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"Empodere-se, mina!": várias mulheres fodas da música em uma só playlist

Já dizia Chimamanda Ngozi Adichie: "Feminista: a pessoa que acredita na igualdade social, política e econômica dos sexos". Pelo direito de escolher, pelo poder sobre o nosso corpo, por equidade salarial, pelo fim da violência física e psicológica contra a mulher, da hiperssexualização da mulher negra, pelo respeito as mulher LGBTQs e por muito mais, a luta continua e é diária. O dia da mulher não foi feito para flores e chocolate (mas, claro, nada contra se você gostar de receber) e sim para lembrarmos de tudo que foi conquistado até aqui, mas do quanto ainda falta e do quanto precisamos nos unir para, enfim, promover mais mudanças em nossa sociedade. 

E se nós estamos fazendo a nossa parte, também temos muitas cantoras que estão usando sua voz e popularidade para chamar atenção para a causa, e talvez, graças a muitas delas, o Movimento Feminista tenha se tornado parte tão importante da cultura pop e, consequentemente, empoderado muitas meninas por aí. Para celebrarmos o que já passou e nos lembrarmos de que a luta continua, preparamos a playlist "Empodere-se, mina!". 

Começamos com "Intro", que também é a primeira faixa do novo álbum da Kehlani. Essa não é uma música, e sim um poema com um pouquinho de ritmo, onde a cantora pede desculpas a todos que já a perderam, se perderam nela e se perderam com ela, e revela: "A verdade é, eu sou uma super-mulher. E, em alguns dias, eu sou uma mulher com raiva. E, em alguns dias, eu sou uma mulher louca". Todas somos.

Como mulheres a sociedade sempre tenta nos impor um padrão. Nunca estamos felizes conosco e sempre nos forçamos a encontrar defeitos. Por isso, Hailee Steinfeld e Alessia Cara lembram que você é linda, incrível é única. You go, girl! 

Pra te inspirar a dar um basta no boy-lixo ou naquela relação que não está te fazendo bem, trouxemos Britney Spears, Madonna, Spice Girls, Fifth Harmony, Ludmilla, Destiny's Child e muito mais. E se o cara ainda não entendeu que não é não, chamamos Meghan Trainor, MUNA, P!nk e Karol Conká pra ensinar direitinho.

A Demi Lovato nos perguntou o que tinha de errado em ser confiante, e a gente responde: NA DI NHA! Pra você ser bastante dona de si, não poderíamos deixar de colocar Christina Aguilera, Lorde, JoJo e, claro, a perigosa Ariana Grande.

Se a boa é sair pra balada com as amigas, não poderia faltar Simone & Simaria, Anitta, Little Mix, Selena Gomez e Cindy Lauper, com o hino "Girls Just Wanna Have Fun(damental Human Rights)". E curta a festa mesmo, viu? Sem medo do que vão pensar! Joan Jett, M.I.A, Miley Cyrus e Aretha Franklin pedem espaço e muito "RESPECT"

Se curtir é ótimo e descobrir sua própria sexualidade é o melhor presente que uma mulher pode ganhar, especialmente nesse dia. Por isso, aproveite pra se sentir muuuuuito ao som de Nicki Minaj, Rihanna e Charli XCX

Por fim, celebramos a força da mulher e do feminismo com Lady Gaga, Beyoncé, Elza Zoares e MC Carol. Somos 100% feministas.

MC Carol, Karol Conka, Solange e uma conversa sobre o feminismo negro

Na última quinta-feira (6), MC Carol e Karol Conka se declararam “100% feminista”! Se você ainda precisava ter certeza, é porque não conhece muito bem a carreira ou a trajetória de vida dessas mulheres incríveis. Ambas são mulheres negras, que saíram do subúrbio de suas cidades – Carol é de Niterói e Conka, de Curitiba – e resolveram soltar a voz no funk e no rap, de longe os meios mais machistas da cena musical brasileira. Essas mulheres poderosas não são de poucas ideias: suas músicas vêm cada vez mais carregadas de discursos políticos, principalmente sobre pautas como feminismo e negritude.

Carol Bandida sempre teve postura de mulher independente, que não leva desaforo para casa e não se rebaixa diante de ninguém. Inclusive faz seu namorado, que é o maior otário, lavar suas calcinhas. Deixa muito claro para o mundo que é linda e gostosa, grita aos quatro ventos se for preciso e ninguém a convencerá do contrário. O discurso feminista é nítido! Apesar de que, para as mulheres negras periféricas, essa é a realidade diária de suas vidas: não é só uma nomenclatura, mas uma necessidade vital de sobrevivência.

Em suas últimas músicas, Carol tem deixado um pouco de lado o tom debochado para dar espaço para a revolta com uma sociedade racista, machista, elitista e excludente. Em “Não Foi Cabral”, ela pede desculpas a professora e dispara a verdade sobre a história do Descobrimento do Brasil, que não foi pacífica e bonita como nos é ensinado na escola, mas marcada pelo sangue, medo e o saqueamento completo das terras, riquezas e culturas dos índios.

Já em “Delação Premiada” (que, como “100% Feminista”, quem assina a produção é o Leo Justi) o assunto é a disparidade violenta no tratamento da polícia, que tem uma cartela de cor e classe para classificar quem é bandido – muitas vezes sem sequer perguntar –, além de relembrar muitos casos sem solução que cada vez mais aumentam a lista dessa instituição truculenta e genocida. Agora em “100% Feminista”, em parceria com a Karol Conka, ouvimos sobre a violência contra a mulher e a misoginia, que nos fere fisicamente e psicologicamente, inviabiliza, invisibiliza, machuca, aprisiona e mata mulheres todos os dias ao redor do mundo.



Karol Conka rouba a cena com seu jeito despojado, seu estilo ousado e o cabelo rosa que é sua marca registrada. Começou se apresentando no circuito do hip hop curitibano e foi conquistando seu espaço no mainstream até conhecer o produtor Nave, que deu um empurrão produzindo seus primeiros trabalhos e depois seu álbum “Batuk Freak” (2013), de forma independente. Ganhou de vez a atenção dos holofotes quando assinou o selo Buuum da Skol Music e lançou os singles “Tombei” (2015) e “É o Poder” (2016), com produção da dupla Tropkillaz. Em seus trabalhos sempre deixou claro que o lugar da mulher é onde ela quiser! Nessa nova música, MC Carol e Karol Conka se colocam enquanto mulheres negras, de “cabelo duro”. Fortes, porém frágeis; independentes e destemidas.

Fica impossível não se conectar automaticamente com outra mulher negra e ouvir, em meio ao batuque do samba e os riffs de guitarra, a ameaça empoderada da denúncia de uma violência doméstica: “Você vai se arrepender de levantar a mão para mim”. Ela mesma, A Mulher do Fim do Mundo, Elza Soares. Um dos nomes dentre os muitos mencionados na parceria feminista das negras que levam o mesmo nome. Anote e mergulhe nas pesquisas: Aqualtune e Dandara dos Palmares, líderes quilombolas na luta contra a escravização da população negra; Carolina Maria de Jesus, uma das primeiras escritoras negras da história do Brasil; para mencionar algumas mulheres ilustres que são imprescindíveis para o movimento feminista negro. Voltando para o mundo da música, tivemos Nina Simone, cantora, compositora e ativista pelos direitos civis dos negros norte-americanos; a voz da inquietação de quem sofre na pele com o racismo e suas mazelas.



Ao longo dos anos, muitas mulheres perseveraram para que a voz do feminismo negro não fosse silenciada. Atualmente, o movimento vem lutando para manter acesa a fresta de luz que vem conquistando com muita garra, insistência e afrontamento. E que instrumento melhor que a música para ecoar nosso grito de resistência ainda mais forte? Um dos últimos lançamentos internacionais que abordou o assunto com perfeição foi o álbum “A Seat at the Table”, da Solange. De uma forma precisa e até divinal, o último disco dessa garota do Texas multifacetada é o pacote completo: uma sonoridade musical absurdamente apaixonante, com participações de nomes de peso – como Lil Wayne, The Dream, Kelly Rowland e Kelela – combinadas às mensagens profundas de empoderamento negro. Solange diz que “você tem todo o direito de estar bravo" com o racismo e avisa para os outros “não tocarem em seu cabelo” afro. Ela não fica à sombra da irmã, Beyoncé! Tem seu brilho próprio, que de tão grande, pode até ofuscar alguns olhares preconceituosos. Lastimável que seu trabalho não foi reconhecido nem ovacionado da mesma maneira como foi, e ainda é, o Lemonade.



Já em terras tupiniquins, não podemos deixar de falar do trabalho brilhante da Tássia Reis em seu último disco “Outra Esfera”. De Jacareí para o mundo, é perceptível que a rapper se despiu de toda timidez e veio escancarar tudo que andava engasgado na garganta. “Ouça-me” é um pé na porta do silenciamento sofrido pelas mulheres negras e o grito da ancestralidade de quem nunca mais vai se calar. Ela avisa: “A revolução será crespa, (...) não podem conter”. Em “Da Lama / Afrontamento”, com a rapper Stefanie, ao ouvir chega a ser possível enxergar a imagem da desigualdade da vida na periferia e que a realidade das pessoas negras é uma tentativa constante de nadar contra a maré. É maravilhoso como tanto o trabalho da Karol Conká e da MC Carol quanto o da Tássia Reis são capazes de atingir desde o povo da periferia até uma parcela da população que desfruta de muitos privilégios – mas se desconstrói (diariamente) para ser consciente – com o mesmo diálogo.


Sabemos que ainda há muita resistência dessa sociedade racista e machista, mas a resistência do povo negro é de uma ancestralidade muito cheia de força. Seguimos, nem um passo atrás! E para isso, enaltecemos o trabalho das tantas mulheres negras formidáveis que existem mundo afora; seja na música, na televisão, na academia ou em qualquer outro espaço dos quais nos são negados. Viva, Janelle Monae! Viva, Djamila Ribeiro! Viva, Preta Rara! Viva, Jéssica Ellen! Viva, Luana Hansen! Viva, Andreza Delgado!

Um viva à todas as mulheres negras que existem e resistem! <3

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