Spencer (idem)
Cinematografia por: Claire Mathon. Coloração por: Peter Bernaers.
De maneira inesperada, "Spencer" é um dos filmes mais "divisivos" de 2021: enquanto o consenso da crítica é de puro deleite, o público em geral não gostou tanto assim da obra. Um elemento, no entanto, é regra: a forma como a história de aprisionamento de Lady Di é filmada com maestria. Com cores escolhidas a dedo e enquadramentos que evidenciam o estado mental da protagonista, somos catapultados para uma década de 90 cheia de glamour e solidão, como se o que está passando diante dos nossos olhos fosse uma memória que, por mais afeto injetemos, não consegue esconder sua melancolia.
O Cavaleiro Verde (The Green Knight)
Cinematografia por: Andrew Droz Palermo. Coloração por: Alastor Arnold.
Dirigido por David Lowery, mesma cabeça pro trás de "Sombras da Vida" - uma das melhores cinematografias do século -, "O Cavaleiro Verde" não tinha como decepcionar. Lowery gosta de utilizar a lente para desenvolver um universo quase paralelo, como se suas histórias não se passassem na nossa realidade, e a epopeia de "O Cavaleiro Verde" busca ser um filme feito como se fosse uma obra fidedigna dos contos fantásticos medievais, abusando de enquadramentos que evocam magia e encantamento. Todos os momentos em que o personagem do título está na tela é um show.
If I Can't Have Love I Want Power (idem)
Cinematografia por: Petra Diensbirova. Coloração por: Bryan Smaller.
O filme que acompanhou o lançamento do quarto álbum de estúdio da norte-americana Halsey, "If I Can't Have Love I Want Power" é uma extravagância imagética que não economiza na grandiosidade de suas imagens. Seguindo uma rainha que abdica de tudo em busca de poder, Halsey foi caprichosa em extrapolar a narrativa do disco com cenas encharcadas de simbolismos que vão muito além de composições visualmente bonitas - são poderosíssimas.
Nomadland (idem)
Cinematografia por: Joshua James Richards. Coloração por: Élodie Ichter.
Aquele que deveria ter vencido o Oscar de "Melhor Fotografia" (desculpa, "Mank"), "Nomadland" arrebatou a todos (e o careca dourado de "Melhor Filme") com a simplicidade em que escancarou as mazelas do capitalismo norte-americano na contemporaneidade. Fotografado pelo parceiro da diretora e oscariada Chloé Zhao, Joshua James Richards, essa mistura de road movie com cinema de denúncia contrasta suas temáticas com cenas de tirar o fôlego, capturadas com uma falsa calmaria: tua soa muito simplista, mas carrega camadas que exprimem a luta de seus personagens ao tentarem sobreviverem àqueles ambientes.
Santa Maud (Saint Maud)
Cinematografia por: Ben Fordesman.
Filmes de terror com viés religioso são um dos meus fracos, principalmente quando fotografados da maneira correta (dá vontade, "A Freira"?). "Santa Maud" é um dos exemplos de louvor. Uma enfermeira, após um acidente fatal, se converte para o cristianismo com certo... radicalismo. Sua missão na terra é salvar a vida (e a alma) de sua nova paciente, custe o que custar. Ben Fordesman (fotógrafo do maravilhoso curta musical "M3LL155X" de FKA Twigs) vai a fundo na "decreptação" do mundo de Maud, extinguindo qualquer tom de cor alegre e afundando a história em imagens lúgubres que estão mais perto do inferno do que qualquer paraíso.
O Santo Desconhecido (The Unknown Saint)
Cinematografia por: Amine Berrada. Coloração por: Laurent Navarri.
Essa pequena joia do cinema marroquino não teve o apreço que merece aqui em terras brasileiras, e espero agora mudar essa realidade. "O Santo Desconhecido" narra o conto de um ladrão que enterra seu roubo no alto de uma colina. Ao sair da prisão tempos depois, ele volta para finalmente resgatar seu tesouro, só para descobrir que o local virou santuário intocável de um santo criado por um vilarejo. Recheado de planos abertos lindos de morrer, o árido norte da África é filmado com paixão e traduz imageticamente o misticismo (e pura comédia) de um povo apegado às tradições.
Duna: Parte 1 (Dune: Part One)
Cinematografia por: Greig Fraser. Coloração por: David Cole.
Um dos projetos mais ambiciosos do século, "Duna" comprova que Denis Villeneuve entrou na ficção-científica (depois de "A Chegada" e "Blade Runner 2049") e não sairá mais dela. Elogiar os aspectos visuais do filme é chover no molhado: efeitos especiais incríveis, figurinos irretocáveis e uma fotografia perfeita compensam qualquer defeito que podemos encontrar no filme como um todo. Villeneuve e Greig Fraser foram assertivos na criação desse mundo distópico que se consolida como um épico (ao menos no trato do ecrã). Oscars virão.
A Morte de Dois Amantes (The Killing of Two Lovers)
Cinematografia por: Oscar Ignacio Jiménez. Coloração por: Drew Tekulve.
Fincando no interior dos EUA, "A Morte de Dois Amantes" é o suprassumo do cinema indie. Um casal em crise decide dar um tempo. A regra é: cada um pode se envolver com outras pessoas, sem ressentimento. A regra é bem seguida pela esposa; já para o marido, ver a amada conseguindo seguir a vida sem ele é uma tortura. O longa se passa através do ponto de vista do marido, que vê seu relacionamento ruir impotentemente, e as imagens da fita são a combinação ideal para a destruição psicológica do fim de um romance - aqui, levado para extremos perigosos demais.
Luz Eterna (Lux Æterna)
Cinematografia por: Benoît Debie. Coloração por: Marc Boucrot.
Parceiro de cinematografia de Gaspar Noé, Benoît Debie sabe, desde "Irreversível", como o diretor é quase um ditador ao tratar suas imagens com o maior choque possível. Depois da festa mais caótica de todos os tempos com "Clímax", Debie vai ainda mais longe no média-metragem "Luz Eterna": são múltiplos trabalhos de câmera, que muitas vezes são colocados lado a lado na tela mostrando pontos de vistas diferentes do inferno que é a filmagem de uma obra. Um filme dentro do filme, "Luz Eterna" é ousado e desconcertante ao querer provar que o pandemônio não é sua história de bruxas high-fashions prestes a serem queimadas na fogueira, são os bastidores.