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Duda Beat amadurece com pop chique e sofrência no brasileiríssimo “Te amo lá fora”

“Sei que você não vale nem um pouquinho, mas, mesmo assim, quero te dar meu carinho”, canta Duda Beat em “Nem um pouquinho”, faixa levada pelo pagodão baiano e com participação do baiano Trevo que, inevitavelmente, se sobressai na primeira audição do disco “Te amo lá fora”, sucessor do álbum de estreia “Sinto Muito” lançado na noite da última terça-feira (27).

Em sua letra, a música traça ainda um paralelo com seu maior hit, “Bixinho”, e é a partir dele que todo o disco parece se moldar, se apresentando uma sofrência pop chique, que transita por vários ritmos brasileiros como se eles sempre estivessem estado de mãos dadas.

Apesar da distância dos palcos, o álbum é muito bem construído para ser apresentado ao vivo. Outra parceria, “Tu e Eu”, com Cila do Coco, pede por uma plateia com coro e palminhas pra cima. “Se tu me amas como falou, não rejeitaria meu amor, não faria isso comigo, não.”

“Game” é mais uma que se sobressai. “Me perguntei por que o amor não conquista o amor”, questiona a artista sobre os jogos emocionais que baseiam os relacionamentos atuais sob uma batida de trip-hop à brasileira.

Após uma interlude que ambientaliza o final do disco, “Meu coração” se guarda como a balada mais esperada de seus próximos shows — “meu coração vive de imaginação”, canta com uma melancolia contagiante — mas é na dançante “Tocar você” que o disco chega ao fim, numa pista de dança que exorciza seus amores para, enfim, se libertar. “Nosso amor ficou só comigo.”

“Te amo lá fora” foi composto pela própria artista, com produção da dupla Lux & Tróia, com quem também trabalhou em faixas como “não passa vontade”, com Anavitória, e “Meu jeito de amar”, com Mulú. Ouça o álbum completo no player de sua preferência.

O “Brazil” que eu quero! Gloria Groove entregou tudo nessa parceria com a Iggy Azalea


“O Brazil não conhece o Brasil!” Cumprindo sem prometer, a cantora australiana Iggy Azalea levou mais um brasileiro para a sua discografia e passadas as parcerias com Anitta (“Switch”) e Pabllo Vittar (“The Girls”, além de um suposto quase feat em “Bandida”), chamou a rapper de Vila Formosa, Gloria Groove, pra mostrar o Brasil que queremos para o mundo. She is a girl from São Paulo.

Melhor contextualizada, impossível: a colaboração entre as artistas aconteceu no remix da faixa “Brazil”, lançada por Azalea no EP do seu single mais recente, “Sip It”, trazendo Gloria cantando em inglês e português ao som do beat inspirado no funk brasileiro. Não poderia ter funcionado melhor.

Levando para os gringos o mesmo teor das suas rimas em português, Groove não poupou esforços e fluiu ao longo de linhas que vão das críticas às posturas dela e Iggy Azalea à política brasileira, fechando com o verso que nos representa mais do que samba e futebol: “O que me faria feliz de verdade? Vacinação e impeachment.” É sobre isso!

Ouça o remix abaixo:

“Brazil” e “Sip It” foram lançadas como amostras do novo trabalho de Iggy Azalea, que deve lançar ainda neste ano o disco “End of an Era”. Gloria Groove, por sua vez, segue promovendo o EP de R&B “Affair”, do qual trabalhou canções como “Vício” e a baladinha “A Tua Voz”.

VERSOS DA GLORIA GROOVE EM “BRAZIL”

You really wanna know, tho, Iggy? (U know what?)

They wonder why I be the bad kitty (Y tho?)

But they ain’t seen you & me, did they? (Nope!)

You and me, that’s a bad bitch committee (Rah!)


I be sweeter than honey on mango (So sweet)

I be seen with the boys in the bando (So cool)

I be flippin’ the tempo (Flip it!)

Isso não é paredão   

Mas o Brasil tá vendo (O Brasil tá vendo, hein!)


Eu não tenho mais tempo (Não!)

Só me dá meu dinheiro

Esse é o meu passatempo (E me dá meu dinheiro!)

Tô vivendo um momento 

Catastrófico e tenso (Ahhh!)


Wanna work out? Imma flex ya

Imma twist ‘er like Alexia 

Brought the ding-a-ling to impress ya

Want a lookalike? Call Halessia (Hey, pretties!)


Stealin’ the show with the I-G-G-Y

Festival season “miga, vem pra cá!” 

This ain’t no jet, but we lookin so fly  

Jogando a raba, boys be like “ah”


O Brazil não conhece o Brasil (Não conhece)

O Brazil não conhece o Brasil (Nunca foi)

O Brazil não conhece o Brasil (Nunca viu)

O Brazil não conhece o Brasil!


E dessa novela eu sou vítima 

A calamidade é legítima

O que me faria feliz de verdade?

Vacinação e impeachment! 

Hahahaha…

Welcome to Brazil, bitch! 

Byeee

Se despedindo em grande estilo, Anitta se une à MC Rebecca no funk 170BPM de “Tô Preocupada”


MC Rebecca está preocupada com Anitta. Em sua música nova, “Tô Preocupada”, a artista reencontra sua parceira de “Combatchy” para um de seus lançamentos mais importantes do ano, afinal, a faixa marca a despedida de Anitta do funk e das músicas em português, pelo menos por enquanto.

Através de um bate-papo pelo Clubhouse, a dona de “Me Gusta” adiantou que esse feat com Rebecca seria sua última música focada no público brasileiro, para que, enfim, possa se mudar para o exterior e dar início aos planos reservados para o álbum internacional “Girl from Rio”, executivamente produzido por Ryan Tedder.

Saindo em grande estilo, “Tô Preocupada” é tudo o que os fãs da cantora tanto pediram em seus últimos lançamentos: funk carioca aos moldes atuais, acelerado até 170BPM, com letra repleta de putaria — filtrada por alguns jogos de palavras, mas, ainda assim, putaria.

Na canção, Anitta está dando dor de cabeça pra amiga Rebecca por perder a linha sempre que encontra um tal de “gostoso” que, pra quem é chegado no TikTok, deverá pegar a referência. Sem tempo pra sermão, entretanto, a cantora logo pede: “para, me deixa, não me controla.”

A dinâmica de diálogo, diferente das últimas parcerias de ambas as artistas, nos teletransporta direto aos tempos de Furacão 2000, época em que era comum encontrarmos duplas duelando através do batidão, enquanto o arranjo do funk ao afrobeat se aprofunda na estética dos bailes de favela do Rio de Janeiro de 2021 mesmo, com influência direta de artistas como as MCs Nick (“Mete com força”) e Ká de Paris (“Rebola e Joga”, “Sequência do Bota Bota”).

Hit trocado não dói

Uma curiosidade que deve chamar a atenção dos fãs são os créditos de produção da faixa, assinada pelo DJ Will22 que, entre outras coisas, esteve também por trás da faixa “Cobra Venenosa”, especulada como uma indireta musical de Ludmilla para a própria Anitta. Parceiro de longa data da cantora de “Pra Te Machucar”, Will também é o nome por trás de hits como “Rainha da Favela” e “Não Encosta”.

Fora do BBB, Jão apresenta o single “Coringa”, primeira carta de seu novo disco


Uma das principais revelações do pop brasileiro dos últimos anos, Jão está pronto para, com ou sem BBB, dar sequência aos seus projetos com a chegada do álbum sucessor de “Lobos”: até então apelidado pelos fãs e pelo próprio cantor como “J3” (“J”, inicial de seu nome, “3”, por se tratar do seu terceiro registro). Sumido das redes sociais desde o fim do ano passado, cantor esteve nas tantas listas de especulações sobre o reality da Globo e deixou a conversa rolar. Agora reaparece com música nova e fala até em como acha que se daria bem se estivesse no programa.

Considerado pelo cantor uma gravidez em seu estágio inicial, a nova fase do artista foi iniciada a partir do single “Coringa”, onde retoma as raízes de seus primeiros lançamentos e promove dois reencontros: musicalmente com Zebu, produtor que assinou um dos seus covers de maior sucesso antes da chegada do seu primeiro CD, uma versão pop lo-fi de “Medo Bobo”, da dupla sertaneja Maiara & Maraísa; e técnica e visualmente com toda a equipe com quem trabalhou em seu clipe de estreia, “Imaturo”, que terá uma conexão com o vídeo da música nova.

Em termos de sonoridade, “Coringa” é uma carta garantida aos que já são fãs do trabalho de Jão: faz um pop acústico sobre amor, com uma proposta à la Dua Lipa e Ed Sheeran acordando nos anos 2000.

Numa fase muito mais estabelecida de sua carreira, Jão se permite fazer o tipo de música que o interessa, sem ceder às pressões do que é ou não comercial. Falando sobre isso, ele cita o single “Louquinho” (2019), que deixou de fora do seu último álbum. “Tentei fazer algo que o mercado esperava de mim, mas não me senti confortável e feliz.”

Já “Coringa”, não só foi devidamente aprovada pelo artista, como até se tornou seu próprio vício. Na manhã desta quinta-feira (25) chega ao Youtube o seu videoclipe.

Nova fase: Francinne assina com gravadora de k-pop e planeja álbum bilíngue para este ano

Depois de nomes como Anitta, Ludmilla e Pabllo Vittar, o pop brasileiro pode estar prestes a levar mais um nome nacional para as rádios e paradas internacionais.

Conhecida pelo início de carreira como cover da Britney Spears e, desde 2015, investindo em seu próprio nome pela música eletrônica, pop e, em seus trabalhos mais recentes, também funk, Francinne tem dois álbuns na carreira: “Na Pele”, de 2016, e “La Rubia”, de 2018. Mas foi chamar a atenção do grande público mesmo com os singles que sucederam esse último trabalho, incluindo faixas como o feat com a Wanessa em “Tum Tum” e o pop com quês de Dua Lipa cantado em português de “Atura ou surta”.

No último ano, lidou com o término conturbado de um  relacionamento com o produtor Mister Jam, que também gerenciava a sua carreira e, desde então, têm enfrentado problemas em relação aos direitos de suas músicas, incluindo a remoção de suas faixas mais conhecidas das plataformas de streaming e Youtube.

Para esse ano, entretanto, Francinne quer dar um passo maior. A cantora assinou contrato com a gravadora sul-coreana LL Entertainment, se tornando a primeira artista brasileira sem ascendência asiática do seu catálogo, e pretende lançar um disco com músicas em português e coreano, mantendo seu público aqui, enquanto conquista um novo espaço com sua divulgação por lá.

O álbum, adianta a gravadora, será gravado totalmente fora do Brasil, mas terá sua primeira fase de divulgação por aqui, seguindo então para a Coréia do Sul e se estendendo por outros países da Ásia e Europa. A ideia é que seja um trabalho gradual e contínuo, com planejamento a longo prazo.

“É um projeto inédito no Brasil e no mundo, será produzido totalmente na Coréia do Sul e cantada em dois idiomas, português e coreano”, conta o CEO da gravadora, Leo Lee.

O primeiro contato de Francinne com o público do k-pop aconteceu em sua parceria mais recente, “Te Quiero Mas”, lançada pelo cantor Spax, na qual os dois se dividem entre versos em português, espanhol e coreano.


Do pop ao funk 150bpm, Luísa Sonza vai te dar aulas de sentada com MC Zaac em “Toma”

Pode pegar o bloquinho de notas e começar as anotações, porque Luísa Sonza e MC Zaac estão prontos pra te ensinar o único exercício possível aos que estão quarentenados com o arroba e sem muitas opções do que fazer em sua música nova.

Sucedendo os hits “Braba” e “Flores”, essa última com participação do cantor Vitão, a cantora brasileira Luísa Sonza dá sequência na divulgação do seu segundo álbum com a faixa “Toma”, produzida pelo coletivo Brabo Music Team, com quem trabalhou anteriormente em outra que amamos: o feat com a Pabllo em “Garupa”.

Mais uma vez acompanhada, Sonza conta aqui com a participação do MC Zaac, que também colaborou com o Brabo Music Team em “Desce pro play”, e chega batendo nos 150bpm nessa mistura de pop com batidão de funk que só quer saber de uma coisa: agachar e tomar.

Não sem antes, é claro, prender o cabelo e flexionar o joelho. Acho que decoramos. Ouça abaixo:


“Toma” já teve seu clipe gravado, a produção chegará ao público na manhã desta sexta-feira.

Pare o que estiver fazendo e vem conhecer a Quebrada Queer, o primeiro grupo LGBTQ de rap do Brasil

O rap nacional ganhou uma novidade poderosa na última semana com a estreia do grupo Quebrada Queer, primeiro cypher a ser composto exclusivamente de artistas LGBTQ no Brasil e na América Latina. O primeiro trabalho do grupo foi apresentado pela plataforma RapBox na semana passada e veio acompanhado de um clipe, apresentando uma proposta de resistência e combate à normatividade típica do gênero.



O Quebrada Queer é composto por Guigo, Harlley, Lucas Boombeat, Murillo Zyess e Tchelo Gomez, rappers negros, gays e vindos da periferia de São Paulo, que formaram o grupo de forma totalmente independente e com o objetivo de trazer suas experiências como pessoas queer no Brasil para o cenário do rap no país.

Um momento histórico para o gênero musical que tem uma carência enorme de representatividade LGBTQ, se comparado com a indústria pop, por exemplo. O lançamento chamou atenção e foi apoiado por grandes nomes LGBTQ da música nacional através das redes sociais, como Pabllo Vittar, Linn da Quebrada e Mateus Carrilho.

A estreia do grupo é um reflexo claro de que não se pode limitar artistas queer e a sua produção a uma só caixinha. Novos nomes continuarão a surgir e mostrar que as suas histórias e experiências tem lugar nos mais variados espaços, gêneros e ritmos.

Fortaleça o trabalho da Quebrada Queer também no Spotify:

Crítica: palhaços, luzes neon e cocaína sustentam o mito por trás de "Bingo: O Rei das Manhãs"

Todos os anos, no segundo semestre, começa o mata-mata para selecionarmos o indicado brasileiro ao Oscar de "Melhor Filme Estrangeiro". Depois do fiasco que foi a escolha de "O Pequeno Segredo" em 2017 ao invés de "Aquarius", o que maculou o andamento dos bons filmes indicados nos anos anteriores ("O Som Ao Redor" em 2014, "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" em 2015 e "Que Horas Ela Volta?" em 2016), voltamos aos trilhos com "Bingo: O Rei das Manhãs" para a vaga de 2018.

Apesar de ter influência distante dos grandes nomes da categoria, como os favoritos "Loveless" (Rússia), "Uma Mulher Fantástica" (Chile), "The Square" (Suécia) e "120 Batidas Por Minuto" (França), "Bingo" tem um poderoso reforço: foi comprado pela gigante Warner Bros na distribuição mundial. Com promoção em grandes sites de cinema americanos, o filme tem ganhado destaque na corrida e estreará internacionalmente no pico de atenção dos votantes. Uma indicação ainda é sonhar alto, coisa que não temos desde 1999 com "Central do Brasil", porém, com indicação ou não, é um filme que merece ser visto.
Imagem promocional da campanha internacional de "Bingo", destacando críticas positivas e o BAFTA de Rezende.

"Bingo" é dirigido por Daniel Rezende, montador indicado ao Oscar e vencedor do BAFTA (o Oscar britânico) por "Cidade de Deus" (2002), um dos principais motores para a divulgação internacional do longa. A obra retrata a vida, a ascensão e a queda de Bozo - ou Bingo (Vladimir Brichta) na versão cinematográfica, já que "Bozo" é uma marca registrada americana -, o palhaço mais famoso do país e apresentador do programa que dominava as manhãs da década de 80 - o "Programa do Bozo".

A produção em si carrega uma dualidade do próprio Bingo: parece uma obra recheada de palhaçadas (e, de fato, é), todavia, há uma crueza dos bastidores da vida de Augusto Mendes, o homem por trás da maquiagem. Ator de pornochanchadas, ele cai nas graças do estrelato ao convencer um produtor americano de que deveria ser o personagem título na versão brasileira da franquia. A cena, feita em sua essência igual ao que realmente aconteceu, mostra Augusto xingando o produtor (em português) enquanto toda a equipe cai na gargalhada. Mesmo sem entender o que ele falava, o produtor o contratou pelo rebuliço causado. No mínimo, curioso.


Então entramos num dos motes mais expressivos do filme: os corredores da produção de um programa de televisão. Numa era pré internet, mundo digital e computadores, tudo era feito no braço. O longa mostra os ensaios do Programa do Bingo, e, ao mesmo tempo, dá uma amostra do caos que é filmar um programa ao vivo. A diretora, Lúcia (Leandra Leal, nossa pérola do cinema), se descabela tentando fazer com que todos os milhares de detalhes saiam dentro dos conformes.

Mas e quando o apresentador é uma variável instável? Bingo começa seguindo o roteiro à risca, e desde já percebe: traduzido direto do original americano, aquele texto jamais fará sucesso no país. Após fracassadas tentativas dentro do molde que Lúcia insiste em que ele se enquadre, Augusto vira o rei da anarquia e começa a tocar o programa à sua maneira, para o bem ou para o mal, adicionando o jeitinho brasileiro na rigidez americana. Se o texto dizia para as crianças obedecerem o papai e a mamãe, Bingo gritava "façam bagunça!".


Temos aqui um retrato dos absurdos da televisão brasileira na década de 80. Visando bater de frente com a audiência, Augusto traz Gretchen (a única personagem efetivamente real do filme, interpretada por Emanuelle Araújo) para dançar o hit "Conga Conga Conga" ao vivo. Com um vestido curtíssimo que, a cada rebolada, subia cada vez mais, ela performa no meio das crianças, que pulam felizes ao som do cântico que fez Maria Odete ser quem a rainha dos memes que hoje é. Completamente inapropriado, o evento é um reflexo dramático fiel do que rolava nesses programas - não podemos esquecer do clássico "Short Dick Man" no palco da Xuxa em 1995. E nesse solo fértil do politicamente incorreto liberado para alcançar o pico de audiência, Augusto é o deus da sociedade do espetáculo.

No topo do mundo, sendo o rosto mais amado pelas crianças do país, há um binarismo na vida do protagonista: por contrato, ele não pode revelar a identidade por trás do Bingo, fazendo-o ser o anônimo mais famoso do país. Se no início do estrelado a fama e os prestígios eram o apogeu de Augusto, tudo foi pouco a pouco soando amargo por não ter, de fato, esses prazeres em suas mãos, e sim nas mãos de Bingo. A maquiagem, uma verdadeira máscara, se torna uma prisão, vislumbrada pelo público quando, ao ganhar um prêmio, Augusto, apenas em sua imaginação, deseja subir ao palco e tirar toda a maquiagem para ter o reconhecimento pessoal que merece.


A união dos tormentos e delírios dessa fama torta é composta com muito sexo, álcool e cocaína. O homem não mantém mais o pique de gravações e, viciado, só consegue sustentar as cinco horas seguidas do programa à base do pó, culminando numa das melhores cenas do longa, quando ele vê seu nariz sangrar graças à droga ao vivo, no meio do palco.

Inversamente proporcional ao seu próprio estrelato, Augusto vê seu relacionamento com o filho se diluir quando o menino diz que o pai é o único que brinca com todas as crianças, menos com ele. Muito mais que os entorpecentes, ele estava viciado na fama. Numa cena bastante emblemática, o pai quebra uma televisão que mostrava - numa alucinação - ele mesmo tentando em vão tirar a maquiagem do Bingo, como se ela estivesse permanentemente presa em seu rosto. Filmada com um falso plano sequência belíssimo, todo o momento demonstra o quanto aquele símbolo do sucesso se tornou o pior pesadelo de Augusto. Como diz a campanha internacional do longa, palhaçadas podem custar sua alma.


"Bingo: O Rei das Manhãs" trata-se de uma cinebiografia correta, com começo, meio e fim bastante redondos (o final é desnecessariamente formulaico, inclusive), fotografia e design de produção no ponto e uma força imagética memorável ao unir as cores aberrantes do universo do palhaço com o submundo depressivo que é sua vida por trás do nariz vermelho, encaixando-se no molde de ascensão e queda que tanto vemos em outros filmes do tema.

A obra é, também, uma viagem (por vezes macabra) à cultura da celebridade e como ela afeta o ser humano e as relações com as pessoas ao seu redor, carregado com bastante louvor por Vladmir Brichta. Num país recém saído da ditadura, Bingo era um símbolo de expressão além dos limites, dentro e fora da tela. Ao mesmo tempo em que humaniza, Rezende mostra os machismos, assédios e vícios de um homem que ajudou a moldar a televisão brasileira à base de boçalidade, 70% de inspiração e 30% de uísque. O Brasil não é mesmo para quem está começando.

Você precisa ouvir essa versão de “Work”, da Rihanna, feita pelo brasileiro Stefanini

Pode ouvir “Work”, da Rihanna, numa versão indie-pop feita por um artista brasileiro? É CLARO que pode!

O goiano Stefanini continua trabalhando o seu EP de estreia, “Onde”, lançado em 2015 com produção do Pedrowl (Banda Uó, Lia Clark) e participação do Rico Dalasam, na faixa “É Tarde”, e lançou nesta quarta (18) uma versão bem inusitada para a parceria da Rihanna com o Drake, transformando o dancehall da barbadiana num synthpop inegavelmente contagiante.

Pra quem curte artistas como Troye Sivan, Melanie Martinez e Halsey, o trabalho do cara é uma ótima pedida e, com esse cover, já é possível ter uma noção do que ele é capaz de fazer. Um dos produtores dessa versão é o Rodrigo Gorky, que também esteve por trás de “Open Bar”, da Pabllo Vittar.

Dá só uma olhada:



Que delícia, gente! (A música, é claro.)

MAIS SOBRE O STEFANINI


Nosso primeiro contato com a música do Stefanini aconteceu em 2015, quando o músico abriu o show da MØ em São Paulo, e daí em diante, não desgrudamos mais dos seus próprios trabalhos. O EP “Onde” está disponível para audição no Soundcloud, Spotify e outras plataformas de streaming.

Ouça abaixo:

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