Gente, cês lembram de quando a internet pirava com a possibilidade de Lady Gaga, Beyoncé, Rihanna e Azealia Banks se unirem numa música e videoclipe chamados “Ratchet”, que seria uma sequência para o icônico clipe de “Telephone”? Pois bem, a continuação chegou. Só que no Brasil.
Desde a ascensão de Pabllo Vittar, é inegável que as drag queens estão transformando o mercado pop nacional e, felizmente, tornando-o cada vez maior e mais competitivo. Mas o que se revelou nesta quinta (10), com a estreia do novo clipe de Gloria Groove, “Coisa Boa”, fez com que as coisas fossem para OUTRO. NÍVEL.
Calma, calma, que a gente explica. Mas senta, que a teoria é longa. E vai exigir um pouco de tempo, paciência e memória quanto a alguns acontecimentos do pop brasileiro nos últimos meses.
Cata as referências:
A nossa história começa em “Bumbum no Ar”, clipe da Lia Clark com Wanessa, em que a dupla se une para acabar com Jota Palhares: um político LGBTQfóbico, machista e racista que, após eleito, se torna um risco para todos esses grupos minorizados. A vida imitando a arte, ou vice-versa. Relembre o clipe:
Mas, infelizmente, o clipe mostra que o plano delas não foi bem sucedido, né? E as duas, logo no finalzinho, são pegas pela polícia. Fim do primeiro ato.
A continuação acontece em “Coisa Boa”, o clipe lançado por Gloria Groove nesta quinta (10), em que a drag lidera um levante dentro de um presídio em que, surpresa!, temos Lia Clark e Wanessa entre as suas detentas.
Só que a participação delas não é a toa: rola toda um encontro de universos que, a partir daqui, pode confundir um pouco quem não acompanhar todas as referências atentamente.
Antes de qualquer coisa, foquem na Wanessa. A cantora aparece olhando pra uma parede onde há o rascunho de um plano: show > cobra > frigorífico. Os elementos desse plano, por sua vez, foram justamente os explorados em seu último clipe, “LOKO!”, no qual domina um local que hipnotiza, encarcera e mata homens pra servi-los como alimentos. Isso mesmo. Olha aqui:
Sendo assim, a gente já começa a traçar uma linha do tempo: a história começa em “Bumbum no Ar”, se desenvolve em “Coisa Boa” (ainda falaremos mais dele) e segue com “LOKO!”, que sugere a fuga de Wanessa após a rebelião de Glória e o sucesso do seu novo plano, com o frigorífico de homens à todo vapor.
De volta ao clipe de Gloria, agora vamos focar na Lia Clark, que tá ocupadíssima lendo a revista “POC”. A publicação, porém, também traz outro título em destaque: “Terremoto”. Nada menos que a sua música com a Gloria, que concluímos ser a trilha para o próximo episódio da saga.
MAS. NÃO. ACABOU.
Sabe quem também deu as caras pelo clipe? Ninguém menos que IZA. Que surge pelo menos duas vezes através de pôsteres espalhados pelas celas. E, assim como Lia Clark, também tem uma parceria com Gloria Groove: a faixa “Rebola”, presente no disco “Dona de Mim”.
E aí, por fim, ainda rolam algumas aparições da Iza que, OLHA SÓ, também tem uma parceria com a Gloria Groove: “Rebola”. Que pode encerrar a saga. Vale lembrar que a letra de “Rebola” também faz uma referência à Mangueira. Será que o clipe sai antes do carnaval? pic.twitter.com/erMP94pTNu— insta: @guitintel ⚡️ (@GuiTintel) 11 de janeiro de 2019
Aqui, acreditamos que as duas também fugirão (“Coisa Boa” termina com Gloria abrindo os portões da cadeia) e os clipes retratarão seus passos seguintes, “Terremoto” com Lia e Gloria; “Rebola” com Gloria encontrando (ou sendo encontrada) Iza.
Um ponto importante, é que todas as faixas envolvidas neste post possuem em comum a produção de Ruxell e, até aqui, todos os clipes também foram dirigidos por Felipe Sassi. Que tá dando uma verdadeira aula de narrativa e visual pop na indústria local. Uma teoria alternativa, inclui ainda “Seu Crime”, da Pabllo, como uma possível conclusão pra toda a história, mas é uma opção que descartamos, exatamente por fugir desse padrão (a música foi composta pelo coletivo Brabo com Diplo e em seus dois últimos clipes, “Problema Seu” e “Disk Me”, a drag colaborou com a dupla de diretores Os Primos).
De qualquer forma, não tinha como estarmos mais orgulhosos do que nossas artistas têm feito. Tornando o nosso pop tão interessante quanto o que foi o gênero há alguns anos lá fora, bem distante da monotonia que ainda estranhamos nos dias de hoje.
Mas e aí, tudo fez sentido? Acha que piramos em algo? Quer acrescentar algo à nossa teoria?
A “Ratchet” nacional vem. OBRIGADO PELOS MIMOS!
(Texto originalmente publicado em meu Twitter e adaptado para o site.)