Quando a adaptação foi anunciada com Michael Fassbender no papel principal, as expectativas foram para o alto, principalmente considerando que a Ubsoft estaria envolvida na produção. A franquia de jogos traz uma história digníssima de Hollywood, e esta era a oportunidade certa para ver algo bem incrível no cinema baseando-se num videogame do jeito certo. Porém fomos pegos de surpresa quando descobrimos que o longa-metragem não pegaria uma das tramas dos jogos.
Mesmo com toda a grandiosidade da franquia, seria arriscado trazer uma trama diretamente dos jogos, logo a melhor opção foi pegar apenas a mitologia e começar do zero. Aqui acompanhamos Cal Lynch (Fassbender), um ex-presidiário que revive as memórias de seu ancestral Aguilar na Espanha do século XV. Aguilar é um membro do Credo dos Assassinos que protege a Maçã do Éden, um artefato cobiçado pelos Templários. E pararemos aqui para não soltar grandes spoilers.
Por mais que o filme de Justin Kurzel ("Macbeth") busque algo novo, ela ainda consegue ser destinado até para o fã mais chatinho que insiste que uma adaptação deve ser extremamente fiel e que não entende que são mídias diferentes, logo mudanças são feitas para se adequar melhor ao formato de tal mídia. A tão pedida fidelidade entra como fanservice para o deleite dos fãs, e é por este motivo que a produção é destinada a eles. E surpreendentemente ele é dosado.
Um ponto legal de se relevar é todo o aspecto visual, que vai desde à fotografia ao próprio Animus. É tudo tão lindo: os tons cinzas da Abstergo e o aspecto sujo e escuro da Espanha são fantásticos. Considerando seu gênero, é bacana ver que até a fotografia foi pensada. E quanto ao Animus, a solução dada para tornar a experiência de Cal mais real é maravilhosa.
A ação é freneticamente foda e as coreografias são de tirar o fôlego. Boa parte de tais sequências ficam por conta das passagens no passado — coraçãozinho forte para a segunda sincronização do Animus ♥. Inclusive, estas passagens no passado entram para quebrar o ritmo lento do presente, que só mergulha na ação nos minutos finais.
Um dos problemas da produção fica pelos personagens de apoio que são totalmente descartáveis. Você não se importa com ninguém. Os assassinos são rasos ao ponto de serem apenas para efeito da ação — a companheira de Aguilar é problematicamente esquecível. Até mesmo o vilão do filme é bem qualquer coisa, sem personalidade e frases de efeito que dão sono. Seu tom genérico só é "perdoado" por estar ali apenas para dar gás à vilã de sua continuação. Apenas Michael Fassender e Marion Cotillard se salvam.
Outro probleminha de “Assassin’s Creed” é ser destinado única e exclusivamente para os fãs. Trazer referências claras à franquia de jogos quebra a experiência de quem sequer tem ideia de que o filme é baseado em algo maior. Por mais incríveis que o filme possa ser, o resultado é diferente para cada um — ele tem que ser quase o mesmo.
O roteiro também dá suas escorregadas. A mitologia de "Assassin's Creed" é complexa demais para ser explorada em pequenas 2 horas, e até que o roteiro consegue se virar, porém o saldo final é de que nada foi de fato muito bem aprofundado.
Enfim, poucos elementos dos jogos foram mantidos, enquanto coisa ou outra foi alterada e até mesmo melhorada (alô, Animus!). Talvez o fanservice tenha contribuído para uma melhor experiência, fazendo com que o que fosse alterado não causasse um certo estranhamento para quem conhece a franquia no mundo dos videogames. De qualquer maneira, a adaptação é a prova de que dá para fazer algo bom sem a necessidade de ser fiel. Uma boa dose de fanservice é sempre bem-vinda, mas não é apenas isto que torna um filme excelente.