Há 10 anos, a Marvel deu início ao seu grandioso universo cinematográfico que, se comparado a situação atual, deu passos tímidos com personagens que somente os fãs de quadrinhos se importavam. Entretanto, graças ao carisma de Robert Downey Jr. e a insistência da própria quadrinista, em 2012, Homem de Ferro (Downey), Thor (Chris Hemsworth), Hulk (Mark Ruffalo), Capitão América (Chris Evans), Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) e Viúva Negra (Scarlett Johansson) — a única heroína em 4 anos de universo — se uniram para "Os Vingadores".
Naquele ano, a sétima arte presenciou algo único. Produções cinematográficas para os super-heróis já eram algo empreitado por alguns estúdios; a Fox cuidava de seus X-Men, enquanto a Sony e Warner se atrapalhavam nos planejamentos, apesar de filmes satisfatórios. Porém, nenhum estúdio teve a ganância de interligar seus filmes e criar um grande evento que fosse quadrinho puro, mas palatável ao grande público: prova disto é a arrecadação de U$ 1,5 bilhões do filme.
Não satisfeita com a excelente execução pré-créditos, a quadrinista nesse filme jogou uma bomba aos fãs: Thanos. Uma simples cena do vilão olhando para a câmera após os créditos foi motivo de muito burburinho. Após muito deslize, a contribuição de filme após filme de que Thanos (na época, Gamion Poitier) era alguém a se temer, 12 filmes e 10 séries, finalmente pudemos conhecê-lo em "Vingadores: Guerra Infinita".
O filme dirigido pelos Irmãos Russo ("Capitão América: O Soldado Invernal") traz a jornada do titã Thanos (Josh Brolin) em busca das Joias do Infinito para completar sua Manopla e poder destruir metade do universo para assim estabelecer o equilíbrio ao estalar dos dedos. Ao descobrirem os planos do vilão, os Vingadores e Guardiões da Galáxia tentam de todas as maneiras possíveis impedir o genocídio.
"Guerra Infinita" é um filme sobre o Thanos.
É inegável que "Guerra Infinita" é um filme sobre o Thanos, tanto que ele é o personagem com mais tempo de tela, e sua motivação é a mais ordinariamente mórbida do gênero, porém é justamente por estes dois pontos que a produção se sobressai.
Um dos grandes problemas da Marvel nestes 10 anos é a construção de seus vilões. Priorizando o herói, o estúdio peca ao tentar trazer vilões que sejam ao mínimo críveis — para o público e personagens — porque não há tempo disponível para estabelecê-lo e suas motivações soam sempre a mesma — não dentro do leque Marvel Studios, mas dentro das produções em geral do gênero.
Com o vilão se tornando o protagonista da coisa toda, o filme consegue estabelecer facilmente que a personagem acredita veemente que destruir metade do universo é realmente a melhor solução para os principais problemas. A demonstração de poder absurdo, algumas mortes iniciais e o medo dos outros personagens quanto ao Thanos, também contribuem positivamente para ele e seu plot. O único ponto duvidoso quanto a sua construção é a forma que optam para humanizá-lo.
Além da construção do personagem principal, um dos maiores desafios de "Guerra Infinita" seria trazer uma narrativa coesa que conseguisse transitar entre os núcleos principais e seus sub-núcleos sem parecer ser uma saladona sem tempero. No saldo final, as transições são sutis, e ganham um necessário ritmo frenético e desesperador na última meia hora quando os dois grandes núcleos estão prestes a se cruzar.
Mesmo com o destaque dado ao Thanos, os demais personagens não são realmente prejudicados e ganham o seu momento para o deleite dos fãs. Claro, acontece de um ou outro ter seu potencial perdido, mas como "Guerra Infinita" é um prelúdio de algo maior, é compreensível algumas escolhas que "ocultam" certos heróis. O próprio Capitão América (Chris Evans) é deixado de lado, por exemplo.
A interação entre os personagens é outro ponto a ser ressaltado. "Guerra Infinita" não nasceu somente para vermos Thanos comendo o c* dos heróis, mas também para vê-los conversando, lutando juntos e se protegendo. Ver a Viúva Negra e a Dora Milaje Okoye (Danai Gurira) defendendo a Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) e o mega trabalho em equipe dos personagens para tentar pegar a Manopla em Titã dá uma aquecidinha no coração do fã e é divertido pra caralho. A ação é um dos grandes triunfos da produção.
Se "Os Vingadores" teve o desafio de tornar palatável uma preparação de 4 anos ao grande público, com "Guerra Infinita", o desafio foi maior, mas o sucesso é o mesmo. Ainda com o público fiel, o estúdio se preocupou em restabelecer certos pontos para que alguns acontecimentos tivessem quase o mesmo peso para o espectador de primeira viagem. Prova disto é a morte de Peter Parker (Tom Holland), grandiosa por si, ganha um peso imenso por diálogos curtos que consegue transparecer como é a relação mestre-aprendiz que tem com Tony Stark.
A comicidade está quase no ponto e dramalhão tanto ansiado é o prato principal.
Com nem tudo é um mar de joias do infinito, o roteiro peca muito em certas soluções escolhidas que contribuem em nada para a trama. Thor ganhando um novo olho e Hulk birrento são pontos irritantes que não tem propósito algum além de ser cômico. Inclusive, ainda com algumas ressalvas, a comicidade está quase no ponto e dramalhão tanto ansiado é o prato principal.
Após 10 anos, finalmente conseguimos ver a Marvel sabendo lidar e desenvolver consequências que realmente podem ser significantes daqui em diante — ainda é cedo para ter certeza. Metade do universo morreu e a escolha a dedo dos Vingadores mortos só reforça o quão bem planejado o universo cinematográfico é.
O saldo final é de que " Vingadores: Guerra Infinita" consegue ser totalmente único em meio ao gênero saturado. É mais do que satisfatório ver o estúdio acertando justamente nos pontos onde mais pecou ao longo dos 10 anos; além de saber traçar uma trama que agrada desde o fã de quadrinhos mais birrento que não consegue entender que o filme é uma adaptação, até o espectador casual que sequer sabe quem é o Thanos. "Vingadores: Guerra Infinita" consegue ser aquilo que todo mundo sempre quis: ser íncrível.