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É uma pena "X-Men: Fênix Negra" ser o filme que encerra uma franquia de quase 20 anos

Inevitavelmente, a primeira coisa que se passa na cabeça do espectador ao terminar de assistir "X-Men: Fênix Negra" é a impressão de que a compra da Fox pela Disney influenciou na produção, ainda que o acordo, na época, sequer tinha sido finalizado. A sensação se dá pelo ato final que carrega uma resolução apressada que não tem tempo nem de dizer adeus aos personagens apresentados nos anos 2000 nos cinemas.



Não é para menos. Muito provavelmente o longa-metragem não foi pensado para ser conclusivo desta forma para a franquia de quase 20 anos. O novo elenco, estrelado por Sophie Turner e Tye Sheridan, havia sido apresentado no filme anterior e chega a ser estranho tentar aceitar que tudo era para acabar logo em seguida. Não é assim que funciona em Hollywood: quando se tem a oportunidade de estender franquias ao máximo, isso é feito sem pensar duas vezes.

Caso "Fênix Negra" fosse apresentado desde o início como "o fim", definitivamente teríamos uma conclusão mais satisfatória, que seja condita como a própria produção se propõe a fazer, mas que chegasse ao nível de "Logan". Ou até mesmo poderia ser um grande filme-evento como "Vingadores: Ultimato", mas que para isso seria necessário uma maior leva de filmes que sustentassem a conclusão.

Os problemas de trazer a história para o cinema é justamente sua base: os quadrinhos. O "alter-ego" é apresentado em uma saga, o que faria jus ao investimento de uma adaptação melhor trabalhada em dois filmes, por exemplo. De qualquer forma, Simon Kinberg faz o impossível para trazer o mínimo (mesmo) de fidelidade que nos faça esquecer de "O Confronto Final", que ele também produziu. É quase um grande pedido de desculpas de duas horas que, no fim, engole quem quer.

Para o que se propõe, a adaptação é minimamente decente, mas traz algumas escolhas que resultam da própria franquia reapresentada em "Primeira Classe". Uma delas é a morte da Mística, interpretada de forma bem competente por Jennifer Lawrence. Mostrado já nos trailers, sua morte condiz com o personagem do cinema, remetendo ao aspecto heróico tão odiado pelos fãs mais exigentes.

A cena, que faz parte do primeiro ato, tem a única função de definir o tom do filme: ser dramático. A produção se esforça ao máximo, inclusive, para ser o mais sério possível (isso inclui a falta de piadas que virou regra no gênero) e mostrar que todo ato tem uma consequência. Em certos momentos consegue trazer tal dramaticidade desejada, como o pós-enterro da Mística, mas em outros momento falha. O próprio ato final sofre com isso.

Apesar de todas as ressalvas, a ação consegue ser um ponto alto, mas não o suficiente, em meio a tudo. A sequência de resgate dos astronautas é ótima e traduz bem o trabalho em equipe, enquanto as cenas que encerram o segundo ato, quando Magneto (Michale Fassbender) tenta matar Jean, também são divertidas. Nada memorável, entretanto, com exceção da cena de Jean controlando Charles, fazendo-o andar até ela.

Visualmente, "Fênix Negra" cumpre bem o seu papel e isso inclui os uniformes realistas do primeiro ato. Os efeitos gráficos são competentes, ainda que o CGI de Jean incomode em algumas cenas. Em contrapartida, quando a personagem fica full Fênix, pegando fogo do jeito que os fãs tanto clamavam, é quase possível esquecer de todos os problemas do filme por alguns segundos.

Uma pena ser este o filme que conclui uma saga de quase 20 anos, de verdade. Os mutantes foram essenciais para todos os longas de super-heróis que vemos hoje em dia e a conclusão sequer consegue passar tal importância. Surpreendente seria se fosse o contrário, até porque, definitivamente não era para ter acabado desse jeito.

Definitivamente "Vingadores: Ultimato" é o maior filme de super-heróis de todos os tempos

Já começo esta crítica alertando que os spoilers irão correr solto por aqui porque, honestamente, é difícil escrever de forma generalizada tudo aquilo que "Vingadores: Ultimato" conseguiu transmitir em suas três horas de duração. De qualquer forma, já adianto: o título desta crítica não é mero exagero de quem vos escreve e você sairá daqui concordando comigo. Ou não.


A "Saga Infinita" começou há mais de 10 anos, em 2008, quando Robert Downey Jr. estrelou "Homem de Ferro". A produção deu o ponta-pé inicial daquela que seria uma das maiores franquias de sucesso no cinema, com US$ 20 bilhões arrecadados até agora. Entretanto, na época, não tínhamos a dimensão de que anos mais tarde estaríamos vendo quadrinhos na sua maior e melhor forma dentro das telonas. "Ultimato" é isto.

O primeiro ponto necessário a ser destacado é sua ousadia. O filme é facilmente o mais corajoso feito pelo estúdio da quadrinista. Começando já no primeiro ato, onde Thanos (Josh Brolin) é morto em menos de 15 minutos de play. A sensação da morte do titã se assemelha a morte de Loki em "Guerra Infinita" e arrisco dizer que tem a mesma função: impactar e preparar o espectador para o que ainda está por vir.


Com a morte do vilão e a insatisfação ao não ter o problema resolvido de verdade, os Vingadores, cinco anos depois, partem para uma jornada no tempo, revisitando momentos-chave da linha do tempo construída até aqui. A viagem é um verdadeiro prato cheio de fanservice. Dos bastidores ao "american ass", o filme brinca e celebra tudo que foi feito até "Ultimato" da forma mais gratuita possível, mas que não chega a se tornar um problema até porque a produção foi feita para isso: celebrar.

Se "Guerra Infinita" é um grande respiro em meio à saturação do gênero, o filme dos Irmão Russo é o resultado de longos 10 anos de planejamento. Tudo se encaixa de certa forma, até mesmo tramas de produções duvidosas do estúdio, como "Vingadores: Era de Ultron". O filme, aliás, é fundamental para entender alguns plots deste, principalmente a visão de Tony Stark que, sim, se concretiza de certa maneira, ainda que tudo termine relativamente bem.

"Ultimato" também é um filme sobre despedidas. Três dos seis Vingadores originais se despedem da franquia de forma que é impossível não se emocionar. O encerramento dos arcos é algo de se louvar, visto que traz a sensação de realmente colocar um ponto final nesta grandiosa história. Aliás, não há qualquer grande pista do que está para vir no futuro, tanto que o filme quebra a tradição das cenas pós-créditos.


O arco mais brilhante a ganhar seu fim neste filme é do personagem de Chris Evans. O Capitão América nunca pôde viver o grande amor de sua vida, Peggy Carter (Hayley Atwell), e a ideia de ficar "devendo uma dança" sempre o assombrou, tanto que o personagem tem uma visão sobre em "Era de Ultron". Com a oportunidade de revisitar Peggy logo ao fim do filme, Steve decide ficar e passa o resto de sua vida com ela e a produção mostra isso em uma cena bastante "merecedora" para o personagem.

Já a Viúva-Negra tem, de forma bem surpreendente, seu arco encerrado, mesmo com um filme solo engatado. Ela morre. A personagem de Scarlett Johansson martela na tecla de que precisa reverter a situação por estar em "devendo" aos Vingadores, visto que eles se tornaram sua família. "Custe o que custar". Uma pena que seu fim perde um pouco de espaço por conta de outra morte.



Por fim, Tony Stark. Sua morte só não fora tão surpreendente quanto da Viúva porque era esperada devido a vários rumores. De qualquer forma, é de bater palmas como o personagem evoluiu. Ele sempre foi o arrogante e egocêntrico, tendo sempre problemas com isso. No fim, é ele quem salva o universo ao usar uma manopla própria e estalar os dedos, resolvendo tudo, dando espaço para repetir a icônica  frase "eu sou o Homem de Ferro".

Outro ponto interessante que deve ser ressaltado em "Ultimato" é a representatividade que o longa-metragem traz, deixando claro que será o foco das próximas fases. Ainda que sejam cenas breves, é tudo muito "grandioso" porque durante estes dez anos, por exemplo, demoramos um bom tempo para as mulheres ocuparem um espaço significativo e totalmente importante para a trama. A mesma coisa com os personagens negros. Saber que daqui algum tempinho o Capitão América será protagonizado por um ator negro, Anthony Mackie, é incrível. De verdade.

Claro que tudo o que foi dito aqui não seria possível se não tivesse aliado a sequências de ação e efeitos visuais pra lá de competentes. Essa união resulta em cenas incrivelmente memoráveis, como o Capitão finalmente segurando o martelo do Thor e dando uma bela e tão esperada surra no personagem de Josh Brolin.

O longa-metragem dos Irmãos Russo definitivamente é o maior filme de super-heróis de todos os tempos com toda a certeza irá marcar a história de cinema.


"Vingadores: Ultimato" é uma grande e merecida celebração de quase 11 anos de história que entrega tudo o que os fãs tanto clamavam para a conclusão desta saga épica. O longa-metragem dos Irmãos Russo definitivamente é o maior filme de super-heróis de todos os tempos e com toda a certeza irá marcar a história de cinema. Parabéns e obrigado, Marvel.

"Alita" reúne espetáculo visual e uma boa pretensão como franquia

Ninguém lembrava que "Alita: Anjo de Combate" iria chegar nos cinemas em 2019, né? A produção, mesmo finalizada, acabou sendo adiada algumas vezes e empurrada para este mês, quase dois anos após o seu primeiro trailer. A espera valeu a pena e "Alita" mostra para o que veio, apostando em uma computação gráfica ultrarrealista para a protagonista e uma ambiciosa, mas interessante, vontade de tornar-se uma franquia.

Com direção de Robert Rodriguez, "Alita" conta a história de uma ciborgue (Rosa Salazar) que foi reanimada pelo cientista Dr. Ido (Christopher Waltz) na Cidade de Ferro, que alimenta a inalcançável Zalam. A ciborgue, entretanto, não lembra de seu passado e entra em uma jornada para se redescobrir mesmo que vários empecilhos surjam em seu caminho.


É importante ressaltar que o longa-metragem é uma adaptação do mangá "Battle Angel Alita", criado por Yukito Kishiro, e esta review não irá abordar os pontos que se referem a tradução da obra aos cinemas, mas como um produto único porque o blogueiro que vos escreve não teve oportunidade de ler o original. Feito o esclarecimento, vamos lá.

O CGI de Alita representa um passo ainda maior porque entrega um trabalho totalmente único.


O maior trunfo da produção é a computação gráfica e captura de movimentos que constrói a personagem de Rosa Salazar. Se ficamos impressionados com o realismo de Thanos em "Vingadores: Guerra Infinita", o CGI de Alita representa um passo ainda maior porque entrega um trabalho totalmente único. É a vontade de proporcionar traços irrealistas, como os grandes olhos da personagem, e a necessidade de tornar tudo crível ao espectador que traz esse resultado.

É de admirar os olhos quando o trabalho visual para Alita traz detalhes extremamente sutis, como a musculatura acima das sobrancelhas que contribuem para que suas expressões sejam de tirar o folego. A sutilidade também auxilia para a interação da personagem com aqueles não possuem computação gráfica. Em uma cena em específico, quando Alita beija um humano, é imperceptível qualquer nível de CGI ali.


A ação é outro ponto bem inspirado. É muito criativo e em certos momentos inovador demais. É uma grande piração que só possível por conta do universo construído em volta de Alita. O grande destaque fica para uma cena de luta em que a personagem combate somente com um braço, sem suas pernas. Sim, é tão bizarro quanto essa curta descrição parece.

Apesar dos pontos positivos discutidos até aqui, a trama se atrapalha, principalmente no terceiro ato. É uma jornada clássica de redescobrimento de personagem, mas a vontade de trazer pequenas reviravoltas, muitas vezes previsíveis, para estender um pouco mais o longa-metragem faz com que o seu ritmo seja prejudicado.

O último ato é desgastante, mas seu propósito é bem claro: tornar "Alita" em uma nova franquia.


O último ato é desgastante, mas seu propósito é bem claro: tornar "Alita" em uma nova franquia. A pretensão é bem-vinda por se tratar de um dos poucos filmes baseados em mangás decentes. A pretensão é tanta que há um gancho para um novo longa. É torcer para este fazer uma boa bilheteria e garantir sua merecida sequência.

O engasgo dos últimos 20 minutos se tornam pouco relevantes quando analisamos a obra por completo, ainda mais sabendo onde ela quer chegar. E ela chega! Não vamos a hora de uma nova sequência que proporcionará o crescimento de Alita e uma franquia totalmente desprendida dos blockbusters de heróis clássicos que estão começando a saturar o mercado.

"Missão Impossível 6" quebra tradições da franquia, mas mantém ação frenética

Deve ter um spoiler aqui e ali. Depois não diga que não avisamos.

Lançado na década de 90, "Missão Impossível" chegou para dar um novo gás ao gênero de espionagem nos cinemas, priorizando o suspense e trazendo uma ação até um tanto quanto moderada. Sendo baseada na série dos anos 70, a franquia ganhou sua primeira trilogia construída em torno de filmes em que o espectador pudesse conferir qualquer uma das produções sem a preocupação de ter visto os filmes anteriores.

Depois de um hiato de 5 anos, a franquia retornou com "Protocolo Fantasma" em 2011 com uma nova proposta: apostar ainda mais na ação, resultando na fórmula perfeitinha para um blockbuster, mantendo ainda a ideia de um filme único, mesmo com algumas referências ao passado.

Apesar do gênero se misturar ao suspense na primeira trilogia, é a partir de "Protocolo Fantasma" que ele começa a tomar conta da coisa toda, ainda mais com Tom Cruise se arriscando cada vez mais. A proposta se mantém também em "Nação Secreta".

Três anos após o lançamento do último filme, "Missão Impossível: Efeito Fallout" refina a nova fórmula. Na trama, a Impossible Missions Force (IMF) está restabelecida e Ethan Hunt precisa impedir que três bombas nucleares explodam, mas é claro que não são somente elas as "protagonistas" que ameaçam a humanidade.



De "Missão Impossível" à "Nação Secreta", a franquia nunca se propôs em repetir diretores, muito menos protagonistas femininas - algo que "007" também procura fazer - e vilões. Porém, "Fallout" quebra justamente estes três pontos, trazendo todos de "Nação Secreta" de volta. Christopher McQuarrie retorna para a direção, Rebecca Ferguson de volta para o papel de Ilsa e Sean Harris revive o terrível vilão Solomon Lane.

É a primeira vez que a franquia se arrisca trazendo uma sequência totalmente direta.


A volta dos personagens resulta em uma trama dependente dos eventos do filme anterior. A quebra traz uma renovação inesperada que somente agrega a "Efeito Fallout". Até mesmo uma sensação de planejamento ecoa durante o play por conta da várias ligações ao antecessor. É a primeira vez que a franquia se arrisca trazendo uma sequência totalmente direta.

Outra tradição quebrada é a própria missão impossível, no sentido próprio da franquia. É estabelecido desde 1996 que em algum momento Ethan Hunt terá que invadir algum lugar extremamente vigiado com muitos acontecimentos imprevistos que causam tensão e suspense do começo ao fim da missão, mas em "Fallout" isto é deixado de lado. Graças ao roteiro, a missão que traz identidade a franquia não faz falta.

Porém, a fórmula Tom-Cruise-se-pendurando-em-algum-lugar-improvável-correndo-pra-caramba-à-pé segue firme. Inclusive, o diretor Christopher McQuarrie consegue trazer uma certa leveza nas correrias de ação, fazendo com que o espectador não se perca em meio a toda a confusão em tela, e transpõe bem o CGI em meio à realidade.


O elenco da franquia nunca esteve tão ao ponto, provavelmente por trazer de volta personagens antigos, facilitando a química entre os atores. Até mesmo Henry Cavill, o desfalcado e completamente novo no elenco, funciona ao lado dos demais. E se fica de curiosidade, o polêmico bigode é essencial para o visual do personagem.

"Efeito Fallout" quase reformula a franquia matando suas tradições, mas prioriza aquilo que sempre funcionou.


"Missão Impossível: Efeito Fallout" é o que melhor mistura ação e suspense de forma extremamente homogênea na franquia, onde cada um dos gêneros funciona a sua maneira, sem a invasão dos espaços, e quebra tradições da franquia para a construção de um longa-metragem sólido. "Efeito Fallout" quase reformula a franquia matando suas tradições, mas prioriza aquilo que sempre funcionou.

Crítica: "Oito Mulheres e Um Segredo" é divertido pra caramba, mas o roteiro se atrapalha

"Oito Mulheres e Um Segredo", dirigido por Gary Ross ("Jogos Vorazes"), traz quase tudo aquilo que seu primo distante ("Onze Homens") trouxe também anos atrás: um enredo empolgante sobre crime e roubo, além de personagens com seus próprios talentos e personalidades. O bônus é um elenco cheio dos mulheres incríveis: Sandra Bullock, Cate Blanchett, Anne Hathaway, Sarah Paulson, Helena Bonham Carter, Rihanna, Mindy Kaling e Awkwafina. 

Se juntas já causam, imagina juntas?! De um elenco desses, bicho, não dá pra esperar nada além de puro tiro e lacração, não é mesmo? Infelizmente, no que "Oito Mulheres e Um Segredo" acerta na teoria, erra também na prática.

A premissa é a seguinte: Debbie Ocean (Sandra Bullock), irmã de Danny Ocean (George Clooney) da franquia-mãe, sai da prisão e reúne um formidável grupo de mulheres para roubar um colar de diamantes que custa US$ 150 milhões do pescoço da atriz Daphne Kruger (Anne Hathaway), no evento mais exclusivo dos Estados Unidos: o MET Gala, planejado todo ano pela revista Vogue, em Nova York, com a maior concentração de celebridades, dinheiro e imprensa possível no mesmo lugar.



"Oito Mulheres" tinha tudo para ser excelente por conta de seu elenco e enredo, porém acabou entregando um resultado somente satisfatório, graças ao seu roteiro irregular e uma certa ausência de originalidade. O filme começa forte com uma cômica sequência envolvendo Debbie, marcante por seu sarcasmo. Fica nítido que Sandra Bullock está se divertindo com o papel. Conforme cada mulher é recrutada para o time, o filme oscila entre divertido e interessante para devagar e estagnante. 

A produção consegue prender o espectador por conta do elenco principal que comanda a tela. As cenas em que o grupo todo está junto são as melhores e as mais dinâmicas. Por outro lado, quando o filme empaca, em poucos dados momentos, é inevitável sentir aquele gostinho de mesmice.

A sensação é mais presente com as personagens que, apesar de serem interpretadas por algumas das melhores atrizes da atualidade, são um tanto rasas e sem graça. A motivação de cada uma para participar do roubo é muito mal estabelecida e, conforme o longa se desenrola, a maioria não tem a chance de brilhar ou receber pelo menos um momento merecedor. Isto é uma pena porque cada atriz aqui é extremamente capaz. A culpa mesmo é do roteiro. 

Em meio de tantas personagens diferentes, cada qual com seu papel na arquitetura do roubo, as que se destacam são: Daphne (Anne Hathaway), hilária sem esforço; Rose (Helena Bonham Carter), única como qualquer personagem da atriz; e, surpreendentemente, Nine Ball (Rihanna), que é engraçada, engenhosa e rouba cada cena que aparece. 

A produção não reinventa a fórmula de sua franquia antecessora nem traz nada de novo para a mesa e não há problema quando a isso. O longa se orgulha de ser o que é, e seu roteiro cumpre exatamente a proposta que traz: uma história dominada por mulherões da p*rra, que é hilária, divertida, estilosa e, acima de tudo, que prova que filmes protagonizados por mulheres podem ser tão bons quanto aqueles centrados em um elenco masculino. O único problema, no entanto, é que essa mesma proposta poderia ter sido executada de forma impecável se não fosse pela forma que o roteiro trata suas personagens. No mais, é pura diversão. 

"Oito Mulheres e Um Segredo" e seu elenco lacrador mereciam mais do que seu roteiro e direção lhes deu, mas o mercado precisava de seu empoderamento feminino e nós, se a tradição da franquia original é de alguma indicação, precisamos do resto dessa possível trilogia com "Nove Mulheres" e "Dez Mulheres" se juntando ao segredo. Até lá, vamos esperar ansiosamente.

"Vingadores: Guerra Infinita" consegue ser totalmente único, apesar da saturação do gênero

Hey, esta crítica está recheada de spoilers da produção, viu?

Há 10 anos, a Marvel deu início ao seu grandioso universo cinematográfico que, se comparado a situação atual, deu passos tímidos com personagens que somente os fãs de quadrinhos se importavam. Entretanto, graças ao carisma de Robert Downey Jr. e a insistência da própria quadrinista, em 2012, Homem de Ferro (Downey), Thor (Chris Hemsworth), Hulk (Mark Ruffalo), Capitão América (Chris Evans), Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) e Viúva Negra (Scarlett Johansson) — a única heroína em 4 anos de universo — se uniram para "Os Vingadores".

Naquele ano, a sétima arte presenciou algo único. Produções cinematográficas para os super-heróis já eram algo empreitado por alguns estúdios; a Fox cuidava de seus X-Men, enquanto a Sony e Warner se atrapalhavam nos planejamentos, apesar de filmes satisfatórios. Porém, nenhum estúdio teve a ganância de interligar seus filmes e criar um grande evento que fosse quadrinho puro, mas palatável ao grande público: prova disto é a arrecadação de U$ 1,5 bilhões do filme.

Não satisfeita com a excelente execução pré-créditos, a quadrinista nesse filme jogou uma bomba aos fãs: Thanos. Uma simples cena do vilão olhando para a câmera após os créditos foi motivo de muito burburinho. Após muito deslize, a contribuição de filme após filme de que Thanos (na época, Gamion Poitier) era alguém a se temer, 12 filmes e 10 séries, finalmente pudemos conhecê-lo em "Vingadores: Guerra Infinita".



O filme dirigido pelos Irmãos Russo ("Capitão América: O Soldado Invernal") traz a jornada do titã Thanos (Josh Brolin) em busca das Joias do Infinito para completar sua Manopla e poder destruir metade do universo para assim estabelecer o equilíbrio ao estalar dos dedos. Ao descobrirem os planos do vilão, os Vingadores e Guardiões da Galáxia tentam de todas as maneiras possíveis impedir o genocídio. 

"Guerra Infinita" é um filme sobre o Thanos.


É inegável que "Guerra Infinita" é um filme sobre o Thanos, tanto que ele é o personagem com mais tempo de tela, e sua motivação é a mais ordinariamente mórbida do gênero, porém é justamente por estes dois pontos que a produção se sobressai.

Um dos grandes problemas da Marvel nestes 10 anos é a construção de seus vilões. Priorizando o herói, o estúdio peca ao tentar trazer vilões que sejam ao mínimo críveis — para o público e personagens — porque não há tempo disponível para estabelecê-lo e suas motivações soam sempre a mesma — não dentro do leque Marvel Studios, mas dentro das produções em geral do gênero.


Com o vilão se tornando o protagonista da coisa toda, o filme consegue estabelecer facilmente que a personagem acredita veemente que destruir metade do universo é realmente a melhor solução para os principais problemas. A demonstração de poder absurdo, algumas mortes iniciais e o medo dos outros personagens quanto ao Thanos, também contribuem positivamente para ele e seu plot. O único ponto duvidoso quanto a sua construção é a forma que optam para humanizá-lo.

Além da construção do personagem principal, um dos maiores desafios de "Guerra Infinita" seria trazer uma narrativa coesa que conseguisse transitar entre os núcleos principais e seus sub-núcleos sem parecer ser uma saladona sem tempero. No saldo final, as transições são sutis, e ganham um necessário ritmo frenético e desesperador na última meia hora quando os dois grandes núcleos estão prestes a se cruzar.

Mesmo com o destaque dado ao Thanos, os demais personagens não são realmente prejudicados e ganham o seu momento para o deleite dos fãs. Claro, acontece de um ou outro ter seu potencial perdido, mas como "Guerra Infinita" é um prelúdio de algo maior, é compreensível algumas escolhas que "ocultam" certos heróis. O próprio Capitão América (Chris Evans) é deixado de lado, por exemplo.


A interação entre os personagens é outro ponto a ser ressaltado. "Guerra Infinita" não nasceu somente para vermos Thanos comendo o c* dos heróis, mas também para vê-los conversando, lutando juntos e se protegendo. Ver a Viúva Negra e a Dora Milaje Okoye (Danai Gurira) defendendo a Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) e o mega trabalho em equipe dos personagens para tentar pegar a Manopla em Titã dá uma aquecidinha no coração do fã e é divertido pra caralho. A ação é um dos grandes triunfos da produção.

Se "Os Vingadores" teve o desafio de tornar palatável uma preparação de 4 anos ao grande público, com "Guerra Infinita", o desafio foi maior, mas o sucesso é o mesmo. Ainda com o público fiel, o estúdio se preocupou em restabelecer certos pontos para que alguns acontecimentos tivessem quase o mesmo peso para o espectador de primeira viagem. Prova disto é a morte de Peter Parker (Tom Holland), grandiosa por si, ganha um peso imenso por diálogos curtos que consegue transparecer como é a relação mestre-aprendiz que tem com Tony Stark.

A comicidade está quase no ponto e dramalhão tanto ansiado é o prato principal.


Com nem tudo é um mar de joias do infinito, o roteiro peca muito em certas soluções escolhidas que contribuem em nada para a trama. Thor ganhando um novo olho e Hulk birrento são pontos irritantes que não tem propósito algum além de ser cômico. Inclusive, ainda com algumas ressalvas, a comicidade está quase no ponto e dramalhão tanto ansiado é o prato principal.


Após 10 anos, finalmente conseguimos ver a Marvel sabendo lidar e desenvolver consequências que realmente podem ser significantes daqui em diante — ainda é cedo para ter certeza. Metade do universo morreu e a escolha a dedo dos Vingadores mortos só reforça o quão bem planejado o universo cinematográfico é.

O saldo final é de que " Vingadores: Guerra Infinita" consegue ser totalmente único em meio ao gênero saturado. É mais do que satisfatório ver o estúdio acertando justamente nos pontos onde mais pecou ao longo dos 10 anos; além de saber traçar uma trama que agrada desde o fã de quadrinhos mais birrento que não consegue entender que o filme é uma adaptação, até o espectador casual que sequer sabe quem é o Thanos. "Vingadores: Guerra Infinita" consegue ser aquilo que todo mundo sempre quis: ser íncrível.

"Com Amor, Simon" é o novo filme LGBT que você precisa ver, mas não sabia

Chegando em algum cinema perto de você hoje, "Com Amor, Simon" é o novo filme LGBT que você precisa, mas não sabia. Baseado no livro "Simon vs. a Agenda Homo Sapiens", da autora Becky Albertalli, o longa conta uma história pra lá de parecida com a de muitos jovens de nossa sociedade. Eu, por exemplo, sou um desses. "Com Amor, Simon" acerta justamente por contar essas histórias nunca-contadas no cinema mainstream Hollyoodiano. 



Simon (Nick Robinson) é um ordinário menino de 16 anos que mora nos subúrbios de alguma cidade americana e está  navegando nas turbulentas águas do colegial e vivenciando experiências amorosas e sociais típicas de sua idade. Ele tem vários amigos, uma família mais que perfeita, e tudo em sua vida parece ser normal, com uma pequena exceção: ele é gay, e ainda não contou a alguém. 

Quando um anônimo posta na rede social da escola que é gay, porém não tem a coragem de revelar sua identidade, Simon imediatamente o vê como alguém que está na mesma situação que ele, e então começa a se comunicar com o tal Blue – algo que desperta seus sentimentos e curiosidade. 


Por mais clichê que a premissa de "Com Amor, Simon" pareça ser, a mesma é na verdade algo maravilhoso, novo, e genuinamente bom. Na superfície, o longa segue a fórmula narrativa de típicas comédias românticas, porém, na prática, tem um coração batente que pode ser sentido através dos conflitos internos de cada personagem – especialmente o protagonista.


Ao longo do filme, acompanhamos as dinâmicas narrativas entre Simon, sua família e seus amigos se desdobrarem de maneira real, complexa e emocional. Simon é, provavelmente, o que mais sofre no meio da confusão toda. No entanto, e sua melhor amiga Leah (Katherine Langford) que passou todos esses anos sem saber seu segredo? E seus pais que sempre acharam que seu filho era hétero e agora precisam "lidar" com a nova notícia da noite pro dia? 


Quando se trata de sair do armário, todos os lados sofrem e lidam com a situação de maneiras diferentes. A produção acerta em cheio neste quesito.

Através de seu roteiro bem amarrado, direção artística e cativantes atuações por parte do elenco, com destaque para Nick Robinson, Katherine Langford e Jennifer Garner (Emily, a mãe), "Com Amor, Simon" consegue cativar o público ao fugir do óbvio e realmente contar uma história que milhões de jovens no mundo podem se identificar, com direito até a um twist bem inesperado no final. 

"Com Amor, Simon" é um filme para aqueles que nunca se veem representados nos filmes que assistem. Para aqueles que conheçem e amam outros que já passaram ou estão passando pela mesma situação. Para aqueles que não aceitam, não toleram, mas que, talvez, após assistir e refletir, possam vir a adotar uma nova atitude em relação aos Simons da vida.

"Tomb Raider" é feito para os fãs, porém aposta em trama artificial

Filmes baseados em videogames, assim como os de super-heróis, são uma tendência em Hollywood. Nos últimos anos, percebemos essa nova febre em títulos como "Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos" (2016) e "Assassin's Creed" (2016); ambos de qualidade bastante duvidosa. Com "Tomb Raider: A Origem" (2018), longa-metragem baseado nos jogos da popular heroína Lara Croft, o caminho prometia algo diferente: já lançado como reboot, o filme planejava uma franquia mais jovem e melhor aprofundada no material de origem, escalando uma atriz já vencedora do Oscar para o papel (e que foi a primeira com o título a aterrissar na brasileira CCXP, no final do ano passado). O resultado, no entanto, não foi tão eficiente; o filme está em um patamar próximo dos outros dois aqui já citados.



Antes de tudo, não leve a mal quanto à protagonista: Alicia Vikander, como já esperado, está maravilhosa no papel. Comprando de fato os ideais de liberdade e empoderamento que a personagem representa (e tudo aquilo que ela deve ser capaz de realizar, em termos físicos), a atriz exprime muita verdade em sua interpretação, com uma performance sólida, crível e empolgante, que também revela um preparação corporal imensa; mais um ponto para Vikander em sua carreira. Mas, se Lara Croft está bem representada em seu próprio filme, o que não funcionou?

É importante salientar que, enquanto filme de origem (como o próprio título já revela), este "Tomb Raider" preocupa-se em contar origens e motivações de sua heroína, o que realmente ocorre durante o primeiro ato do longa-metragem. Entretanto, alguns fatores tornam o storytelling artificial e desestimulante - tudo acontece rápido demais, e com um uso excessivo do fator "acaso" (as queridas "coincidências"), como encontrar uma peça-chave de trama em um momento já previsível de tão estratégico. E, se o primeiro ato é apressado, o segundo é bastante indolente quando não depende de alguma cena de ação para ser conduzido. A conclusão, por sua vez, consegue ganhar fôlego narrativo, mas já é tarde demais para um espectador impaciente.

Percebe-se que a escrita do filme utiliza alguns elementos e influências formulaicos: se a busca pelo "tesouro" não consegue fugir do "efeito Indiana Jones", a Lara Croft da vez herda trejeitos de Katniss Everdeen, carregando arco e flecha e despedindo-se com beijos nos dedos tal qual a protagonista de "Jogos Vorazes". Já para tentar construir a relação de Lara com o pai, o ricaço Richard Croft (Dominic West), que é importante para os eventos da trama, o longa-metragem usa e abusa de flashbacks. 

Talvez a decisão de contar as coisas de forma tão desgastada venha da inexperiência da equipe com grandes projetos: trata-se do primeiro roteiro de Geneva Robertson-Dworet (que atualmente assume a escrita do já hypado "Capitã Marvel") e o segundo de Alastair Siddons (o primeiro foi o suspense "Não Ultrapasse", de 2016). Quanto ao diretor Roar Uthaug, que já trabalhara anteriormente com filmes de alto apelo ao CGI, este é o primeiro realizado por um grande estúdio de Hollywood.

Se o roteiro é um ponto fraco, o filme deve acertar em cheio para os fãs de games, pois é complexo visualmente e faz uso competente dos efeitos visuais em suas (aqui, necessárias) cenas de ação. Realmente há uma similaridade à atmosfera frenética, violenta e, por vezes, deslumbrante, que é característica de jogos e simuladores. 

"Tom Raider: A Origem", ao prometer mais do que consegue cumprir, é outro blockbuster cheio de fan services e divisor de públicos, sendo um produto que pode ser bastante divertido ao espectador com baixas expectativas ou ao amante do gênero. Ainda assim, ele é tão esperançoso em maquiar suas falhas que já termina levantando mais promessas para seus incertos próximos capítulos, visto que deseja engatar uma nova franquia. Se acontecer, é bom cruzar os dedos para que um futuro filme faça jus ao talento de Vikander e ao legado da personagem, pois (infelizmente) esse apenas tenta.

"Pantera Negra" é uma das produções mais inovadoras do gênero nos últimos anos

Como nós dissemos há alguns dias aqui no It Pop, "Pantera Negra" é um dos filmes mais importantes em termos de representatividade negra na Hollywood atual (e talvez em toda a sua história), o que já faz destaca positivamente a produção e é um bom motivo para assisti-la. Levando isso em consideração, chegou a hora de trazer aqui a nossa tradicional review, que busca explorar com mais afinco alguns aspectos do longa-metragem.

Construído em torno do super-herói da Marvel que dá título ao filme, Pantera Negra (Chadwick Boseman, de "Deuses do Egito"[2016]), e apresentando sua nação fictícia Wakanda, que é composta pela união de tribos africanas, a produção ocupa-se em melhor explorar e introduzir elementos levemente abordados em "Capitão América: Guerra Civil" (2016), que contou com a primeira aparição do protagonista e eventos que só viriam a ser revisitados agora, em seu momento solo, e por meio de uma trama que condensa situações do passado com elementos futuristas.

De cara, a primeira coisa que chama atenção no filme é o quão inovador ele é - uma palavra que há tempos não era utilizada dentro do "cinema de super-heróis", gênero que se consolidou neste século e  atualmente conta com diversas produções ao ano, já quase enlatadas em sua fórmula técnica. Os primeiros momentos de "Pantera Negra" em si já elevam toda a coisa a outro nível, fazendo o espectador perguntar para si mesmo o que ele está vendo em tela: há uma tecnologia ainda mais avançada; uma fantasia mais curiosa e deslumbrante; uma ação com mais fôlego, que é apresentada sob diferentes aspectos, passando por sequências de animação em frames de luz pulsante, de coreografia em uma superfície aquática e até por um quase plano-sequência. Sim, é bem intrigante e diferente de assistir.

Percebe-se que, ao mesmo tempo em que a direção de Ryan Coogler ("Creed", 2015) é cautelosa em apresentar um sopro de novidade, ela é bastante contemplativa; a abordagem de toda a produção, ainda que sob a superfície do já existente MCU (Marvel's Cinematic Universe), não deixa os elementos africanos para trás, tendo noção de que são um grande diferencial e influência do filme. Há muito do moderno, sim; mas também há muito respeito à tradição cultural, com cores, roupas, ritmos, crenças e outros aspectos tribais que permeiam a direção de arte e o desenvolvimento narrativo do filme. Esses elementos, unidos à seleção de canções feita por Kendrick Lamar e à trilha sonora de Ludwig Göransson (frequente colaborador de Childish Gambino [aka Donald Glover]), trazem um contraste geracional que consegue assumir ritmo harmonioso. 

No roteiro, escrito pelo próprio diretor e Joe Robert Cole, que é vencedor de muitos prêmios importantes da área pela minissérie "The People v. O. J. Simpson: American Crime Story", há ainda espaço para política, trazendo um vilão que (amém) possui motivações relevantes dentro deste aspecto. Na verdade, o estúdio possui praticamente nenhum filme tão político (ou mais, até) do que "Capitão América 2: O Soldado Invernal" (2014).

Sobre o vilão Erik Stevens, é preciso destacar que seu intérprete, Michael B. Jordan, rouba a cena desde sua primeira aparição. Já parceiro de Coogler há alguns anos, o ator externa camadas de rancor, ódio, tristeza e cinismo. O elenco inteiro, inclusive, tira nota dez no dever de casa: repleto de atores premiados, como Lupita Nyong'o, Forest Whitaker, Angela Bassett, Sterling K. Brown, Danai Gurira e o indicado ao Oscar de Melhor Ator desse ano Daniel Kaluuya, não há coadjuvantes que não brilhem em tela; exceto Martin Freeman, com um sotaque de inglês americano horroroso. Curiosamente, Chadwick Boseman não chega a ser de fato ofuscado, mas não permanece tão marcado na mente quanto seus colegas, mesmo sendo o personagem-título.

"Pantera Negra", no entanto, não é um filme perfeito; embora seja diferente da maioria, ainda carece do mal de seu gênero, com uma montagem que às vezes parece ter sido feita às pressas e arcos que são esquecidos ou se desenvolvem de forma episódica. Existem, também, muitas e marcantes semelhanças com a animação da Disney "O Rei Leão" (1994); não pela prevalência da temática africana, mas pelo dilema envolvendo ancestrais, família e disputa pelo trono em uma monarquia. Pode ser um ponto negativo aqui, mas ao mesmo tempo indica que não precisamos temer tanto a versão live action do filme clássico, que possui previsão de lançamento para o ano que vem.  

O filme do príncipe T'Challa e seu alter-ego felino, carregado de relevância cultural e impacto na indústria do entretenimento, é um bom exemplo do resultado exemplar que se obtém quando um estúdio grande reúne um time de profissionais de talento e investe alto por seu trabalho. E isso é ótimo para o público; afinal, é muito bom finalmente ter algo fresco no prato.

Não deixe "Paddington 2" passar despercebido por você, e nós te dizemos o porquê

Simples e encantador. Esses dois adjetivos podem ser utilizados para descrever o primeiro filme de “Paddington”, lançado em 2014 (e disponível na Netflix), mas certamente sua sequência, que aterrisou no Brasil ainda neste início de 2018, consegue elevá-los a outro nível de intensidade. Tendo dito isso, é preciso ser direto e esclarecer algo: se você acredita que se trata de mais um simples “filme de criança”, está devidamente enganado (e perdendo a diversão). “Paddington 2” é sincero e charmoso, e não estamos sozinhos ao achar isso; ostentando 100% de aprovação no Rotten Tomatoes e nomeado a três BAFTA, o filme é uma aposta certíssima para quem procura entretenimento para todos (incluindo adultos), daqueles que arrancam um sorriso do rosto.

Apesar de pouco popular no Brasil, o urso Paddington é bastante popular no exterior: símbolo da cultura britânica, o personagem (que, ironicamente, não é europeu, possuindo fictícia nacionalidade peruana) tem origem dos livros de Michael Bond, famoso autor inglês do século XX (que faleceu ano passado). As publicações infantis, de muito sucesso na época, acabaram inspirando a fabricação de ursos de pelúcia que remetiam ao simpático protagonista, e movimentaram o mercado local de brinquedos. Hoje eles são souvenirs londrinos - mas isso tudo é história.

Quanto ao filme, o herói peludo e desastrado é introduzido já em seu dia-a-dia com a família adotiva, os Brown (cujo time é encabeçado pelos atores Sally Hawkins, de A Forma da Água; Hugh Boneville, do seriado Downton Abbey, e Julie Walters, da franquia Harry Potter). Aproximando-se o aniversário de sua tia, uma ursa de quase cem anos que mora em um “abrigo para idosos” na selva do Peru, Paddington deseja presenteá-la com um livro pop-up antigo que traz monumentos históricos de Londres. Ele só não sabe que, por tratar-se de um artefato raro e com pistas para um tesouro, o livro também é cobiçado pelo falido ator Phoenix Buchanan (Hugh Grant), que não medirá esforços para tê-lo em suas mãos.

Trazendo a mesma equipe do filme anterior, incluindo o diretor Paul King, esta continuação toma início de forma tímida, reaproveitando algumas piadas de seu predecessor. No entanto, não demora para que o doce visual comece: com um CGI competente, um figurino  excêntrico (que lembra o universo do diretor Wes Anderson) e uma direção de arte encantadora, as sequências iniciais já são permeadas com um dos diferenciais da franquia “Paddington”: o charme de uma história que orgulha-se de ser clássica.

Em muito remetendo ao universo da literatura infantil britânica, não é difícil traçar paralelos entre o longa metragem e obras como “O Ursinho Pooh”, de A.A. Milne, e “Mary Poppins”, de P.L. Travers. A família Brown e sua residência, inclusive, soa como um eco da família Banks da Cherry Three Lane, protagonista dessa última. Há inclusive uma leve semelhança à “George, o Curioso”, dos germano-americanos H.A. Rey e Margret Rey. Todas obras “aconchegantes” e memoráveis, adaptadas carinhosamente aos cinemas - e não com toques modernos, como promete a versão deste ano para “Pedro Coelho”, de Beatrix Potter. 

A escolha em traduzir-se a obra de “Paddington” para um mundo colorido e até vintage mantém uma essência que muito desperta nostalgia. E, somando-se a essa afeição instantânea, engatam-se surpresas após o sumiço da já citada timidez inicial: a ação e o humor irônico. Ainda que a ingenuidade permeie a obra, esse segundo filme ganha uma nova camada de atrevimento (sem perder a pureza) e doses de uma ação que, embora fantástica, não beira tanto ao absurdo. Conquista o espectador em boa dose, sem espaços para tédio.

Enaltecendo ainda mais Londres - desta vez com espaço para seus pontos turísticos, obras culturais e criações modernas, como a imprensa e a locomotiva a vapor, o filme do urso otimista busca explorar elementos marcantes de uma das civilizações mais antigas e tradicionais do mundo, mas com um toque narrativo que pesa como homenagem ao invés de ufanismo agressivo. Proporciona uma viagem às terras da Rainha, sem parecer uma evidente e desnecessária propaganda da cidade.

Em suma, “Paddington 2” já nasce com simpatia instantânea. Seguindo seus trilhos de forma exemplar,  o longa-metragem é afetuoso, sem exageros ou cinismos, e proporciona uma experiência alegre e cativante, que leva à risca a classificação de “para todas as idades”. Mantém-se, sem medo, longe das efervescências pós-modernas, e comprova que ainda há elegância nas histórias tradicionais (quando bem contadas).

É melhor você assistir “Lady Bird”, porque o filme é muito bom, mas não vai decolar sozinho

Mais um Coming Of Age é um dos favoritos para a corrida do Oscar em 2018. Dessa vez, estamos falando de “Lady Bird: É Hora de Voar”, que está entre os mais aclamados da temporada e marca a estreia como diretora solo de Greta Gerwig ("Mulheres do Século 20") – sua única experiência como diretora anteriormente foi junto a Joe Swanberg em “Nights and Weekends”. 

No filme, Saoirse Ronan interpreta Christine – ou Lady Bird, como a mesma prefere ser chamada – uma aluna do terceiro ano do colegial enfrentando todos os dilemas que um adolescente de sua idade possa vir a ter, mas talvez o principal entre eles que gera maior preocupação é o tema central da trama: a tão esperada entrada em uma faculdade. Para ela, continuar em Sacramento, na Califórnia, não é opção. Christine almeja voos mais altos e está decidida a estudar em Nova York.

Sua personalidade é desenvolvida de forma artística e rebelde, e isso é pontuado em uma cena logo no inicio do filme onde Lady se joga de um carro em movimento por não aguentar ouvir as críticas que sua mãe, Marion – vivida majestosamente por Laurie Metcalf, faz a ela.

A relação entre as duas é uma das principais engrenagens da história, pois Marion se mostra contrária a escolha da filha em ir para uma faculdade em outro estado por não terem condições de arcar com as despesas. E, durante o filme, esse descontentamento da mãe com a filha se desdobra em uma relação conturbada com diversos conflitos e farpas trocadas, mas, apesar de tudo, ambas reconhecem o amor que sentem uma pela outra.

As experiências de Christine são contadas com a quantidade certa de comédia e drama, e esse talvez seja o ponto que leva o filme a outro nível, criando uma identificação de quem o assiste, com ela. Coisas cotidianas como desilusões amorosas, o rompimento de amizades, a primeira relação sexual e a angustia de saber se foi aceito ou não na universidades de seus sonhos, são mostrados de forma comum e relacionável, não criando uma parede entre a personagem e a audiência, como se aquilo só pudesse acontecer com ela.

“Lady Bird: É Hora de Voar” é uma ótima estreia para Greta Gerwig como diretora e um marco na carreira de Saoirse Ronan. O filme promete arrancar risos e choro do público com sua linguagem contemporânea e cenas de fácil conexão emocional e, quem sabe, uma indicação de melhor atriz – merecida – para a passarinha que só quer voar.

“Viva: A Vida é Uma Festa” conquista pela carga sentimental que traz consigo

Pode-se dizer que “Viva: A Vida é Uma Festa" não é o típico filme Pixar, que quase sempre entrega uma obra com uma trama mais complexa, se assim podemos definir. O enredo tampouco é inédito. Coincidentemente (ou não), “Viva” tem muitas semelhanças com “Festa No Céu” de Jorge R. Gutierrez, lançado em 2014. Além de serem ambientados no México, ambos têm a história do menino que tinha sonhos contrários às expectativas da família, trazem a crença do Mundo dos Mortos e, tanto em um quanto em outro, os dois protagonistas – que também sonham em ser músicos – acabam indo parar nesta dimensão.

O que torna “Viva: A Vida é Uma Festa” um ótimo filme é a carga emocional que ele carrega, se tornando, assim, uma das animações mais comoventes do estúdio, mesmo indo na curva de sucessos anteriores.

O longa-metragem conquista o espectador com vários elementos. Personagens carismáticos, beleza estética, sensibilidade nas pequenas coisas — como o brilho nos olhos de Miguel (Anthony Gonzalez) ao ver vídeos de seu cantor favorito, Ernesto de la Cruz (Benjamin Bratt), o amor de Hector pela filha e seu sentimento de abandono por não ter uma foto com oferendas no Dia dos Mortos. Inclusive, é o próprio arco de Hector (Gael Garcia Bernal) que traz os momentos mais emocionantes do filme, onde facilmente se encontra a real essência da Pixar.

Um grande problema dos estúdios (principalmente aqueles hollywoodianos), sejam eles especializados em animação ou não, é retratar uma cultura mais distinta da estadunidense ou europeia sem utilizar muitos estereótipos. “Viva” não conseguiu fugir muito disso, porém não é algo que interfira tanto no resultado final para falar a verdade.

Quanto à trilha sonora, mesmo não fugindo do tradicional Mariachi, não deixa de ser ótima. A canção “Remember Me”, indicada ao prêmio de Melhor Canção Original no Globo de Ouro, ganha um significado especial ao fim do filme. Já a fotografia aposta no contraste do colorido com os tons terrosos do plano dos vivos, em uma explosão de cores e no neon do Mundo dos Mortos, criando algo belíssimo — sem contar a inserção de detalhes sobre a crença e o folclore local, que nos faz conhecer um pouco mais sobre a cultura mexicana.

“Viva: A Vida é Uma Festa” se salva da mediocridade graças ao apelo emocional e pode arrancar lágrimas daqueles mais emotivos. Ainda sendo apenas uma consequência da própria vida, a morte é temida e desconhecida por nós, e talvez seja a reflexão sobre o que tem do lado de lá e, também, sobre aqueles que deixamos quando partimos que dá ao filme a profundidade dispensada em outros aspectos.

"Depois Daquela Montanha" se perde em meio aos clichês, porém emociona

É comum falarmos que algo é clichê com um certo desdém. Afinal de contas, não se trata de algo novo ou inesperado; é, apenas, mais do mesmo. Mas, fazendo uma breve reflexão, isso é tão ruim assim? Quantas vezes nos decepcionamos com o final de um filme porque o casal protagonista não viveu o “felizes para sempre”? Ou porque algum personagem querido foi a óbito depois de lutar contra uma grave doença – dentre outras inúmeras situações? Na maioria dos casos, esperamos pelo clichê, e não é desmérito nenhum o roteiro ficar nesse lugar-comum; basta saber como usá-lo. O que aconteceu e, ao mesmo tempo, nem tanto, em “Depois Daquela Montanha”, drama dirigido por Hany Abu-Assad (“Paradise Now”, “Omar”) e adaptado do livro “The Mountain Between Us”, de Charles Martin.

Com os figurões do cinema Kate Winslet e Idris Elba, o longa traz a história da jornalista Alex Martin (Winslet) e do neurocirurgião inglês Dr. Ben Bass que deveriam embarcar impreterivelmente num voo – Alex irá se casar e Dr. Ben fará uma cirurgia – que, por conta do mau tempo, foi cancelado. Alex vê o até então desconhecido Ben na mesma situação e dá a ideia de fazerem o trajeto num avião particular, já que ambos tinham pressa de chegar ao destino. Durante o voo, o piloto Walter (Beau Bridges) sofre um acidente vascular cerebral e perde controle do avião, que cai numa região montanhosa coberta por neve. É aí começa a jornada de Alex e Ben (acompanhados pelo cachorro do piloto, que estava no voo) pela sobrevivência e em busca de civilização – enquanto, aos poucos, se conhecem e criam uma conexão bastante intensa entre os dois.

Com ótimas atuações (e não era de se esperar o contrário, não é?), o casal protagonista mostra, sem forçação de barra, a criação de uma intimidade entre os dois estranhos. Apesar de ter visto as roupas íntimas de Alex e ajudá-la a fazer suas necessidades fisiológicas por um tempo, é na conversa, nos enfrentamentos de ideias opostas e na rotina de tentar encontrar maneiras de escapar da sina que lhes foi colocada que a amizade se desenvolve. E, daí, brota-se uma paixão proibida (já que Alex é noiva) – e aí começa o problema do clichê. Apesar de ser nítido o laço criado entre os dois sobreviventes, não há aquela tensão pairando no ar enquanto a relação é firmada. Sim, há momentos de carinho (abraços, beijos na cabeça), mas nada que explicite claramente o surgimento de um romance. 

Após a (não) esperada cena de sexo (eles encontram uma casa abandonada em determinado momento), é possível se acostumar com a ideia da paixão entre o casal. Não é nada tão inesperado. A cena é bastante delicada e romântica e, de qualquer forma, o nascimento de um romance num contexto de situações extremas de sobrevivência é até plausível. Aceitamos o clichê. 

Entretanto, é no próprio romance que o clichê perde o sentido e passa do aceitável ao pedante. E o problema, agora, é no desfecho. Além de ser um tanto quanto arrastado e longo, não havia necessidade do “final feliz” que teve – que, caso não existisse, não tornaria o filme triste, mas sim mais condizente com a realidade. Para botar mais açúcar ainda na água, a última cena consegue ser a mais esdrúxula possível, onde os dois, após um encontro pós-perrengue num café, vão embora em direções opostas, param onde estão e saem correndo de volta, a fim de se encontrar para darem um grande beijo apaixonado no meio da rua. 

Outro mau uso do lugar-comum é a história da falecida esposa de Ben. A situação certamente ficaria muito mais tocante sem o fato de que a moça havia morrido por conta de um tumor cerebral e que era, também, paciente do próprio Ben, já que neurocirurgia é sua especialidade. Não há dúvidas de que isso poderia, de fato, acontecer com um médico; mas, diferentemente da vida real, às vezes é importante ponderar para que o filme não fique muito “história de cinema”. 

Mas não é só de clichês melosos que “Depois Daquela Montanha” é feito. O filme realmente emociona e nos faz imaginar como lidaríamos naquele ambiente hostil. As cenas de perigo nos desperta uma sensibilidade e o casal carismático consegue transmitir o medo e a incerteza do desconhecido e do inesperado. A fotografia, também, está impecável. Com tomadas num plano bastante aberto é possível notar a pequeneza – e, até, insignificância – dos dois naquela cadeia de montanhas. Além disso, destaquemos a participação do cachorro (que depois é adotado por Ben), que os acompanha e também os ajuda no decorrer da trama. Além de ajudar a fortalecer o elo entre o casal, o artifício do animal é sempre certeiro, de qualquer forma. No momento em que ele vai defender Alex de um ataque de puma e é ferido, o ar fica preso por medo de o cachorro não ter sobrevivido, por exemplo. E em momentos que ele some, o coração fica apertado com a possibilidade de ele não voltar.

Em suma, “Depois Daquela Montanha” é um bom filme. Não estupendo ou memorável, mas na média; “light” (e um pouco decepcionante, dependendo do ponto de vista). Vale relembrar que o longa é uma adaptação de uma obra literária e pode até ser que essas questões problemáticas da versão das telonas sejam mais bem resolvidas nos livros. Mas, caso não sejam, é importante lembrar que o fato de um livro ganhar uma adaptação não significa, necessariamente, que certos pontos sejam realmente interessantes ou relevantes. Uma adaptação não é uma cópia, portanto, é válido arriscar em algumas mudanças para tornar o roteiro mais interessante para o cinema.

"Kingsman: O Círculo Dourado" peca com os personagens, mas permanece insanamente divertido

Quando "Kingsman: O Serviço Secreto" chegou aos cinemas, lá em 2014 e sem muitas expectativas, tanto o público quanto a crítica ficaram surpresos com o aspecto divertido e jovial do filme. Utilizando-se de cenas de ação cheias de humor e tecnicamente atraentes, o longa-metragem, baseado em uma famosa HQ, não deixou para trás seus personagens, desenvolvendo-os de forma satisfatória e entregando carisma suficiente para diferenciar a produção de muitos blockbusters formulaicos que são lançados constantemente pela indústria cinematográfica.

Em 2017, a sequência "Kingsman: O Círculo Dourado", também a cargo do diretor Matthew Vaughn ("Kick-Ass", 2010), trouxe os espectadores de volta ao universo insano (e ainda assim, "elegante") da franquia. Desta vez, no entanto, o filme regride um pouco em relação ao anterior: incluindo ainda mais estrelas no elenco, a trama sofre com o excesso de personagens, reduzindo alguns a um nível superficial.

Agora um agente de sucesso, Eggsy (interpretado pelo talentoso galã Taron Egerton, de "Voando Alto" [2016]) lida com as saudades de seu mentor Harry (o ótimo Colin Firth) e a rotina com sua namorada, a princesa Tilde (Hanna Alström). A situação muda completamente após um ataque à Kingsman, que destrói a sede do serviço secreto e aniquila todos os seus membros. Como sobrevivente, ele deve buscar a ajuda de uma entidade similar localizada nos Estados Unidos, a Statesman, enquanto investiga a ligação de um cartel de drogas denominado Golden Circle com o ataque ocorrido.

Além do retorno, ainda que em aparições, de boa parte do elenco original, que inclui nomes como Mark Strong e Sophie Cookson, o segundo filme adiciona a participação de várias personalidades relevantes do cinema atual, como Julianne Moore, Halle Berry, Channing Tatum, Jeff Bridges, Emily Watson e Pedro Pascal — há espaço até para o músico Elton John! Entretanto, poucos conseguem tempo de tela suficiente para trazer algum resquício de relevância em seus personagens. 

Moore e Pascal, talvez, foram os únicos com maiores aspectos a serem explorados. A vilã de Julianne Moore, Poppy, ainda que siga uma loucura exagerada, diverte ao ser tão caricata quanto psicótica. Pedro Pascal, por sua vez, encara um personagem bastante diferente das produções em que tem se envolvido (como os seriados televisivos "Narcos" e "Game of Thrones"), sendo uma das boas surpresas do filme. Tatum é irritante, Berry é mal utilizada e Bridges consegue ser desinteressante. Egerton e Firth permanecem bem, ecoando suas performances do primeiro filme.

É estranho pensar que o roteiro do próprio Vaughn, escrito junto com Jane Goldman e Matt Byrne, parceiros do Kingsman anterior, tenha se perdido tanto em sua sequência. Muitos personagens já estruturados são abandonados em poucos segundos e substituídos por uma leva de vários novos, como se o próprio longa-metragem tivesse um botão de "resetar". Além disso, apesar de apresentar bastante humor inteligente (com ótimas indiretas à Donald Trump), "O Círculo Dourado" inicia uma discussão a respeito da legalização e consumo de drogas ilícitas que, apesar de relevante, acaba por não definir-se muito bem, entregando uma mensagem que pode parecer confusa ao final da produção. 

Por outro lado, o nível técnico do filme permanece elevado, com um design de produção bastante colorido e essencial para a construção da atmosfera descontraída que permeia o longa-metragem. As cenas de ação, muitas utilizando-se de um inquietante e já esperado exploitation, são envolventes e bem coreografadas, com movimentos e truques de câmera que tornam a experiência do expectador ainda mais louca e divertida. 

"Kingsman: O Círculo Dourado" consegue divertir, ainda que com algumas falhas. Retrocede um pouco nos aspectos e na mensagem que destacaram seu predecessor, mas entrega uma experiência alucinada que mantém o filme com um saldo positivo. Não consegue ser memorável, mas talvez agrade a quem o assista sem expectativas. Talvez a franquia desenvolva melhor as sementes que plantou agora? Saberemos nas próximas missões.


"It - A Coisa" é definitivamente uma obra-prima do medo

Pennywise, o palhado dançarino, é uma das criaturas mais assustadoras da sétima arte. Sua primeira aparição aconteceu, na verdade, no livro "A Coisa", do escritor Stephen King, famoso por suas obras que envolvem terror e suspense, lançado em 1986. O livro foi adaptado pela primeira vez em 1990, em um telefilme; Tim Curry é quem interpretou It. Exatos 27 anos depois, Bill Skarsgård é quem dá vida ao palhaço na readaptação que quase ninguém pediu, mas que com certeza sairá aplaudindo ao fim da sessão.

A produção dirigida por Andrés Muschietti acompanha o carismático Clube dos Otários — sim —, composto por Bill (Jaeden Lieberher), Ben (Jeremy Ray Taylor), Beverly (Sophia Lillis), Richie (Finn Wolfhard), Mike (Chosen Jacobs), Eddie (Jack Dylan Grazer) e Stanley (Wyatt Oleff). A história caminha em volta deste grupo que resolve ir atrás de Georgie, o irmão mais novo de Bill, sendo um de muitos que haviam desaparecido na cidade de Derry. Porém, o grupo passa a ser perseguido pelo aterrorizante Pennywise, um palhaço que aparece na cidade a cada 27 anos.

O primeiro acerto da produção acontece logo em seus primeiros 30 minutos. Em pouco tempo, o longa-metragem constrói personagens e estabelece relações essenciais para o desenvolvimento da trama. O Clube dos Otários funciona na medida certa, sendo bem dinâmico, para falar a verdade, com seus personagens e suas funções específicas que não soam desesperadas em cumprir o papel de formar um grupo de amigos que entra em apuros, bem comum dentro do gênero.

Bill Skarsgård é uma grata surpresa com sua versão do palhaço. Auxiliado por uma maquiagem certeira, necessariamente fofa em alguns momentos, bizarra em outros, o ator sueco de "Hemlock Grove" transforma trejeitos de palhaços em algo temeroso e abusa de uma voz tenebrosa, tornando-o um show a parte. Os efeitos especiais também são outro ponto importante para Pennywise, que abusa de uma computação gráfica em certos momentos.

Boa parte dos U$ 35 milhões do orçamento foram claramente gastos com um CGI competente e nada vergonhoso e grotesco como ultimamente estamos vendo em filmes de terror. É satisfatório ver o quão bem a produção usa a computação gráfica, presente em diversas cenas-chave. Uma delas, inclusive, se destaca pela preocupação em fazer aquilo parecer verídico e, pasmem, realmente assustador.

"It - A Coisa" também é muito (in)tenso. Prestes trazer famigerado jump scare em tela, o filme cria situações precisamente tensas, mas que fazem com que o espetador não desgrude os olhos da tela, promovendo uma tortura passiva. O jump scare, aliás, é bem inteligente. São incontáveis as cenas nas quais o espectador prevê um susto, entretanto é pego de surpresa na forma em como foi assustado. O longa também traz sequências apavorantes que, se analisadas separadamente, aparentam ser de produções distintas; é uma farofa que funciona e que o torna diferente. Em resumo, é surtadíssimo.

O longa-metragem acerta desde os minutos iniciais, seja por seus personagens bem construídos ou pela ousadia de certas sequências de cenas. A qualidade estabelecida no primeiro ato se mantém durante todo o restante, promovendo cenas intimidantes que te fará sentir todos os pelos do corpo arrepiarem. Arrisco dizer que "It - A Coisa" é definitivamente uma obra-prima do medo e talvez uma das melhores produções de 2017.

"Planeta dos Macacos: A Guerra" encerra a trilogia com maestria

Dizem que a vida imita a arte, mas há também momentos em que a arte imita a vida – e o cinema não é diferente disso. E não, não fala-se, aqui, de fatos históricos, situações cotidianas completamente plausíveis ou, até mesmo, (pelo menos não por ora) de uma avançadíssima tecnologia de CGI capaz de imitar com perfeição qualquer ser ou lugar. O cinema, muitas vezes, joga na nossa cara algo inerente à nossa condição humana, mas que não conseguimos enxergar. “Planeta dos Macacos: A Guerra”, assim como os outros filmes da franquia, traz isso não somente representado nos humanos, mas também, nos próprios símios. A grande moral deste longa, que encerra a trilogia que antecede a série original, é sobre como a linha entre o bem e o mal é tênue; sobre como a ideia de herói e vilão é apenas uma questão de ponto de vista. É um filme sobre empatia.

Vivendo naquele mundo pós-apocalíptico, César (Andy Serkis) lidera sua comunidade de macacos até que são surpreendidos por ataques de humanos que pretendem dizimá-los, o que ocasionou na morte de seu filho e sua esposa. Para proteger seu grupo, César trama uma missão para irem a um lugar seguro enquanto ele planeja se vingar do líder dos soldados, o Coronel (Woody Harrelson). E é justamente nas “cabeças” de ambos os lados, humanos e macacos, onde percebemos que existe sentido e razão nas motivações. Apesar de sermos facilmente convergidos para o lado de César, o ideal de sobrevivência do Coronel nos leva à questão de: "seríamos nós tão diferentes dele na mesma situação?". Enquanto, por exemplo, em "Planeta dos Macacos: A Origem", de 2011, a questão do bem e mal é colocada em extremos, temos, neste, a desconstrução desses padrões de personalidade.

Mais uma vez "Planeta dos Macacos" faz qualquer um perder o fôlego com sua tecnologia de captura de movimento empregada nas cenas. Andy Serkis, com seu espetáculo de expressões faciais – que faz você crer e descrer, ao mesmo tempo, que é um ser humano por trás do animal – não fica muito a frente de seus colegas de elenco Karin Konoval, Terry Notary, Michael Adamthwaite e Steve Zahn (Maurice, Rocket, Luca e Bad Ape, respectivamente). Numa soma de atuações excelentes, um bom roteiro, um CGI e mocap impecáveis, o resultado não poderia ser nada menos que personagens muito bem construídos e únicos, que fazem jus à grandiosidade da obra. Dos novatos, vale destacar o curioso Bad Ape, um ex-macaco de zoológico que traz um tom de melancolia e comicidade com seu jeito senil e inocente; Coronel, com um deboche sombrio, e Nova – esta, infelizmente, com um destaque negativo. 

O único ruído dentre os personagens é discreto, mas incomoda devido a algumas incoerências e clichês. Enquanto os outros são tão reais, Nova (Amiah Miller) apresenta uma inocência forçada, mesmo para uma criança. Além disso, em alguns momentos parece que houve a intenção de acelerar a ligação dela com sua nova família de símios e, por isso, deixaram alguns pontos à desejar. Seu pai (ou tutor) é morto por César e ela não se assusta ou hesita em se integrar aos macacos, mas chora pela morte de Luca, mesmo o conhecendo há poucos dias. Não é algo que, de fato, interfira na narrativa, mas é válido de se pontuar, já que o longa, no geral, parece evitar esses estereótipos.

O diretor Matt Reeves, assim como  Mark Bomback, Rick Jaffa, Amanda Silver, Michael Giacchino e Peter Chernin, sem dúvidas fechou com chave de ouro essa memorável trilogia. Com personagens, atuações, roteiro, trilha sonora, fotografia e, claro, efeitos especiais igualmente ótimos, o resultado não poderia ser outro além de um filme que mostra que a história dos macacos humanizados pode alcançar e agradar a todas as gerações. Sempre com fortes críticas sociais, Reeves e César podem ter a certeza de que seus legados irão permanecer.

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