidos da maneira que esperava - com dor -, até entender o motivo: mesmo Ellie odiando o pai, ninguém seria capaz de odiá-lo tanto quanto ele próprio. Charlie também está desesperado para consertar a relação, mais uma carga para que ele aceite o que vier de Ellie. Seria muito fácil cair em chavões rasos da figura do mártir, aquele personagem que aceita todo o peso do mundo por possuir um coração tão bondoso, mas Charlie está longe de ser assim (ainda bem). Ele mesmo assume seu egoísmo em relação ao abandono da família, sua negligência em relação à criação da filha e seu descaso com ele mesmo. Há momentos de pureza, sim, mas também de tortura como poucas vezes já vi. Nos ímpetos de raiva, Charlie come descontroladamente, e é uma dor absurda assistir àquelas cenas.

Ele não come mais pelo prazer de comer, e sim como forma de autodestruição. Cada mordida é uma tentativa de acabar com tudo, e não consigo lembrar de um filme que demonstre esse sentimento de maneira tão crua quanto "A Baleia", e aqui reside o eixo que liga a história com o cinema aronofskyano: a obsessão - a de Nina pelo perfeccionismo em "Cisne Negro", a do marido pela sua obra em "Mãe!", a de Sara pelos comprimidos em "Réquiem para um Sonho" (2000) e a de Charlie por comida. Todas essas obsessões são o combustível que tanto move quanto incendeia os personagens de Aronofsky.

Um fato bastante intrigante é a forma como a peça original foi transposta para a tela. Procurei assistir ao máximo de trechos que encontrei na internet com filmagens de várias montagens no teatro, e todas tinham algo em comum: a plateia gargalhava. A atmosfera no palco era descontraída e leve, assombrosamente o oposto do que vemos no filme, e isso se dá a partir da direção de Aronofsky. Foi realmente histriônico ver as mesmas falas sendo ditas fora do contexto presenciado na fita, quase como se tudo ali fosse uma caricatura, e não algo "real". Não consigo imaginar, mesmo assistindo às cenas, como aquele texto pode soar tão divertido a ponto de arrancar risadas do público, o que catapulta a força do diretor ao transformar a história em algo verdadeiramente impactante. Há, sim, uma cena em específico que possui humor, todavia, até mesmo dentro do contexto do filme é uma risada modesta.

Enquanto na peça a maquiagem é bastante... evidente, no filme é completamente perfeita, e isso é mais um apontamento seminal. A caracterização de Charlie no teatro reforça a áurea de caricatura, e esse seria um resultado desastroso na fita: a seriedade que o trabalho de maquiagem assume é para evitar que "A Baleia" seja um "Norbit" (2007) ou um "O Amor é Cego" (2001). O que esses dois exemplos têm em comum? São comédias que usam maquiagem para transformar atores em personagens obesos. Esses personagens estão ali para te fazer rir, com seus corpos sendo carros-chefes da alegoria. O intuito em "A Baleia" é retirar qualquer sombra de comédia e não tornar o corpo de Charlie em elemento jocoso, e sim uma pessoa completa, que o faz ser um personagem bastante inédito.

Religião, sexualidade, estética, paternidade... O texto de "A Baleia" é recheado de camadas complexas que se desenrolam brilhantemente, contudo, há um ponto elementar de ser entendido. Aquela semana de Charlie é o resultado de um longo processo causado pela homofobia. Alan, seu finado parceiro, se suicida pela culpa cristã diante da sua sexualidade, o que acarreta toda a trama. Ao contrário da maioria dos filmes LGBTQIA+ que orbitam ao redor do preconceito e de como a vida dos seus indivíduos são acometidas por esse preconceito, "A Baleia" é um "pós". Pensemos em "O Segredo de Brokeback Mountain" (2005), por exemplo: "A Baleia" seria uma "continuação", o que ocorreu após o final do filme de Ang Lee, empurrando os efeitos colaterais da homofobia ao máximo. Ninguém agrediu Alan ou proferiu maldições a Chalie - a homofobia aqui é uma mão invisível que enforca seus oprimidos. É um sistema tão violento que não precisa de um terceiro para agir, ele invade a cabeça das suas próprias vítimas, kamikazes que sujam as mãos e tiram uma culpa que seria direta.

A carga dramática de "A Baleia" está paralela à insanidade em "Mãe!" - quanto mais a fita progride, maior a tragédia de um e o caos de outro. Somos engalfinhados por um peso emocional raro com a aproximação do fim em diálogos memoráveis pela dureza - quando Charlie fala que não quer que exista uma vida após a morte para que Alan não o veja naquele estado foi um soco no estômago. Curiosamente, mesmo com toda a dor do texto, "A Baleia" possui o final mais esperançoso de toda a filmografia de Aronofsky, no entanto, chegar até lá é uma tortuosa viagem que com certeza não agradará a todos. A cereja do bolo que refletiu o status de obra-prima para "A Baleia" veio quando, na cena final, em uma revelação que amarra toda a história, uma pessoa sentada ao meu lado na sessão levou as duas mãos ao rosto em completo frenesi. É a beleza da tristeza e a feiura da alegria em um dos mais arrebatadores finais da década, que arrancaram minhas lágrimas como nunca antes diante da Sétima Arte.

P.S.: todo o elenco de "A Baleia" está fenomenal - Sadie Sink literalmente faz o papel da sua vida -, entretanto, o que Brendan Fraser entrega é um milagre. Se houver justiça, o Oscar de "Melhor Ator" é dele.

Crítica: a exclamação do título de "Mãe!" é o aviso para uma sessão assustadora e metafórica

Atenção: a crítica contém spoilers.

Desde sua estreia no cinema, em 1998 com "Pi", o norte-americano Darren Aronofsky cunhou seu estilo narrativo: explorar as mazelas da psiquê humana. Com "Réquiem Para Um Sonho" (2000) ele aborda nosso escapismo por meio de drogas e, em "Cisne Negro" (2010), nossa busca desenfreada pela perfeição. Não importava qual o foco, era certo que seu filme causaria algum tipo de desconforto.

Mas foi em 2014 que Aronofsky saiu completamente da linha: com o épico bíblico "Noé", tudo o que conhecíamos (e amávamos) do seu estilo foi deixado de lado em prol de uma abordagem altamente comercial e hollywoodiada, não só fazendo com que a sua marca se perdesse como orquestrando um filme abissalmente péssimo em quase todos os departamentos (e embranquecido, ainda mais). Estaria ali chegando ao fim um cineasta tão brilhante? Já testemunhamos grandes nomes caírem no comercial, afinal, todos nós temos conta para pagar ("Noé" é o filme mais lucrativo do diretor), e se perderem totalmente (olá, M. Night Shyamalan!).


Em 2017, o diretor apostou num estilo em que sempre colocou o pé, mas no qual nunca se jogou com profundidade: o terror. Sua volta é marcada com "Mãe!", horror psicológico sobre uma mulher (Jennifer Lawrence, atual namorada do diretor), a mãe, e seu marido (Javier Bardem). Eles vivem tranquilos numa casa isolada, onde ela está reconstruindo do zero. A casa, que sempre pertenceu ao marido, foi destruída num incêndio, e a mulher se dedica a fazer dali seu paraíso particular com o esposo.

A vida do casal é completamente bucólica e idílica, um santuário no meio de uma floresta e longe de qualquer interferência humana. Enquanto ela passa seus dias pintando a casa ou reformando algum cômodo, ele, poeta, sofre de bloqueio criativo, sem conseguir escrever sua nova obra. Reconhecido escritor, há um verdadeiro contraste entre o sucesso criativo da esposa e o vazio do homem.

Talvez por isso há sempre um ar estranho entre eles. Mesmo exalando amor, o casal demonstra certo distanciamento, que Matthew Libatique, diretor de fotografia, faz questão de deixar claro. Exagerando ainda mais seu estilo (ele é também fotógrafo em "Cisne Negro"), sua câmera está quase o filme inteiro colada no rosto de Lawrence, garimpando cada microreação da atriz. O espectador fica a par de tudo que se passa na cabeça dela só pelos seus olhares, que começam com doçura e vão pouco a pouco enrijecendo com os acontecimentos do longa.



Certa noite um médico (Ed Harris) chega até a casa, para o espanto do casal, não acostumado a receber visitas. O homem explica que achava que o local era uma espécie de pensão, e o marido aceita deixá-lo dormir por uma noite ali, com o forçado consentimento da esposa. Como se não bastasse a chegada desse estranho, no dia seguinte aparece a mulher do cara (Michelle Pfeiffer), uma senhora bastante invasiva e sem pudores. Enquanto o marido está satisfeito pela mudança do cenário com aqueles dois, a mãe se encontra perdida ao ter que dançar conforme a música e aceitar tudo em nome da gentileza social.

Um dos maiores trunfos da película é a maneira com que o combo direção + montagem + fotografia possibilita a imersão da plateia. É impossível permanecer indiferente ao que está no ecrã. Quem está sentado do lado de cá da tela está tão confuso quanto a mãe, e vamos, juntos, como cúmplices, adentrando no terror que sua vida se torna enquanto vamos tentando desvendar a pergunta que ela faz várias vezes: "O que está acontecendo?".


E, assim como a mãe, estamos impotentes diante do caos. Num paralelo bastante óbvio com "O Bebê de Rosemary" (1968), referência gritante de Aronofsky (olhe o pôster de "Mãe!" no exato mesmo estilo do clássico pôster de "Rosemary"), a protagonista vai devagarinho vendo que seu marido está mais atrapalhando que ajudando. Há aquele limiar entre a realidade e a loucura de que o diretor tanto gosta, mas aqui não ultrapassamos os limites como em "Cisne Negro", a coisa é totalmente palpável - o que, de certa forma, deixa tudo ainda mais assustador.

O molde em que "Mãe!" se encaixa é um molde em que milhares de outros longas de terror já se encaixaram. A casa afastada do mundo, a paz que vai pouco a pouco sendo destruída, os corredores sugestivos, os jump-scares gratuitos e os cômodos misteriosos que são descobertos dentro da casa. Lembrou-se de pelo menos algum filme? Certeza que sim. O que faz com que "Mãe!" subverta os clichês é tanto o roteiro que usa os chavões como ferramenta de rápida absorção do público como os simbolismos inteligentes que tiram a obra do lugar-comum ao enriquecer sua base.


Estamos passando por um fase interessante no cinema de terror contemporâneo. Claro, as porcarias que entopem as prateleiras estão aí todos os anos, todavia, exemplares realmente comprometidos com sua arte estão ganhando espaço cada vez mais, e pode-se apontar dois caminhos para o panteão do terror: aqueles que saem da fórmula hollywoodiana, como "A Bruxa" (2016) e "Boa Noite Mamãe" (2015), e os que usam a fórmula de forma esperta, como "O Segredo da Cabana" (2012), "Corra!" (2017) e, agora, "Mãe!".

Durante uma briga, a mãe confronta o marido, que afirmou mais cedo querer ter filhos para o estranho casal, o que desestabiliza a protagonista, já que os dois nunca transam. Depois de uma (quase) violenta noite, a mulher acorda na manhã seguinte certa de que está grávida, o estopim para acabar com o bloqueio criativo do marido, que logo termina seu novo poema, uma obra-prima que vende todas as cópias rapidamente e inunda a casa de fãs enlouquecidos. Literalmente.

E, ao invés de conter a multidão, o marido goza de prazer e felicidade pelo assédio, que vai ficando mais forte e violento. As pessoas começam a destruir a casa, e, ao invés de ajudar a mãe, em pleno desespero, não dá a mínima, sempre dizendo que devemos "compartilhar" nossos bens. Por um segundo a mãe pode soar egoísta com seus gritos de "não toque nisso!" ou "isso é meu!", mas imagine você vendo sua casa sendo levada por estranhos.


O conceito fundamental que precisa estar (e está) internalizado na mente da plateia é a figura da casa. Não aquela casa do filme, e sim o local "lar". Passando-se inteiramente dentro daquelas paredes, a obra passeia de cômodo por cômodo para nos lembrar como a nossa casa é um refúgio absoluto, um ambiente onde nos sentimos protegidos em sua plenitude. Ao deixar aqueles estranhos entrarem nesse lugar perfeito, o longa nos mostra que isso é o mesmo que deixar um vírus entrar no seu corpo. O que confunde ainda mais a mãe é ver como o marido dá as boas-vindas a esses vírus, algo que mudará para sempre a atmosfera da casa.

O que poderia ser uma crítica à fama, algo que o marido parece amar e não mede consequências para ter, tem raízes mais profundas com os simbolismos que carregam o filme. A partir de agora sairemos do plano físico da história para adentrar nas teorias e interpretações: o marido é, nada mais nada menos, deus - a maior prova é a forma como seu nome é creditado no final, como "Ele", enquanto todos os outros personagens possuem nomes minúsculos. Aquela casa afastada seria uma espécie de Jardim do Éden, onde a mãe, uma espécie de entidade representativa da natureza, usa seus dias para mantê-lo intocável, até a chegada de Adão e Eva, que começam a destruir a paz local. Até mesmo os dois filhos do casal seguem a história bíblica: o mais velho mata o mais novo durante uma briga, assim como Caim e Abel.


E não é da fama que o marido gosta, é, literalmente, de ser venerado. A turba ensandecida que invade a casa são fiéis fervorosos que alimentam deus. Ele, pregando a partilha, permite que todos os fiéis destruam a casa para levar um pedaço como lembrança, afinal, quem não gostaria de um teco da morada de deus? É evidente que esse comportamento é a ruína emocional da mãe. Ela não entende as motivações do marido - toda a mitologia interpretada não alcança a realidade do filme -, e tudo vai sufocando até pular a cerca do absurdo.

Aronofsky não poupa a mãe (e o espectador) e cria imagens perturbadoras, controversas e assustadoras no último ato, composto de uma só cena gigante. Começamos vendo um leve jantar sendo preparado até a total destruição de tudo que está ali, e é desconcertante a forma como o diretor domina a fita para dar um giro de 360º na cena. Se as imagens são capazes de fechar seus olhos, o som do filme é a solidificação do horror. Toda a mixagem é feita sem trilha-sonora, apenas os sons agonizantes que ficam cada vez mais altos, para o horror do público. Há um sentimento imperativo de sufocação, agonia e pânico ao ver o que está acontecendo e como tudo foge do controle.


De forma gritante, "Mãe!" é um tapa na cara do ser humano ao retratá-lo na forma mais crua e animalesca possível - algo que lembra bastante a filmografia de Lars Von Trier. Em frenesi, nós somos representados pelos fiéis, por Adão e Eva e seus filhos, todos mesquinhos, egoístas e maldosos. Deus permite a entrada do homem no Éden, e o que fazemos? Aniquilamos, roubamos, quebramos até restar mais nada. Talvez a cena mais forte (que quase me deixou aos prantos) é quando a turba espanca a mãe aos gritos de "puta". A representatividade ali é o que há de mais puro no terror composto com Aronofsky, que coloca a raça humana espancando a própria natureza, destruindo o Éden, matando o filho de deus. Somos seres prontos para o caos.

E há muito o que debater sobre a figura de deus, aqui apresentado de forma mais semelhante ao deus do "Antigo Testamento". Quase lunático, o personagem de Javier Bardem possui um área de poder, mas se derrete ao ter o amor das pessoas - o alimento que o mantém vivo. Mesmo com todas as desgraças ao redor, ele repete que se deve perdoá-las, o que, obviamente, revolta a mãe, numa atuação correta de Jennifer Lawrence, que carrega o filme nas costas. Nos momentos em que a insanidade passa o ponto, a atriz não consegue transbordar o pandemônio dentro de si, no entanto, toda sua composição, até mesmo seu cabelo e suas roupas, são bons elementos alegóricos para construir a personagem.

"Mãe!" possui uma forte mitologia, mas não se trata de monstros ou elementos sobrenaturais. O horror é feito pelas nossas próprias mãos, e há tempos não sentia o pavor numa sessão como o servido por "Mãe!". Bebendo claramente da fonte bíblica de "Noé", Aronofsky dá a volta por cima e realiza mais um imperdível - e sim, pretensioso - capítulo de sua cinematografia, que, apesar de não ser um filme para todos os públicos, é inesquecível pelas imagens e discussões, com a exclamação do título sendo um pequeno aviso para o que está por vir.

"Mother", de Darren Aronofsky com Jennifer Lawrence, é o seu novo filme para ficar de olho

O Dia das Mães é aquela data que tiramos para demonstrar o nosso amor à estrela principal de nossas vidas. Porém, em meio a flores, almoços, presentes, abraços e beijos, Darren Aronofsky ("Cisne Negro") aproveitou a comemoração para lançar o primeiro pôster de seu novo filme "Mother!", com lançamento previsto para 12 de outubro deste ano. Muito boa a sacada, né?

A imagem, por sinal, é um tanto quanto macabra: nela podemos ver a figura de Jennifer Lawrence segurando o próprio coração arrancado do peito, como se estivesse o oferecendo para alguém. Outro ponto interessante do pôster é que ele é uma ilustração, como se fosse uma pintura, com direito a flores e alguns itens escondidos entre ou dentro delas (como um retrato, um sapo e outros objetos que não foram identificados pela equipe de perícia do It Pop!). 


Apesar de não haver muitas informações disponíveis sobre o novo terror de Aronofsky, sabemos que o longa conta também com Javier Bardem, Domhnall Gleeson, e Michelle Pfeiffer no elenco. Quanto a trama, ela gira em torno de um casal que enfrenta grandes problemas após a chegada de pessoas não convidadas na casa onde moram, acabando com a tranquilidade dos dois. A trilha sonora será de Jóhann Jóhannsson ("Sicario: Terra de Ninguém", "A Teoria de Tudo", "Blade Runner 2049"), colocando um fim na parceria de longa data entre Aronofsky e Clint Mansell.

Fofoca Tour: para quem não se lembra, Jennifer e Darren tiveram/têm um romancinho, que aparentemente começou nas gravações de "Mother!". Só isso mesmo. Pas.

Destruidora! Jennifer Lawrence já tem papel garantido em novo filme do diretor de “Cisne Negro”


Mas essa Jennifer Lawrence não cansa de ser destruidora! 

Recentemente ganhadora do Globo de Ouro por sua atuação no filme “Joy: O Nome do Sucesso”, a atriz já está com papel certo para um longa que deve estrear em 2017.

Darren Aronofsky, diretor por trás do maravilhoso longa “Cisne Negro”, foi quem fechou contrato para entregar um novo filme para o estúdio Paramount, trabalhando não somente como roteirista, mas produtor e diretor.

O papel principal fica com Lawrence, e, segundo fontes, Javier Bardem está em negociações avançadas com o estúdio para viver o papel masculino principal, que se supõe ser do par amoroso da personagem da vencedora do Oscar.

A história é um drama e conta como a vida de um casal, com uma relação até então estável, se vê em meio a uma crise quando recebem alguns convidados inesperados em sua casa, É aguardado que o longa dê as caras na próxima temporada de premiações. 

Será que vem mais prêmios para J Law por ai ?

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